Shift

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Os gritos eram constantes. Eles iam e vinham sem nenhum controle de sua parte, ou até mesmo algum padrão ou sentido. As várias vozes gritando, ecoando pelo espaço amplo e então morrendo ao fundo como os seus donos, para logo em seguida retornarem gritando mais atrocidades e palavras difíceis de compreender em meio ao caos. O fogo dominou a sua visão e o seu corpo esquentou rapidamente. Sangue escorreu pelo seu rosto e ele levou a mão esquerda ao olho quando não conseguiu enxergar mais nada com aquele olho. Não sentou nada. Não havia mais olho. Agora era apenas a cavidade vazia por onde jorrava sangue. Levou as mãos ao campo de visão do olho direito, notando que suas mãos estavam separas dos pulsos por corte únicos, além de estarem pálidas e sujas de terra.

Como ainda as movia?

Não sabia. Apenas sabia que conseguia e que doía. E como doía. E elas não eram as únicas, abaixando o olhar, notara um corte igualmente limpo nos cotovelos. E ao olhar para o ombro direito, percebeu outro corte, com lâminas de vidro perfurando sua pele, acompanhadas de anzóis. O seu corpo tremia. A dor apenas crescia e fugia de seu controle. Logo, gritar se tornou inevitável. Respirou fundo, trêmulo, com dificuldade, grunhindo no processo, antes de berrar toda a dor que sentia. Ele fora calado alguns segundos após quando viu as adagas serem arremessadas e perfurarem suas mãos, sendo ligadas ao nada por correntes. Os grilhões foram puxados e suas mãos se foram com eles, parando alguns metros a sua frente.

Ele estranhou, mas não conseguiu pensar em nada, devido a dor que sentia. Logo viu mais adagas serem arremessadas em sua direção, perfurando suas pernas e virilha. Logo, todo o seu corpo fora perfurado por adagas com correntes e puxados para metros a sua frente, onde era remontado por Deus sabe quem ou o quê. A sua cabeça permaneceu imóvel, flutuante, observando todo o seu corpo despedaçado ser montado a sua frente como um manequim em um crucifixo. Dedos se emaranharam em seus fios de cabelo e lhe puxaram para trás, onde ele pôde ver um ser de terno branco e máscara de coelho igualmente branca lhe segurar a cabeça. Ele ouviu o outro rir divertido, antes de arremessar a sua cabeça no seu corpo.

Stiles inspirou profundamente de forma súbita ao abrir os olhos e se deparar, mais uma vez com a escuridão. Ao se sentar lentamente, ele pôde ver o ambiente ser levemente clareado por quatro portas que estavam dispostas ao seu redor, como se ele estivesse em uma caixa.

- você dormiu – a voz jovial se pronunciou, soando levemente acusatória.

- é. Eu sou um ser vivo. Eu TENHO que dormir – resmungou apoiando um dos braços sobre o joelho, enquanto inclinava o corpo para trás, o apoiando na outra mão.

- é estranho você dormir duas vezes no mesmo dia – a mulher comentou e o castanho abaixou a cabeça, irritado.

- eu tenho que descansar –

- está ficando enferrujado, garoto? -  a voz máscula ecoou seguida de um riso

- eu estou ficando farto. Isso, sim –

- deixem ele. Sabem que não dormimos muito bem. Mas precisamos disso. Ainda somos apenas um corpo humano. E corpos humanos precisam de dozes de sono. –

- ah, pronto! Lá vêm ela babar o ovo dele! – resmungou o homem.

-. Será que você só sabe reclamar, Rei? –

- É CLARO, PORRA! SOU EU QUE ESTOU TRANCADO! NÃO ELE! –

- CALA A PORRA DA BOCA! – gritou, revoltado, assustando os guardas, devido ao eco que o seu grito gerara.

- não precisa gritar –

- cala a porra da boca – rosnou em resposta, voltando a se deitar no chão frio e se encolhendo ali.

Death Wonderland - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora