Capítulo 36

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Estavam há meia hora na estrada quando Nara acordou. Por minutos mal conseguiu abrir os olhos, escutava várias vozes alteradas, mas não conseguia distinguir o que diziam ou enxergar perfeitamente algo. Estava tendo paralisia do sono. Já reconhecia facilmente, aliás era algo que tinha com frequência. Acabou adormecendo por segundos que pareceram durar uma eternidade, sentia seu braço mexer, sua boca abrir para chamar alguém, mas seu corpo permanecia imóvel. A cada segundo se desesperava mais para acordar, enxergava vultos e escutava sussurros, quando conseguia forçar seus olhos a abrir logo fechavam novamente. Foi quando escutou um alto grito que seu corpo reagiu com o susto.

— Ele não está respirando!— ela reconhecia aquela voz, era Isabel.

Reunindo suas forças se sentou no banco e olhou para trás, se sentia sonolenta e dolorida, tentava lembrar das últimas coisas que aconteceram mas nada vinha a sua mente. Logo percebeu que todos estavam reunidos em frente a algo, provavelmente alguém.

— Ele está sem pulso!— Kyon falou.

— Rodheriquesson faz massagem cardíaca, rápido!— Isabel pediu em desespero, rapidamente começou a realizar respiração boca a boca.

Rodheriquesson se esforçava ao máximo para manter a calma, odiava estar em situações que podiam lhe custar muitas coisas, naquele caso um erro seu poderia custar uma vida. Realizar uma massagem cardíaca em um carro em movimento deixavam tudo ainda mais desesperador, mas sabia que não podiam parar.

— Isso não é só para afogamentos?— Shayene perguntou a Kyon que nem soube o que responder.

— Não está funcionando!— Isabel exclamou já começando a chorar.— Pode parar Rodheriquesson, ele se foi.

— Não!— Nara gritou finalmente conseguindo dizer algo.— Continue.

— O que?— Isabel perguntou incrédula, nem havia a visto acordar.

— Continue!— Rodheriquesson, que até então não havia nem parado a massagem cardíaca, falou.

Ninguém sabia como agir, lidar com mortes de carnificiendos era muito diferente do que aceitar a morte de um humano, de aceitar perder alguém por tão pouco.

Nara simplesmente fechou os olhos e orou, naquele momento não sabia se iria ser escutada, talvez o criador do mundo houvesse desistido da humanidade, ou aquilo era só os fins dos tempos tão prometido, não sabia dizer, mas somente esperou um milagre.

A primeira coisa que escutaram em poucos segundos foi uma palavrão vindo de Kyon.

— Lava essa boca suja.— Shayene resmungo enquanto ia até sua irmã, seria mentira se dissesse que estava tão preocupada quanto os demais.

— Ele voltou! — Rodheriquesson exclamou sorrindo, era até uma surpresa o ver daquela forma.

Nenhum deles sabia como explicar o que havia acabado de acontecer. Kyon suspirou, apesar de não gostar do rapaz, não desejava sua morte. Isabel chorou ainda mais, não suportaria perder Stevan.

Nara observava a reação da jovem, não a entendia muito bem, Stevan mal falava com ela, porém ainda sim ela parecia o amar mais que tudo, isso a intrigava.

Isabel secou suas lágrimas e abriu em um mini refrigerador que ficava próximo a cama e retirou lá de dentro um injeção.

— O que é?— Shayaene perguntou.

Kyon percebeu quando ela pensou demais antes de responder.

— Dipirona.

— E isso vai ajudar em que?— ele indagou, não acreditava nela.

Isabel não respondeu, em silêncio aplicou o remédio no braço de Stevan.

— Bem, de onde venho dipirona serve para tudo, trás até seu amor em três dias.— Nara brincou tentando amenizar o clima tenso.

Kyon se virou para ela com uma sobrancelha erguida em descrença. Nesse momento ela viu o péssimo estado de seu rosto, seus lábios estavam cortados e com sangue seco, seu olho estava roxo e tinha um corte na sobrancelha. Isso a intrigou, aliás não se lembrava dele estar assim antes. Respirando fundo decidiu que depois procuraria saber tudo que havia acontecido.

Rodheriquesson examinava Stevan, ele poderia estar respirando novamente, mas não sabia se continuaria assim por muito tempo.

— Jeremy.— ele chamou o rapaz que dirigia. — Onde estamos?

— Perto de uma cidadizinha de interior, não tenho certeza do nome.

Rodheriquesson suspirou, sabia muito bem que lugar era aquele.

— Vamos para lá, Stevan precisa de um médico.

O homem havia visto que a área ao redor dos pontos em sua barriga estavam com uma coloração estranha, não entendia muito mas sabia que não deveria estar daquele jeito.

— As chances de você encontrar um médico vivo são enormes, hein.— Shayene debochou.

Nara a beslicou a repreendendo, não gostava do quanto sua irmã era negativa, raramente conseguia compreender sua personalidade.

— Eu sei que vamos encontrar.— o homem disse, tentando convencer mais a si mesmo do que a ela.

Quando Isabel ia dizer algo Jeremy se pronunciou com nervosismo.

— Tem algo muito errado aqui. Olhem para frente.

Em um instante todos encaravam o cenário macabro, nem sabiam como ainda se surpreendiam.

Inúmeros corpos estavam pelo chão, mais do que podiam contar.

— Tem algo estranho, eles não estão nem sujos de sangue. — Nara sussurrou.

— Até agora não vimos carnificiendos pelas ruas, deveria ter muitos andando por ai, apesar de serem inteligentes tem algo que não me cheira bem nessa história.— Kyon falou. — Já percebeu que nem todos falam? Tipo o último que encontrei, ele era estranho, burro talvez e só falou duas vezes.

— A que lutei não falou nenhuma palavra.— Rodheriquesson disse.— Talvez o cérebro de cada um seja afetado de forma diferente.

— Existe algo de podre no reino da Dinamarca.— Shayaene citou.

— Jeremy volta, agora!— Isabel exclamou com nervosismo.

— O que? Podemos passar por cima. Será que estão vivos?— ele perguntou ficando confuso.

— Não, não estão.— ela sussurrou. — Você não entende, eles...

Ela não teve tempo de terminar de falar, o som de um grito tão alto que fez ate seus ouvidos doerem, foi emitido próximo a eles.

— Gente, o carro não quer dar ré.— Jeremy falou nervoso.

— Eles estão levantando!— Shayene gritou.

Foi ai que todos viram, eles começavam a se mover, mais de um quilômetro de pessoas jogadas no chão começavam a se mexer.

— Rápido, Jeremy!— Isabel pediu.

— Não funciona!— ele gritou de volta, tentava inutilmente engatar a ré.

Kyon pulou por cima do banco onde Shayaene e Nara se encontrava.

— Vai para o lado!

Jeremy sem pensar foi para o banco do carona, Kyon se sentou rapidamente colocando o cinto, mas o que realmente chamou atenção em sua atitude foi quando ele olhou pelo retrovisor e sorriu, o corte e sangue em seus lábios deixava aquela cena angustiante de se ver.

— Acho bom se sentarem e colocarem bem o cinto, vamos jogar boliche.

— O que?— Jeremy indagou incrédulo.

Ganância - O início do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora