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A equipe se aconchegou no jato disponibilizado pelo governo, enquanto se espalhavam pelo mesmo. Erica e Vernon estavam sentado de frente para Allison, com a loura dormindo apoiada no ombro do homem, que estava engajado em um diálogo com a Argent sobre tipos de armamentos. Scott estava deitado em dois acentos, usando de fones de ouvidos, enquanto Isaac se encontrava dormindo ao lado de Peter.

Aquele caso havia sido cansativo para todos. Mas Derek não tinha sono. Ele apenas precisava se sentar e descansar um pouco. No entanto, ele estava preocupado. O ocorrido com o seu tio no meio da operação de captura e apreensão havia mexido consigo. Ver o homem que lhe ensinou a atirar e a manter o foco em uma situação daquelas simplesmente paralisar diante de uma arma, estando ele igualmente armado. Aquela imagem se repetia em sua cabeça várias vezes, toda vez que olhava para Peter.

Era evidente que aquele adolescente havia mexido com o Tate. O louro havia ficado pensativo e desligado desde que conseguiram apreender toda a droga que seria transportada e uma parte das pessoas que se encontravam envolvidos naquela organização criminosa. O homem se encontrava calado, distante, aprisionado em seu próprio mundo. Derek já não suportava mais o silêncio do tio. Peter não era daquele jeito. O Hale só havia visto o tio tão silencioso uma vez em toda a sua vida. E ele odiava a ideia de Peter silencioso. Isso lhe lembrava da morte do seu pai.

- quer jogar um pouco? – inquiriu o moreno de olhos verdes, se sentando diante do tio com o tabuleiro de xadrez em mãos.

Ele não gostava muito do jogo. Mas aquele tabuleiro de casas brancas e pretas parecia entreter o louro e o assassino da equipe. O Hale tentou não pensar muito em Stiles. Na verdade, ele preferia não pensar no castanho. A sua mente entrava em pane sempre em que se lembrava de que Alice não era o verdadeiro assassino do seu pai. Saber que havia vivido em função de uma mentira por mais de uma década era demais para si. Ele compreendia que Alice não era, de fato, o assassino do seu pai, mas preferia não pensar sobre isso. Sempre que pensava, começava a se questionar várias vezes, começava a notar os nós soltos que ninguém poderia lhe fornecer a outra ponta para que ele pudesse os amarrar.

Peter ergueu o olhar do copo de whisky em sua mão, apoiada a mesa, para o tabuleiro de xadrez fechado em uma maleta pequena na mão do sobrinho. Aquele jogo lhe lembrava Stiles. Lhe lembrava como o outro era bom em jogos e como eles o entretinham. Suspirando, ele voltou a abaixar o olhar para o whisky já sem gelo após a fusão do mesmo.

- não, obrigado. Não estou muito interessado em jogos, no momento – respondeu puxando o pegador de gelo, levando um cubo do balde metálico já um pouco cheio de água, o depositando em seu copo, antes puxar uma rodela de limão e a colocar no copo.

- vamos lá! Eu não sou tão ruim nesse jogo – comentou Derek, tentando distrair o tio de seja lá o que fosse que estivesse o perturbando.

Peter olhou para o sobrinho, curioso. Derek não tinha o costume de ser gentil consigo. Não desde que fora afastado do FBI. O seu sobrinho não lhe tinha mais como o homem honesto e sensato que via há anos atrás. Derek agora lhe via. Como um criminoso com conhecimento jurídico que fora permitido a exercer cargo de agente por necessidade. Ele sabia disso.

- uma partida não vai matar ninguém – disse o louro, bebericando de sua bebida e logo Derek abriu a maleta.

Após todas as peças estarem devidamente organizadas, o Hale iniciou o jogo movendo um cavalo. Peter moveu um peão. Derek moveu um peão e Peter moveu outro. Quando o moreno de olhos verdes moveu o seu outro cavalo, Peter lambeu os lábios.

- o que você quer, exatamente, Derek? – indagou o louro vendo o sobrinho parar de mover a peça por menos de um segundo, antes de a posicionar em uma casa branca.

Era um pouco irônico posicionar-se em uma casa branca quando estava sendo obrigado a abrir o jogo para o seu tio.

- foi o Stiles? – inquiriu Derek deixando o louro confuso.

- perdão? – questionou Peter vendo o moreno franzir o cenho em sua direção.

- foi o Stiles que fez você paralisar daquele jeito? Durante a operação? – perguntou Derek vendo o tio lamber o lábio inferior, sutilmente. Um claro sinal de incômodo. O louro se sentia encurralado.

- por que está interessado em saber sobre isso? – indagou o louro movendo uma de suas peças.

Derek pensou um pouco antes de responder.

- você não é do tipo que se preocupa com o lixo criminoso da sociedade – comentou Peter, venenoso, tentando desviar a atenção do sobrinho para outro assunto.

O Hale suspirou. Ele sabia que merecia aquele tipo de tratamento frio do seu tio. Peter cuidou de si como um pai. O Tate fizera de tudo para tentar cobrir a ausência do cunhado na vida do sobrinho. No entanto, tudo oque recebera fora frieza, discussões, ofensas e rebeldia por parte do moreno de olhos verdes.

O motivo?

A acusação de corrupção que fora o motivo da exoneração de Peter do FBI.

Durante as investigações da morte de Alexander, surgiram provas de que Peter havia fornecido informações do caso Alice para alguém, com mensagens estranhas para alguém, além de a localização da cela de Alice. Para completar toda a sujeira, uma boa quantia em dinheiro entrou na conta do Tate. Trezentos mil dólares era uma quantia que realmente valia a pena questionar a origem. Na época, aquilo pareceu ser o suficiente para Derek colocar toda a culpa da morte do seu pai em Peter. O moreno detestava o louro com todo o ódio que seu coração adolescente poderia nutrir. Por semanas ele não falou com o seu tio. Depois de muita insistência por parte de Talia e de sua irmã Laura, Derek abriu a sua mente para o fato de que Peter nunca iria querer o marido de sua irmã morto.

Meses depois, Peter fora completamente descartado como suspeito da morte de Alexander. No entanto, a acusação de corrupção perdurou. Assim como a cisma de Derek com ele. O ódio se tornou apenas desconforto e desconfiança. O moreno de olhos verdes não conseguia confiar nem em sua própria família.

Hoje, Derek sabia que acusação era falsa. Não demorou para que ele juntasse as peças em sua cabeça. Se o FBI usou Alice como sinalizador para atrair o verdadeiro assassino, mas quando tudo falhou, eles simplesmente jogaram a culpa sobre o assassino mirim, acreditando que ninguém sairia perdendo, eles poderiam fazer o mesmo com Peter. Alice ganharia um nome em sua lista de mortos, o país seria tranquilizado em poucos dias e a família Hale receberia justiça pela morte do seu ente querido, enquanto Peter era afastado do FBI, mas ainda sairia com uma boa quantia no bolso. O louro já estava com o dinheiro, o qual eles não conseguiram comprovar a ligação com a morte de Alexander. Ele perderia o emprego, mas, em troca, receberia trezentos mil dólares.

- me desculpe. Eu... fui um merda com você por todos esses anos. Fiquei tão concentrado em meu ódio por Stiles, que vive uma mentira em que apenas eu acreditei. Me desculpe por não acreditar em você, tio – pediu o moreno de olhos verdes movendo mais um peão para frente.

Peter ergueu um olhar surpreso para o sobrinho. Ele não esperava por aquela atitude de seu sobrinho. Ainda mais tão cedo assim. Derek era bastante orgulhoso. Poderia demorar, mas, mais cedo ou mais tarde, o homem iria aceitar a realidade, engolir o orgulho e encarar os próprios atos e opiniões.

- isso foi mais cedo do que eu esperava – comentou o louro movendo o próprio bispo até o limite lateral do tabuleiro.

- eu... Admirava tanto o que você e o meu pai faziam. Eu admirava tanto o FBI que me deixei levar por mentiras ao invés de ouvir minha própria família –  continuou Derek ao mesmo tempo em que dava continuidade ao jogo.

- está tudo bem. Não é como se eu pudesse lhe culpar por algo. Você era só uma criança. O que importa é o que você pretende fazer agora com as informações que obteve – disse o Tate capturando um peão adversário.

- eu só quero entender – argumentou o mais novo capturando um peão do tio, que, instantaneamente, moveu o bispo até a peça que havia capturado o seu peão.

- esse momento de reflexão é seu, mas não quer dizer que você não possa procurar ajuda – disse o homem vendo o sobrinho mover o próprio bispo.

- na verdade, tem algo que eu gostaria de lhe perguntar – disse Derek, um tanto receoso.

- vá em frente – disse Peter tomando o último gole de whisky de seu copo antes de se servir de mais um copo.

- por que você é tão próximo de Alice? – inquiriu o Hale vendo o Tate lhe fitar com seriedade, antes de abaixar o olhar para o tabuleiro.

- no que está pensando? Sei que não acredita mais que Alice é o assassino do seu pai – indagou movendo o seu cavalo.

- como pode manter uma relação tão... Próxima com alguém como ele, com um assassino? Ele pode não ter matado o meu pai, mas matou muita gente. Isso é um fato – Derek desenvolveu a sua pergunta vendo o homem a sua frente voltar a lhe fitar com seriedade.

- você ainda mantém o seu complexo policial. Mas não é como se eu esperasse algo diferente – respondeu passando a colocar mais uma rodela de limão em seu whisky, pegando a antiga com a ajuda de um palito de dente e a levar a boca.

- isso não me responde – ditou o Hale vendo o Tate acolher a fruta na boca, passando a mastigar a mesma.

- eu diria que o fato de eu ser considerado o gênio por muitos seria o motivo de tudo. Afinal, eu já falei uma vez e repito: apenas um gênio pode amar alguém como Alice. Mas isso seria demasiadamente específico, sem contar que eu vejo muita gente incrivelmente inteligente que adquire o seu posicionamento. Isso apenas lhe deixaria mais confuso e distante da realidade – ditou o louro avançando com o cavalo.

- sem rodeios, Peter, por favor. Você o trata como um filho. Eu quero entender o que leva a você, um homem honesto, que me criou e tentou de tudo para que eu não sentisse mais falta do meu pai do que eu senti, a gostar de um homem que matou tanta gente e não se arrepende de nada – falou o moreno de olhos verdes movendo o seu cavalo.

- sabe o que é complexo de policial, Derek? - inquiriu o mais velho vendo o homem de olhos verdes negar com a cabeça.

Peter moveu a sua rainha.

- isso é algo que a maioria dos oficiais e agentes têm. Vocês são dominados por seu senso de justiça, colocam na cabeça que criminosos são apenas criminosos e se esquecem completamente que eles são gente. Criminosos dão pessoas, homens e mulheres comuns, seres humanos. Seja agente federal ou um mero policial, todos fizemos o juramento de defender nosso povo e nossa pátria a todo custo. No entanto, o que vocês realmente protegem é o seu nome, a sua concepção de justiça e o conceito de honestidade – o louro ditou com calma e clareza, fazendo o Hale franzir o cenho em sua direção.

- as pessoas nem sempre querem ser criminosas, Derek. Claro, há sim pessoas que sonham em construir o que o Vernon construiu, pessoas que sonham em ser um Isaac, pessoas que apenas querem ser como Erica, e ainda aquelas que querem se tornar alguém como Stiles. Mas o fato de essas pessoas existirem, não anula a existência dos outros. Me diga, Derek, o que é um limão? – explicou o Tate fazendo o sobrinho lhe fitar confuso.

- ah... Uma fruta? – a resposta saíra como uma pergunta, devido a confusão do homem.

- mas toda fruta é um limão? – questionou o mais velho vendo o sobrinho tomar uma expressão pensativa na face.

- você prendeu a Erica. Você foi quem a tirou da liberdade, impedindo que a garota continuasse com o motivo que lhe levou a caçar ela.  O que lhe levou a prender a Erica foram os crimes dela, mas o que a levou a cometer esses crimes? Você nunca se fez essa pergunta? – argumentou o mais velho vendo o sobrinho morder o lábio inferior.

- às vezes, criminosos são tão vítimas quanto as vítimas que eles fazem. O que levou Vernon a ser um dos maiores traficantes de arma do nosso país? O que levou Isaac a criar uma droga incrível e quase impossível de se copiar? O que levou Erica a ser uma incrível assassina de homens e uma ladra experiente? O que levou Alice a ser o maior assassino do país apenas sendo apenas uma criança? Para a maioria dos oficiais e policiais, apenas prender o clado é o suficiente. Vocês querem saber os fatos para poderem apenas chegar ao culpado e finalizar tudo. Eu quero saber os fatos para entender o motivo que levou o culpado aos seus crimes e então pensar em como devo tratar aquela pessoa. Porque, acima de tudo, eu sou um homem da lei, Derek, e enquanto um criminoso continuar sendo um ser humano, eu vou proteger ele. Eu não vou negar a existência de seus crimes, muito menos deixar que ele saia impune, mas eu jurei proteger o meu povo e manter a ordem e a lei. Nós podemos fazer os dois, mas a maioria de nós ignora que os criminosos também são o nosso povo. – ditou o Tate antes de levar o copo de whisky aos lábios.

Derek, pensativo com tudo o que acabara de ouvir, apenas moveu o cavalo para o limite lateral do tabuleiro.

- e você é melhor no jogo quando não tem que pensar em tanta coisa. Xeque-mate. – disse o louro ao atravessar o campo com a sua rainha, a posicionando em uma das casas diagonais ao rei de Derek.

- eu entendi. Eles ainda são seres humanos e... Merecem respeito. Mas isso ainda não me diz porque trata o Stiles do mesmo jeito que trata a Malia. – ditou Derek, deixando o tabuleiro de xadrez de lado e se focando na conversa com o tio.

Ele estava necessitado de respostas.

- Alice... É uma pessoa adulta. Hoje é um homem crescido e, provavelmente, uma mulher, também. Mas eu ainda vejo ele como uma criança. Ei não sei, exatamente, o que se passou no passado daquela criança para a transformar em uma criminosa tão perigosa. No entanto, a verdade por trás dele é óbvia: Stiles não teve uma boa tutela. Stiles tem uma aversão tremenda a homens e mulheres adultos. Ele se conecta mais facilmente com crianças. Alexander e eu fomos ao primeiros adultos com os quais eu já vi ele interagir bem. Segundo ele, fomos os primeiros que o tratamos como uma criança, não como um brinquedo ou uma arma – explicou o mais velho tomando uma expressão tristonha em sua face.

No mesmo instante Derek se lembrou da cena causada pelo castanho no hospital em Miami. O momento em que o castanho ralhou com o tio, o homem com quem ele agia com tamanho carinho e uma surpreendente dependência afetiva, ao mesmo tempo em que apontava uma arma apara a própria cabeça, alegando não ser uma arma para que Peter pudesse o controlar como bem entendesse.

- isso está relacionado com o surto dele em Miami? – inquiriu o Hale vendo o Tate suspirar

- eu vacilei com ele. Eu disse que nunca o veria como uma arma. Mas na primeira chance que eu tenho de trabalhar com o garoto, eu fui lá e o usei como uma ferramenta. Stiles estava desestabilizado pelo que a Laura fez com os brincos. O caso com aquele homem, Sebastian Crane, o estressou demais. Foi como um vazamento de gás. E eu fui a faísca. O modo como eu o tratei, fez com que ele explodisse e fugisse. O fracasso daquele caso foi tão meu, quanto dele – confessou o louro voltando a beber do líquido cobreado em seu copo.

- não seja tão duro consigo mesmo, Peter. Nós também viemos pegando no pé dele desde que fora retirado de Alcatraz – o Hale tentou apaziguar o peso na consciência do seu tio.

- mas vocês não prometeram a ele que nunca o veriam ou o tratariam como uma ferramenta. Eu, sim. – ditou o Tate desviando o olhar para a janela, não podendo ver o sobrinho lhe fitar sem saber o que falar.

- o que sabe sobre o passado de Alice? – indagou Derek vendo Peter erguer a sobrancelha em questionamento, por um segundo.

- apenas o que ele nos contou em interrogatórios – respondeu o mais velho observando o outro homem menear brevemente, abaixando o olhar.

- você ainda não viu as fitas que estão com sua mãe, não é? – inquiriu o louro e o mais novo negou com a cabeça.

- teme alguma coisa nelas? – Derek lambeu os lábios, nervoso.

- ele – a resposta não fora a esperada pelo mais velho.

- não seja tão duro consigo mesmo. Se te serve de consolo, você vai ser melhor para você. Ver e ouvir... Vai ser melhor do que procurar por opiniões formadas. Forme a sua – o homem tomou mais um gole do whisky, antes de se erguer para poder guardar a garrafa da bebida e o copo que usara.

Derek apenas observou o tio, antes de desviar o olhar para o tabuleiro de xadrez a sua frente. Ele havia evitado ir até a casa de sua mãe desde que a mesma lhe revelara a verdade sobre Alexander e Alice. Saber que vivera em função de uma mentira lhe dera um tipo de curto circuito no cérebro. Ele não sabia o que pensar. Não mais. Passara anos acreditando que Alice se deleitara em matar o seu pai, quando na verdade o castanho tinha o seu pai como uma figura paterna, assim como tinha Peter.

Ele não teria mais como correr.

Estava demasiadamente necessitado de respostas. Estava desesperado para tentar entender. E se Peter havia lhe dito que assistir aos interrogatórios gravados iria lhe ajudar a entender. Então ele iria o fazer. O homem puxou o celular do bolso e tratou de mandar uma mensagem para a esposa, alertando que passaria a noite na casa da mãe. Paige estaria dormindo, naquele horário, mas pelo dia ela veria a mensagem.










Peter abriu a porta, adentrando a casa sem se importar em ser cortês com o moreno de olhos verdes. Apesar de não morar mais naquela casa, Derek era o seu sobrinho. O homem cresceu naquela casa. Não precisava de apresentações, visto que a mesma continuava idêntica, apesar das reformas. No entanto, apesar de estar mais do que familiarizado com a casa, o homem de olhos claros se encontrava nervoso. Ele não sabia como começar, muito menos o que esperar. Ele apenas fechou a porta da casa, a trancando novamente, antes de seguir, nervoso, para a sala.

- você pode usar o escritório do seu pai. Vai ser melhor do que o quarto e você vai ter mais privacidade – sugeriu o Tate enquanto afrouxava a gravata em seu pescoço, desfazendo o nó da mesma.

- eu preciso do computador da minha mãe. Sabe onde ela guarda? – inquiriu o Hale vendo o tio começar a subir as escadas.

- eu vou pegar. Espero aí embaixo – ditou o mais velho antes de sumir no corredor do andar de cima.

Derek se viu inquieto na sala. Ele se desfez de sua gravata e do terno, os jogando sobre o sofá, para em seguida se jogar sentado no mesmo. Estava temeroso com o que pudesse encontrar nos vídeos do interrogatório de Alice. Tinha medo do que poderia pensar de si mesmo depois que assistisse ao garoto de onze anos que encantou os seus pais e o seu tio.

Quando Peter desceu as escadas com o notebook em mãos, o moreno de olhos verdes se ergueu, engolindo em seco. O louro lhe estendeu o aparelho, mas, quando Derek pegou um lado do computador, o Tate manteve o outro lado preso. O Hale ergueu o olhar para o mais velho, o vendo lhe fitar com bastante seriedade. O seu tio parecia querer dizer algo para si, mas as palavras não eram proferidas. O moreno se viu confuso e mais nervoso.

- os laudos médicos dele estão aí. Os psicológicos e físicos. Tome cuidado com essas informações, Derek. Se eu descobrir que as informações contidas nesse computador foram usadas contra ele, vamos ter um problema sério. Muito sério – o louro alertou o sobrinho o vendo franzir o cenho, antes de menear positivamente em concordância.

- eu vou tomar cuidado – Derek tentou tranquilizar o tio.

- ótimo. Leia os laudos também. Vai facilitar a sua compreensão do caso – disse o mais velho antes de se dirigir para a cozinha.

- eu vou preparar um café, vai querer? – inquiriu o Tate sumindo do cômodo.

- sim, eu vou – respondeu olhando atentamente para o aparelho em suas mãos.

O seu nervosismo ainda lhe dominava. Sentia duas mãos estranhas, como se a qualquer momento elas fossem começar a se mover sozinhas. Era como se elas não fossem suas. Respirando fundo, tentando se acalmar, Derek seguiu pelo corredor, a passos lentos, se aproximando cada vez mais do fim do corredor, onde havia uma porta fechada. A porta que ele evitava entrar. Ele parou diante da porta de madeira, olhando fixamente para maçaneta redonda. As suas mãos suavam e a sua garganta estava seca.

Com a mão trêmula e encharcada de suor, o Hale girou a maçaneta, sentindo a porta se mover levemente para trás, como se ela já soubesse de sua intenção. Respirando fundo, ele tentou se preparar para adentrar o escritório que um dia pertenceu ao seu pai. As lembranças de sua infância e início de sua adolescência ainda estavam frescas em sua mente. Lembranças dos dias em que ele entrava correndo por essa mesma porta, segurando um carrinho pequeno ou então uma pequena pistola de água.

Ao empurrar a porta, dando passagem para o cômodo, o homem suspirou. Ele quase podia ver o seu pai ali, sentado em sua cadeira. Do mesmo jeito que sempre estava quando Derek vinha até ele correndo pedindo para que pudessem brincar juntos. Alexander passava um bom tempo em seu escritório quando podia ficar em casa. Ele sempre deixava para revisar a papelada do trabalho em casa, assim poderia passar ainda mais tempo com a família.

Derek sentiu o peito se apertar com a visão que tinha. A sua mãe sempre fizera questão de manter o escritório do seu pai idêntico ao que o homem costumava deixar. Ela não se importava que usassem o cômodo. Muito pelo contrário. Laura e Malia costumavam estudar as coisas do trabalho e da faculdade no escritório de Alexander. Quando não estavam seus quartos, na sala ou na cozinha, elas estavam no escritório, trabalhando e estudando.

O escritório possuía uma grande mesa de estudos, com várias gavetas e uma luminária. Uma cadeira de rodinhas, onde Alexander costumava se sentar, atrás da mesa e duas cadeiras de madeira do outro lado. Nas duas laterais do escritório haviam estantes repletas de livros. Um lado era completamente científico e focado em trabalho e estudos variados, o outro era repleto de literatura ficcional, dramática ou romancista.

Derek se aproximou da cadeira de rodinhas, puxando a mesma para que ele pudesse se sentar, antes de depositar o computador sobre a mesa. Quando se sentou, o Hale parou brevemente para poder admirar a vista do escritório. Não era a primeira vez que ele fazia isso, se colocar no lugar do seu pai e admirar a vista que o homem tinha quando estava trabalhando. Mas era a primeira vez que ele fazia depois de ter saído daquela casa.

- eu quero entender, pai. Quero entender o que você viu nele – murmurou o moreno de olhos verdes, acariciando os braços da cadeira com as mãos, como se isso pudesse lhe aproximar do seu falecido pai.

Ele sabia que não fazia o menor sentido. Aquela, se quer, era a mesma cadeira que o seu pai usava há vários anos atrás. No entanto, aquilo parecia certo de se fazer. Lhe acalmava o peito. Como se aquela carícia feita na cadeira, fizesse como se ele sentisse o seu pai acariciando os seus ombros novamente.

Talvez seu pai quisesse que ele sentisse a mesma afeição que sentia por Stiles.

Mas isso era algo que talvez Derek jamais fosse ter certeza.

Death Wonderland - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora