Bicicleta

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Um predador mortal me observava do outro canto do quarto, aninhado nas sombras mais escuras que a noite, nos olhos afiados como lâminas um brilho nocivo refletia o desejo de causar dor. Presas afiadas brancas como mármore puro se revelavam sobre os lábios distorcidos que se erguiam pelos cantos, a mente aguardando pacientemente o comando para que se lançasse em minha direção em um ataque brutal. Não com as semelhantes garras que tinhas nas extremidades de cada braço longo adornados por um bracelete de prata reluzente, mas com o veneno que destilava ácido da sua boca em forma de palavras.

-Espero que você saiba como os bebês são feitos.

E a fera atacou.

-Sim Akira eu sei, obrigada pela preocupação referente a minha educação sexual – respondi ignorando todo o monólogo que a minha mente fez enquanto esperava ouvir do mais velho os comentários infelizes sobre a cena que havia presenciado na parte da manhã. – Portando, não preciso ouvir esse tipo de coisa de você.

O bastardo teve coragem de gargalhar e enquanto arrumava o relógio estupidamente caro no braço. Se eu olhasse para ele por mais um segundo era capaz que o sorriso sarcástico dele me fizesse usar as linhas de Aisa para o recortar do rosto bonito do qual ele tanto se gabava.

Concentrei a minha atenção na bolsa, finalmente havia sido liberada do hospital, um pouco antes do que o previsto, se os médicos me atestaram quem seria eu para reclamar. Teria que fazer algumas visitas de acompanhamento, mas poderia começar a retomar a minha rotina antiga.

Pelo canto de olho Akira ainda me observava com um sorriso irritante no rosto antes de se lançar ao segundo ataque – Sabe eu só quero ter certeza que você tome as devidas pr-

Sua frase foi interrompida, já que lancei um dos travesseiros em sua direção, um gesto que parecia estar ficando cada vez mais comum da minha parte. Uma pena que não havia um vaso no quarto.

-Você está mais forte, isso é bom.

-Honestamente desisto de você – fechei o zíper da mochila apenas para a ajeitar no meu ombro em seguida – Boa coisa é que não vou precisar ver a sua cara com tanta constância quando voltarmos para a escola.

O homem deu um impulso da poltrona no canto e se levantou ajustando o paletó em seguida – Talvez seja uma boa hora para contar as novidades.

Porque eu tinha a sensação de que isso não era uma coisa boa? – Que novidade?

-Diretor Yaga me contratou oficialmente como um auxiliar da escola – o primeiro tiro – Com a função especial de ajudar você na recuperação da sua energia amaldiçoada – o segundo tiro – Com permissão de fazer alguns experimentos da sua técnica combinada com a técnica do garoto Gojo.

Ataque crítico.

-Portanto, pode se dirigir a mim como Akira-sensei a partir de agora.

-Bem meu amigo Nanami disse uma vez, não é necessário o uso de honoríficos sem sinceridade – peguei o último dos meus pertences antes de olhar pro homem - Ele estava certo, sei que você adoraria mas não vai ser dessa vez.

-Posso te chamar de velhote se quiser – completei.

O sabor doce da vingança, são raras às vezes que o sarcasmo constante dele é substituído por outro sentimento. Mas é claro que logo ele virou a mesa a seu favor novamente.

-O que uma boa noite não faz com nossos ânimos não é pirralha? Ótima noite diria pra você julgando como você e Satoru estavam quando cheguei aqui, estava difícil distinguir onde um começava e o outro terminava.

Tranquei o meu maxilar, ele joga sujo, não que fosse uma mentira. De fato, durante as horas seguintes de sono nós nos aproximamos o suficiente para que em algum ponto virássemos uma bagunça de pernas e braços entrelaçados.

O desejo do Satoru tinha se realizado com honras, pra alegria dele e tortura minha já que teria que aguentar ouvir de Akira sobre o evento até o fim dos tempos.

-Você é sujo Akira – respondi um tanto quanto emburrada, apenas para ganhar um riso melodioso em volta. O homem se inclinou na minha direção mantendo o rosto próximo ao meu.

-Pelo contrário, sou um apreciador de um bom banho. Não fique brava comigo, foi uma cena boa demais para se deixar esquecer no tempo.

-Para você – coloquei a palma da minha mão em seu rosto e o empurrei para trás pela face, sentindo a boca se distorcer num sorriso enquanto encostava na minha pele. Limpei a palma no próprio paletó dele com uma expressão de nojo e em seguida dei os primeiros passos na direção da porta.

Pernas ainda vacilantes e sem confiança me sustentavam do jeito que podiam, havia abandonado as muletas acreditando que estaria bem o suficiente para andar por mim mesma, e por um momento duvidei que realmente fosse possível. Foi quando Akira estendeu o braço para que eu me apoiasse, uma ajuda sincera.

Passei meu braço pelo dele e seguimos lado a lado para o lado de fora, onde um dos carros da escola estava estacionado. O meu acompanhante colocou a mão no bolso tirando dele a chave do veículo, abriu a porta para que eu entrasse e em seguida se dirigiu para o lado do motorista.

Cruzei as mãos em cima da mochila no meu colo, quase parecia um sonho. O enfim despertar de um longo e denso pesadelo.

-Como você planeja combinar nossas técnicas? – perguntei enquanto observava a cidade se arrastar pela janela devido ao trânsito carregado causando lentidão aos carros à nossa frente – Não podemos exatamente fazer isso na escola não é?

-A instituição está cuidando de tudo, mas sim, você tem razão – o homem concordou usando o apoio da porta para descansar o braço – Sabemos que são técnicas destrutivas separadas e que juntas têm um potencial para criar o caos ainda maior.

Akira deu uma pausa para poder trocar de faixa e continuou em seguida – Em alguma parte mais afastada do terreno estão conduzindo as preparações, amuletos, proteções e barreiras. O que for necessário.

Não respondi mais, fiquei quieta. Eu ainda sabia usar a minha energia amaldiçoada apropriadamente? Não havia tentado manipular minhas linhas desde o momento em que acordei, acho que alguma parte de mim tinha medo de se decepcionar, pelas coisas não serem mais como eram antes.

-Essa feição séria não combina com você.

Não desviei o olhar para responder, apenas deixei que meus pensamentos se tornassem audíveis - E se eu não conseguir usar a minha técnica? Mal tenho controle sobre as minhas próprias pernas.

-Insegura de repente? – ele riu - Por favor, você derrubou um comandante da Gaia sozinha, tenha um pouco mais de confiança em si mesma. Jujutsu é como andar de bicicleta, uma vez que você aprende nunca se esquece...

A tentativa dele de me animar tinha alguma frase ainda escondida.

-E me ajude a provar que eu sou um bom professor, ou vou perder o meu novo emprego antes mesmo de começar.

-Me sinto levemente tentada a falhar agora – rebati, mas mesmo assim um riso alcançou a minha boca.

Apoiei o rosto na mão e me virei para o encarar – Bicicleta... Acho que vou precisar de rodinhas.

-Não se preocupe, vou estar atrás de você caso decida cair.






N/A: Akira me ganhou nesse. Affe que fofo, chatão, mas fofo.

Até mais, Xx!

Sýndesis - (Gojo Satoru x [Nome])Onde histórias criam vida. Descubra agora