Capítulo 16 - Verdade chocante

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Já no corredor do colégio, Wendy andava a passos largos, mas parou ao ouvir o som da voz de San atrás de si, correndo até ela, meio ofegante.

— Você bem que poderia pedir para esperar mais cedo. Eu posso parar, sabia? — falou Wendy, girando para ficar frente a San e a avistando se aproximar. Pensou na frequência que começava a ver essa cena.

— Espera um pouco — falou San, erguendo o indicador. Apoiava a outra mão nos joelhos, enquanto respirava num ritmo pesado e acelerado. Depois de alguns segundos esperando, tornou a falar. — Eu queria me desculpar por antes.

— Está tudo bem — falou Wendy, indulgente, erguendo as mãos a altura dos ombros. — Não foi culpa sua.

— Não, eu queria me desculpar por tudo mesmo. Não deveríamos ter sido tão rápidos, principalmente o diretor Hans, que gosta de apressar as coisas. É que faz um tempo que estávamos precisando de um novo integrante no grupo e achávamos ser um milagre quando ele falou sobre você.

Wendy abaixou o olhar, sentindo uma súbita culpa espalhar pelo seu peito. Sentia também um pouco do grande peso posto nela naquele momento. Mas o que podia fazer? Do nada pediram para ela fazer algo que nunca sonhara em fazer? San, vendo o que fizera, tentou animá-la. Só tentou, pelo visto.

— O-olha, se servir de consolo, na minha primeira vez aqui, o diretor ficou falando por mais de cinco minutos sem parar. Eu me lembro que não entendia quase nada do que ele falava, tanto que ele parou de falar quase que na hora. E desde então ele não consegue começar uma conversa sem falar sobre aquele mundo paralelo. Nã-não que eu não goste, só que as vezes ele exagera muito.

Parecia que estava dando certo, não do jeito que San esperava. Wendy deixou escapar uma risada fraca. Elas se entreolharam e ambas riram.

— Há quanto tempo você está aqui? — perguntou Wendy, subitamente.

— Esse é o meu segundo ano no colégio e nessa equipe.

— Então você também é nova nesse tipo de coisa?

San deu de ombros.

— Por aí.

Alguma coisa nessa garota deixava mesmo Wendy intrigada. Não como algo ruim, mas algo que a deixava mais à vontade. Conseguia ter uma conversa despreocupada com San. Talvez seja porque ela também tinha poderes, ou por ela provavelmente ter passado pelas mesmas que Wendy passara, ou que ela não era uma pessoa tagarela ao ponto de deixar Wendy irritada.

— Você tem medo de se decepcionar, não é? — falou San em tom compreensivo.

— O quê?

— Essa é uma das minhas habilidades. Eu ainda não posso ler mentes, mas eu consigo ouvir alguns dos seus pensamentos passageiros ou até alguns que penduram por muito tempo. Sinto muito por fazer isso, é que eu ainda não tenho o controle total desse poder. Ele meio que ativa quando quer. Principalmente em momentos constrangedores — depois de falar isso, ela suspirou e falou o que havia ouvido na cabeça de Wendy. — Antigamente, você não fazia muitos amigos, por isso tem dificuldade em confiar nas pessoas hoje em dia, até se for para fazer alguma amizade. Eu não te culpo por isso, nós também já passamos pela mesma coisa — Wendy ficou ouvindo tudo aquilo em silêncio. Não parecia surpresa, afinal, sabia de tudo aquilo. Só não chegara a admitir isso a ninguém. — Olha, não precisamos ser amigos se você quiser. É uma escolha sua. Não quero te forçar a nada, principalmente se for algo que você tem problemas há anos. Eu entendo perfeitamente você querer ficar. Só que precisamos mesmo de ajuda na nossa luta.

— Contra quem? — perguntou Wendy, curiosa.

Naquele mesmo instante, uma espécie de turbilhão surgiu próximo do prédio do colégio.

Tribos da Luz: O Retorno InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora