Coração de Pedra

Capítulo 23

— Ela puxou a minha mãe, mas não gosta de ouvir isso, porque nós a detestamos.
— A Bruna me disse.
Marcelo me olhou de relance enquanto manobrava o carro para fora do pátio.
— Sentimos a mesma coisa, não é? Sua mãe é uma dor de cabeça ambulante. -eu concordei.
— Hoje ela estava a todo vapor -confessei- bêbada e cruel.
— O que a Carla estava falando com você? -perguntou curioso.
— Que eu tenho que aprender a enfrentá-la -respondi- O que é surpreendente, não acha? Vindo da melhor amiga da minha mãe? As duas riem de mim o tempo todo. -ele me olhou de relance outra vez.
— Ela tem razão. Você precisa enfrentar meu irmão também. Luan pisa nas pessoas que não mostram resistência. -senti um calafrio.
— Não consigo enfrentá-lo. Ele é assustador.
— Assustador? O Luan? -ele disse e eu desviei meu olhar para a janela do carro.
— Podemos conversar sobre outra coisa? -pedi
Marcelo ficou meio desconcertado, mas logo depois se recuperou.
— Claro! Fiquei sabendo que os chineses vão lançar mais um foguete para a lua -falou e eu não entendi- Desculpa, não gosta de astronomia -murmurou- Pode ser política? -perguntou.
— Estou tão enjoada dos candidatos à Presidência que as vezes penso em me mudar para um lugar onde não exista eleição.
— Pensei na floresta Amazônica -comentou.
— Se eu vivesse nela, talvez escapasse da televisão e da internet.
— Já posso até ver as manchetes -disse fingindo horror- "técnica em veterinária local comida por uma onça pintada na Amazônia".
— Nenhuma onça que se preze comeria um ser humano -retruquei- Principalmente alguém que come azeitonas na pizza.
— Não sabia que você gostava de azeitonas.