Prólogo - A garota na floresta

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Richard e Leila Fernandes eram um casal de jovens adultos que acabavam de voltar de carro do hospital.

Ambos com o semblante entristecido, devido a uma angustiante notícia de que eles não poderiam ter filhos, devido a um problema de que Leila não poderia dar à luz.

Aquela notícia a pegara de surpresa quando fora fazer o exame no hospital. De início ela negara tudo, como se tudo fizesse parte de uma brincadeira de mal gosto. Mas, algum tempo depois, finalmente consentiu, infelizmente caindo em um estado bem pior do que estivera antes.

Richard tinha cabelos pretos, com um rosto despido de qualquer barba ou bigode. Quando não estava triste, tinha uma expressão mais alegre e desocupada, com os seus 26 anos.

Leila tinha longos cabelos castanhos lisos, que caiam próximos a cintura. Apesar de possuir 25 anos, não tinha aparência de alguém dessa idade, apesar do rosto derramado em lágrimas nesse instante.

O casal, desconsolado, voltava para casa em um silêncio melancólico, sem vontade de falar nem puxar assunto de nada. Mas isso já era de se esperar, pois eles já haviam planejado ter um bebê há anos. No início, eles planejaram somente o quarto do filho, de um jeito que seria aproveitável se fosse menino ou menina, ou até ambos. Mas com o tempo eles foram se empolgando: colocaram pinturas de cores neutras, brinquedos que ajudariam o bebê a se desenvolver de um modo positivo, instalaram babás eletrônicas e outros aparelhos de segurança e compraram várias roupas de bebê... Tudo foi em vão. Tudo. O sonho tinha acabado quando o casal ouviu aquelas palavras, que pareciam mais um tiro no coração, advindas daquele médico: A senhora não consegue dar à luz.

Passavam por uma rodovia meio vazia da cidade. Nesta hora do dia, não haviam muitos carros. Somente era capaz de se ouvir o som de fundo dos poucos carros e do tênue barulho das lojas que se abriam. Era um local e um momento adequado para aquele clima.

Depois de um tempo de silêncio, Richard decidiu finalmente abrir a boca para consolar sua esposa.

— Vamos lá, querida, não fique assim — disse Richard para sua esposa, de um jeito que não revelasse sua tristeza e frustração. — Nós... Ehh... ainda podemos adotar uma criança, que tal? E se nós tivermos sorte, poderemos até...

Antes dele conseguir terminar de falar, Leila o cortou com um rosto afogado em lágrimas e com uma expressão que anteriormente exibia tristeza, mas agora era uma combinação de rispidez com amargura.

— Você não entende? Talvez nunca entenda — se esforçava para falar cada palavra, como se cada uma pesava 10 quilos. — Eu queria ter a sensação de ter dado vida ao bebê, de sentir ele nos meus braços depois do seu nascimento, de criá-lo e acompanhá-lo durante toda a sua vida — ficou em silêncio por um momento, deslizando suas mãos pela sua barriga. Depois, tornou a falar. — Mas agora, tudo se foi.

O silêncio havia voltado novamente àquele veículo. Os olhos dela agora estavam vazios de emoções.

Richard decidiu não seguir diretamente para casa. Se deparar com a imagem de vários itens e decorações relacionados a bebês não seria a melhor opção para sua esposa no momento.

Ficou rondando com o carro por um tempo em algumas partes da cidade, afim de esvaziar a cabeça.

Decidiu cortar caminho passando por uma rodovia próxima a uma floresta, uma área praticamente deserta.

Tribos da Luz: O Retorno InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora