Capítulo 7

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Nunca abra a porta para estranhos, as vezes até ladrões e assassinos tentam ter bons modos.

O número já havia caido em caixa postal cinco vezes e apesar disso ela insistia. Sabia  que provavelmente não ganharia nada com aquela ligação, porém se agarrou a ideia de ligar como se sua vida dependesse daquilo.

— Pare de tentar, isso é perca de tempo, ligar não vai mudar nada. — falou Shayene.

Nara não respondeu, continuou grudada no telefone. Depois do que pareceu uma eternidade para, o telefone começou a chamar, a ansiedade se apoderou de seu coração.

— Está chamando - gritou ela para sua irmã, em seu rosto um grande sorriso era estampado, parecia até ironia tal cena, em meio ao fim do mundo conseguir sorrir por causa de uma simples ligação.

—Olá, boa tarde!— disse uma voz feminina do outro lado da linha.

— Olá! Me chamo Nara.— disse a menina eufórica.— Eu estou ligando por causa do anúncio na televisão.

— Me diga, de que estado você é? — Perguntou a mulher, sua voz era fina, parecia de alguém jovem na opinião de Nara.

— Rio de Janeiro , sou da cidade de Seropédica.— respondeu rapidamente, estava nervosa, queria saber onde essa ligação iria a levar.

— Você está sozinha ou sua família também sobreviveu?

— Estou somente junto de minha irmã, Shayene.—sua voz saiu falha, um nó se formou em sua garganta,  queria que seu pai  estivesse ali também.

— Que bom!— exclamou a mulher, mudando completamente seu tom neutro de antes.

—Qual seu nome?— perguntou Nara cortando algo que a provável agente iria dizer, não conseguia conversar com alguém sem saber seu nome.

— Isso não é permitido dizer.— respondeu já retornando o tom de voz sério e indiferente.— Me diga suas respectivas idades.

—Eu tenho dezesseis e ela treze.

—Você poderia nos informar seu endereço completo?

— Bairro Campo Abertinalio , rua 87, casa 567.— informou Nara.

—Nós agradecemos a sua ligação.

—Não!— gritou Nara.— É só isso? Vocês só querem essas informações? Mais nada? O que farão com isso? Vocês virão aqui tentar nos salvar?

— É somente isso senhorita, não prolongue a ligação por favor, não iremos em seu encontro, isso seria suicídio.— respondeu a agente, parecia um robô, que foi treinada para falar aquilo.

—Mas...

—Me chamo Isabel.—Disse a mulher cortando a fala de Nara, dessa vez sua voz soou diferente, espontânea até, e assim a ligação foi encerrada.

Nara encarava o nada, aquela foi a ligação mais estranha que já teve, esperava alguma luz para essa tormenta que estava no meio, mas ela não veio e a decepção era visível em seu rosto.

—E o que falaram?— perguntou Shayene.

—Nada, somente fizeram algumas perguntas.

— Você sempre cria expectativas demais, sempre espera coisas boas, mas dessa vez nada bom vai acontecer, não se iluda mais.— disse Shayene com frieza, cada palavra que ela dizia pareciam facadas no coração de Nara; a verdade sempre dói.

Quando a mais velha ia responder, uma batida na porta ecoou no cômodo, que ironia alguém bater na porta no meio do fim do mundo.

O único som audível por toda a casa era as batidas incessantes na velha porta de madeira, até as respirações de ambas meninas haviam parado por segundos. O medo era tão intenso que poderia ser palpável naquele cômodo, o olhar de ambas encaravam a porta, apesar de uma estante estar na frente, temiam não ser forte o suficiente.

—Algum sobrevivente ai?— Uma voz grossa masculina gritou a pergunta.

Nara se virou para Shayene e fez um sinal para ela ficar em silêncio. Por minutos mais nenhuma palavra foi dita, somente sussuros quase inaudíveis eram ouvido pelas meninas, mais nenhuma batida na porta foi feita, elas nenhum movimento faziam além do tremer involuntário de seus corpos.

— Vamos entrar logo, larga de ser idiota nenhum deles nos responderia, ninguém é tão burro como você.—uma outra voz diferente da anterior gritou.

—Temos que nos precaver.— O primeiro homem que havia falado disse, sua voz era fácil de ser reconhecida pelo tom demasiadamente rouco.

—Parem com essa discussão desnecessária vamos invadir.— uma outra voz falou.

Nara logo entrou em alerta não sabia quem eram, mas tinha certeza que não seria boa coisa esperar para conferir.

Quando o som do primeiro golpe que foi deferido contra a porta chegou aos ouvido dela, ela correu, pegou as armas que estavam em cima da mesinha de centro e puxou sua irmã. Se escondeu com ela na escuridão do corredor, pela primeira vez agradeceu por estar em um local escuro.

Enquanto ouvia outros golpes serem dados contra a porta, desistiu de esperar para ver se tinha possibilidade de lutar contra eles. Sabia que pelo menos eram três homens, se fossem carnificiendos não teria uma única chance, precisava por a vida de sua irmã em primeiro lugar. Sem pensar muito, foi com sua irmã até seu quarto, varreu toda extensão do cômodo rapidamente com o olhar, um dos guarda-roupa se encontrava em frente a janela, precisava achar uma forma de esconder sua irmã e a si mesma, se eles arrombarem a porta seria fácil demais chegar até ali.

—Shayene tranque a porta e venha me ajudar.—ordenou ela sussurrando.

Examinava o outro guarda-roupa, era sua única ideia no momento, Shayene logo chegou para ajudar.

— Precisamos colocar em frente a porta.— disse apontando para o móvel.

Quando terminaram de colocar o móvel na frente da porta, um barulho alto chegou aos seus ouvidos, Nara sabia que haviam destruído a porta, era chegado o momento de lutar por suas vidas.

—Venha Shayene.— sussurou para sua irmã.

Rapidamente caminhou com ela até o guarda-roupa, que estava em frente a janela, era o local mais seguro. Precisava ser rápida, já ouvia passos pela casa , jogou todas as roupas no chão.

— Entre Shayene.— pediu , sem reclamar a mais nova entrou.— vou lhe cobrir com a roupa, não largue sua arma, fique quieta, se algo acontecer me grite, entendeu?—a menina assentiu.

Cobriu ela com a roupa, mas não de uma forma que não a deixaria respirar.

—Te amo.—foi a última coisa que disse antes de fechar portar do móvel e a trancar.

Correu e se jogou debaixo da cama, apesar de ser um esconderijo óbvio era sua única opção. O desespero tomava conta de si, desde quando tudo começou não tinha paz, mas dessa vez o medo era maior, algo dentro de si gritava que algo ruim iria acontecer.

—Procure em todos os cômodos do corredor.—gritou uma voz que não havia escutado antes.

Não tardaria para chegarem ali.

Ganância - O início do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora