Capítulo 32

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— Florisbela!— Jeremy exclamou sorridente e correu até a mulher. — Está tudo bem com você?

Florisbela encarou friamente Kyon, o jovem somente a lançou um sorriso enquanto erguia a sobrancelha direita.

— Está tudo ótimo. — respondeu ainda sem olhar para Jeremy.

— Tem certeza?— ele insistiu, não entendia a expressão estranha que ela esboçava.

Florisbela respirou fundo e se virou para ele sorrindo e o abraçou.

— Só estou triste, saudades da minha família, do mundo antes disso tudo.

A voz de choro, a cena, comoveu a todos, menos a Shayene e Kyon, a menina sem se conseguir segurar começou a rir, porém tentou disfarçar através de uma tosse forçada.

— O que aconteceu com sua família?— Isabel perguntou.

— Eles estavam fora quando tudo começou, queria ter esperanças de que estão bem, mas é difícil.

— Que tristeza, mas me conte quantas pessoas eram? — Kyon perguntou.

— Não faça esse tipo de pergunta, com certeza é difícil para ela responder.— Jeremy protestou.

— Responder algo tão simples não é difícil a não ser que ela tenha os assassinado.— Shayene ironizou.

— Repete o que você disse!— Florisbela gritou se afastando de Jeremy.

— A- SSA- SSI-NA.— Shayene deu ênfase em cada sílaba da palavra.

Kyon analisava Florisbela atentamente, percebia que ela estava a ponto de surtar.

— Como você é só uma criança que não sabe o que fala, vou perdoar.— a mulher disse exibindo um doce sorriso e mudando totalmente sua expressão para uma calma e serena.

Kyon observou atentamente ela caminhar até o balcão que se encontrava próximo a mesa e foi nesse momento que o tempo pareceu passar lentamente.

— Para sua informação eu não sou uma assassina, tenho sido boa com vocês, mas parece que tu não consegue ser agradecida, mas tudo bem; está tudo bem.— a forma em que a mulher enfatizou o "está tudo bem" fez Kyon lançar um olhar sugestivo para Shayene.

Rodheriqueson odiava situações que não eram previsíveis, gostava de calmaria e paz, observava tudo já cansada do que estava por vir.

Isabel nem teve reação quando tudo aconteceu, aliás ela estava longe de esperar algo assim.

Jeremy, coitado tão inocente, não conseguia acreditar em seus próprios olhos.

Shayene só teve tempo de se levantar da cadeira subitamente.

Florisbela pegou uma faca e correu em direção a Nara que ainda estava dormindo no colchão, a mulher tão doce de algumas horas atrás parecia estar possuída.

— Não! — Shayene gritou.

Kyon correu; Isabel se levantou; Jeremy não conseguia nem se mexer e Rodheriqueson respirou fundo antes de pegar um objeto em cima da mesa.

Quando Florisbela estava a ponto de se jogar em cima de Nara e enfiar a faca em seu peito ela caiu para o lado, uma faca havia sido cravada em suas costas e outra em seu braço.

— Não posso deixar vocês sozinhos por um instante que já tem alguém a ponto de ser assassinado.

Stevan estava parado na entrada do corredor para sala, um enorme saco de lixo preto estava ao seu lado, sua aparência estava horrível, tão pálido quanto papel, seu cabelo estava colado na testa por causa do suor e olheiras profundas circulavam seus olhos.

Sangue escorria do braço e costas de Florisbela com o outro braço tentou pegar a faca que havia caído.

— Se eu fosse você não faria isso.— Stevan ameaçou.

Kyon correu e agarrou a mulher a levantando, puxou seus braços para trás e a segurou com força.

Isabel com os olhos cheios de lágrimas andou até Stevan.

— Não venha com essas lágrimas falsas até mim, quando você deveria se preocupar comigo me deixou nas mãos de uma qualquer desconhecida, que tipo de pessoa faz isso? Esperava mais consideração vinda de você.— a frieza em sua voz era nítida o olhar que direcionava a mulher em sua frente era tão vazio que a fez recuar para trás.

Jeremy finalmente saiu do transe em que se encontrava e correu até Florisbela.

— O que aconteceu? Por que agiu assim? Você ia matá-la? — as perguntas saíram tão rápido de sua boca que era até difícil entender.

— Como tu pode ainda ter dúvidas? Tu é idiota ou o que? Ela ia matar a Nara! A minha irmã seu panaca! — Shayene gritou e empurrou Jeremy de frente da mulher e a encarou, Florisbela permanecia de cabeça baixa e nem ousava se mexer.— Ela é um carnificiendo!

— Dessa vez você errou, pirralha, infelizmente.— Stevan se intrometeu e todos voltaram sua atenção para ele.— Vejam o que achei em um freezer no quarto dela, enquanto vocês tinham um belíssimo diálogo na cozinha.

Ele desamarrou o saco preto que estava ao seu lado, no mesmo instante três coisas saíram rolando de lá de dentro.

Os olhos de nenhum dos demais ousaram piscar naquele instante.

Três cabeças decapitadas, dentro do saco vários pedaços de carne se encontravam; carne humana.

— O que é isso?— Jeremy sussurrou.

Stevan puxou uma cadeira que estava próximo de si e se sentou cruzando as pernas e fazendo uma expressão de desinteresse fingiu um bocejo.

— Você já ouviram falar que sempre sobrevive quem daria de tudo para ficar vivo? Melhor ainda vocês já escutaram sobre canibalismo? Se não eu mesmo explico, canibalismo é o ato de se alimentar de seres de sua própria espécie. Vocês preferem que eu desenhe? Minhas habilidades artísticas também são invejáveis.

Kyon já esperava algo assim, até considerava engraçada sua forma de contar as coisas, pensava que ele necessitava de um psicólogo, porém na situação que viviam isso já não era necessário.

— Como assim?— Jeremy perguntou aos gaguejos.

— Me poupe, cara.— Shayene resmungo e subitamente arrancou a faca que se encontrava no braço de Florisbela e a apontou para seu pescoço.

— Ou você explica essa história detalhe por detalhe agora ou eu acabo com sua raça agora mesmo.— a menina ameaçou.

Assistir tal cena incomodava Rodheriqueson, não se agradava a maneira como aquela menina, que considerava uma criança, agia.

— Pare! Ela deve ter uma explicação. — Isabel tentou defender.

O olhar de Stevan se direcionou a Nara, porém não conseguiu a olhar nem por 10 segundos, ver ela naquele estado o incomodava.

— Conte logo, querida.— disse se dirigindo a Florisbela.

A mulher ergueu a cabeça e sorriu de forma sínica para ele, porém nada disse.

— Fala logo. — Shayene pressionou mais a faca contra seu pescoço.

— Ou você quer que eu leia seu diário?— Stevan perguntou exibindo um pequeno livrinho e rapidamente abriu em uma página. — "Ter que esquartejar os seus corpos e cortar cada pedaço de sua carne foi algo tão..."

— Chega! Eu falo.— Florisbela gritou o interrompendo.

Stevan fechou o pequeno diário e sorriu para ela.

— Prossiga.

— No mundo em que estamos vivemos só sobrevive o mais forte, o que é capaz de fazer qualquer coisa para sobreviver e era isso que eu estava fazendo, sobrevivendo.

— Você ia nos matar para se alimentar?— Isabel perguntou incrédula.

Ninguém precisou de uma fala de Florisbela para saber a resposta daquela pergunta.






Ganância - O início do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora