Trouble

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Derek encarava, surpreso, o corpo sem cabeça do homem que lhe acertou um tiro no torso. O cenário não era algo confortável e nem um pouco calmo. Os policiais estavam loucos com o membro do FBI que decapitou um assassino. Eles nunca viram algo daquele tipo.

Os agentes também não.

Isaac estava choque, pálido. Parecia que iria vomitar a qualquer momento. Erica era como um filhote indo para o abate. Ela estava tensa, mas sem entender o motivo de sua tensão. A loura apenas sentia que não deveria estar ali. Sentia que queria fugir dali o mais rápido que suas pernas conseguissem correr. Já Vernon era uma incógnita. O homem estava sério a todo instante, mesmo que os seus olhos revelassem que ele estava surpreso com o que via. Mas a sua calma em tentar conter os oficiais junto de Allison parecia dizer o contrário. Era como se o homem estivesse habituado com aquilo. Com corpos surgindo como um obstáculo em seu caminho rumo a um objetivo centrado

O modo de agir do Boyd em meio ao caos criado por Stiles se assemelhava ao de um policial bastante experiente.

Scott, se recuperando do choque após presenciar o sorriso do castanho que um dia ameaçou o seu pai, tratou de ajudar Allison e Vernon a acalmar os policiais.

Derek apenas suspirou, exausto.

Era a segunda vez, seguida, que o assassino virava a vítima durante um caso. Mas, pelo menos, eles já tinham o assassino em suas mãos. O problema, era que aquela prisão geraria uma dor de cabeça muito grande para si e para a sua equipe.

Alan iria os convocar para uma conversa séria, certamente. Quase certeza de que Gerard estaria lá. Os figurões iriam querer uma boa resposta sobre como Alice havia assassinado um criminoso durante a investigação. Isso era óbvio. Mas o que eles mais iriam querer saber era como Stiles havia conseguido ficar a sós com o assassino enquanto que eles, os agentes, estavam em uma delegacia, sem fazer a menor ideia de onde ambos os assassinos estavam.

Stiles não havia apenas matado o Jaguadarte.

Ele havia detonado uma bomba em seu colo.

Enquanto Stiles era levado para a delegacia por Peter, Derek e os outros foram encarregados de analisar a cena de crime e procurar entender o que aconteceu antes de irem falar com Alice. Eles precisavam analisar tudo para saber se o castanho iria falar a verdade.

Aquilo iria ser difícil.

Não seria difícil comprovar a veracidade de Stiles apenas devido a sua habilidade como assassino, mas também pelo estado caótico que se encontrava aquele local. Os forenses iriam levar várias horas apenas parar revirar aquele local atrás de provas. Imagina, então, analisar cada prova encontrada.

O moreno de olhos verdes se aproximou do legistas, vendo Erica fazer o mesmo logo em seguida. A loura parecia ter acordado do seu transe, mas permanecia incomodada por se encontrar naquele lugar.

- o que pode nos dizer até agora? – questionou Derek vendo a mulher abaixada ao lado do corpo sem cabeça lhe fitar por sobre os ombros.

- até agora, nada que possa ajudar o seu amigo. A pele cheia de cicatrizes me impede de ver algo superficialmente. Tudo o que posso dizer é que ele tem vários pontos inchados espalhados por todo o corpo – disse a morena de roupa branca se erguendo e acenando para que os homens levassem o corpo para o necrotério da delegacia.

Derek franziu o cenho.

- você está dizendo que

- que esse homem teve todos os membros quebrados em pelo menos três lugares diferentes. Braço, antes braço e cotovelos. Coxa, perna e joelhos. Esse homem foi completamente imobilizado antes de sua morte – a legista cortou a fala do Hale, tocando com indicador os locais em que havia encontrado os inchaços.

- então não havia a necessidade de ele ser decapitado – comentou o Hale vendo a morena menear positivamente.

- mas devo dizer que... O cara soube fazer o serviço. Se não fosse levemente torto, diria que esse homem foi executado em uma guilhotina – comentou a mulher deixando Derek apreensivo.

- ele decapitou esse cara com um golpe só? – questionou o agente, surpreso.

- mas isso deveria ser impossível! Quer dizer não existe arma branca no mundo que consiga isso. As vértebras deveriam impedir isso – argumentou o agente vendo a mulher sorrir, negando com a cabeça.

- sim. Não há marcas na pele e nos músculos que indicam que ele golpeou o pescoço desse homem mais de uma vez, mas as vertebras dizem que ele não foi decapitado em um golpe só – respondeu a mulher antes de olhar ao redor.

- precisa encontrar a arma do crime para sabermos como esse homem foi decapitado – comentou vendo o homem imitar o seu ato de olhar ao redor.

- mas, basicamente, ele cortou a carne ao redor da coluna, antes de arrancar a cabeça a puxando para cima – explicou a legista vendo o moreno lhe fitar surpreso, por um tempo, antes de menear positivamente.

- faremos isso – disse o homem colocando as mãos na cintur, enquanto olhava ao redor.

- Eu vou continuar a análise do corpo, qualquer coisa eu aviso – ditou a mulher antes de se virar e começar a caminhar, ouvindo o agente federal agradecer enquanto voltava ao trabalho.

Derek encarou o ambiente ao seu redor, o analisando minuciosamente. Ele precisava não apenas achar pistas que indicassem o que havia acontecido naquele lugar que agora se encontrava em completo caos, ele precisava achar a arma do crime. O caso não seria facilmente resolvido se eles não encontrassem a arma que Alice usara para aniquilar o Jaguadarte. Enquanto revirava os escombros de madeira, o Hale notou, pelo som das lascas, alguém se aproximando.

- a gente nem precisou aprontar nada para cima dele. Ele se boicotou sozinho – comentou Scott enquanto colocava as mãos na cintura.

- isso não está em discussão, Scott – comentou Derek erguendo um pedaço de madeira e vendo algo que mexeu consigo de uma maneira nada positiva.

- cara, finalmente vamos nos ver livre desse cara. Era tudo o que a gente queria. O que você queria... – argumentou o moreno de queixo torto, confuso, enquanto via Derek, vestindo um par de luvas de látex, recolher algo com a mão.

Ele não podia negar que estava satisfeito com aquilo. Há tempos que estava querendo colocar Alice de volta na solitária em Alcatraz. Aquele era o lugar dele. Aquela caixa a prova de tudo que prenderia o maior monstro que já pisara nos Estados Unidos, como uma grande caixa de Pandora. Seria a chance de Derek de colocar atrás das grades o monstro que matara o seu pai.

Derek nada disse.

- não precisamos fazer mais nada aqui. Pegamos Alice no flagra e ele ainda confessou ter cortado a cabeça do canibal. Isso é o suficiente para prendermos ele – argumentou o McCall com as mãos nos bolsos, olhando ao redor

- tem algo errado – ditou Derek ao se erguer.

- o que? – indagou o moreno de queixo torto vendo o parceiro se virar.

- Alice matou o Jaguadarte – apontou Derek, pensativo.

- isso já sabemos. E daí? –

- Scott, Alice é um serial Killer. Um dos melhores. Está faltando algo na cena do crime – respondeu o moreno de olhos verdes e o de olhos castanhos olhou ao redor.

- e o que é? – perguntou o McCall, desconfiado.

- cadê a assinatura? – questionou Derek vendo o parceiro olhar ao redor, desconfiado.

- e como sabe que não está enterrada nesse monte de lixo? – questionou Isaac vendo os dois morenos permanecerem olhando ao redor.

- porque serial Killers querem que as suas assinaturas sejam vistas. Querem que saibam que foram eles quem mataram a vítima. Eles querem ser reconhecidos. Eles deixam as suas assinaturas fáceis de serem encontradas na maioria das vezes – explicou Scott vendo analisando bem a cena do crime.

- se eu fosse Alice, onde eu deixaria a minha assinatura? – murmurou Derek vendo que havia vários lugares viáveis naquele esconderijo subterrâneo.

- qual é a assinatura do Stiles? – questionou o louro de cachos vendo os dois morenos lhe encararem com seriedade.

- uma carta de baralho – responderam em uníssono.

Isaac se viu confuso e, de certa forma, descrente com a resposta dos dois agentes. Cruzando os braços, o Lahey lançou um olhar questionador para a dupla.

- é só isso? Nossa! Da forma como falaram da assinatura dele antes, eu pensei que fosse algo mais... Dramático, assustador. E é só uma carta de baralho? – indagou o louro de cachos, indignado.

- ele sempre deixa a assinatura de uma forma diferente, mas sempre tem que ter uma carta de baralho com o seu nome nela – explicou Derek se lembrando de todas as imagens dos arquivos sobre Stiles.

- quanta tempestade em um copo de água – comentou Isaac antes de se afastar.

Ele não entendia toda aquela implicância por causa de uma carta de baralho. Tantos outros assassinos já apresentaram assinaturas mais marcantes do que uma simples carta de baralho assinada. Para o louro, aquela implicância com o castanho era um tanto infantil.















Peter adentrou a sala de interrogatório após Stiles ser devidamente algemado na mesma.

O Tate sabia que aquilo não iria segurar o castanho. Não o segurou na infância, então não o seguraria agora. Mas os oficiais não precisavam saber. O fato de o doutor que trabalhava para o FBI estar algemado após decapitar um assassino os acalmava.

Ele não queria que Stiles fosse algemado, mas os oficiais insistiram alegando que, independente de ser legítima defesa ou não, eles deveriam levar o castanho sob custódia, devidamente algemado. O Tate tentou argumentar, irritado, mas fora calado quando Alice simplesmente ergueu as mãos para os oficiais, dizendo que aceitava ser algemado.

Aquilo fora estranho. O castanho parecia saber que aquele ato acalmaria a polícia com relação a si, momentaneamente.

Mas Alice parecia não se importar com os oficiais como demonstrara, já que, assim que teve suas mãos algemadas, presas a mesa por mais algemas, ele simplesmente puxou as duas mãos para os lados, fazendo as algemas que lhe prendiam os pulsos se abrirem com facilidade.

Os oficiais ficaram surpresos, indignados e furiosos com a ação do prisioneiro, mas relevaram quando Peter ergueu a mão, os pedindo para que não fizessem nada.

Eles o obedeceram.

Ficaram ali, parados atrás do homem de cabelos louros, vendo o castanho cruzar os braços diante do peito coberto pelo tecido azul do vestido que usava. O mais jovem dos presentes na sala ergueu as pernas, as cruzando acima da mesa, enquanto inclinava a cadeira, a equilibrando sobre as duas pernas traseiras.

- Stiles! – reprendeu Peter sendo prontamente ignorado pelo castanho.

- por que você fez aquilo? – indagou Peter vendo o assassino de cabelos devidamente penteados sorrir, fazendo o símbolo de copas desenhado em seus lábios se mover levemente.

Silêncio.

Aquilo deixou Peter em alerta.

- por que matou o Jaguadarte, Stiles? – questionou vendo o assassino da divisão suspirar, mas permanecer sem responder nada.

Aquilo estava deixando Peter nervoso. O louro estava com uma estranha sensação de Déjà Vu. Ele já havia visto aquela cena. Ele já a havia vivido. Stiles não respondia a nada quando fora preso há mais de uma década atrás. Ele penas ficava sentado na frente dos interrogadores, os encarando com tédio e sorrisos cínicos. Por um milésimo de segundo, ao piscar os olhos e os abrir novamente, Peter não viu mais um homem de bonito de vestido. Ele viu uma bela garotinha de cabelos longos e bonitos, com um vestido azul rodado coberto de manchas de sangue. O Tate piscou os olhos, assustado, vendo a garota dar lugar a um homem bonito de cabelos um pouco grandes penteados para trás.

- não vai me responder? – ele tentou arrancar algo do castanho por meio do apelo emocional, sendo ignorado novamente.

Stiles parecia ter retornado a ser o Alice de anos atrás quando se parava para analisar as suas vestes e a maquiagem em seu rosto. O castanho estava idêntico a quando fora preso por Peter e Alexander quando criança. Aquela imagem causava calafrios no Tate.

- você sabe que você está encrencado, não sabe? – indagou Peter vendo o mais novo revirar os olhos.

- tudo bem. Se você não quer falar comigo, então eu não vou tentar nada – ditou o louro se erguendo e dando as costas ao castanho.

- os médicos estão vindo analisar você. Espero que você reflita enquanto isso – disse o mais velho enquanto se dirigia para a porta.

- um dia você vai saber o motivo da morte dele – a voz calma do castanho alcançou os ouvidos do louro que parou brevemente antes de olhar para o outro por sobre os ombros.

- assim espero – assim que abriu a porta o homem foi surpreendido pela imagem de um paramédico escoltado por uma policial.

- é ele? – indagou o homem apontando, desconfiado, para o homem de maquiagem sentado com as pernas cruzadas sobre a mesa.

- ele mesmo – respondeu o louro vendo o castanho se erguer e levar as mãos as costas, assustando os policiais.

- fiquem calmos – ordenou Peter e logo todos entenderam que Stiles não estava puxando nenhuma arma, estava apenas abrindo o zíper do vestido azul que usava.

- posso perguntar qual é a do vestido? – indagou o paramédico vendo o louro negar com a cabeça.

- é melhor não – respondeu o agente e o homem deu de ombros abrindo a maleta que trouxera consigo.

- tudo bem, então – comentou o paramédico, desconfiado.

Assim que Stiles abaixou o vestido por completo, exibindo sua pele marcada de hematomas, alguns bem graves, o paramédico franziu o cenho para os policiais, vendo os mesmos lhe fitarem com curiosidade. O homem inclinou a cabeça para o lado antes de seguir para o corpo do castanho.

O paramédico analisou o corpo do homem com cuidado devido aos hematomas e aos buracos de bala no mesmo. Ele se viu surpreso quando o castanho não demonstrou nenhum sinal de dor quando ele tateou a região baleada, analisando a mesma.

- isso é ruim – comentou o homem ao ver que os buracos de tiro ainda sangravam.

- o que houve? – indagou Peter, preocupado.

- não posso ver direito, mas acho que um órgão foi afetado – respondeu enquanto se afastava levemente.

- ele precisa ir ao hospital – informou o paramédico vendo o louro menear positivamente enquanto os oficiais se preparavam para algemar o castanho novamente, enquanto o mesmo voltava a vestir o vestido azul.

- Stiles, não precisa vestir isso – ditou o Tate vendo o castanho fechar o zíper do vestido.

- não é o mais bonito que eu já usei, mas também não é feio – comentou Stiles antes de se virar para o mais velho, sendo abordado por um policial que erguia a algema em sua direção.

- você vai realmente perder o seu tempo com isso? – questionou Alice vendo o homem erguer uma sobrancelha, estendendo a mão, exigindo, em silêncio, as mãos do outro.

- eu não vou me dar ao trabalho de falar sobre isso – disse o castanho ignorando o oficial e passando pelo mesmo.

- não, não vai – ditou o homem agarrando o pulso do homem de vestido e o girando com violência, no intuito de o jogar contra mesa e o algemar.

Mas o castanho não fora jogado contra a mesa durante o giro. Na verdade, o castanho girou mais uma vez, forçando o oficial a girar, o jogando sobre a mesa e algemando aquele que deveria lhe algemar. O movimento fora um choque para todos, com exceção de Peter, que suspirou.

O oficial, chocado, tentou se erguer, bruscamente, sendo impedido pelo homem o qual havia lhe algemado, que lhe empurrou para frente com força, o prendendo contra a mesa.

- eu vou perguntar apenas para ter certeza, já que me sinto um pouco confuso. – ditou Stiles ainda fazendo força para conter o homem contra a mesa.

- Você, realmente, pensou que iria me algemar? Você?! Um simples policial?! – indagou com desdém antes de soltar uma gargalhada curta e alta.

- Stiles! – repreendeu Peter vendo o castanho soltar o policial e se afastar dele normalmente.

- ah, a polícia inventa cada uma – falou o homem de vestido seguindo para a porta, sendo barrado por outro policial que tentou lhe segurar o ombro.

