capítulo 2

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Quando a realidade se torna um pesadelo, não existe a opção de acordar.

Há horas tentava sintonizar o rádio que existia no velho porão cheio de quinquilharias.

Nara ansiava por alguma notícia, alguma explicação para todas essa loucura, mas tal resposta talvez nunca chegasse.
O porão que estavam foi um projeto construído por seu pai há alguns anos atrás, ele sempre achou que um dia aquele lugar seria necessário para algo além de guardar coisas, e no fim ele estava certo.

— Nara o papai está morto?— perguntou Shayene.

— Eu não sei, somente tente dormir.

Nara não sabia o que dizer, muito menos o que fazer, por fim se sentou no chão se dando por vencida. As imagens da carnificina que aconteceu onde seu pai estava não paravam de se repetir em sua mente, desejava que tudo fosse somente um pesadelo ruim e que logo fosse acordar, porém sabia que isso nunca iria acontecer. Encarava sua irmã que já dormia, não queria que ela passasse por isso.

Naquele momento no meio daquele chiar perturbador do rádio prometeu para si mesma que protegeria sua irmã acima de tudo, estava na hora de deixar a menina fraca e boba, precisava lutar, por ela e pelo seu pai.

— Nara! O rádio está falando! — gritou Shayene chamando sua atenção.

Não havia percebido que ela havia acordado, muito menos o som que era emitido do rádio, correu rapidamente até a mesinha onde o aparelho se encontrava.

—Olá, cidadãos! Aqui quem vos fala é um agente da maior agência secreta de inteligência do mundo, a qual não posso mencionar o nome. Não possuímos informações precisas de como está o estado atual da população, há 6 horas atrás um acontecimento estranho ocorreu durante a reportagem da maior cratera do mundo e logo depois inúmeros animais desconhecidos, que ainda estamos tentando estudar, surgiram pelo mundo, eles se alojando no cérebro de bilhões de pessoas as levando a cedência por morte. Não conhecemos o real dano que esses animais fazem, porém descobriremos. Se por sorte você estiver ouvindo nossa transmissão, te darei algumas recomendações: Não sabemos se ainda existem mais desses animais por ai então cubram seus ouvidos de alguma forma, não saíam de casa, o caos está espalhado pelo mundo todo, ninguém é confiável, ninguém está seguro, arrume formas de se proteger, apesar do grau de loucura e de cede por morte eles podem ser mais inteligentes do que aparentam, lembrem; eles fisicamente continuam da mesma forma que um ser humano comum então não se iludam, todos querem matar, isso são as únicas informações e recomendações que podemos transmitir no momento, talvez em alguns dias daremos mais noticias.— finalizou o homem e o rádio voltou a chiar.

Nara não sabia o que pensar sobre tudo que acabou de escutar, tudo era mais grave do que previa, temia não estar mais vivas quando chegar mais informações.

—Viu! Eu lhe avisei que o apocalipse iria acontecer logo, você não acreditou.— falou Shayene.

Nara não respondeu, não tinha cabeça para aquilo.

Shayene sempre foi fanática por histórias e filmes de possíveis futuros apocalípticos, porém nenhum era semelhante a aquele.

Já haviam perdido a conta do tempo que estavam ali, sentiam como se já tivesse passado dias.

— Estou com fome Nara.— reclamou Shayene.

Nara caminhou até um armário antigo em que seu pai guardava de tudo, rezava para que houvesse alguma comida ali, não sobreviveriam muito tempo caso não encontrasse nada. Por sorte havia alguns enlatados, não gostava desse tipo de comida mas sabia que em sua atual condição não podia pedir demais.

Abriu uma lata de sopa e deu para a menina se alimentar, não iria comer, precisava economizar, enquanto pudesse se manter de pé sem se alimentar, ficaria.

— O que iremos fazer agora? sentar e esperar não vai mudar nada, ou morremos de fome ou cede aqui ou saímos lá fora e temos uma chance, de qualquer forma nosso destino talvez tenha o mesmo fim em qualquer uma das escolhas.— falou a mais nova.

Nara a encarou, não tinha o que falar, ela estava certa, sua irmã apesar da pouca idade sempre foi muito inteligente.

— Entenda Shayene, não posso colocar sua vida em risco.

— Nossa pai sempre nos ensinou a enfrentar qualquer problema sem ligar para as consequências.— falou Shayene já em um tom mais elevado em sua voz.

—Foi por isso que ele morreu!— gritou Nara, seus olhos já se enchiam de lágrimas. — Ele não se importava com as consequência de seus atos, e por isso ele morreu! Ele está morto! Você não entende?

—Mas...—começou Shayene, porém sua fala foi cortada por barulhos.

Shayene olhou para Nara com uma expressão assustada, a mais velha fez sinal para que ela ficasse quieta.

Os barulhos se tornaram mais altos, e pareciam estar mais perto da porta do porão, os sons se assemelhavam ao barulho de passos que eram dados com força no chão. Nesse momento elas nem respiravam, temiam que sua respiração pudesse ser escutada pelo o que quer que fosse que estivesse ali.

—Olá! Tem alguém ai? Eu fugi do caos que está lá fora e preciso de ajuda. —falou uma voz feminina.

Ambas as meninas não moveram um músculo, o medo era quase palpável naquele cômodo. "Ninguém é confiável , todos querem matar.", essa frase se repetia sem parar nos pensamentos de Nara.

—Por favor! Eu preciso de ajuda, todos estão loucos lá fora, preciso me proteger. — voltou a falar a voz dessa vez com um tom choroso.— Me chamo Tália, era uma das moradoras da rua, por favor me ajudem.

Shayene se arrastou até estar ao lado de Nara.

—Vamos ajudar, ela deve estar desesperada.— Sussurou a menor no ouvido da irmã.

—Não! não confio nela.—  Sussurrou Nara de volta, deixando Shayene indignada.

Nara andou fazendo de tudo para ser o mais silenciosa possível, até chegar nas coisas que havia trago. Quando seu olhar encarou a raquete seu rosto obteve uma expressão de incredulidade, a raquete se encontrava toda danificada, estava amassada e com vestígios de que estivesse sido queimada. O episódio de bater no animal retornou a sua memória, agradeceu mentalmente por ter conseguido se livrar dele. Mas agora não possuía tempo para isso, tinha outros problemas, revirou a mochila que havia pegado no quarto de seu pai e tirou uma arma, aquela era sua única chance caso algo acontecesse.

Uma risada grotesca pode ser ouvida.

—Consigo sentir o medo de vocês.— a voz gritou gargalhando.

Nara sabia que tinha algo errado, ninguém pediria por favor em algum lugar onde estava claro que não haviam pessoas e muito menos na situação que se encontravam. E realmente estava certa.

Havia chegado a hora, teria que lutar por suas vidas.

Ganância - O início do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora