capítulo 1

441 60 36
                                    

Para alguns fins, não existem novos
recomeços.

—Shayene venha ver!—Gritou Nara.

Estava para começar a reportagem ao vivo de onde o pai delas trabalhava há meses.

-— Já começou?—perguntou Shayene enquanto entrava no cômodo.

— Não; mas já está para começar.

— Será que papai vai aparecer?

—Espero que sim.- falou Nara soltando um longo suspiro.

Sentiam falta de seu pai, sabiam que ele só entrou nesse emprego louco só para dar uma vida melhor a elas, se sentiam culpadas por isso.

Desde a morte de sua falecida esposa no parto de Shayene há 14 anos atrás, ele nunca parou de trabalhar, entrava em um empregos atrás do outro. As vezes trabalhava em mais de um ao mesmo tempo, porém dinheiro nenhum ocuparia a ausência dele, dinheiro nenhum pagaria a falta que ele fazia.

— Vai começar! —Gritou a mais nova animada.

Assistiam o repórter começar a falar, a cada parte da cratera que as imagens mostravam, o medo de algo acontecer ao seu pai ali só aumentava. Era um local de trabalho desumano, a qualquer momento tudo poderia cair em suas cabeças.

—Esse emprego de papai é suicida.— alegou Shayene.

Shayene era uma cópia de sua mãe. Morena, com curtos cabelos encaracolados, rosto arredondado e com fartas bochechas, sua estatura era abaixo da média.

— Tenho medo de algo ruim acontecer com ele lá. —confessou Nara, seu pai era tudo que ambas tinham.

Nara já era mais parecida com o pai. Sua pele possuía um tom quase branco desbotado, seu longo cabelo castanho claro era ondulado, seu rosto possuía traços delicados.

Quando a câmera focou em seu pai, o coração de ambas se alegrou, há tanto tempo não o viam.

— É o papai Nara! é ele! — Gritou a caçula, um grande sorriso estampava seu rosto.

—Quieta, Shayene! escute.— repreendeu a mais velha, queria ouvir seu pai.

A cada palavra que ele dizia o coração delas se apertava em saudade, lágrimas já banhavam seua rostos, ele realmente as amava.

Quando o tesouro foi encontrado Nara ficou intrigada, seria muita sorte isso acontecer logo no momento da reportagem. Durante meses, quando seu pai arrumava uma forma de se comunicar sempre contava que nunca encontravam nada, só areia e pedras.

—Nara! olhe! O ouro está derretendo. —gritou Shayene enquanto a televisão transmitia a esfera derreter após o toque do presidente .

— Isso é impossível. —sussurrou Nara para si mesma .

Os próximos segundos foram os mais tensos de suas vidas. Assistiram atentamente o animal desconhecido voar entre os homens, quando ele entrou dentro do ouvido de seu pai e ele caiu, gritos foram emitidos por ambas, algo errado acontecia. O desespero chegava a ser quase palpável naquela sala .

—Nara o papai! Nara o que aconteceu? — perguntava Shayene desesperada.

—Ele vai ficar bem.— respondeu a primogênita, mas no fundo dizia aquilo mais para si mesma.

Quando seu pai levantou, alívio invadiu as meninas, porém não durou muito. Quando o machado voou e atingiu a cabeça de Bastiel o ar parecia inexistente em seus pulmões, o coração parecia prestes a parar. O presidente foi morto ao vivo; o mundo todo pode ver e o assassino foi o pai delas.

Nenhuma das duas desviava o olhar da televisão, desejavam que tudo fosse uma brincadeira. Viram seu pai gritar, o desespero se instalar lá, a correria, assistiram o que os homens desesperados não viram, outros animais começaram a surgir de todos os lugares e entrarem na cabeça de todos, a carnificina começou. A reportagem não terminava, tudo continuava a ser transmitido ao vivo, cada morte, cada grito, cada dor.

Um zumbido pode ser escutado na casa das meninas.

— O que está acontecendo?— sussurrou a mais nova em meio as lágrimas.

Nara não respondeu, somente caminhou até a janela, quando olhou para fora o céu estava começando a ser coberto por uma nuvem cinza, o zumbido vinha de lá. Quando observou o animal entrar no ouvido de uma pessoa que tinha na rua percebeu, talvez tarde demais, que aquilo não era uma nuvem, aquilo era o início do fim .

A morte estava pronta para bater na porta daquelas meninas, por sorte lembrou da única chance que tinham de sobreviver.

& Shayene, corra para o porão, agora!—gritou.

Shayene continuava parada, o desespero estava presente em Nara.

— Agora Shayene!—gritou novamente.

Saiu correndo pela casa, não esperou para ver se ela foi, sabia que era egoísmo, um erro deixar ela lá, mas elas só tinham aquela chance.

Entrou no quarto de seu pai e começou a vasculhar o guarda-roupa, corria contra o tempo. Quando achou o fundo falso suas mãos tremiam, seu corpo suava frio, seu pai guardava duas armas ali e munições. Pegou tudo o mais rápido possível, por sorte tudo estava dentro de uma mochila, precisava correr.

De volta ao corredor, correu o mais rápido possível de volta a sala, rezava para que Shayene estivesse ido para o porão.
Chegando lá o alivio a atingiu, porém os zumbidos estavam mais fortes, eles estavam perto. Passou o olhar pela sala e encontrou uma raquete de mosquito, sabia que aqueles animais não eram mosquitos, mas era única coisa que poderia usar.

Enquanto corria pelos corredores, escutou um barulho perto de si, um animal daqueles estava no corredor. A porta para o porão estava perto, porém sabia que ele entraria em sua cabeça antes de conseguir entrar.

Talvez o medo ou instinto de defesa tenha a dominado naquele momento. Segurou a raquete com tanta força que os seus dedos ficaram em tom esbranquiçados, não podia errar, precisa sobreviver. Esperou; cada segundo era torturante, quando o animal estava a poucos centímetros dela ligou a raquete e esbofeteou o bicho, não esperou para ver o que realmente aconteceu com ele após do impacto, somente voltou a correr.

O porão estava escuro, com dificuldade começou a tatear a parede, o alivio a invadiu quando a luz se acendeu. Um grito ficou preso em sua garganta, um taco de beisebol estava apontando para ela.

— Meu deus! Nunca mais faça isso! — exclamou para sua irmã que estava a sua frente.

—Desculpa. —sussurrou a menina.

Nara sabia que ela estava com medo, era só uma criança, sem saber o que fazer somente a abraçou. O abraço era um consolo que palavra nenhuma traria, seu pai estava morto, pessoas estavam morrendo e enlouquecendo,o mundo estava um caos, o fim estava chegando e estavam no meio de tudo.

Ganância - O início do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora