Capítulo 39

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— Onde será que estão as pessoas que moravam aqui?— Shayene perguntou ao parar em pé do lado de Nara, aquela pergunta rodeava sua mente desde que chegaram ali, tudo estava silencioso demais.

— Pelo jeito aqui não tem ninguém.— a mais velha respondeu enquanto analisava melhor cada casa, todas estavam fechadas e sem nenhum sinal de que alguém estivesse estado ali há um tempo.

— Isso está tão em paz que chega a ser estranho.— Kyon confessou, depois de tudo desconfiar até de um momento de paz era automático.

As meninas não disseram nada, na situação que viviam também estranhavam tudo.

Após mais alguns minutos a senhora que cuidava de Stevan apareceu na recepção.

— Como ele está?— Isabel perguntou instantaneamente, estava tão desesperada que não conseguia se conter.

A senhora a olhou e sorriu.

— Está bem, ele deve acordar daqui algumas horas.

Todos se sentiram aliviados, uma morte seria mais um peso difícil de se carregar naquele momento.

— Vocês dois que estão com o rosto machucado, poderiam me acompanhar até minha sala?— Maria perguntou, ver eles machucados a angustiava.

— Fique ali com o Jeremy, não faça nada de errado.— Nara pediu a sua irmã.

Sharaene somente revirou os olhos e caminhou em direção ao jovem.

— Não gosto dele.— a menina murmurou.

Nara suspirou, sua irmã era tão difícil as vezes, apressou o passo para chegar a Kyon que já estava próximo a senhora.

Logo entraram em uma sala ao lado da que Stevan se encontrava, tudo era muito bem equipado e arrumado.

— O que aconteceu com o rosto de vocês?— ela perguntou enquanto se sentava atrás de uma pequena mesa.— Por favor, sentem-se.

Nara logo se sentou em uma cadeira de frente para a mesa, Kyon se limitou somente a ficar em pé atrás dela.

— Só foi um corte, estou bem. E ele entrou em uma luta contra um carnificiendo por minha causa.— Nara explicou.— Por favor, cuide dos ferimentos dele.

A senhora sorriu para ela, sua atitude era algo que considerava louvável, sua situação aparentemente era bem pior que a dele, mas preferia o bem estar do outro antes do próprio.

— Muito obrigada, mas eu não preciso. Cuide somente dela.— Kyon falou antes mesmo da senhora dizer algo.— Ela também ganhou uma facada na coxa recentemente.

Nara se surpreendeu, até ela mesma já havia se esquecido desse ferimento.

— Vocês jovens são muito engraçados.— Maria falou rindo.— Vou cuidar dos seus primeiro, mocinho, pois é mais rápido, dela precisarei de mais cuidado.

Kyon suspirou. Rapidamente se encontrava sentado enquanto a médica limpava seus machucados, ela lhe lembrava sua avó e isso o incomodava.

— Vou ter que dar um ponto nos seus lábios, tá bom?— ela falou enquanto já pegava a linha.

Kyon somente assentiu enquanto observava Nara que lia alguns panfletos sobre prevenção a doenças. Ainda o angustiava fortemente ver o rosto dela, sabia que para ela seria difícil ter que conviver com as possíveis cicatrizes que ficariam.

— A senhora é médica há quanto tempo? Sempre foi meu sonho me tornar uma também.— Nara confessou suspirando, agora esse sonho estava tão longe.

— Tantos anos minha querida, já até perdi as contas.— Maria respondeu sorrindo, se orgulhava tanto de ter escolhido aquela profissão.

— Onde estão as pessoas que moram aqui?— Kyon perguntou sem rodeios.

— Viajaram.— Maria respondeu após alguns segundos em silêncio.

O rapaz já ia fazer mais perguntas quando a senhora segurou seu rosto para cuidar de seus lábios rasgados.

— Era um dia feliz, cinco ônibus lotados saíram para um excursão, depois disso nunca mais voltaram. Eu e meu neto ficamos, estávamos checando estoque de remédios no porão quando tudo aconteceu, me pergunto se fomos tão sortudos por sermos os únicos a ficarem vivos.— a senhora contou sem esboçar emoções.

O olhar de Nara e Kyon se cruzaram, era óbvio pelas suas palavras que se sentia triste por ter sobrevivido, isso entristeceu a menina, ninguém deveria se sentir mal por isso, apesar de tantas mortes e da situação horrível que estavam, estar vivo era algo que agradecia muitíssimo.

— Se a senhora virasse um carnificiendo também, quem cuidaria de nós? A senhora está salvando nossas vida, sua vida é necessária.— Kyon falou com dificuldade por mal poder mexer sua boca, mas suas palavras transbordavam gentileza.— Seu neto está vivo então a senhora tem um motivo ainda maior para ter ficado bem também.

Nara o encarou com um pequeno sorriso, não conseguia ainda mexer muito as bochechas, ver ele dizer aquelas palavras a médica aquecia seu coração.

— Obrigada, meu jovem.— ela respondeu sorrindo.

Os cuidados com o rosto de Nara foram mais rápidos, não seria necessário a troca dos pontos, só o álcool para fazer limpeza.

— Posso ver os das sua perna?— a senhora perguntou.

Nara encarou Kyon que a observava.

— Por favor.— falou a ele.

— O quê?— ele perguntou confuso, não entendeu sua fala até ver o olhar da jovem encarar sua calça jeans suja.

— Ah, me desculpa.— murmurou envergonhado.— Estou saindo.

A senhora riu com a situação do rapaz.

— Vocês todos se conhecem há muito tempo?— perguntou a menina enquanto se virava para ela tirar sua calça com tranquilidade, sabia que ela estava com vergonha.

— Nos conhecemos depois que tudo começou.— ela respondeu, evitava até lembrar do dia que o viu pela primeira vez.

— Entendo.— a senhora respondeu e começou a verificar sua perna.— Parece que por pouco esse ferimento não infeccionou, não está em um estado muito bom, porém está sarando.

Enquanto a senhora limpava seu ferimento e fazia um corativo Nara pensava na vida, queria tanto acordar e ver que tudo foi só um pesadelo, seu rosto doía, sentia cansaço por todo o corpo, mas o pior era seu psicológico, esse sabia que não seria fácil recuperar.

— Vocês estão indo para que lugar?— Maria perguntou com curiosidade, na verdade desconfiava que até aquele postinho no meio do nada daqui um tempo não seria seguro.

— Eu não sei.— Nara respondeu suspirando.— Estar com eles era a melhor opção, no final não importa para onde vamos e sim se vamos sobreviver.

— Eu quero lhe pedir um favor.— a senhora falou enquanto retirava as luvas de suas mãos.

Nara hesitou, em seu íntimo sentia que aquilo não acabaria bem.

Ganância - O início do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora