Capítulo 77

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Ficamos em silêncio por alguns minutos.
— Tenho um problema parecido em uma das pernas -disse ele- Se eu a sobrecarregar, acabo mancando.
Virei para encara-lo. Eu já havia notado, mas nunca esperei que ele admitisse aquilo para mim.
— O seu ferimento foi mais grave do que contou a Bruna e Marcelo. Mais do que jamais contou para alguém, exceto talvez ao delegado Cunha.
— Você é muito perceptiva.
— Ao meu ver, também enfrentei batalhas -respondi com a voz calma- As cicatrizes não desaparecem, mesmo que as feridas se curem. E são capazes de destruir as pessoas.
Eu o encarava enquanto dizia tudo aquilo. Nossos olhos tinham a mesma expressão. Aquele era um momento em que nós compartilhávamos as tragédias e dores. Luan se aproximou em um passo e eu ergui meu olhar. Era como se o muro que existia entre nós tivesse diminuído alguns centímetros de tamanho e nessa fresta deixado passar a luz. Mas quando ele ia começar a falar, um carro estacionou do lado de fora da biblioteca.
Luan me empurrou para a sombra projetada por uma das estantes de livros. Do outro lado das janelas de vidro fumê, vimos Marcelo lançar um olhar curioso para o carro do irmão, estacionado ao lado do enorme carro de Sophie. Ele apressou a namorada a sair do carro e entrar no dela, despedindo-se rapidamente. Parecia assustado. Em seguida, parou em frente ao próprio carro e olhou em direção a biblioteca, hesitante.

Coração de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora