Enquanto ainda estava com Katie, Wendy viu, com o canto dos olhos, a imagem de San aproximar-se por entre os pedregulhos pontudos.
- Wendy...
- O que foi?
Ela fechou os olhos, respirou fundo e disse, de um jeito direto e decidido:
- Eu não vou tentar me desculpar. Eu percebi isso, não só por causa das minhas habilidades, mas sim pelos meus sentidos. Eu não sou cega. Eu sei que ainda está ressentida com isso, não importa quantas vezes tente negar. Claro, nós escondemos algumas coisas de você antes - aproximou-se de Wendy. Ficando palmo a palmo, seu olho com os olhos dela -, mas eu digo, com 100% de certeza, que nós não somos do tipo que guardamos segredos. Todos nós já passamos pelo o que você sente agora. Uma solidão, que te dá medo de querer conhecer pessoas novas, de não querer fazer parte de algo que possa te ferir no futuro. Eu ainda mais - abaixou os olhos -, eu já... fui tratada como indiferente por muitos que considerava meus iguais... duas vezes. Mas - ergueu novamente. Seu olhar castanho contra chocando com os olhos de Wendy -, quando eu cheguei aqui, percebi que havia sim um lugar para mim. Um lugar onde há pessoas iguais a mim, que já sentiram o que eu senti - Observou suas próprias mãos, ligeiramente trêmulas. - É verdade o que dizem, que nos sentimos melhores no meio de pessoas que já passaram o mesmo que nós. Não sei se é isso que você quer, a nossa amizade. Se não a quer, tudo bem. Não vou forçá-la a nada. Mas, se tem algo que realmente precisamos nesse momento, é do seu apoio.
Wendy a olhou surpresa. Nunca a vira falar tanto, ainda mais sem gaguejar ou parar para olhar se tinha mais alguém a ouvindo. Nem mesmo durante a aula de Hing, ela esbanjava tanta expressão.
Deslizou o seu olhar até a mão estendida dela. Ficou a encarando, pensativa.
Se não for para amizade, tudo bem. Não é por isso que estou aqui.
Depois de uns segundos, finalmente se decidiu.
Cuspiu na sua mão direita e apertou firmemente a de San, que fez uma micro-expressão de nojo pelo cuspe, mas ainda era capaz de se notar um sorriso tímido no meio daquela expressão.
- Então, qual é o plano? - perguntou Wendy.
.............
Faltavam apenas alguns poucos passos para Grobiest chegar em Demétrius, as asas abertas, barrando qualquer passagem.
Ele não podia dar nem mais nenhum passo. Só podia encarar uma fera sedenta de sangue com pouquíssima energia. Esse pensamento o fez suar frio.
- Ei, sua galinha de três cabeças - quando a Grobiest virou os seus três pares de olhos para a dona da voz, viu Wendy encima de um pedregulho de topo com base circular. - A sua mãe era uma hidra nanica. Seu nerd seis olhos. Aposto que não consegue me alcançar daqui.
Ela recuou e jogou para frente as suas mãos rapidamente, liberando três rajadas de raio, acertando as três cabeças da Grobiest, que se virou por completo, avançando com um rugido de fúria, direcionado a ruiva. Ela deu a língua para a fera, desceu do pedregulho e saiu correndo para distante dela.
Demétrius aproveitou a chance para sair do local aberto e acinzentado e encontrae-se com San, acompanhada de Katie, ambas próximas no pé de uma montanha que se erguia próxima de onde a batalha ocorrera.
- Qual é o plano? - ele já estava começando a se recuperar.
- O plano já está acontecendo - afirmou San, voltando ao seu tom tímido.
- Só espero que dê certo.
Wendy corria o máximo que podia, com a Grobiest em seus calcanhares. Percorria a planície rochosa e acinzentada, sem diminuir o passo, os sons da corrida ecoando sobre aquelas colinas.
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Tribos da Luz: O Retorno Inesperado
FantasyWendy Tordenvaer, 14 anos, nunca foi a pessoa mais passível a socializar. Sejam por suas habilidades ou personalidade, era uma realidade distante. Mas algo mudou. Um chamado? Uma curiosidade? Um ataque? Ela se viu subitamente jogada numa jornada em...