Capítulo 7 - O primeiro teste

18 8 3
                                    

Wendy precisou de apenas alguns poucos instantes para processar o começo súbito do desafio, e já se encontrava avançando nele.

— Hum, isso vai ser divertido — comentou ele.

Ela esticava e recuava as mãos rapidamente, como se fosse um louva-a-deus, tentando apalpar a bala na mão do encapuzado, que em resposta dava ligeiros passos para trás, garantindo uma distância segura entre os dois. Seguia com mais impulso, com o intuito de deixá-lo encurralado.

Ele deu um ligeiro salto para o lado, afim de escapar. Wendy chegou a espelhar o ato, mas não conseguiu o feito de conseguir uma aproximação considerável.

Tsk. Esse cara consegue manter uma distância segura.

Um grau de irritação começou a subir em sua cabeça, dando uma guinada em sua aceleração. Conseguiu alcança-lo. Esticou o braço para a sua mão aberta, mas um grande salto e uma cambalhota ao pousar atrás dela frustrou seus planos.

Girou sobre os calcanhares e seguiu com as investidas nele, tentando ignorar a ridícula ignorada das leis da física que ele cometeu. Se ela se distrair, só iria aumentar a distância entre eles.

Ele chegou a girar para realizar um rodopio, afim de garantir uma escapada elegante, porém o braço esticado de Wendy preveu seus planos, aproveitando o relaxar de seus músculos para agarrá-lo quando fosse rodopiar.

— Te peguei — avisou ela, esticando o outro braço com pressa, mirando a bala. A resposta do encapuzado foi imediata. Com um mero movimento da mão para trás, tirou objeto foi alcance da ruiva, aproveitando que ela não tinha braços muito longos. — Tá de sacanagem? Sério isso?

Deu um súbito impulso para frente, os braços esticados, sem largar o braço dele, que levantava e esquivava a mão todas as vezes que Wendy tentava alcançá-la.

— Tsk.

A feição já tomada pela irritação, apertou seu braço com uma força considerável. Se ele sentiu dor, conseguiu não esboçar nada. Assim, como uma decisão apressada, decidiu puxar ele com toda a sua força, desequilibrando-o. Aproveitou a chance para pegar a bala finalmente.

Nada mal, ela consegue pensar bem rápido. Cria estratégias conforme a situação numa velocidade impressionante.

Mas ela não contava com a rapidez do seu oponente, que jogou a bala para cima. Instintivamente, ela olhou para o objeto. Erro grave. Tal distração a fez relaxar a mão, deixando uma brecha ao encapuzado de se soltar e, com mais um salto ridiculamente teatral, pegar a bala.

Wendy observou, embasbacada, seu oponente esbanjar o doce na palma de sua mão aberta, como se ele não visse desafio nela para levantar sua guarda.

— Decepcionante.

Isso foi o bastante para fazê-la explodir de raiva. Avançou nele com toda a força.

A Wendy ficou mesmo zangada. Pensou Daniel, apreensivo. E o tempo está acabando.

Wendy pareceu ceder mesmo, ao ponto de depender dos socos para arrancar a vitória dele. Todos parados por tênues movimentos com a palma da mão que estava livre. Ela desferia golpes de todos os ângulos possíveis, rondando-o com saltos laterais. Mas ele ou desviava ou os aparava sem qualquer esforço. Era como se tudo fosse uma brincadeira para ele.

Qual é a desse cara? Ninguém nunca me acompanhou por tanto tempo, não desde que eu consegui essa super velocidade.

Traços de cansaço e preocupação começavam a surgir em seu rosto zangado, ao ponto de nem mesmo Daniel ser capaz de, ao notar sua expressão, esperar alguma certeza de vitória dela.

Wendy tentou chutá-lo, recebendo em resposta uma palmada no ombro. Teve que cambalear um pouco para trás, afim de não ceder ao chão.

Faltavam dois minutos para o fim do desafio, e Wendy tornava a desferir golpes cada vez mais violentos. Nenhuma estratégia que ela pensava dava o menor sinal de vitória, ou ao menos brecha.

O tempo se esgotava, e o encapuzado sussurrou para si mesmo:

— O tempo está se acabando — falou em tom decepcionante. — Mesmo tendo aquele poder, não sabe praticamente nada sobre ele e como usá-lo. Ela se irrita fácil quando se vê em desvantagem, e quando fica assim, suas ações são inconsequentes e previsíveis. Algo muito ruim para o que estou precisando nesse ramo, onde esses erros podem significar a morte — soltou um grunhido baixo. — Talvez não seja ela.

Faltavam apenas alguns segundos, e os golpes de Wendy eram tão previsíveis que ele conseguia dete-los com menos esforço ainda.

Daniel engoliu seco.

Assim que os últimos segundos passaram, ele parou com seus saltos e esquivadas.

— Acabou o tempo — anunciou. — Sinto muito, mas você perdeu.

Wendy, que deveria estar totalmente cansada e com uma expressão derrotada, em resposta, esboçou um sorriso igualmente cansado e determinado.

— Será? — perguntou com uma arfada pesada.

— Como assim? — ele franziu o cenho. — É obvio que acabou. Não terá outra chance.

— Não vou precisar de outra chance. Olha para a sua mão, Batman do Paraguai.

Ao fazer tal ação, seus olhos se arregalaram ao perceber que segurava em sua mão uma pedra, ao invés de uma bala de coloração rosa.

Tornou seu olhar surpreso para a garota ruiva, que segurava alegre seu prêmio.

Embora seja obviamente inexperiente, pavio curto e ter treinamento zero de Hing, é nessa hora que seus poderes brilham. Quando ela se zangou, ficou significantemente mais rápida, mas não tanto quanto eu. E, para compensar a inferioridade na velocidade, aproveitou a chance de eu ter baixado a minha guarda quando estava sussurrando e me pegou desprevenido, trocando a bala pela pedra.

Soltou uma risada reservada, traços de alívio escapando.

Ela os usa de forma bem... Prática.

— Muito bem, garota — disse se aproximando dela —, você venceu.

— Obrigada — agradeceu, satisfeita. — Mas agora, quem é você?

Ele grunhiu de satisfação.

— Nos encontraremos novamente, Wendy Tordenvaer. Porém, se quer realmente saber quem sou eu e quem é você, vá ao colégio Titânio.

— Ok, essa foi a coisa mais clichê que eu já ouvi — retrucou Wendy. — E olha que eu jogo RPGs japoneses.

Ele girou sobre os calcanhares, o manto rodopiando ao seu redor. Wendy teve a leve impressão de que viu o corpo dele vibrar, literalmente, ficar num tom translúcido e sumir bem na frente de seus olhos.

— Mas que p.... — Wendy se cortou rapidamente, ao notar que Daniel se aproximava, igualmente perplexo. Quase.

— Mas o que foi aquilo?

Vendo que não adiantaria de nada teorizar sobre algo que nem ela conseguia entender, reduziu-se a suspirar e virar seu olhar apreensivo mascarado de feliz para o garoto.

— Vamos deixar isso para lá, está bem? Não conte a ninguém o que viu.

Ele assentiu, meio confuso. Mas nunca deixava de confiar em Wendy, a quem julgava ser sua melhor amiga.

— Agora, vou te levar para casa. Está mais do que na hora.

Tribos da Luz: O Retorno InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora