As escolhidas de Sarfame

A história de Fay

••••••••• Nove anos atrás •••••••••••

– Ei mocinha, acorda!

Fay Sigrid esfregou os olhos e olhou ao redor tentando entender o quê estava acontecendo. Ela viu o velho Ayers no final do corredor, o mesmo homem que decidiu cuidar da garota quando seus pais morreram na época em que ela era apenas um neném.

– Feliz aniversário – Disse o homem – Esse ano você tem convidados.

– O Mike e o Zay? – a criança perguntou – Eles vão brincar comigo? Ei, você comprou algum presente pra mim?

O velho ajustou sua camisa havaiana e soltou uma risada que parecia mais uma tosse seca.

– Você acha que eu tenho idade para ficar indo e voltando da cidade o tempo todo? Nós moramos em uma montanha!

Fay fez um biquinho e soltou um suspiro desanimado. Ela se arrastou até a mesa de madeira da cozinha, sua casa era tão pequena que com apenas dez passos ela chegou ao cômodo.

– Ei pestinha, – Chamou o velho – Toma isso.

Ele jogou para a garotinha um pequeno embrulho, antes que Fay pudesse abrir, ele se dirigiu para a entrada da casa e anunciou:

– Quando terminar o café da manhã, venha aqui fora. Nós precisamos esperar por aqueles dois.

A jovem Fay ergueu uma sobrancelha e encarou o embrulho, então ela o abriu e se deparou com um bracelete feito com pequenos cristais de gelo. Seus olhos se maravilharam com a beleza daquele objeto, rapidamente a garota prendeu em seu pulso.

– Lindo! – Ela sorriu.

Fay terminou de comer seu bife à mostarda – O velho Ayers sempre diz que você deve começar o dia comendo algo que te dará muita energia – Então ela correu em direção à porta, calçou suas botinhas para neve, e deu um salto para fora de casa.
O impacto foi tão forte que ela deu de cara no tapete de neve, mas ela rapidamente se recompôs e tentou encontrar seu velho.
Ayers estava na varanda, seu olhar estava muito sério. Ele encarava duas pessoas que subiam o caminho inclinado da montanha. Ele chamou Fay e ela se juntou à ele. Os dois observaram aqueles desconhecidos se aproximarem cada vez mais perto da casa.
Era um homem que parecia ter a mesma idade do velho Ayers, e junto com ele, estava o menino mais baixo, pálido e fracote que Fay já vira em todos os seus nove anos de vida.

– Esses são Ace e Ethan. – Disse Ayers – Eles vão passar uns dias aqui.

O homem mais velho se aproximou da garotinha e apertou sua mão. Fay podia ser pequena, mas também era muito orgulhosa. Ela estufou o peito e sacudiu a mão de Ace. O mesmo sorriu e passou uma mão nas costas do garoto que estava ao seu lado.

– Você deve cumprimentar a nossa anfitriã – Disse ele ao garoto.

Ethan esticou a mão coberta por uma luva de lã vermelha, Fay a apertou e analisou o menino. Ele estava tão cheio de roupas, que a única coisa que ela podia ver, eram seus olhos vermelhos e pequenos fios de cabelo branco de sua franja coberta por uma touca.

– Eu sou Fay Sigrid – Ela disse.

– Eu sei disso, – Ele respondeu – e eu sou o Ethan Hikae.

– Por quê você tá usando tantas roupas?

– A saúde do Ethan é muito fraca pestinha, – Disse o velho Ayers – Não encha o pobre coitado de perguntas.

Fay bufou e cruzou os braços, mas isso fez os velhos rirem. Ayers fez um sinal com os olhos indicando para que eles os deixassem sozinhos, Fay entendeu na hora! Ela sempre entende os sinais secretos.