Alice apenas ergueu o braço cujo ombro fora tocado, jogando o braço do policial para cima. Com o mesmo braço, o castanho agarrou o pescoço do oficial, enquanto colocava o pé direito atrás do pé esquerdo do homem de farda. Surpreso com o agarre em seu pescoço, o oficial tentou se afastar, tropeçando no pé do castanho, que o empurrou, jogando o policial contra o chão com força, o soltando antes de precisar se abaixar. O oficial gemeu de dor com o impacto em suas costas e nuca.

O paramédico se viu em choque com a capacidade de movimentação do castanho mesmo estando tão ferido com dois tiros no torso e com vários cortes pelo corpo. Com cortes daquele tipo e com dois tiros no torso, alguém com o senso comum jamais se moveria daquela forma naquele estado. Mesmo que tenham sido movimentos simplórios, a força necessária para os executar com aquela perfeição causaria muita dor nos ferimentos. Aquele homem se quer estreitou os olhos em uma careta de dor com tudo o que fez.

- caramba! Você parece mesmo ser do FBI – comentou o paramédico vendo o castanho sorrir ladino antes de abrir a porta da sala de interrogatório.

Peter, Stiles e o paramédico caminhavam pela delegacia, rumo a saída, com o intuito de irem ao hospital quando viram Kim sendo abraçado pela mãe, que não parava de perguntar se o filho queria algo, se ele precisava de alguma coisa naquele momento. Ao lado da mulher, estava uma garota preocupada, que Peter reconheceu como uma das garotas que eles interrogaram sobre o sequestro do Matarazzo e as mortes dos outros jovens. A garota beijava o rapaz, estranhando o motivo de o outro não corresponder a si como ela esperava. Ela passara tanto tempo preocupada com o bem-estar do seu namorado. Tudo o que ela queria, agora que o mesmo estava bem, era o namorado em seus braços. No entanto, o mesmo parecia temer o seu toque, ao mesmo tempo em que lhe permitia continuar com os mesmos. Era como se ele estivesse dividido entre lhe querer e lhe temer. Nem mesmo os pais ele abraçara direito. Era como se Kim tivesse medo de ter algum contato humano com qualquer pessoa.

Assim que os seus olhos azuis encontraram os castanhos claros do homem que ele reconheceu não apenas pela aparência idêntica a sua, mas também pelo vestido azul que ele fora forçado a vestir durante dias, Kim se ergueu da cadeira de prontidão, caminhando a passos largos na direção do trio. O Matarazzo parou há alguns passos de sua versão de olhos castanhos claros, o encarando com uma certa incerteza.

- e ele? – questionou Kim, nervoso, vendo o mais velho lhe fitar com seriedade.

Alice moveu suas mãos até os ombros do mais novo, os massageando brevemente.

- aquele maldito não vai mais atormentar você, pode ficar tranquilo. Ele está morto – respondeu Alice vendo os olhos azuis se dilatarem um pouco.

- quem é você? – questionou a senhora Matarazzo, se aproximando, confusa pelo modo quase desesperado que o filho se aproximou daquele que era quase idêntico a ele.

- caramba! Ele é idêntico ao Kim – comentou a namorada de Kim vendo o mesmo, do nada, abraçar o estranho de vestido, surpreendendo a todos, inclusive ao próprio homem de vestes azuis claras.

Peter se viu mais do que surpreso com o Matarazzo abraçando Stiles com força, como se não quisesse que o castanho mais velho nunca mais se afastasse de si. Mas o que mais surpreendeu o Tate fora o castanho de maquiagem e vestido abraçar o outro de volta, apertado. Se alguém que não havia participado do caso e nem conhecesse os Matarazzo olhasse para aquela cena, pensaria que eram gêmeos emocionados se abraçando.

- um dia, eu espero... poder agradecer você do jeito certo – disse o castanho de olhos azuis encarando o de olhos da cor âmbar que sorriu gentilmente em sua direção.

- eu sei que vai – falou Stiles sorrindo antes de piscar um dos olhos para Kim.

O castanho de olhos azuis meneou positivamente antes de abraçar o homem de vestido apertado mais uma vez, para em seguida lhe dar um selinho rápido, surpreendendo a todos. O Matarazzo se afastou, permitindo a passagem do castanho. Peter pediu para que um oficial guiasse o rapaz para uma sala onde pudesse conversar com o mesmo mais tarde, quando retornasse.

- você... foi o homem que ajudou ele? – indagou o pai de Kim vendo o Stilinski lhe fitar.

- é por isso que ele... ? – questionou a mulher do homem abraçando o braço do mesmo.

- não – negou Stiles vendo a namorada de Kim lhe fitar com ódio, antes de dar as costas.

Stiles segurou a mão da garota, parando a mesma, que se virou furiosa para si, pronta para lhe atacar.

- ele não está normal – ditou o castanho vendo a garota sorrir irônica.

- é claro que não!

- Síndrome de Estocolmo – anunciou Stiles fazendo a moça lhe fitar com confusão.

- ele era obrigado a agir como a namorada do sequestrador dele. Sempre que ele fingia, ele ficava seguro. Então a sua mente, desesperada pela vida, produziu uma falsa paixão dele pelo homem que ele temia. Quando eu salvei ele e matei o homem que o torturou, a Síndrome transferiu a falsa paixão do sequestrador, para mim – explicou Alice vendo os pais do rapaz lhe fitarem apreensivos.

- e o...

- tempo e acompanhamento psicológico – respondeu o castanho de vestido antes de se dirigir para a saída, soltando um “vamos, Peter”.



















Alice caminhava pelo corredor da prisão, ignorando completamente o guarda atrás de si.

Ele não precisava se importar com aquele homem.

Aquele ser insignificante não valia o seu tempo naquele momento. Ele estava muito ocupado fazendo outra coisa.

A cada passo que dava, o homem sentia os olhares dos outros detentos sobre si. Não era algo fora do comum, já que, desde que entrara em Maybelle, toda a atenção estava se voltando para si graças ao seu jeito rebelde de lidar com a hierarquia entre os detentos. A surra que dera em suas três cartas, consideradas uns dos mais respeitados do lugar chamou a atenção dos seus companheiros de corredor, além do fato de ter transformado Josh em um subordinado seu. Para completar, quando queimara os olhos do presidiário da cela da frente com uma arma de choque, todos que presenciaram a cena finalmente perceberam que não deveriam brincar consigo.

Mas a prisão ainda era muito grande e muito mais populosa do que as pessoas imaginavam.

No entanto, ele tinha outras preocupações. Coisas mais importante do que aqueles criminosos mequetrefes que se achavam os melhores.

Ah, Stiles sentia tanta vontade de rir ao ver aqueles homens se gabando de seus feitos “incríveis” enquanto controlava a sua língua para não acabar magoando os egos inflados dos pobres iludidos.

- chega pra lá, vagabundo – ordenou o guarda empurrando o castanho algemado contra a grade, antes de abrir a cela.

- vem, lixo – ditou abrindo passagem para o detento adentrar a cela.

Stiles caminhou para o interior da cela com normalidade, antes de ser chutado para o interior pelo guarda de cabelos negros. O moreno xingou o castanho mais uma vez por estar tomando o seu tempo caminhando de forma tão lenta apenas para entrar na cela, enquanto fechava a mesma.

- é por culpa de gente como vocês que o país está uma merda, sua escória – ralhou o guarda ao ver o castanho cair no chão da cela como um boneco de pano.

O homem riu da cena.

Stiles apenas girou no chão e estendeu as mãos para o homem de farda que se aproximou e se abaixou diante de si para lhe soltar das algemas.

- você não vale nem a merda do cachorro do meu vizinho – ralhou o homem enquanto se erguia e cuspia no homem de braços enfaixados caído no chão.

O castanho sorriu largo, ainda caído no chão enquanto o homem saía da cela.

- o cachorro Binx do seu vizinho Thomas Wallace? –

A voz do castanho parou o moreno, que, surpreso, se virou para encarar o homem que sabia o nome do seu vizinho e até mesmo o nome do maldito cachorro em miniatura do mesmo. E foi quando se virou, já do lado de fora da cela, que o homem foi pego de surpresa, sendo arrastado para o interior da cela. O portão de ferro se fechou em um baque, antes de ser seguido por gritos de dor que ecoavam pelo corredor, mas que não duraram muito para serem substituídos por uma rizada infantil e aguda.

Death Wonderland - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora