Capítulo 3

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O jogo da sobrevivência havia começado, aquilo era uma caça, predadores existiam a cada esquina, havia chegado a hora de matar ou morrer.

O desespero tomou conta de cada célula dos corpos das meninas, a mulher era um deles; era louca por sangue.

Um barulho semelhante a ferros se chocando contra algo pode ser escutado, a risada voltou a ser emitida.

— É hora de brincar! Vocês não vão me ajudar? — voltou a perguntar em meio as risadas — Vamos brincar então.

E o primeiro som estrondoso veio, ela investia contra a porta do porão, nunca a frase "a morte está batendo a sua porta " foi tão irônica.

Nara tinha que fazer algo, precisava agir logo, encarou Shayene que ainda se contava sentada no canto da parede como se nada estivesse acontecendo, correu até.

As investidas não cessavam, logo a porta estaria no chão.

O tempo era um inimigo naquele instante.

— Preste atenção! Eu vou te esconder dentro do armário, não saia de lá por nada, entendeu?— Shayene a encarou e assentiu.

Talvez não estivesse raciocinando perfeitamente quando fez aquela escolha, se morresse sua irmã não teria chance alguma.

—Eu te amo.— sussurrou antes de fechar o armário.

Encarou a porta de madeira que já rachava, seu corpo tremia, repetia mentalmente que não podia fraquejar, a vida de sua irmã dependia dela, um erro condenaria ambas.

A cada segundo que se passava seu coração parecia que iria parar a qualquer momento.

Então a porta cedeu, a mulher caiu junto com os pedaços quebrados da madeira, ela gargalhava. Deveria atirar agora, sua mente gritava para levantar a arma e apertar o gatilho, porém não conseguia.

A mulher se levantou, parecia uma pessoa qualquer, era morena com longos cabelos escuros, seu ombro sangrava, o osso estava exposto mas ela aparentava não sentir dor, em cada uma de suas mãos segurava uma barra de ferro.

Quando ela levantou o olhar e encarou Nara, o mundo pareceu parar ao redor da menina, aquilo era uma caça e ela era a presa. Desviando rapidamente seu olhar para o armário, percebeu que sua irmã observava tudo pela brecha da porta do armário.

— Por ela.— sussurrou para si mesma.

Com o corpo tremendo levantou a arma, não conseguia mirar corretamente pois todo seu corpo tremia. A mulher em nenhum momento se mexeu ou deixou de sorrir, isso aterrorizava Nara.

— A princesinha irá atirar em mim, que dó! — falou a mulher com escárnio.

Sem muito pensar ou deixar se abalar pela zombaria da mulher puxou o gatilho. A bala pareceu ir lentamente, o tempo parecia ter desacelerado, quando a bala atingiu um alvo seu corpo também atingiu o chão.

A mulher estava em cima de Nara, o alvo que a bala atingiu não foi o certo, com o choque de seu corpo contra o chão, a arma foi parar a metros de si. Tentou empurrar a mulher de cima de si, porém ela possuía uma força desumana.

— Você não queria brincar princesinha? — perguntou com zombaria.

Precisava pensar rápido, aquele era seu fim, não havia morrido ainda porque a mulher queria brincar com seu sofrimento. O pior que a arma estava muito longe.

Com um movimento extintivo deu uma joelhada nas partes íntimas da mulher, ela não parecia ter sentido dor com o golpe, porém o sorriso saiu de seu rosto. Com movimentos extremamente rápidos ela levantou Nara e a pressionou na parede

—Acabou a brincadeira. — Disse e encostou a ponta da barra de ferro no pescoço da menina.

Era o fim, falhou em salvar sua irmã, falhou em ser forte.

E em um único movimento uma vida chegou ao fim, um corpo tombou no chão, um outro fim chegou.

Um corpo sem vida se encontrava no piso.

Um tiro certeiro havia sido disparado, uma mira perfeita efetuada.

Uma bala foi alojada em um coração, uma vida foi ceifada, ou talvez já não existia mais vida naquele corpo muito antes disso.

Nara encarava o corpo inerte e sem vida estirado no chão, sua respiração estava falha, nunca havia presenciado uma morte.

Seu olhar varreu o cômodo, não entedia como estava viva ainda, até que seu olhar encontrou o motivo. De início nem conseguia acreditar no que seus olhos presenciavam.

Shayene estava parada ali com a arma na mão. A mais nova sorria e do nada começou a gargalhar olhando para suas próprias mãos.

— Isso é mais fácil do que eu esperava. — ela exclamou satisfeita por ter conseguido matar a mulher.

— Você é louca? — perguntou Nara gritando. — Eu mandei você não sair do armário!

Shayene revirou os olhos, não tinha muita paciência com a superproteção de sua irmã.

— Ou eu saia e matava ela, ou você morria, então não reclame.— retrucou a mais nova.

— Você acha que isso é brincadeira? — indagou Nara com raiva.

— Não; mas ao contrário de você eu estou calma e não enlouquecendo.

Nara ficou quieta. Shayene não se importava em a magoar, sabia que ela precisava ouvir verdades.

— Vou subir lá para cima, preciso verificar como estão as coisas aqui não é mais um local seguro.— falou Nara após alguns segundos, enquanto ia em direção a escada que ligava à parte de cima da casa.

— Eu vou com você, não confio nesse cadáver, vai que ela ressuscita e se torna um zumbi que come cérebros.- disse Shayene com humor na voz, ela sempre fora fascinada por filmes de apocalipse zumbi.

— Ela não é um zumbi, não estamos em um filme.— retrucou Nara com um olhar fulminante. — Não brinque com situações sérias.

Entregou a arma que havia tirado da mão da menina, de volta a ela.

— Use somente em casos de urgência.— alertou.

Caminhou até a mochila retirando a outra arma, sabia que precisava dar seu melhor para proteger sua irmã, estavam enfrentando algo que ia além de qualquer situação difícil que já viveram.

Ganância - O início do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora