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De mão em mão, Branco, Aiden e Ethan iam admirando todos os itens serem empacotados com demasiado cuidado e alocados em caminhonetes. Branco com demasiado orgulho, mantinha o olhar fixo em cada etapa do trabalho, averiguando qual dos homens mascarados abaixo de si apresentava qualquer sinal de descuido. Caso percebesse algum, ele mataria sem hesitar.

Havia trabalhado por tempo demais naquela obra prima. E ele precisava que tudo saísse perfeito. Ele tinha que fazer tudo perfeito para agradar ao ser perfeito. A sua deusa. A sua musa inspiradora. O seu herói. O seu irmão, Alice.

Já Aiden e Ethan admiravam o trabalho abaixo de si com êxtase. Eles estavam excitados. A ideia de que finalmente estava para começar lhes deixava animados ao ponto de não conseguirem parar de sorrir. Salivavam com a expectativa alta e ansiavam pela concretização de seu desejo.

Na linha de trabalho, os mascarados tinham as suas tarefas designadas de acordo com as mascaras que vestiam. Os pássaros abriam as caixas e as preenchiam com isopor. Os cães colocavam os itens feitos por Branco nas caixas, os lagartos as fechavam e as lacravam. Os patos as carregavam para os furgões. Paralelamente a aquela linha de produção, havia uma composta unicamente por porcos, trabalhando no mesmo serviço, mas carregando dois furgões específicos. Um homem de máscara branca com o símbolo de Paus por todo o rosto subiu as escadas e marchou na direção do trio.

- você tem certeza de que quer começar com isso? – inquiriu com a voz modificada pela máscara que tinha uma sistema sonoro similar ao de Branco.

- tenho. Espero por esse momento há anos! –

- então você sabe que não tem volta. Se usarmos Cheshire... – o mascarado tentou alertar ao trio

- vamos entrar em guerra com o país – disse Ethan com os braços cruzados.

- sabemos – concluiu Aiden observando o mascarado menear em compreensão.

- Wonderland está escondida há tempo demais. Está na hora de lembrar aos normies que ainda existimos – ditou o coelho unindo as mãos atrás do corpo.

- então, tudo certo. As provas já foram plantadas. Agora é apenas questão de tempo para o FBI morder a isca -

- perfeito. E com isso, vai ser questão de tempo até ele dar as caras por lá – murmurou o mascarado vestido de branco, chamando a atenção do trio.

- você sabe que se matar ele... –

- Alice lhe mata –

- então por que levar o agente Tate até a casa? – indagou o mascarado com o símbolo de paus na máscara, ouvindo o homem com máscara de coelho rir baixinho.

- porque Peter e eu temos uma conexão, Rainha – respondeu, dando as costas aos gêmeos, passando pelo homem com máscara de paus.

- uma conexão?! – questionaram os gêmeos, confusos, franzindo o cenho na direção do líder.

- sim. O agente Tate e eu compartilhamos o fio da vida. Se um morrer pelas mãos do outro, este também morrerá. Se eu matar Peter, Alice me mata. Mas se Peter me matar, Alice o mata. –

Os gêmeos sorriram de canto.

- vocês são reis de lados diferentes do tabuleiro – disseram em uníssono e o mascarado com rosto de coelho meneou em concordância.

- se Peter morrer, o País das Maravilhas terá a sua soberana de volta, mas será apenas para ser levado a ruína. Mas se eu morrer, Peter perde a guerra – concluiu Branco com um sorriso vitorioso por trás de sua máscara.

Os Tweedles gargalharam, deixando o homem com máscara branca lisa, com apenas o símbolo de um naipe em completa confusão.

- você é um gênio, Branco! – exclamaram novamente em uníssono.

Rainha negou com a cabeça.

- vocês são malucos – murmurou, indignado, vendo os três lhe direcionarem o olhar.

- e não somos todos? – questionou Branco e a luz em seus olhos mudou de vermelho para azul.

Aiden e Ethan retiraram suas máscaras dos bolsos interno de suas jaqueta, sorrindo largo. A máscara de Aiden era um par de furo para os olhos, um nariz e uma testa vermelhos, permitindo que sua boca se mantivesse exposta. Já Ethan era uma máscara igualmente vermelha, cobrindo apenas aquilo que a do irmão não cobria.

- as melhores pessoas são – ditou Ethan com seriedade e Aiden subiu no corrimão ao seu lado, engatinhando sobre o mesmo na direção de Rainha

- elas são sempre as mais insanas! – exclamou com o sorriso branco e largo, se inclinando na direção de Rainha, que recuou, engolindo em seco, antes de se deixar cair do corrimão, caindo em uma pilha de caixas vazias.

Branco e Tweedle Dee passaram por Rainha, que os encarava com seriedade. O mascarado observava os dois Maravilhanos marcharem na direção do interior do galpão, para a área mais escura do mesmo. Os pensamentos iam a mil em sua mente.

Fora uma boa ideia unir forças com Branco?

Com certeza.

Estava seguro?

Não. Não estava. Descobrira da maneira mais aterrorizante que o tão sonhado País das Maravilhas não era tão Maravilhoso para os estrangeiros. Forasteiros não eram permitidos, a não ser que fossem convidados. E os que renegavam esse mundo não sobreviviam para contar histórias sobre ele, o mantendo apenas no imaginário popular. Um lugar em que o crime compensa, um reino mágico onde a mente mais perversa predominava e dominava as mentes mais fracas. O jogo político naquele lugar era completamente diferente.

Viver com maravilhanos era como viver em um país completamente diferente, apesar de possuir as mesmas coordenadas geográficas, a mesma área, o mesmo relevo, o mesmo clima e bioma.

Quando Branco e Dee sumiram do seu campo de visão, Rainha negou com a cabeça, cruzando os braços. Um sorriso mínimo surgia em seus lábios, logo se transformando em um sorriso convencido.

- no fudno, todos temos um pouco de loucura por alguma coisa -

- Senhor, toda a carga foi armazenada nos veículos, como o ordenado – ditou uma mulher com máscara de porco vendo Rainha se virar em sua direção com um ar de superioridade.

- perfeito. Abasteçam e preparem cada veículo. Nada pode sair errado. Vocês saem em duas horas – ditou com autoridade, antes de dar as costas e se retirar.

- VAMBORA! VAMBORA! – gritou a mulher, batendo palmas que ecoaram pelo local.






Kira ajustou a mochila em seu ombro, antes de acenar em uma despedida muda. Observou as suas amigas de faculdade acenarem de dentro do carro de uma delas e iniciarem a sua viajem para suas respectivas casas. A morena se virou parar marchar até o próprio carro. Girava as chaves no indicador com naturalidade enquanto refletia sobre a sua noite.

As vezes era bom, muito bom, abandonar a vida de mafiosa e adquirir a pose da mulher que ela era. Fazer coisas comuns com gente comum. Juntar as amigas para ver um filme, encher um pouco a cara, passar um bom tempo em um fliperama. Banalidades do dia a dia de um jovem.

Suspirando com um sorriso mínimo nos lábios, a mulher parou de girar as chaves enquanto localizava o veículo um pouco distante. Assim que destravou o carro, a Yukimura sentiu uma sensação estranha. Se sentia sendo observada. Ao abrir a porta do carro e jogar a mochila no banco do passageiro, Kira sentiu a sensação se intensificar. Em suas costas, mãos grandes se preparavam para lhe alcançar, mas a morena fora mais rápida.

Em um giro, subjugou o seu perseguidor, o jogando contra o carro enquanto torcia um de seus braços. Quando reconheceu os fios castanhos bagunçados a sua frente.

- Choi! – rosnou irritada, antes de intensificar a pressão de sua mão na nuca alheia e do aperro no pulso do homem, o pressionando ainda mais contra o veículo e aumentando a torção em seu braço.

Um gritinho de dor escapou pelos lábios de Saiki, que rangia o dentes tentando conter a dor.

- calma! Calma! Calma! –

- o quê?! Acha que conseguiria me surpreender e fazer comigo o que faz com as garotas idiotas da sua zona? – a morena falava com calma enquanto via o mafioso a sua frente morder o lábio inferior.

- foi mal! –

- é sério que essa foi a sua tentativa de vingar a mão do seu pai? – debochou enquanto sentia um gargalhar lutar em sua garganta para ser emitido.

- eu só queria cumprimentar – choramingou antes de sentir a Yukimura mover o punho, forçando ainda mais o seu braço.

- não me venha com piadas, Choi. Eu sei o tipo de cumprimento que você usa com as mulheres –

- é sério. Eu nunca faria isso com você! – exclamou, desesperado

- me poupe, verme. Mulheres são apenas brinquedos na visão de estupradores – ralhou a Yukimura jogando o homem para o lado, o derrubando no chão.

- caramba! Tu é fortinha, hein?! –

- é melhor dizer para os idiotas que vieram com você que não sou pro bico deles – resmungou a morena já se preparando para entrar no carro.

- do que você está falando, mulher?! – Saiki inquiriu, indignado.

Kira estranhou o tom de voz do Choi.

- os homens que vieram com você para me estuprar – respondeu parando o que fazia e se virando para o castanho, o vendo se erguer com o cenho franzido em indignação.

-  wow! Relaxa aí, minha senhora! Não ia rolar estupro nenhum! E só para constar, eu vim sozinho. Fui jogar um pouco e vi você saindo com aquelas garotas do karaokê. Ai segui para poder lhe cumprimentar quando estivesse sozinha –

A Yukimura analisou a postura do homem, antes de se virar para o seu carro e pegar a sua mochila de volta, deixando Saiki confuso. O homem, no entanto, logo sorriu galante, colocando as mãos dentro dos bolsos da calça, fazendo a peça, já folgada, abaixar ainda mais, revelando mais do que apenas o elástico da cueca que usava.

- e aí? – questionou observando a Yukimura fechar a porta do carro – está afim de tomar uma? –

Kira rolou os olhos, ajustando a mochila nas costas.

- só no dia em que você servir para algo além de saco de pancadas! – resmungou enquanto apertava o passo, passando pelo Choi e esbarrando em seu ombro.

- qual foi, gata? Olha, eu sei que a reunião não foi lá essas coisas. Mas não é só porque não somos sócios que não sair... Ficar –

- se, realmente, quiser usar o seu pau em alguém ainda nessa vida, eu sugiro que você corra –

Saiki sorriu de canto.

- difícil, você, hein? Eu adoro uma mulher forte! – ditou enquanto acompanhava a Yukimura, vendo a mesma jogar as chaves do carro embaixo de um carro qualquer do estacionamento.

- ué?! Mas o que foi isso? –

Kira rosnou em raiva.

- como você é estúpido! Estamos cercados, imbecil! – ralhou antes de começar a correr para a saída de carros, deixando o castanho confuso.

Quando balas começaram a voar pelo local, Saiki se sobressaltou, assustado, correndo para se esconder e puxar a sua arma. Ao se colocar abaixado entre a traseira de um carro e a parede do estacionamento, o Choi pôde ouvir, atentamente e com o dedo no gatilho, passos apressados e gritos masculinos exaltando uma caçada a um mulher.

- mas que merda está acontecendo aqui? – murmurou, assustado e com a adrenalina a mil.

Havia sido pego de surpresa enquanto estava tentando atrair a atenção de Kira para si.

- Yukimura! – e, como um estalo, a sua mente recebeu a lucidez.

A mulher sendo caçada era Kira.

Ele olhou ao redor, tentando encontrar a morena. Mas, ao sentir a decepção lhe dominar quando constatou que ela não estava consigo, o homem se recordou que Kira correra na direção da rampa de descida dos carros antes de os tiros serem executados. A Yukimura havia previsto o raciocínio dos atacantes e recuou antes de ser atacada por eles. Aquela mulher não cansava de lhe surpreender.

- essa garota é fogo, mesmo – murmurou antes de, com cuidado, analisar o ambiente e se erguer.

Kira saltou o muro da rampa, aterrissando no pequeno gramado que separava o estacionamento da calçada, e correu ao máximo que conseguia. Empurrava todos que via pela frente. A sua única missão, ali, era correr. Correr até um ambiente em que ela tivesse alguma vantagem. A jovem olhou para trás, procurando qualquer sinal de seus perseguidores, encontrando alguns homens montados em motos e apontando para a direção em que ela seguia e gritando.

- certo. Estão vindo – murmurou, pensativa, tratando de roubar uma bicicleta que se encontrava encostada a um bicicletário, enquanto o dono procurava pela corrente na mochila.

A Yukimura pedalou o mais rápido que conseguia, sempre tomando caminhos os mais estreitos possíveis, de modo a retardadas os motoqueiros que lhe perseguiam. Ao entrar em um bairro conhecido, a morena sorriu. Inicialmente, ela pretendia apenas despistar os seus perseguidores e, assim que estivesse a salvo, ela pensaria em alguma providência sobre o . Mas, ao erguer a cabeça, analisando o ambiente em que se encontrava, tentando projetar a melhor rota de fuga em sua mente, a mulher se deparou com um ponto específico e chamativo do bairro.

Os motoqueiros, ao saírem da última ruela apertada, em uma fileira de roncos motorizados acelerados, não encontraram mais sinal algum di seu alvo. Eles haviam sido designados para mandar um recado a Ken Yukimura, o líder dos raposas, aniquilando a sua filha, o seu bem mais precioso. Eles haviam sido alertados de que a mulher sabia se defender e que a missão poderia ser difícil. Mas ninguém os alertou de que a jovem Yukimura seria tão habilidosa em uma fuga.

Eles pararam brevemente, olhando ao redor, procurando por algum sinal. O líder do grupo sinalizou para que eles começassem a circular, vasculhando a área, mas parou quando um dos companheiros apontou para uma direção e acelerou. O homem, confuso, encarou a direção, notando a bicicleta caída na calçada. O grupo se aproximou, encarando bem o prédio diante deles. Era uma construção em andamento, possuía vários andares, mas ainda estava apenas estruturado com vigas e algumas poucas paredes externas.

- ela quer mesmo nos despistar assim? – indagou uma mulher, descendo da moto e marchando na direção do prédio.

- eu quero quatro de vocês cercando o prédio. Ela não vai fugir tão fácil – ordenou o líder antes de duas duplas se voluntariarem e o resto arrancar com tudo para dentro da construção.

Os roncos dos motores ecoavam pelo ambiente aberto e vazio, com o intuito de alertar a Yukimura de que eles haviam chegado. Eles estacionaram as motos no interior do térreo, antes de começarem a vasculhar o ambiente, já armados com seus revólveres, canivetes, bastões e correntes. A medida em que subiam os andares, eles se irritavam. Mesmo com toda gritaria e xingamentos para a morena, eles não conseguiam a encontrar, não importava o quanto vasculhassem.

- achei uma coisa! – alertou uma mulher se abaixando e pegando a mochila de Kira em mãos.

- estava com ela, não? –

- sim – respondeu já iniciando uma busca na mochila.

Irritou-se e jogou o material no chão.

- só tem livros e um casaco! – ralhou voltando a empunhar a sua arma.

- é claramente uma afronta. Ela deixou exposto. No meio do ambiente vazio. Não se deu ao trabalho de esconder – ditou o líder do grupo, curioso.

- assim como a bicicleta –

- então a patricinha do papai quer brincar com a gente?! Por mim tudo – a mulher começou a resmungar, mas parou assim que escutou uma melodia.

Uma voz feminina cantarolava uma música de ninar. O som vinha das escadas e do espaço vazio do elevador que futuramente seria instalado, deixando todos confusos e apreensivos. Apesar de ser uma música de ninar, o ambiente escuro e vazio, bem como a premissa de assassinato deixava o clima tenso, estranho, pesado.

A risada maléfica que ecoou logo em seguida forçou alguns a engolirem em seco.

- essa garota é estranha – murmurou um dos capangas, marchando na direção das escadas.

- eu vou pelo elevador – disse o homem com corrente na mão, a pendurando no pescoço, antes de saltar na corda que se encontrava no espaço do elevador, passando a escalar a mesma.

- vamos pelas escadas – ditou o líder começando a marchar na direção do caminho citado. Assim que alcançaram a porta, eles pararam.

O grito que ecoou de trás deles os perturbou. Eles puderam ouvir o companheiro caindo todos os andares que subiram, antes de o som do impacto de seu corpo mole contra o solo duro do poço do elevador. Alguns do companheiros correram para o buraco, olhando para baixo, vendo o corpo completamente estirado do companheiro no chão, cercado por uma perturbadora mancha vermelha.

- ele caiu – murmurou um dos homens, recuando alguns passos, perturbado.

- ele caiu... Ou foi empurrado? – inquiriu uma das duas mulheres do grupo, vendo o homem lhe fitar, surpreso.

- acha que a garota fez isso? –

- disseram que ela sabia se defender. Vamos ver se é verdade – disse adentrando a área das escadas, sendo seguida por boa parte do grupo.

Os dois que averiguaram o som do amigo morto ficaram para trás, ainda encarando o poço do elevador, surpresos.

- vamos – ditou o menos afetado com a cena, já marchando na direção das escadas.

O companheiro ficou mais alguns segundos analisando a imagem do cadáver, sentindo um feio subir a sua

Enquanto subiam as escadas, o grupo foi surpreendido pela mudança na canção. Antes, a música vinha do andar de cima, mas, assim que alcançaram a porta do andar, o grupo parou quando as duas mulheres que lideravam o percurso pararam subitamente.

- qual foi? – inquiriu, confuso, analisando a expressão confusa e curiosa da mulher a sua frente.

- a música... Mudou de direção –

- está vindo do andar de baixo – concluiu a outra mulher e todos olharam para trás, surpresos.

A música parou.

Quando desceram as escadas correndo, eles se depararam com mais um companheiro morto, desta vez com os olhos furados e o pescoço cortado. O homem estava sentado sobre os próprios pés, ajoelhado, com as mãos no pescoço, com a cabeça jogada para trás.

- mas que merda! – exclamou um dos homens, erguendo a arma.

- ela está por aqui! –

Um dos homens gritou de dor, antes de cair ajoelhado no chão. Em suas costas e sua nuca haviam duas kunais. O grupo de criminosos ergueu o olhar, perplexo, observando apenas tambores, lona e matérias pesados.

- mas o que porra está acontecendo aqui?! – inquiriu o líder do grupo, indignado, antes de outro membro gritar de dor e cair de joelhos no chão, para, em seguida, cair deitado, já morto.

- VENHA AQUI E MORRE LOGO! –

- eu não sabia que os raposas eram tão covardes! – provocou uma das mulheres, sorrindo largo ao cerrar a mão entorno do canivete.

Mais um homem caiu e a mulher apena só encarou de soslaio, dando as costas para a companheira, iniciando uma defesa para a sua retaguarda. A risada de lábios fechados de Kira ecoou pelo ambiente, chamando a atenção do grupo para o poço do elevador. A morena se encontrava de pé, apoiada em um pilar de sustentação, girando uma pequena foice com furos, chamada Kama, no indicador. O grupo franziu o cenho para a máscara de madeira no formato de um rosto de raposa com o naipe de Espadas na testa.

- a inteligência de uma raposa é tão incompreendida – ironizou a morena enquanto desviava o rosto para a paisagem ao seu lado.

- atirem nela! – ordenou o líder do grupo apontando com o bastão em sua mão para a Yukimura, que riu baixinho antes de olhar em sua direção.

Nada aconteceu.

- o que estão... – o homem encarou o próprio grupo, furioso.

- ainda não percebeu? Matei todos os seus homens que estavam com armas de fogo nas mãos -

E só então o grupo se preocupou em analisar os cadáveres melhor, percebendo a veracidade nas palavras da mascarada. O home com olhos furados e os três que foram atacados pelas costas. Todos eles estavam com armas de fogo nas mãos.

- vocês começaram com isso. E agora eu vou terminar – ditou a morena antes de começar a marchar na direção do grupo, que avançou em si.

Um dos homens tentou lhe golpear com a faca, mas Kira girou sobre os próprios pés, fincando a lâmina da Kama na nuca alheia, fazendo o corpo do homem cair sem vida atrás de si. O líder girou o bastão nas mãos, antes de descer o mesmo com força contra a morena, que usou a Kama para desviar o ataque, lançando uma kunai de sua cintura no ombro do adversário que recuou com a dor.

- que porra! – ralhou, furioso.

Kira gargalhou por trás da máscara.

- o que houve? Não era para você estar me matando? – a Yukimura provocou, inclinando a cabeça como um bichinho confuso.

Uma das mulheres tentou um ataque por trás, mas a morena girou rapidamente, deslizando a lâmina da pequena foice em seu pescoço, fazendo o sangue jorrar e pintar a máscara branca com o líquido escarlate. Um dos homens restante se abaixou para pegar a pistola de um dos cadáveres, mas fora repreendido quando a lâmina que, outrora, estava na mão de sua companheira de máfia, atravessar a sua mão.

- se quer brincar comigo, tem que brincar direitinho -

- ora, sua puta! – rosnou outro homem, avançando pela lateral..

- a melhor parte é não precisar de nomes. Ninguém vai se lembrar de vocês, mesmo – provocou enquanto desviava do ataque.

Ela ergueu a kama, se preparando para fincar a arma no pescoço alheio, quando fora surpreendida por um ataque em suas costas. O golpe do bastão de ferro em suas costas lhe gerou uma dor intensa o suficiente para lhe fazer cambalear para a frente, desesperada por evitar que recebesse outro golpe daquele. Ela se virou, furiosa, vendo o líder manusear o bastão com uma mão, antes de, com certo cuidado, voltar a empunhar a arma com ambas as mãos.

- eu vou.. – a Yukimura fora calada por um corte em seu ombro. Ela olhou para o lado, vendo a mulher restante voltar a desferir um golpe em si, desta vez visando a sua garganta.

Com a kama, Kira parou o golpe, encaixando a empunhadura da faca da castanha a sua frente no bastão da sua arma, antes de puxar outra Kama de sua cintura e a fincar com força no ombro alheio. Com um golpe do joelho no abdômen alheio, forçou a mulher a se curvar, e com a Kama a puxou para a frente, a jogando no chão. O golpe do bastão que vinha em suas costas fora interrompido pela cabeça da mulher, perfurando o olho devido a força do encontro.

- O MEU OLHO! -

- oh porra! – exclamou o homem, perplexo e arrependido de seu movimento.

Antes que ele pudesse puxar o bastão, Kira girou e arremessou a Kama em sua direção. O homem não teve tempo de reação. A arma perfurou o seu peito, cortando o seu coração e criando uma fenda em seu pulmão. Kira recolheu a sua arma presa ao ombro da mulher antes de, pisando no corpo da mulher de olho furado, a ouvindo gemer abafado, caminhar até o homem, que estava indeciso entre tirar a arma de seu corpo ou não. Então ela tomou a iniciativa. Girou e puxou a empunhadura para si, puxando também o homem quando a lâmina da pequena foice se prendeu a costela de sua vítima.

- vocês realmente não fazem ideia de com quem estão lidando – ditou, furiosa, antes de, com a outra arma, desferir um golpe no pescoço alheio.

- sinceramente... – murmurou, irritada.

Erguendo as duas mãos, Kira lançou ambas as mãos nas costas da mulher caída. Ela havia treinado não apenas o seu corpo, mas também a sua mente. Havia contabilizado cada uma das vítimas e como as matou desde que começou o seu ataque. E aquela mulher não havia sido morta, apenas ferida. Para bater de frente com Alice, ela precisava incrementar cada habilidade e capacidade que podia, bem como desenvolver as que não tinha. Havia passado a vida inteira treinando para isso, desde que Alice matara a sua mãe na mansão de férias da família, nos Estados Unidos.

Kira cresceu treinando para ser como a criança que matou uma assassina exemplar como sua mãe. Ela não se importava em tomar a liderança do grupo de seu pai, ou criar a sua própria facção, como muitos filhos de mafiosos faziam. Ela sabia que eventualmente teria que liderar os raposas, mas, enquanto o pai vivesse e tivesse em condições de liderar, ele permaneceria no comando, e ela seria apenas a sua arma para alcançar o que quisesse. Pois ela sabia que assim poderia desenvolver melhor suas habilidades.

Suspirando de tédio, ela inclinou a cabeça para o lado, encarando os sobreviventes restantes. O pânico e o desespero estavam escancarados em suas expressões faciais. O modo como as suas mão tremiam segurando as suas armas brancas eram uma boa evidência de sua falta de determinação.

- vamos ser comunicativos e democráticos, tudo bem? Eu sou uma assassina em série, mas também sou uma mulher sociável. Eu deixarei vocês viverem – ditou a Yumimura observando todos lhe fitarem com surpresa nos olhos, logo substituída pela fúria.

- contanto que deixem um de vocês comigo. Tenho algumas coisas a perguntar – explicou antes de se abaixar e puxar as duas armas das costas da mulher, e passando a girar as mesmas em seus dedos.

- Você vai queimar no fogo do inferno! – ralhou o homem com uma Katana, manuseando a mesma antes de avançar com fúria na direção da mulher.

Kira suspirou.

- Então passarei a eternidade torturando vocês lá – ditou observando o homem erguer a espada.

A morena bloqueou o golpe com uma das kamas, antes de usar a outra para perfurar o queixo alheio, fazendo a lâmina atravessar a língua alheia. Ela tomou o cuidado de não o matar com aquele golpe, para que pudesse o puxar para perto de si com a lâmina presa em sua mandíbula.

- se não querem escolher um para morrer, então escolherei um para viver – ditou a morena com fúria, vendo o arrependimento brilhar nos olhos do homem, antes de acertar uma cabeçada no mesmo, o afastando, e usar a outra Kama para cortar a jugular do mesmo.

Em questão de minutos, todos os homens restantes se encontravam no chão, com cortes pelo corpo e grande parte do líquido que lhes dava a vida espalhado pelo chão da construção. Kira suspirou, um tanto cansada, e passou a caminhar pelo ambiente, cantarolando a música de ninar mais uma vez, recolhendo fodas as armas que havia usado no seu ataque.

Havia um sobrevivente. Um único homem que ela havia apenas imobilizado ao cortar as costas dos joelhos e as axilas, fincando uma kunai em cada uma das quatro articulações: joelhos e ombros. Agora que havia recolhido os seus pertences e os colocado em uma bolsa plástica que carregava em sua mochila, a Yumimura se voltou para o seu refém, o vendo chorar, inundado em agonia e temor.

- e então? Quem lhe mandou atrás de mim? Quem quer afetar o meu pai? – indagou a mascarada, observando o homem contorcer a careta de dor em uma tentativa de uma expressão de ódio, que era completamente estilhaçada pela dor.

- vai se foder! –

- bom. Não tem problema, de verdade. Independente de tua resposta, a morte é a única certeza para você. E quanto ao seu mandante, mais cedo ou mais tarde, eu descubro – a morena levou a mão a uma das lâminas penetrando o corpo do homem, passando a girar a arma ali.

- mas isso não quer dizer que a dor vai acabar rápido. Pois se não me serve para dar informações, vai me servir parar entretenimento –

O homem agonizava e berrava de dor, se contorcendo no chão. Kira parou com os movimentos, antes de inclinar a cabeça para o lado, mais uma vez.

- está doendo?! Me desculpe! Eu vou colocar como estava antes – disse antes de passar a girar a lâmina na direção contrária.

- MATSUDA! MATSUDA! – berrou o homem, desesperado, antes de sentir a Yukimura parar.

- tudo isso pelos Matsuda? –

- sim. Sim. As facções que tinham tratados com os Matsuda querem que você pague pelo prejuízo que causou com a morte dos irmãos Matsuda - desabafou entre respirações rápidas e ritmadas, tentando controlar a dor que sentia.

- então é isso. Hunf! Patético! Chega a ser desprezível – resmungou antes de retirar as armas brancas dos ferimentos do homem.

- isso é tudo – e então lançou duas delas no pobre ferido.

Uma acertou o peito, a outra acertou o centro do pescoço.

A morena voltou a recolher as suas armas. Assim que se ergueu, um disparo ecoou pelo ambiente, a assustando. Kira se virou, vendo a mulher que teve o olho perfurado pelo bastão do companheiro, e as costas por suas kamas, de pé, com um revolver na mão e um na lateral das testa, por onde o seu sangue jorrava. Ela caiu sem vida no chão, e a Yukimura desviou o olhar para as escadas, vendo Saiki abaixando a arma e se aproximando a passos cautelosos.

- você... Kira? – questionou o Choi, indeciso em apontar a arma ou não em sua direção.

A morena retirou a máscara que cobria o seu rosto, revelando a sua surpresa e desconfiança.

- o que faz aqui? – perguntou a Yukimura, desconfiada.

- eles me ignoraram completamente. Então sabia que estavam atrás de você. Eu vim ajudar, mas... Parece que não precisava –

- e como chegou aqui? –

- moto –

- e como enteou no prédio. Ele estava cercado –

- você não é a única que sabe matar pessoas, sabia? – indagou guardando a arma em sua cintura, mais uma vez, fazendo a mulher franzir o cenho em sua direção.

- eu posso... te levar até o seu carro – comentou apontando na direção das escadas com o polegar.

- esquece o carro –

- mas... É o seu carro –

- tem uma bomba nele. Por isso não usei para fugir –

- tem?! –

- ele confessou há um tempo atrás – apontou para o homem recém morto.

- então... –

- Choi – chamou a Yukimura observando o castanho se calar para lhe encarar, nervoso.

- o quê? –

- vamos tomar uma – ditou a Yukimura observando o castanho lhe fitar com surpresa.

- o quê?! –

- você disse que queria tomar ima, não? Vai ou não vai? – questionou já guardando a máscara em sua mochila.

- mas você disse que... Esquece. Eu que não vou jogar água fria agora! –

- você me foi útil, Choi. Agora me seja util mais uma vez e me leve para a minha casa – o homem sorriu largo, enquanto a mulher se aproximava de si, colocando a mochila sobre os ombros.

Saiki abriu espaço, se colocando ao lado da Yukimura, pronto para jogar o braço sobre os ombros da morena. Mas, antes que, se quer, ousasse abaixar o braço, Kira lhe golpeou o tórax com o cotovelo.

- faça isso e eu arranco o teu pau fora! – ralhou, irritada, colocando as mãos nos bolsos.

- assim eu vou me apaixonar! – provocou o Choi e a Yukimura apenas rolou os olhos.

Em questão de instantes, os dois estavam no elevador do prédio, apenas esperando adquirir a altitude correta.

- então... Eu... você estuda o quê? – questionou o castanho, um tanto curioso, de verdade, mas mais por se encontrar sem assunto.

- história – respondeu no momento exato em que o elevador de abriu.

Natsumi os recebeu com uma reverência, se surpreendendo, logo em seguida, ao reconhecer o homem de cabelos castanhos e veates no estilo punk. A morena a reverenciou de volta, e Choi repetiu o ato da Yukimura

- me siga – disse a dona da casa, acenando com a cabeça na direção do corredor longo a sua frente.

- senhorita. Há um homem a sua espera na sala de reuniões – ditou Natsumi se aproximando para recolher a mochila da morena.

Kira a encarou, confusa.

- a minha espera? – perguntou permitindo que a mais baixa pegasse a mochila.

- sim. Ele e o senhor Yukimura a esperam na sala de reuniões – respondeu Natsumi apontando gentilmente na direção do cômodo citado.

- e do que se trata? –

- eu não sei. Apenas me foi dito que ele tem algo importante para falar –

Kira meneou em compreensão, agradecendo e começando a marchar na direção da sala em que acertou uma faca na mão do pai de Saiki.

- ah, Natsumi. Limpe as minhas armas que estão na mochila, por favor. E leve esse cara aí até o salão de jogos. Isso vai impedir que ele durma até que eu volte – Ela se virou para pedir a conhecida de longa data, a vendo menear em compreensão e estender a mão na direção do salão de jogos, ondicando para que Saiki a seguisse.

Quando Kira adentrou a sala de reuniões, encontrou o seu pai sentado, com um recipiente de chá em mãos, se servindo em uma de suas preciosas xícaras de porcelana, artigo que colecionava fazia anos. A frente do seu pai, de costas para si, havia um homem de cabeça baixa, cabelos pretos e baixa estatura, ajoelhado diante da mesa. Pelo modo encolhido dos ombros e pelo leve tremer que seu corpo deu quando a porta se abriu, Kira soube que ele estava desesperado.

- você chegou – comentou Ken, virando o chá em sua xícara.

O homem de cabelo pretos a encarou de soslaio, receoso.

- do que se trata essa reunião? – inquiriu, indiferente, se colocando ao lado do pai na mesa, como de costume.

- e-eu tenho algo para vocês dois – murmurou o homem, quase sem voz.

- e você seria? – indagou Kira, desconfiada.

- Amayumi Toshiro. Ele trabalha para Tsuna Mayuri, líder da Lua Crescente -  respondeu Ken, observando o vapor que emanava de sua xícara, uma visão belíssima em sua humilde opinião.

- uma das famílias com as quais temos acordo de paz – murmurou a mais nova observando o homem puxar um envelope do bolso.

- Mayuri-san foi assassinado -

Ken parou o chá diante de seus lábios, surpreso.

Porém, não estava perplexo.

- Mayuri foi assassinado... Um movimento ousado. Como isso aconteceu? –

- estávamos nos Estados Unidos. Era para ser mais uma reunião pacífica entre uma antiga associação de famílias. –

- o Bosque Noturno? – Ken voltou a indagar, surpreendendo Kira.

- sim –

- é. Eu me lembro. Fazia parte desse grupo antes de... Antes de minha esposa ser morta –

- mas nós fomos pegos de surpresa e todos os líderes foram mortos –

- todos menos você. Conveniente, não? – questionou Ken observando as reações do homem.

Toshiro se desesperou mais ainda.

- uma mulher – argumentou, rapidamente, surpreendendo Kira – uma mulher apareceu do nada. Estava infiltrada na boate dos Persas como uma funcionária -

- uma mulher? – questionou, esperançosa por alguma pista do assassino de sua mãe.

- sim. Uma mascarada – respondeu e as expectativas de Kira foram consumidas pela decepção.

- e essa mulher... Ela disse alguma coisa? – bebericou um pouco do chá quente.

- ela me disse que, caso eu não quisesse ser responsabilizado pelas mortes dos líderes, que entregasse uma coisa para vocês dois -ditou retirando um envelope do bolso da jaqueta.

- uma carta?! – questionou Ken, confuso.

Aquilo era tão incomum na máfia. Geralmente recados eram mandados em corpos ou oralmente por sobreviventes. Não por cartas escritas.

Toshiro se ergueu e se aproximou a passos calmos, indicando que não tentaria nada, o homem abandonou o envelope sobre a mesa e Kira o pegou. Ela analisou a embalagem, completamente branca, antes de optar por abrir. Quando ela retirou so envelope uma carta de baralho, os corações de paie filha pararam simultaneamente, antes começarem a bombear o sangue de forma rápida, enquanto a respiração se tornava irregular. Ken quebrou a xícara em suas mãos, antes de avançar contra Toshiro, o puxando pela gola da jaqueta.

- que merda é essa?! – inquiriu, irritado.

- isso é alguma piada?! – ralhou puxando um Tanto de debaixo da mesa, pressionando a lâmina contra o pescoço alheio.

Toshiro gelou.

- ESTÁ ACHANDO ENGRAÇADO BRINCAR COM ISSO?! HEIN?! – o Yukimura berrava enquanto um filete de sangue escorria pelo pescoço do pobre mensageiro.

- pai... Não é brincadeira – murmurou Kira, chamando a atenção de seu pai, antes de girar a carta para ele, revelando um Valete de Espadas com o noem Alice escrito em sangue seco.

Ken sentiu o corpo gelar.

- é idêntica a que Alice deixou no corpo da mamãe naquela noite – ditou a jovem, perplexa.

O seu corpo tremia e o seu peito acelerou o processo de respiração, em um claro sinal de ansiedade. Ken sentia o peito apertar e tudo de ruim que ele havia deixado para trás voltar a sua mente como um tsunami ectoplasmático, trazendo os fantasmas do passado, inclusive a imagem de sua mulher morta no chão de sua mansão, bem como a imagem de uma Kira chorosa ao lado do cadáver.

- quem... Quem te entregou isso? – indagou Kira, tentando ao máximo não se exaltar.

- a mulher de máscara de coelho branco disse que Alice mandou lembranças – ditou o Amayumi, observando a jovem lhe fitar, perplexa.

Ken lhe cortou a garganta assim que Toshiro encerrou a sentença.

- PAI! -

- eu não quero ouvir mais uma palavra – ralhou o homem, perturbado.

- mas como vamos saber sobre essa mulher de máscara de coelho? E se tivesse mais alguma coisa que ele podia dizer? – inquiriu a mais nova observando Toshiro se engasgar no próprio sangue, antes de cair sobre a mesa.

- KIRA! – ralhou o homem, surpreendendo a filha.

Eram as poucas vezes em que Ken gritava com a sua única filha.

-EU NÃO QUERO OUVIR NADA SOBRE NENHUM COELHO BRANCO NESSA CASA! NEM FORA DELA! – gritou a plenos pulmões, conseguindo chamar a atenção até mesmo de Saiki, que se encontrava cercado pelo som das caixas de som s das bolas do sinuca batendo umas contra as outras.

Ken se ergueu, furioso, e, a passos pesados, marchou para fora do ambiente.

- queime essa carta – ordenou já em um tom mais baixo, porém ainda autoritário e possuidor de sua fúria.

- chame Benimaru, Inomura. Diga a ele que se livre do corpo na sala de reuniões – Kira ouviu o pai ordenar a uma das empregadas, antes de sumir pelo corredor.

A mulher observou a carta de baralho em suas mãos, antes de suspirar e sair da sala.






- é aqui? – inquiriu um dos policiais, enquanto descia da viatura.

- sim. O chamado foi aqui – respondeu a oficial que dirigia, descendo do veículo.

- disseram que era um tiroteio, não foi? – questionou o homem enquanto analisava a casa a sua frente.

Logo os outros policiais que se encontravam nas outras duas viaturas se aproximaram.

- sim. Teve até um chamado de reforço por um dos nossos – respondeu a mulher analisando bem a rua.

Os vizinhos, aos poucos, saiam nas portas de suas casas, curiosos com o surgimento de três viaturas que chegaram na rua com as sirenes gritando a mil, anunciando a sua chegada. A mulher estranhou.

- se era mesmo um tiroteio, por que os vizinhos estão saindo de casa? – questionou encarando todos eles e seus companheiros fizeram o mesmo.

- estão se sentindo seguros. O tiroteio deve ter parado há um tempo. E, agora, há seis policiais no local – respondeu enquanto analisava a situação.

- mas isso não explica a falta da viatura no local –

- deve estar em perseguição –

- mas não fomos informados de nenhuma perseguição – argumentou a oficial, desconfiada.

- na pior das hipóteses, os nossos foram mortos, e decidiram usar a viatura para fugir. E na melhor das hipóteses, estão em perseguição e os imbecis esqueceram de alertar à central – contra-argumentou o oficial mais velho do grupo, já marchando na direção da casa, enquanto retirava a arma do coldre.

- vão indo. Eu vou falar com os vizinhos, vê se arranjo algo com algum depoimento – disse a mulher dando um golpe da palma no ombro do parceiro e se dirigindo para a casa do lado.

Os vizinhos de ambos os lados não souberam lhe informar nada. Diziam não terem ouvido nem visto nada. O vizinho da frente ao vizinho direito alegou estar dormindo a noite toda devido ao medicamente controlado que usava. Então ela decidiu ir para a casa ao lado, a que ficava de frente para a residência denunciada, onde uma família composta de um casal, uma filha adolescente e uma criança observavam tudo da varanda.

O homem se desvencilhou da esposa, que abraçou a filha e o caçula, e se aproximou da policial.

- algum problema, oficial? –

- bom. Nós recebemos um chamado para esse endereço – respondeu já puxando o bloco de notas e a caneta.

- um chamado? – inquiriu, surpreso.

- sim. Um dos nossos atendeu o chamado e nos pediu reforços. Poderua me dizer se viu algo suspeito? –

O homem franziu o cenho.

- tiroteio?! Acho que houve algum engano – ditou o homem, confuso.

- você... Não ouviu nada? – perguntou, confusa.

- a coisa mais suspeita nos últimos três meses foram vocês. É a primeira vez que vejo a polícia parando aqui na rua – respondeu cruzando os braços sobre o peito, de modo a proteger o corpo do frio da noite.

- ah... Pai? – chamou a adolescente e os dois desviaram a atenção para a família parada na porta,

A adolescente apontou para a casa da frente.

- ah, meu Deus! David! – exclamou a mulher e os dois observaram o olhar aterrorizado da mulher para a casa da frente.

A oficial e o homem encararam a residência apontada pela jovem, se surpreendendo ao verem um dos oficiais sair da casa, mancando e ensanguentado. Ele correu até a viatura, se permitindo cair ao lado da mesma. A mulher correu na direção do parceiro, o encontrando respirando com dificuldade, enquanto pressionava a coxa.

- Charlie! O que aconteceu?! – questionou a oficial, desesperada, já se dirigindo para a porta, em busca do kit de primeiros socorros.

- chama o FBI – ditou, desesperado.

- o quê?! O que aconteceu, Charlie? Cadê os outros? – questionava enquanto se preparava para enfaixar o ferimento do parceiro, de forma a pressionar a corrente sanguínea, impedindo o sangramento.

- Haley! – ralhou o oficial puxando a parceira pelo colarinho – CHAMA O FBI! ELES ESTÃO MORTOS! -  gritou antes de soltar a companheira e levar as mãos a cabeça.

- Duncan, Harold e Alfred estão mortos. O Daniel estava em outro quarto. Eu não sei se ele também morreu. Mas quanto mais eu entrava na casa, mais mortos eu via. E mais de nós morriam – relatou enquanto sentia os olhos ardendo.

Ele estava em pânico.

- eu vou ver se o Daniel está bem. Você relate tudo para a central – ditou enquanto se preparava para se erguer, mas Charlie agarrou a sua perna e não a soltou.

- você não vai lá! – ditou, desesperado.

- Charlie! O Daniel ainda pode estar vivo – argumentou a oficial, surpresa com o desespero do parceiro.

Charlie negou com a cabeça.

- Daniel estava no fim do corredor do andar de cima. Eu quase não saí vivo, Haley! Essa casa é uma armadilha. Cada cômodo tem um jeito de te matar – argumentou já com as lágrimas banhando o rosto.

Haley, surpresa, encarou a residência de porta aberta. E foi nesse momento em que o corpo de um Daniel ferido caiu no pé da escada, de frente para o corredor que dava para a porta da frente. Haley e Charlie o encararam, surpresos.

- vai. Vai. Vai – ordenou Charlie empurrando a parceira na direção da casa.

Haley não pensou duas vezes. Quando Charlie estendeu mão, em um pedido mudo de ajuda, ela já estava cruzando a porta da casa a passos rápidos. Ela notou o corpo do parceiro caído sobre um corpo morto pálido, indicando que já estava há algum tempo naquele estado

- Calma, Dani-boy. A gente vai sair dessa casa – ela tenrou o acalmar enquanto se abaixava a sua frente.

Daniel se apoiou no chão com uma mão, enquanto que com a outra Haley o puxava para cima. A mão de Daniel afundou no chão e ele olhou aterrorizado para a mesma, vendo o buraco quadrado na madeira. Uma caixa de música que se encontrava sobre um altar na parede se abriu, e uma cabeça de coelho saltou para fora as mesma, balançando sobre a longa mola enquanto risos agudos e nasalados eram emitidos pela caixinha. A mulher parou o que fazia e apontou a arma para o coelho, surpresa.

- Haley...

A mulher gritou, em pânico, quando lanças surgiram do chão de madeira, perfurando todo o corpo do oficial ferido. Uma das lanças atravessou o ombro, outra a sua garganta, quatro atravessaram o seu torso, e uma atravessou a sua boca, mantendo a sua cabeça erguida na direção da policial aterrorizada.

Haley cambaleou para trás, surpresa.

- HALEY! – ela pôde ouvir Charlie gritar por si.

Ao se virar, aterrorizada, a mulher se viu surpresa ao ver a porta se fechando, enquanto Charlie cambaleava em sua direção, na tentativa de impedir que a porta se fechasse.

A porta bateu.



Peter se sobressaltou no sofá quando ouviu o telefone tocar insistentemente. Ele franziu o cenho pelo incômodo que a luz do Sol gerava em seus olhos. Peter chegou tão cansado, que havia se esquecido completamente de fechar as cortinas. Ele estava muito cansado, mas, ao mesmo tempo, inquieto.

A conversa que tivera com Stiles fora perturbadora. Para muitos, poderia ter soado como um dialogo normal entre um agente federal e um assassino encarcerado. Mas para ele fora a lembrança do motivo pelo qual defendia aquele homem com unhas e dentes. Alice não passava de um subproduto de crimes anteriores aos seus próprios. Stiles era apenas mais uma vítima dentre tantas. A única diferença entre ele e as outras, era que ele era a cara estampada no cartaz de procurado.

O louro desligou o despertador, se segurando para não jogar o objeto do outro lado do apartamento.

O ambiente estava uma zona, como de costume. Ele não morava ali. Peter morava com a sua irmã Talia. O apartamento que ele ainda mantinha era apenas um jeito de manter o seu trabalho longe de sua querida irmã. O louro ae ergueu do sofá, se espreguiçando, tentando afastar o sono que insistia em tentar lhe abraçar mais uma vez.

Ao abaixar os braços, Peter encarou a parede a sua frente. Todo o caso Alice estava detalhado ali. Cada página de jornal, cada corte de cópias de documentos relatados ao governo sobre o caso, as fotos de cada vitima, as armas, as cenas do crime. Tudo. Tudo estava ali. Era de se admirar como um único caso preencheu duas paredes inteiras do seu apartamento, como uma pintura excêntrica pouco compreendida pelos amantes da arte e da arquitetura. Incialmente, o louro tentou usar quadros e murais. Mas, assim que preencheu o segundo mural, o homem abandonou a ideia e optou por usar as paredes do escritório.

Peter suspirou, passando as mãos pelos rostos e se dirigindo para a cozinha. Precisava de uma dose de cafeína para voltar a colocar a mente para trabalhar naquele caso. Ele, por vezes, se assustava quando parava para pensar no garoto e na mulher mascarada. Anos se passaram e, até hoje, nunca se soube nada sobre Alice e Branco. Era como se os dois fossem algum tipo de entidade divina. Vieram do nada. Não havia rastro nenhum. Sem pais, irmãos, registros escolares ou médicos. Não havia nada.

Após colocar a cafeteira para trabalhar e puxar um pacote de salgadinhos do armário de cima, o Tate voltou para o seu escritório. Ele voltou a analisar tudo que havia reunido, dando um foque maior nas fotos que possuía de Branco. O corpo pendurado pelas mãos pregadas na parede, como a imagem no crucifixo. A cabeça jogada ao chão, ainda presa a máscara exageradamente realista de coelho branco. Acima do corpo decapitado pendurado na parede, estava escrito “Tudo começou com você, e com você terminará”

- não terminou com você. Mas eu sei que começou – murmurou, pensativo, analisando bem a foto do cadáver na mesa de autópsia.

A mulher que originalmente se intitulava Branco há mais de uma década, a descon, era morena, possuía um rosto redondo, cabelos longos e levemente ondulados, queixo alongado. A sua máscara era uma cabeça de coelho em tamanho humano, feita com pele natural do animal que representava. Se fosse maior e mais redonda, com certeza se pareceria com aquelas máscaras de animadores de festa.

E então Peter olhou para as fotos que imprimira na noite anterior. Acima delas, escrito com letras garrafais suas, havia “Novo Branco?” nas fotos do homem mascarado envolvido no massacre na casa de shows de um líder da mafia. As reportagens estavam por todo os lugares, para o desespero de Peter. Sendo um Branco ou não, aquilo com certeza poderia mexer com a mente de Stiles.

Talia havia lhe mandado um link de uma reportagem sobre o massacre na casa de shows poucos minutos depois que ele havia saído do presídio em que Stiles, Isaac e Vernon estavam encarcerados, para o seu desespero. As imagens e detalhes da reportagem lhe causaram um ataque de pânico, o que o forçou a passar cerca de quarenta minutos apenas sentado no carro, agarrado com toda a força no volante do veículo, como se a qualquer momento fosse arrancar o instrumento do painel do veículo.

Não poderia haver outro Branco. Stiles deveria ser mantido em seu estado atual. O seu garoto deveria ser mantido no controle de seu corpo. Nenhuma de suas outras personalidades deveria alcançar o controle de seu corpo mais uma vez. Peter não fazia ideia do esforço que o castanho deveria estar fazendo para manter os outros longe do controle de seu corpo, mas sabia que não era o suficiente para isolá-los completamente. Stiles ainda podia os ouvir comentar, rir e atiçar sobre tudo, apesar de nunca poderem fazer nada propriamente dito.

Se Stiles voltasse a ser Alice por completo, se voltasse a sua vida de crimes, toda a vida de Peter desde que Alexander faleceu teria sido um completo fracasso.

Um frio percorreu a sua espinha.

“Uma pessoa controladora pode colocar um fim na sua paz ou em um relacionamento seu.”

Se Stiles podia ver o futuro em suas cartas de tarô, ou não, Peter não sabia dizer. Mas ele podia garantir, com veemência, que o maldito conseguia acertar fatos futuros com aquela brincadeira com as cartas.

Porque fazia completo sentido.

Um coelho Branco, segundo Alice quando criança, era alguém como ele, capaz de manipular as pessoas ao seu redor. E o surgimento de um novo Branco seria capaz de romper os laços entre Stiles e Peter. O louro sentia isso no fundo do seu ser.

E o pior é que Stiles tinha razão. Aquela máscara não parecia ser uma mera coincidência. Não fazia sentido. Não havia como Sebastian Crane, um homem tão simplório e egocêntrico, saber sobre Stiles estar trabalhando para o FBI. Não havia como alguém tão primitivo e bárbaro descobrir o caso em que estavam trabalhando e chegar até o culpado antes deles. Então, sim, Sebastian havia recebido ajuda. Mas de quem?

Sebastian Crane não era um maravilhano como Stiles.

Entretanto, Branco parecia ser.

Mas quem seria Branco?

Stiles alegava com confiança que não havia sobrevivido ninguém além dele. Não existia mais nenhum maravilhano. Ninguém do País das Maravilhas havia sobrevivido para contar a sua história.

Então quem poderia vestir o manto de Coelho Branco?

Alice e o País das Maravilhas eram praticamente um segredo de estado. Qualquer um que não fosse permitido, jamais conseguiria acesso aos relatórios e a ficha criminal de Stiles, mesmo que fosse um agente do FBI. Então que havia descoberto sobre o assassino? E como havia descoberto sobre?

O louro suspirou mais uma vez, cansado por não possuir nenhuma luz. Eram tantas perguntas para nenhuma resposta, apenas teorias. Teorias sem embasamento nenhum.

O seu celular tocou mais uma vez, lhe despertando de seus devaneios. O homem olhou para o aparelho, surpreso. Era o dia de folga de sua divisão. Como a estrutura da equipe era preocupante, todos recebiam o dia de folga simultaneamente, para que não houvesse riscos com os prisioneiros. Lydia não lhe ligaria para avisar de algum caso. Talia sabia que ele dormiria no apartamento, ele avisava sempre que o fazia. Ao acolher o aparelho em mãos, o homem franziu o cenho ao ler o nome que brilhava na tela.

- Peter falando -  ditou ao atender a chamada.

- está sentado? – a voz de Rafael era séria.

Ele estava preocupado.

- o que houve, Rafael? -

- Peter, Alan nos passou um caso interessante. E quer que você seja informado sobre ele – disse o McCall, deixando o Tate confuso.

- a minha divisão está de folga –

- não é a sua divisão. É apenas você –

- o que está acontecendo, Rafael?

- Peter... Achamos a casa dele – afirmou o agente McCall e o Tate franziu o cenho.

- a casa de quem? – inquiriu sem entender nada.

- Alice. Achamos a casa em que ele cresceu – respondeu o moreno com firmeza na voz e Peter sentiu o choque percorrer o seu corpo, o paralisando.

- Rafael... Você tem certeza? – perguntou com nervosismo na voz.

- eu estou no quarto dele, agora. Veja a foto que lhe mandei –


O celular do louro vibrou e o mesmo se apressou em abrir a imagem.

O seu queixo caiu, bem como o seu corpo sobre o sofá.

Era a imagem da criança de cabelos castanhos, cabelos curto, bem cortados, ao lado de um adolescente de cabelos castanhos bem penteados, uma mulher de longos cabelos castanhos os acolhia ao tocar os seus ombros com as mãos sorrindo para a câmera, enquanto um homem de cabelos castanhos, rosto quadrado e sorriso mínimo a abraça pelos ombros com um braço, enquanto que a mão do outro se encontrava apoiada no ombro do filho mais velho. A criança mantinha o sorriso mínimo do pai, enquanto o adolescente vestia o sorriso largo da mãe.

Apesar de pouca diferença de idade e da aparência, para Peter, Rafael e Chris, era óbvia a semelhança.

Aquela criança pequena era, sem dúvida alguma, a mesma criança que eles interrogaram anos atrás.

Aquele garoto mais novo de cabelos curtos bem penteados era a mesma criança de cabelos longos que os perturbava.

Aquela era a família de Stiles.



Death Wonderland - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora