Capítulo 23

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Teobaldo já não se mexia quando Gael se ergueu e apontou a arma para cabeça de Nara, ela sabia que o carnifiendo estava parado porque queria, algo estava muito errado.

Nara escutou quando a arma foi engatilhada, no meio daquela algazarra ainda conseguiu prestar atenção naquele som.

Shayene respirava com dificuldade, não admitiria a ninguém, porém quando escutou o tiro sentiu medo como nunca antes havia sentido, não podia perder sua irmã.

O corpo de Nara agora se encontrava jogado no tatame, completamente imóvel.

Jeremy correu e pegou sua arma do chão, seu corpo todo tremia, apesar de tudo não era acostumado com esse tipo de situação.

Gael se encontrava caido morto juntos dos outros carnifiendos, mas não foi Stevan que atirou.

Teobaldo se encontrava em cima de Nara a enforcando, o corpo da menina já se encontrava sem ar, mas ela lutava para se manter consciente.

Shayene logo atirou mas o tiro não foi certeiro.

— Droga! Façam alguma coisa seus idiotas!— ela gritou.

Não precisou dos demais fazerem algo, um tiro acertou a cabeça do carnifiecendo.

Shayene correu em direção a sua irmã que tossia fortemente, aquela cena a desesperou.

Todo o rosto de Nara se encontrava sujo de sangue, parecia até uma cena de filme de terror, mas retirar aquele líquido viscoso de seu rosto não era a meta no momento e sim conseguir respirar normalmente. Nunca antes o oxigênio foi tão importante quanto naquele momento.

— Você está bem?— Shayene perguntou enquanto se ajoelhava ao lado da mais velha.

Nara somente assentiu, não conseguia falar nada.

— Não esperava ver você novamente.— uma voz que não pertencia ao grupo falou.

Nara se virou para trás, parado em uma porta que ninguém havia percebido estava Kyon. O corpo do rapaz se encontrava todo machucado e uma arma estava em sua mão.

— Quem é você? — Stevan perguntou apontando sua arma para o menino.

— Não seja idiota, se não fosse ele nesse momento eu estaria morta.— Nara resmungo com a voz falha.

Ela não esperava que a pessoa que os carnifiendos haviam deixado para matar mais tarde era logo ele, não sentia raiva dele como sentia dos outros, mas isso também não apagava o que ele e os demais fizeram.

— Ele é um dos homens que assaltaram nossa casa.— Shayene respondeu enquanto encarava Kyon com nojo.

— Mais um motivo para eu atirar nele.

— Para com esse seu joguinho de assassino.— Isabel pediu segurando o braço de Stevan com força, ela temia o pior.

— Ele ajudou no momento em que você agiu igual um babaca. — Jeremy acusou.

Nara reuniu suas forças e se levantou, seu corpo estava todo dolorido, mas ignorava isso. Caminhou lentamente até se encontrar de frente a Kyon.

De alguma forma que não conseguia explicar enxergava bondade no olhar dele, ele parecia alguém que teve que tomar decisões ruins por causa de situações difíceis da vida, não sabia se estava certa, porém também não conseguia pensar de outra forma.

— Obrigada.— ela sussurrou abrindo um sorriso, mas o sangue em sua face fazia aquela cena algo macabro.

Kyon abaixou a cabeça e cerrou os punhos.

— Por que?— ele perguntou de forma quase inaudível.

— O que?— ela perguntou sem entender.

Enquanto isso Stevan queria ir até eles tirar satisfação, porém Rodheriqueson o impedia.

— Ou você começa a mudar suas atitudes ou já já não terá nem o título de líder de nossa equipe, muito menos nossa consideração. — o mais forte sussurrou.

Stevan o encarou incrédulo, nunca imaginou que Rodheriqueson falaria daquela forma com ele.

— Como você ousa?— perguntou enfurecido.

— Ele está certo Stevan, continue assim que você logo entenderá o que é ser sozinho novamente.— Isabel falou.

Aquela simples menção o fez parar, ela sabia como o atingir.

Kyon ainda não tinha coragem de olhar nos olhos da menina na sua frente, fazer aquilo com certeza iria doer mais do que seus machucados.

— Por que está me agradecendo? Eu fiz mal a vocês, eu roubei sua casa, vi eles fazendo mal a sua irmã e não impedi. Eu sou um monstro não nojento quanto os carnifiendos. — ele sussurrou e uma lagrima escorreu por seu rosto, somente uma, não podia deixar as demais rolarem se não acabaria desmoronando ali mesmo.

— Você não é!— ela exclamou, escutar ele dizer aquilo fez seu coração doer.— Eu não sei o que lhe levou a fazer aquilo, a se juntar aquelas pessoas, mas no instante que lhe vi percebi que você não queria fazer aquilo. Se você fosse um monstro não teria me salvado, eu vejo bondade em você.

— Eles iam me matar, mas resolveram me deixar vivo caso eu ajudasse eles, a sua foi a única casa que ajudei a assaltar. Eu não deveria ter aceitado isso, mas eu tinha medo de morrer, eu não queria acabar daquela forma, mas ter aceitado ajudar eles foi uma escolha pior do que aceitar morrer.— ele falou levantando aos poucos a arma em direção ao seu coração, estava decidido a por um fim na dor que sentia.

Nara logo percebeu a movimentação da mão dele e colocou sua mão por cima da dele o impedindo de continuar o ato.

— Olhe para mim, Kyon.— ela pediu, porém ele não se mexeu, com sua mão livre ergueu o queixo dele.— Agora abra os olhos, por favor.

Nara respirou fundo, precisava ser paciente, após alguns segundos ele abriu os olhos. Ela viu tanta dor e tristeza em sua expressão, parecia travar uma guerra contra si mesmo.

— Todos erram, em algum momento da vida sempre vamos tomar alguma atitude ruim a qual vamos se arrepender depois. Você ter escolhido viver não foi um erro, foi o certo, você merece estar aqui hoje, de pé, vivo. Você é bom e apesar do caos que estamos vivendo sei que ainda fará diferença na vida de muitas pessoas.

Quando Kyon escutou aquilo não conseguiu segurar suas lágrimas.

— Eu juro que quis fazer algo, que não quis que ele fizesse mal a você e sua irmã, me perdoa, eu juro que se pudesse teria feito de diferente. — ele falou em meios aos soluços.

Nara tirou a arma da mão dele e jogou no chão, logo após o abraçou. Sentia a respiração rápida dele, os soluços fortes e naquele instante parecia que conseguia sentir a dor que ele estava sentindo. O abraçou com mais força, desejava de alguma forma o consolar e nunca mais o ver chorar daquela forma.

Kyon a apertou contra si, aquele abraço significou tanto para ele, aquele gesto dela foi a luz no fim do túnel que tanto desejava, o motivo que tanto esperava para ter forças para continuar lutando. Naquele instante sentiu que precisava continuar vivo, que não era o monstro que achava que havia se transformado.

— Obrigada, você salvou minha vida.— ele sussurrou somente para ela escutar.

Nara abriu um singelo sorriso ao escutar aquilo.

Ganância - O início do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora