— Olá! Olá? — era a única coisa que se podia ouvir naquele lugar.
Ela estava ao que parecia ser em uma longa floresta, tão obscura quanto interminável.
As árvores estavam tão próximas umas das outras que, se começasse um incêndio, se alastraria num piscar de olhos, e eram demasiadas longas que suas copas impediam o passar de qualquer raio de luz, o pouco que aparentava ter ali. O silêncio dominava completamente o local. A tensão subia nela, em conjunto com uma névoa tão densa que poderia até ser palpável, impedindo a visão de qualquer coisa, até mesmo de algo próximo como as árvores de tronco grosso, que existiam ali em abundância. Seus finos cabelos ruivos eriçavam com o arrepio.
— Oi? Tem alguém aí? — disse a pequena Wendy, enquanto caminhava receosa e com cautela pela floresta enevoada.
Não havia respostas, nenhum som além do sibilo das árvores quando atingidas por uma brisa congelante, que congelava a ruiva até a espinha.
Tremia tanto de medo quando de frio, mas algo nela a fazia continuar seguindo em frente. Se era coragem ou curiosidade, ela não sabia dizer, apenas seguia no seu caminho, passando cuidadosamente por entre as árvores grossas, que se apertavam nela, ainda mais quando as trespassava.
Foi então que, subitamente, um som intenso irrompeu no local, que a fez cobrir os ouvidos com as mãos no mesmo instante. Parecia muito com um trovão que se chocava na terra, só que várias vezes mais forte. Pareciam incessantes, tanto ele quanto o clarão que fazia no céu, que era até capaz de se ver através da atmosfera enevoada, que sumia gradativamente com aquela invasão de luz.
Qualquer um que ouvisse isso certamente ficaria paralisado de tanto pavor que sentiria, ou, se tivesse alguma fagulha de força, correriam para a direção oposta. Mas algo no interior de Wendy a fez agir de uma forma contrária de ficar estagnada de medo. Seguiu em frente, correndo em direção à origem do som, com ouvidos ainda tampados.
A medida que corria, som só ficava cada vez mais intenso. Ela, por outro lado, não cessava sua corrida, ia decidida até lá onde o som se originava, como se ela o conhecesse.
— Não! — gritou ela, enquanto descobria os ouvidos, usando as suas mãos agora para esticá-las para frente. Corria desesperada. — Não vá!!!
Conseguiu passar pelas árvores troncudas, até claramente um enorme clarão amarelado surgir na sua frente, acompanhado de uma pequena faísca púrpura, que avançava sobre ela.
— Não vá!!!!
Quando se deu por si, estava deitada em uma cama, em um quarto com uma tintura cor de pêssego nas quatro paredes e no teto. Pôs-se a sentar, virando lentamente sua cabeça para ambos os lados, um pouco sonolenta por ter acabado de acordar.
— Teve o mesmo sonho de novo, Wendy? — falou a Sra. Fernandes, enquanto recolhia a roupa suja de uma extremidade do quarto.
— Mais ou menos, mãe — ela virou sua cabeça, um pouco zonza. — Só que dessa vez eu fui atrás daquele vozeirão brilhante. Mas parecia ser tão real.
Wendy estava agora com 8 anos e vivia na casa dos Fernandes com eles, como se fosse parte da família.
Depois de ter sido encontrada na floresta pelos Fernandes e terem a levado a sua casa, a primeira coisa que eles fizeram a Wendy foi perguntar a ela se sabia dos nomes da sua família, dos seus conhecidos ou do seu próprio. Mas, surpreendentemente, ela não tinha nenhuma memória da sua vida antes de ser encontrada na floresta, nem mesmo um nome ou lembrança vaga.
Fizeram cartazes, divulgações na internet, perguntaram ao máximo de pessoas possível se sabiam de alguém que a conhecia, mas tudo isso também mostrou-se em vão. Eles até chegaram ao ponto de levá-la novamente àquela mesma floresta diversas vezes, com o intuito de que alguém pudesse conhecê-la retornar para procura-la, ou dela manifestar alguma lembrança de algo de seu passado, mas nada surgiu.
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Tribos da Luz: O Retorno Inesperado
FantasyWendy Tordenvaer, 14 anos, nunca foi a pessoa mais passível a socializar. Sejam por suas habilidades ou personalidade, era uma realidade distante. Mas algo mudou. Um chamado? Uma curiosidade? Um ataque? Ela se viu subitamente jogada numa jornada em...