Capitulo 45

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— Você estava morrendo até ontem, como consegue ficar em pé?— Shayene perguntou a Stevan, somente os dois permaneciam na varanda.

— Você não consegue ficar quieta?— ele perguntou irritado.— Avise aos outros que iremos embora ao amanhecer.

— Stevan!— Isabel gritou enquanto corria na chuva até eles.

Ambos a olharam intrigados quando ela entrou na varanda arfando.

— Os superiores estão entrando em contato.

No mesmo instante em que escutou aquilo o homem saiu correndo em direção a van, era a primeira vez desde que saíram em missão que os superiores entravam em contato.

Stevan entrou na van as pressas, o notebook emitia duma imagem tremula, mas era nítido um dos chefes da agência, ainda em seu terno impecável, aparecer na imagem.

— Olá, senhor Dias.— Stevan o cumprimentou.

— Não temos tempo para formalidades, preciso que cheguem logo ao destino, Stevan. O mundo está um caos, isso é uma catástrofe global, esses insetos não surgiram somente no Brasil, mas sim no mundo todo.— Sua voz parecia se abalar a cada palavra dita.— Achamos que algumas ilhas remotas pouco povoadas estão a salvo, mas não temos certeza, até para entrar em contato com vocês foi difícil, fizemos contato com alguns outros países graças aos satélites mas fora isso todo sinal caiu, não acho que vai demorar muito até que percamos contato também. Então, cheguem logo ao destino e voltem, não temos mais tempo. Preciso te contar algo ainda mais importante...

A tela subitamente ficou preta, o sinal havia sido cortado. Stevan se segurou para não desferir um soco contra tela do notebook, agora sim estavam em uma situação mais desesperadora ainda.

Quando Shayene entrou viu Jeremy, Rodheriquesson e kyon formando uma fila para o banheiro. Todos tentavam secar seus corpos e roupas molhadas com simples toalhas de rosto.

— Deram uma de cavalheiro e deixaram Nara ir primeiro?— Shayene perguntou ironizando, queria que ao menos tirassem aquela expressão de derrota do rosto.

Jeremy forçou um sorriso sem graça e todos permaneceram ali.

Uma hora depois todos se encontravam divididos nos dois quartos. Rodheriquesson e Jeremy estavam tão exaustos que já dormiam profundamente. Enquanto isso Shayene travava uma batalha com Kyon.

— Por que você não dorme junto com os outros?— ela perguntou o empurrando.

— Estou aqui para proteger vocês de qualquer mal.— ele respondeu exibindo seus braços na tentativa de mostrar seus músculos.

— Isso inclui você?— ela debochou.

— Para, Shayene.— Nara resmungou, já não aguentava mais infantilidade deles.— Dorme do meu lado, Kyon.

Kyon levantou e contornou a grande cama de casal até chegar ao lado de Nara, que já havia empurrado Shayene e deixado espaço para ele. O rapaz deitou rapidamente com o corpo virado para o lado contrário dela, diferente de com Shayene, tinha vergonha de deitar ali.

Em alguns minutos Nara já podia escutar o baixo ronco de sua irmã, estava aliviada de que pelo menos ela havia conseguido pegar no sono.

— Por que você não dorme, Nara?— a pergunta de Kyon a assustou, acreditava que ele também já dormia.

Ela ficou em silêncio por alguns minutos, era difícil dizer porque não dormia, sua mente estava a matando, eram tantos pensamentos tortuosos ao mesmo tempo.

— Só estou cansada demais para dormir.— ela sussurrou.

Parecia uma frase tão irônica, se estivesse tão cansada mesmo ela já deveria estar dormindo, porém Kyon entendeu bem o significado, o cansaço mental dela era tão grande que não conseguia nem se dar ao luxo de descansar seu corpo.

— Me desculpa pelo que vou fazer.— ele murmurou e puxou ela para próximo a si, em um quase abraço.

Nara se assustou de início, porém se permitiu se aconchegar em seus braços, qualquer abraço era bem vindo naquele momento.

Nenhum dos dois disse mais nada, não tinham muito o que falar além de tristezas. Após um longo tempo caíram no sono também.

Nara acordou com um barulho, quando abriu seus olhos se deparou com Stevan encarando seu relógio de pulso, seu olhar logo se focou nela.

— Falei que iríamos sair ao amanhecer.— ele falou já alterando a voz.

— Tu não falou nada.— Kyon resmungou sem nem abrir os olhos.

O olhos de Stevan foi de encontro ao corpo deles juntos, achava uma cena tão patética.

— Pedi a pirralha para avisar. Da próxima largo todos vocês aqui.— ele vociferou e saiu do quarto.

Rodheriquesson e Jeremy já estavam de pé, já eram acostumados a sua rotina de sempre levantar às 4 da manhã, sem nem precisar de despertadores.

Nara acordou Shayene a repreendendo por não ter avisado, levantaram rapidamente e Kyon arrumou a cama.

Todos já estavam na sala, Stevan batia o pé incessantemente no chão enquanto olhava para seu relógio.

— Vamos direto para o nosso destino final, nem se um morrer iremos parar.— ele avisou e já saiu da casa.

— Você já percebeu que não estamos sendo salvos? Só estamos seguindo eles para um destino suicida esperando não acabar mortos.— Kyon sussurrou para Nara.

Ela somente sussurrou um sim, já havia pensado naquilo incontáveis vezes.

Maria e Matheus esperavam do lado de fora para se despedirem, foi quando olhou para ele que Nara lembrou de sua promessa.

"— Leve meu neto, por favor, vou ficar aqui para caso apareça mais algum doente, aliás  eu só seria um peso morto. Mas me prometa que levará ele e o manterá a salvo.— a senhora pediu enquanto a encarava nos olhos, Nara tremeu com aquele contato e pedido, sabia que não acabaria bem."

Rodheriquesson foi rapidamente em direção a Maria a abraçando.

— Obrigada por tudo. Queria muito te levar conosco mas será perigoso, quando tudo isso acabar volto para buscar vocês, se cuida até lá.— ele sussurrou em seu ouvido.

— Se cuida, meu filho, esqueça o passado e viva feliz mesmo em meio a esse caos.— ela falou o abraçando mais forte.

Nara parou atrás de Rodheriquesson, estava nervosa, todas os outros já estavam na van, sua mão tremia com medo do surto que aquilo causaria. Maria a encarou como se esperasse ela fazer o que havia prometido, Nara olhou para o menino, ele já possuía até uma mochila nas costas. Decidida foi até a senhora e a abraçou.

— Vou cuidar dele, não se preocupe.— sussurrou.

Ao desfazer o abraço da senhora foi em direção a criança como se fosse o abraçar também, porém segurou sua mão e foi em direção a van.

Stevan automaticamente mudou a sua expressão e encarou a cena com seu olhar crítico.

— O que você pensa que está fazendo?

— Vou levá-lo conosco, irei cuidar dele da mesma forma que poderia ter cuidado da Aninha.— ela falou o final de forma desafiadora, sabia que a menina tinha mexido com ele.

— Ou você deixa ele ai e entra logo ou vai ficar ai com eles.— ele respondeu já ligando o carro.

Nara procurou apoio vindo de Rodheriquesson, seu olhar para ele pedia ajuda.

— Eu cuido dele, Stevan, deixe-o ficar, por favor.

O homem soltou uma risadinha.

— Vocês não conseguem nem cuidar de si mesmo, quem dirá de uma criança.

Nara ficou ainda mais nervosa, tinha que arriscar.

— Pelo menos não seríamos capazes de quebrar o pescoço de uma criança!— ela acusou.

— Um carnificiendo!— ele rebateu gritando.

Ela sabia, sabia que ele não estava totalmente errado, mas o culpava. Quando um tiro veio as palavras que iria proferir se calaram.

Ganância - O início do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora