Quando se certificou que poderia se mover sem sentir que estava sendo torturada pelo próprio corpo, Wendy pôs-se a sentar, ofegante e com a camada luminosa já esvaecendo.
- Ufa. Aquilo sim que foi uma luta digna de um Boss - coçou a cabeça, o olhar pensativo e fazendo biquinho. - Será que todas as missões são assim? Se são, haja roupa pra eu usar. Vão ficar todas rasgadas ou chamuscadas.
Como qualquer outro poder que usava, esse tirou muita de sua energia, que mal aguentava se movimentar sem liberar um tênue gemido de dor.
Depois de um tempo de descanso, lembrou-se de algo.
- Ah é.
Estalando o dedo, abriu a mochila que ainda estava em suas costas e estendeu a mão por cima dos ombros até o seu fundo. Tateou um pouco pelo seu interior e sentiu um desagradável cheiro de papel queimado. Sentiu um material fino em suas mãos e, quando puxou a sua mão de volta para frente, observou, espantada, e um pouco culpada, o livro que estava lendo.
Estava todo chamuscado e enegrecido pelo raio que a atingira. Ela sem dúvida não fora ferida por ele, mas não podia dizer o mesmo das coisas que carregava.
- Ai, o pessoal vai me matar se souber disso - falou enquanto observava pequenos pedaços do livro se desprender quando atingidos por uma brisa, sobrevoando pela encosta da montanha. Em poucos segundos, o livro reduziu-se a um pequenino punhado de papel preto em sua mão. - Acho melhor deixar isso só para mim.
Começou a assobiar, quando notou os outros três se aproximar.
- Wendy! - gritaram preocupados.
- Oi, gente - acenou. - Vocês demoraram, hein?
- O que você acabou de fazer foi de longe a coisa mais imprudente que eu já vi na vida - apesar do tom de sermão, a preocupação de Demétrius era óbvia.
- De nada - respondeu Wendy, displicentemente.
- Você está bem? - San já se precipitou para curá-la, ajoelhando-se próxima dela.
- Eu estou bem. Claro, fora estar com cada junta do meu corpo doendo pelo mínimo movimento que eu fizer e estar toda coberta de sujeira, é, eu estou bem - deixou escapar um riso, seguido de um gemido de dor. - Esse é um dos seus poderes, não é? Pode prever o futuro?
San assentiu.
- Porém, infelizmente, como a leitura de sentimentos, eu não tenho total controle sobre ela. No máximo, eu só posso ter pequenos flashes do futuro, ainda assim, esse também pode ser alterado, dependendo da situação. Como já deve ter ouvido falar, o tempo é como um rio. Se mexermos demais no presente, o futuro certamente pode mudar. E qualquer mudança, a mais mínima que seja, pode ocasionar tal futuro alternativo, tão distante ainda da minha previsão.
- Ainda assim, é incrível - disse a ruiva, untuosa. - Apesar de eu ter tido a chance de ser morta pela Grobiest. Acho que eu só vou usar esse "modo relâmpago" em casos de emergência. Porque, ai, ai, ai, ai, isso dói para um caramba!
- Ainda não tem controle total do seu Hing - observou Demétrius. - Mas, se continuar com o treino, vai ser tão boa quanto nós.
- Olha a humildade - falou Wendy, em tom sarcástico. Soltou um breve riso, seguido de uma resmungada de dor, devido ao movimento dos músculos por causa do riso. Mas não podia negar. Estava até entusiasmada por esse tal treino que viria.
- Muito obrigada por me salvar, tia Wendy - agradeceu a feliz Katie.
- Tia? - perguntou Wendy, se ajeitando na pedra. - Eu não pareço assim tão velha. Pareço?
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Tribos da Luz: O Retorno Inesperado
FantastikWendy Tordenvaer, 14 anos, nunca foi a pessoa mais passível a socializar. Sejam por suas habilidades ou personalidade, era uma realidade distante. Mas algo mudou. Um chamado? Uma curiosidade? Um ataque? Ela se viu subitamente jogada numa jornada em...