For Us

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Ele sentiu o frio da água gelada abandonar o seu corpo, deixando apenas marcas em pontos específicos. Ele compreendia aquela sensação. Estava acorrentado, mais uma vez. É claro que ele sabia reconhecer aquela situação. Havia vivido preso em toda a sua vida. Desde quando a sua mãe lhe abandonou após o seu irmão gêmeo proferir as primeiras palavras compreensíveis, até o dia de hoje. Ele nunca soube o que realmente significava ser livre. O que era ter vida.

Ping.

Ele sentiu, mas bem fraco.

Ping.

Desta vez ele sentiu com mais força.

E outra vez, ping.

Ele já havia entendido. Água gotejava em sua cabeça enquanto ele estava imobilizado pelas correntes. Uma tortura clássica. Podia parecer idiota, mas, com o tempo, a água levava os aprisionados a loucura. Branco lhe ensinou isso quando tinha apenas sete anos. Havia demonstrado os efeitos para eles, os deixando assistir de camarote um veterano de guerra enlouquecer com apenas gotas de água e correntes. No início, era possível ignorar a água, ou até mesmo a agradecer nos momentos de sede mais extrema. No entanto, com o passar das horas, a fome e o estresse aumentavam e a paciência e gratidão se exauriam, levando a vítima ao desespero, e posteriormente a loucura.

Mas ele não iria falar nada. Não iria demonstrar nada senão dor e tristeza. Pois era isso o que ele podia sentir, agora. Já era louco há muito tempo! Não tem como água lhe transformar naquilo que ele já era. A única coisa que poderia lhe mudar era o fogo. Poderia o transformar em um assassino maluco para um conjunto de ossos e cinzas.

A lâmina perfurou o seu tornozelo com força e precisão, lhe surpreendendo e arrancando um grunhido de dor e surpresa. Ele se forçou a olhar para baixo, vendo um mascarado com rosto de um homem sorridente inclinar o pescoço para a direita. A máscara sorria largo de forma perturbadora. Mas Mieczyslaw não se importou nem um pouco. Mais uma lâmina perfurou o seu corpo, desta vez o seu braço. Ele olhou para a lâmina, vendo uma pessoa com máscara de mulher igualmente perturbadora a do homem. Uma lâmina atravessou toda a superfície do seu abdômen, iniciando um corte profundo, mas não o suficiente para abrir a sua barriga. Uma pessoa com máscara de criança acenava para si de forma animada, tentando aumentar o seu astral.

Ele nada disse ou expressou.

A tortura perdurou por dez minutos a finco, sem um descanso para o seu corpo. Quando uma lâmina saía do seu corpo, outra o perfurava em outra parte do corpo. O homem esfaqueou a sua virilha, antes de a mulher esfaquear o seu peito. A criança voltou a abrir a o seu abdômen, desta vez do pescoço até a virilha. Stiles se manteve impassível. Ele estava abalado, destruído mentalmente. A culpa voltava a lhe assolar com força. Não sentia a dor das lâminas. Os seus cortes e lacerações não eram nada comparados a dor em seu psicológico.

Para a sua surpresa, anzóis foram fincados em sua pele e passaram a puxar a mesma, ameaçando lhe rasgar como um urso de pelúcia disputado por crianças birrentas. Naquele momento, ele sentiu dor ao ponto de não conseguir controlar a sua expressão corporal. Grunhindo de dor, ele tentou, ao máximo, ignorar a dor que sentia, como fizera com os cortes que sofrera recentemente. Quando abriu os olhos, ele se deparou com um espelho erguido a sua frente, enquanto os seus três torturadores se colocavam atrás de si, de modo que seus reflexos surgissem no espelho.

- Esse corpo não lhe pertence – o homem sorridente proferiu com calma inclinando a cabeça para a direita, sendo seguido no ato pelos outros dois mascarados.

Stiles arregalou os olhos, aterrorizado.

- vamos. Deixe o verdadeiro dono sair – ditou a mulher e só então Stiles percebeu a manivela ao lado da mulher e da criança.

- Não. Não! Pare com isso! –

- Relaxa! A gente ajuda você com isso – as mãos dela e da mulher se ficaram na manivela e o desespero cresceu.

- Não! Não! Por favor! – as lágrimas começaram a rolar por seu rosto.

A manivela fora movida uma vez, em um movimento sincronizado, e todos os anzóis presos em seu corpo por correntes passaram a ser puxados, aumentando ainda mais a dor que lhe causavam. O sangue começou a escorrer livremente pelos ferimentos causados pelas novas correntes. Dois dos anzóis estavam presos bem abaixo dos seus olhos, dois acima de suas sobrancelhas, dois em suas bochechas, um no lado esquerdo do seu lábio inferior, e outro no lado direito do seu queixo. Todos eles passaram a puxar com mais força e Stiles sentiu como se o seu rosto estivesse se rasgando.

- Por favor. Por favor, para! Tudo menos isso –

A criança gargalhou inocentemente.

- Quem será que está embaixo da máscara de couro? – questionou, simpática, antes de girar a manivela mais uma vez.

Os anzóis foram puxados mais uma vez. Sentiu algo quente escorrer por seu rosto, pescoço e começo do peito, antes de, por ali, começar a pingar no chão. Stiles olhou para si mesmo no espelho, sentindo o pouco de coragem que lhe restava se esvair pelas pontas de seus dedos quando viu o seu rosto, rasgado ao meio, como um desenho que fora partido em dois. O seu rosto ainda possuía expressões, e os seus lábios se moviam com coordenação. Mas, ali, onde antes o seu nariz estava unificado, havia um novo nariz. Um diferente do seu. O seu rosto estava se rasgando como uma máscara.

- Não! Isso não é possível. Eu sou o verdadeiro. Eu sou o dono deste corpo – ele resmungou mais para si mesmo, do que para os mascarados.

O homem gargalhou, enquanto deslizava a mão de forma depravada por seu corpo. Stiles sentia o seu toque nojento percorrer suas pernas e abdômen, enquanto a mulher forçava a manivela para girar mais uma vez, mas era contida pela criança, que segurava a manivela do outro lado, a impedindo de girar.

- Você fez um papel excelente fingindo ser quem não era. Mas agora está na hora de fechar as cortinas e o ator sair do personagem – o mascarado mais novo pronunciou com calma e tranquilidade, antes de abrir as mãos, permitindo que a mulher girasse a manivela com fúria, dando vários giros de uma única vez.

Stiles berrou um grito desesperado. Um grito de morte, antes de sentir o seu rosto se partir por completo, e toda a pele de seu corpo ser arrancada de si como uma vestimenta. Ele abaixou a cabeça, sem ar, se sentindo fraco e sem forças para ir contra as correntes em seus pulsos, com cotovelos, ombros, coxas, joelhos e calcanhares. As mesmas correntes que ainda lhe mantinha erguido no ar, deitado, completamente à mercê daqueles três seres odiados. Quando reuniu forças para erguer a cabeça ele se espantou ao encarar o espelho e perceber. O seu rosto não era mais o mesmo jovial. O seu cabelo não era mais castanho e batendo em seus ombros.

- Não - murmurou, perplexo, observando o seu rosto redondo, olhos pequenos e cabelos longos.

Ele não se via mais como Stiles. Agora, ele via a imagem de Valete. Aquela mulher bonita, na faixa dos quarenta anos, seios pequenos, pele clara e macia, olhar cativante e lábios atraentes. A mulher piscou os olhos, perplexa, antes de sentir a mão áspera do homem em seu queixo, o segurando firmemente, mantendo o seu rosto direcionado para o espelho.

- Olha que rostinho mais bonito! - exclamou pressionando o queixo alheio entre os dedos, antes de jogar o rosto da mulher para o lado.

- É. Seria uma pena se ele também fosse falso – a mulher ditou com desdém, surpreendendo Stiles.

E mais uma vez, os anzóis se agarraram ao seu corpo, perfurando a sua nova pele. Aterrorizado, ele gritou. Gritava de dor, de desespero, de ódio. O mascarado mais baixo, que apesar de ter uma máscara de criança, aparentava ser uma adolescente de uns quatorze ou dezesseis anos, apenas socou a manivela, a fazendo girar uma vez, forçando os anzóis a puxarem a pele de Stiles.

- eu não gostei dessa máscara nova. Vamos, traga o verdadeiro! – ordenou a mulher antes de girar a manivela mais uma vez, forçando os anzóis a rasgarem a pele alheia de novo.

Mais uma vez, Stiles viu um rosto se formando abaixo do seu, emergindo através do corte que o dividia ao meio. O corte surgiu entre o nariz e o seu olho castanho escuro. E ali, naquele corte, ele conseguia ver um olho diferente do seu atual, que também era diferente do seu castanho claro, quase mel. Era um olho verde, que olhava para o espelho, diretamente para o deu reflexo, com ódio.

- vamos! Forcem mais! Quando tem resistência é que fica mais gostoso – comentou o homem cravando a sua lâmina no seio esquerdo da mulher erhuida por correntes.

Stiles berrou com a dor da perfuração. A criança e a mulher giraram a manivela mais uma vez, voltando a arrancar a pele em seu corpo. Abaixo da pele arrancada, jaxia uma pele branca, com pelos nos braços e peito. Stiles encarou o espelho, assustado, observando cabelos castanhos mais uma vez, mas castanhos mais escuros do que os que ele lembrava de ter. Os olhos verdes não mais possuíam ódio. Agora eles exibiam pânico. Os lábios finos e nariz arrebitado puxavam o ar com necessidade desesperada. O maxilar quadrado e o queixo partido em dois de forma tão bonita eram familiares para si.

- Rei?! – eles exclamou, surpreso, em um sussurro, passando os olhos verde ssobre o seu novo reflexo.

A mão áspera e grande do homem armado abaixo de si voltou a tocar a sua pele, deslizando por suas coxas e seguindo para cima, alcançando o períneo e as nádegas rapidamente. Stiles sentiu o nojo lhe dominar e embrulhar o seu estômago com velocidade e voracidade. Em um único refluxo, ele vomitou apenas água e suco gástrico. A risada do homem perturbou os seus ouvidos, que imploravam para serem fechados ou destruídos.

- eu não me importo com o que carrega entre as pernas. Com tanto que tenho um buraco para foder, você sempre será a princesinha do papai – as palavras do homem atravessaram o seu peito com força, como uma estaca de medo que envenenou todo o seu corpo.

Ele passou a se debater e a gritar, tentando se afastar daquele monstro. A criança riu do seu desespero. Os seus esforços foram inúteis, obviamente. As correntes mal permitiam que ele se mexesse, quem dirá se afastar. A criança gargalhou divertida, antes de girar a manivela três vezes no sentido anti-horário, e logo anzóis voaram contra o homem castanho, voltando a perfurar a sua pele, o imobilizando por completo.

- se o pau tanto te incomoda, podemos resolver isso facilmente – ditou a mulher se aproximando com a sua lâmina em mãos.

- não! NÃO! – Stiles voltou a gritar quando a mulher agarrou o seu membro flácido.

Ela cravou a lâmina no membro, o perfurando pela glande e o preenchendo com a lâmina, antes de inclinar a mão, fazendo a sua arma partir o membro em dois. Stiles berrou de dor e lágrimas surgiram em seus olhos, rolando por seu rosto livremente. A mulher cravou dois anzóis, um em cada metade da glande, antes de se afastar, rindo e unindo as mãos, apreciando a imagem.

- tão melhor! Não acha? – inquiriu admirada.

- com certeza. Mas ainda está raso. Ela sabe que o papai vai FUNDO – o homem se aproximou respondendo, antes de cravar a sua lâmina na base do pênis partido em dois.

Stiles já sentia a voz pedir por clemência enquanto berrava a sua dor. A criança riu e girou a manivela, puxando a pele do homem, bem como as metades de seu membro. O castanho cerrou os punhos com tanta força que seus dedos doíam. A sua unha perfurava a própria pele, gerando novos cortes em seu corpo.

- eu não gosto desse. Eu quero o original –

- e nós vamos ter, querido! Mas, primeiro, por que não brinca com ele? –

A criança nada respondeu. Ela apenas girou uma segunda manivela, e Stiles sentiu apenas os anzóis em seu pênis serem puxados para os lados, abrindo ainda mais o seu ferimento. Ele girou de novo e as correntes voltaram a puxar com mais força . O prisioneiro urrava de dor, enquanto tentava, ao máximo, não se mexer, para que mais anzóis não intensificaram os ferimentos em seu corpo. Ele já sentia a sua voz dar sinais de que estava passando dos seus limites vocais, bem como a garganta, que ardia como se ele tivesse vomitado recentemente. Mais um movimento da manivela fora o suficiente para os anzóis começarem a rasgar a carne em que estavam fincados. Quando as mãos pequenas completaram mais um giro completo, os anzóis partiram as metades do membro ao meio, se libertando.

Stiles berrou de dor, antes de morder o lábio inferior com força o suficiente para lhe arrancar sangue. Ele havia se cortado com os próprios dentes na tentativa frustrada de suportar a dor que sentia.

- está tão suja. Por que você não banha a cachorrinha? – inquiriu o homem vendo o garoto inclinar a cabeça para o lado, antes de levar a mão a uma alavancar.

- a banheira já está pronta – proferiu a mulher, venenosa, e Stiles engoliu um grito de pânico ao abrir os olhos, sem erguer a cabeça.

Ele viu, abaixo de si, uma banheira enorme cheia de um líquido transparente. Stiles não gostava nem um pouco daquela ideia. Sabia exatamente o que lhe esperava ali, sem se quer se aproximar. Não precisava se aproximar para saber que aquele líquido queimaria as suas narinas assim que tentasse inspirar o seu cheiro. O Stilinski também era um assassino. Sabia muito bem como torturar alguém. E sabia, principalmente, os métodos de tortura usados por aqueles três estranhos. Porque aquela tortura que estava sofrendo eram todas ideias suas.

As correntes com anzóis foram o método que ele utilizou para arrancar informações de um capanga dos Raposa anos atrás, quando ainda era uma criança. Com a ajuda de roldanas, ele espalhou correntes por um quarto vazio, e colocou o homem no centro, sentado em uma cadeira. Acima dele, Stiles preparou uma goteira. Com as correntes, prendeu anzóis ao corpo do homem anestesiado. E quando, ele acordou, a tortura começou. As gotas de água, a fome, a sede e a humilhação faziam o homem querer sair dali gritando, mas os anzóis o faziam se manter onde estava. O dividindo entre a dor física e a tortura psicológica. Caso optasse por suportar a dor física e abandonar a psicológica, os anzóis abririam tantos cortes por seu corpo, que ele morreria de hemorragia antes mesmo que conseguisse achar a saída do prédio abandonado em que estava.

Alice provou de sua própria máquina de tortura. E, agora, estava prestes a experimentar outra de suas ideias macabras.

- não. Isso não – pediu enquanto a criança puxava a alavanca.

O castanho chorou, mudo, antes de sentir as correntes se moverem, começando a abaixar o seu corpo. A medida em que o seu corpo se aproximava da banheira, ele sentia a agonia e o pavor preencherem o seu peito ao ponto de transbordar em segundos. Os anzóis em seu corpo impediriam que ele se debatesse. Uma variação interessante, na qual ele tinha pensado no passado, mas dispensou por achar ser de pouca criatividade.

Era efetivo. Mas pouco original.

Ele já possuía anzóis em uma de suas torturas.

Então ele decidiu inovar. No lugar de correntes e anzóis, ele usou chapas metálicas e eletricidade, criando duas paredes quentes que queimariam a pele da vítima se ela tentasse se debater ao ponto de quebrar a cadeira de madeira em que estava sentada e algemada. Afrouxando os pés de trás da cadeira, ele garantiu que a vítima não tentaria se balançar para a frente e para trás e tentasse fugir da armadilha de calor de maneira frontal. Porque se ela se balançar se demais e os pés traseiros quebrassem, ela cairia em uma banheira de ácido perclórico

A banheira de ácido. Fora assim que Stiles conseguiu arrancar a localização de Adrian Harris de um militar. O algemou a cadeira e o torturou com agulhas, a sua fobia, facas e gelo. Ao final, quando finalmente conseguiu a informação, Stiles apenas o empurrou para a piscina de ácido. A polícia nunca descobriu sobre as facas, agulhas e o gelo, pois o ácido eliminou todas as evidências presentes no cadáver.

Quando a glande repartida de seu membro tocou o líquido transparente, Stiles berrou de dor e começou a se contorcer. Ele se debatia Com desespero crescente a medida em que a dor apenas aumentava. Os anzóis em seu corpo puxavam sua pele e seus músculos, rasgando ambos, fazendo mais sangue escorrer sobre si. Por fim, o corpo fora jogado de vez na piscina ácida quando as corrente foram liberadas bruscamente. O liquido corrosivo subiu e desceu em uma pequena explosão, mas nenhuma única gota acertou os torturadores. Alice já não se importava mais com os anzóis. Ele estava desesperado. Se debatia com determinação, na esperança de conseguir deslocar os ossos do corpo e se librar as correntes.

A dor era insuportável. A sua pele derretia sobre o seu corpo. Os seus fios castanhos se unificaram com o líquido, desaparecendo por completo. Os seus olhos estouraram e murcharam nos buracos aos quais pertenciam. Stiles começou a sentir a dor da queimação alcançar a carne abaixo de sua pele, e foi assim que ele soube que morreria alí. A dor não era apenas em sua pele, desta vez. Era em todo o seu corpo. Ao abrir a boca para gritar a sua dor, ele sentiu o ácido invadir a cavidade e seguir queimando o interior do seu corpo.

Descobriu falhar miseravelmente em sua tentativa de libertação quando sentiu o corpo era puxado para cima pelas correntes. Quando a sensação se submersão lhe abandonou, sentiu a orelha esquerda pendurada por uma cartilagem, antes de se desprender totalmente e cair de volta na piscina de ácido.

- está linda! - exclamou o homem, admirado.

Stiles sentiu a necessidade de piscar os olhos, se surpreendendo ao ver que ainda tinha olhos. Ele ficou confuso. Como ainda possuía olhos, se os sentiu derretendo na piscina de ácido? Erguendo a cabeça, ele ergueu a cabeça e piscou os olhos rapidamente, retirando a sensação de encharcado dos cílios, e olhou para o espelho.

O seu queixo caiu.

- apesar do cabelo horrível, está parecendo uma bonequinha! – exclamou a mulher se aproximando.

Stiles olhou para a piscina de ácido, esperançoso de que a mulher caísse ali. Mas, para a sua surpresa, a piscina havia sumido. Não havia mais como a mulher ser engolida por ácido que a mataria em instantes.

Ele voltou a olhar para o espelho, reconhecendo o rosot que possuía agora. Era Rainha. Mas não a Rainha que ele se lembrava de ter matado. Era a Rainha que havia conhecido anos antes a sua morte. Ela ainda tinha cabelos cacheados volumosos. Os cabelos que ele sempre achou lindos, embora a garota os odiasse. A pele estava intacta, apesar de ter saído recentmeente de um tanque de ácido.

- os peitos são pequenos, mas dão para o gasto – ditou o homem e a mulher ergueu a mão para os seios de Stiles.

- NÃO TOQUE EM MIM! – ele berrou, se debatendo, mas foi em vão.

A mulher agarrou o seu seio esquerdo com força e o apertou, fazendo as unhas perfurarem sua carne.

- além desse cabelo ridículo, já é uma mulher. Não precisamos de outra – ralhou puxando a mão, raspando a unhas pela pele alheia, antes de sinalizar para a criança, que ergueu ambos os polegares de forma animada.

- é uma pena que eu não vou poder brincar com esse seu corpo. O papai já está até duro –

- NÃO TOQUE EM MIM! -

- sabe uma coisa que vai combinar perfeitamente com esse seu cabelo? – inquiriu a criança antes de puxar outra alavanca que se encontrava a sua frente.

Stiles sentiu o seu corpo era alvo de um líquido que veio de cima de si, em um volume ridiculamente grande. Quando a vazão do liquido cessou, o pânico lhe dominou. O cheiro ao seu redor era forte e incapaz de ser confundido. Aquilo era gasolina. Ela fora banhada em gasolina. Stiles ergueu o olhar para a criança, com temor. A criança mascarada agora erguia um isqueiro aceso em uma das mãos, enquanto encarava o brilho pequeno da chama com admiração.

- fogo. O fogo vai purificar você direitinho – comentou o garoto antes de permitir que o isqueiro caísse no chão, onde gasolina havia se acumulado da queda.

- desgraçado! – choramingou o Stilinski e uma lágrima rolou de seu olho.

As chamas se espalharam pelo líquido, se acumulando abaixo da garota de cabelos cacheados. Em segundos, o calor das chamas gerou fogo em seu corpo coberto por gasolina. A garota passou a berrar e se debater, enquanto sentia a sua pele esquentar, arder e doer. As correntes esquentaram ao ponto de marcarem a sua pele. Stiles sentiu a sua pele começar a derreter e a dor tomou conta de sua mente. A sua pele queimava como o inferno e, em questão de segundos o desmaio ocorreu.

A sua consciência retornou em segundos. Ele não conseguia compreender o que estava acontecendo. Mas ele conseguia distinguir o que sentia. E ele sentia ódio. Stiles estava irado, mas, ao mesmo tempo, ele sentia medo. Ao erguer o olhar para o espelho mais uma vez, ele se deparou com uma versão feminina sua. Uma versão adulta da criança afeminada que o FBI prendeu há anos atrás. Ele sabia muito bem quem estava ali, no espelho, agora.

- Copas – murmurou com pesar.

- está aí uma que eu gostava – comentou o homem mascarado, voltando a acariciar as coxas da mulher castanha com malícia.

- essa puta – reclamou a mulher.

- eu não gosto dela – murmurou a criança e Stiles soube que estava com medo.

A criança temia copas.

- vamos. Me deixe aproveitar um pouco mais -

Stiles sentiu a mão do mascarado subir por sua coxa, alcançando a sua virilha.

- NÃO ME TOQUE! – ralhou, desesperado.

- ou o quê? Vai trocar de lugar de novo? –

- não! – protestou a criança, aterrorizada.

- troque comigo – Stiles viu o seu reflexo falar, o deixando aterrorizado.

- vamos trazer logo o original – ditou a mulher puxando uma alavanca e Stiles engoliu em seco, procurando de onde viria a dor desta vez.

Para a sua surpresa, uma guilhotina veio de baixo, e tudo o que ele teve tempo de fazer fora abrir a boca, em um suspiro de pânico, antes de tudo escurecer. Quando ele acordou, algo estranho ocorria. Os seus torturadores não mais tentavam joguinhos com o seu corpo. Não havia mais anzóis, não possuía ácido ou fogo, muito menos guilhotina invertida. Não faziam mais nada. Pelo menos não consigo. Os três estavam agrupados ao lado do grande espelho em que Stiles conseguia ver, agora, a aparência que costumava ter.

- qual deles? –

- eu não sei –

- qual deles deve ser? –

- tem que ter um original –

- não é possível que não exista um original –

- deve estar escondido mais fundo –

- temos que procurar mais –

- mas e se acharmos ela de novo? –

- estará presa. Não poderá nos matar. Não uma segunda vez –

- podemos apenas fazer com que ele fale –

- podemos? –

- sim. Ele não gosta que confrontem ele. Não gosta de perder o controle –

- e aqui ele não tem o controle –

Os três riram, antes de voltarem para si. E, mais uma vez, ele sentiu medo. Os seus lábios tremiam, o peito gelava e a respiração se tornou difícil. O homem agarrou o espelho com força, e a mulher passou por trás do mesmo, o contornando. Assim que passou pelo espelho, a sua roupa mudou, se tornando chamativa e levemente sensual. Ela vestia uma roupa de assistente de palco.

- vamos lá, seu puto. Qual de vocês é o original? – questionou o homem e Stiles encarou o espelho, confuso e assustado, antes de o homem e a mulher girarem o espelho, o revelando como uma caixa espelhada.

- é o Valete? – inquiriu a mulher, e o espelho passou a refletir a imagem da mulher de cabelos longos e rosto redondo. Acima do espelho, o naipe de espadas era exibido como um ornamento.

- não – ele negou, aterrorizado com a ideia de, realmente, não ser o dono daquele corpo.

A ideia de não ter o controle sobre nenhum aspecto de sua vida lhe matava por dentro. Era como um tiro de espingarda a queima roupa. Um tiro de bazuca em que a bala se alojava em seu peito, o assustando com a ideia da explosão, antes de realmente explodir.

- é o Rei? –

- não... Por favor -

Eles giraram aa caixa mais uma vez, revelando a imagem de Rei, com o baile de ouros ornamentando o topo da parede espelhada da caixa.

- será a Rainha, então? –

- PARA! –

A caixa fora girada, e a garota de cabelos cacheados fora exibida, com o maior de Paus afina do seu espelho.

- então Copas? –

- NAAAAO! –
A caixa exibiu a mulher de expressão séria, com o símbolo de Copas acima do seu espelho. Mas, diferente dos outros naipes, o seu estava quebrado, dividido na metade, com uma rachadura que o dividia em quatro pedaços. E o seu brilho havia sido perdido. Era como se aquele coração vermelhos possuísse séculos de existência. Um coração velho e desgastado.

- quem é?-

- quem é? –

- qual é? –

- diga! –

- chega de mentiras! –

- devolva! –

- você não merece existir aqui! –

A cada ordem e ofensa proferida por aqueles três, a caixa era girada com mais velocidade, voltando a intercalar as quatro imagens denominadas por cartas de baralho. Stiles começou a chorar a medida em que os reflexos iam passando mais rapidamente. Ele entendia. Ele concordava. Não deveria existir. Sentia que nunca deveria ter existido. Seus pais queriam apenas um filho, e ele veio como um brinde que ninguém pediu. O brinquedo velho e inútil que ninguém queria brincar.

- você não é fraco – a voz de um garoto quebrou a onda de questionamentos e ofensas, lhe surpreendendo.

As ordens e os berros dos três torturados desapareceram por completo, mesmo que eles ainda as proferissem contra si. Stiles sabia que eles continuavam, pois apontavam para si com fúria. E permaneciam a girar a caixa. Mas ele já não os ouvia. Ele percebeu, no espelho, a imagem de uma criança de mais ou menos nove anos. Ela possuía cabelos negros e olhos azuis, a pele era pálida como a neve e a sua expressão era fria, quase vazia. Vestia um uniforme de marinheiro, enquanto segurava um urso marrom na mão direita, o qual vestia uma coroa de brinquedo.

- você... – Stiles conseguiu murmurar, em meio a dor que sentia e ao choro.

Estava perplexo.

- não perca o seu tempo com seres irrelevantes, Law. Preocupe-se com os outros de nós -

- o resto? –

- os outros quatro estão no corpo, agora. Estão brincando. Mas tem alguém querendo mais do que alguns minutos de diversão - proferiu o moreno erguendo a mão e tocando o espelho.

- está caçando. Está me caçando. E você sabe o que acontece se ela me pegar –

- Miguel, quem está... – Stiles questionou, mas interrompeu a si própria assim que a imagem de um ser de terno branco e máscara de coelho tomou a sua mente.

- Branco quer tomar o controle. Ele sabe que, sem mim, você não tem controle sobre os outros –

- o quê? –

- Branco está tentando me matar, Law. Eu preciso de você.  Nós precisamos um do outro. – proferiu a criança, com calma, encarando o castanho acorrentado choramingar, mordendo o lábio inferior, antes de abaixar a cabeça, chorando.

- eu não posso. Não consigo –

- é claro que consegue! Não seja idiota! Você sempre foi o melhor. – o moreno sorriu gentil, antes de os três mascarados gargalharem, chamando a atenção de Stiles.

O assassino se encolheu brevemente, enquanto cerrava os punhos. A criança pareceu perceber a tentativa frustrada de afastamento por parte do outro. Suspirando e negando com a cabeça, o moreno exibiu a sua frustração, antes de erguer a mão, movendo o urso de pelúcia, o erguendo pelo braço, antes de estalar os dedos. Instantaneamente, os três mascarados rugem de dor. Stiles se assusta e abre os olhos. Erguendo a cabeça, se surpreendeu ao perceber os três torturadores se contorcerem e cair de joelhos no chão. Ele não entendeu nada. Se concentrando nos corpos alheios, ele conseguiu compreender o que havia acontecido. Mas não sabia como.

- você é melhor do que eles, Law. Você é uma Alice – a criança pronunciou, ignorando os urros de dor dos mascarados, enquanto os seus membros se quebravam em pontos específicos.

O homem apenas caiu de joelhos e levou as mãos a cabeça. Mas a mulher e a criança tiveram os quatro membros quebrados, bem como algumas costelas. O homem gritou mais uma vez, inclinando o torso para trás. Sangue jorrou do seu abdômen.

- esses três não tem como lhe machucar, Law. Eles não têm como lhe machucar há muito tempo – o garoto estalou os dedos mais uma vez, e os três pegaram fogo imediatamente.

Os gritos de dor e agonia perduraram por mais alguns segundos, antes de o silêncio dominar por completo, e os três corpos em chamas caírem no chão, se tornando apenas esqueletos.

- a sua família já não pode mais lhe ferir. Mas Branco pode -  o moreno voltou a informar, abaixando a mão com o urso.

- ela não sabe onde eu estou, graças a você. Mas isso não quer dizer que ela não vai conseguir se não a impedir. Ela pode não saber onde, mas está perto, Law –

- eu estou na minha cabeça, não é? De novo –

- sim –

- entendo. Alguma coisa me fez voltar –

- sim. Você... Reviveu uma memória da morte do seu irmão – respondeu com a voz suave, vendo o assassino erguer as sobrancelhas, surpreso, por um segundo.

- oh! Foi isso, então – resmungou, incomodado e triste.

- sim. Foi. Agora se solte e venha me ajudar. Eu não posso com ela –

- me ajude a sair –

A criança suspirou, negando com a cabeça.

- você se esquece muito fácil – o garoto apenas encarou o castanho e as correntes começaram a tremer, antes de se quebrarem, libertando o assassino.

Stiles caiu de quatro no chão frio. A sensação da nudez e a temperatura baixa do ambiente lhe davam calafrios que ele preferia evitar. Ele era um assassino treinando para resistir e prosseguir, mas até mesmo possuía limites. E sabia que já estava perto do seu limite. Havia sido humilhado, torturado, assediado, esfolado, banhado em ácido e incendiado. O seu psicológico, que já não era dos melhores, estava fraco. O homem se ergueu e encarou o espelho, ainda nu.

- se apresse – a imagem do garoto se dissipou no espelho, tremulando como o reflexo da lua no mar agitado, deixando apenas o reflexo do homem.

O Stilinski caminhou até o espelho e esticou a mão, sentindo a mesma atravessar o espelho como se a estivesse mergulhando em uma piscina vertical. Ele atravessou o objeto, se vendo, agora, em um corredor de uma escola. Os armários vermelhos e pretos tinham um brilho chamativo, apesar da aparência abandonada do lugar. Tirando os armários, aquele corredor parecia não ser habitado há séculos. Os azulejos brancos e pretos eram sujos e quebrados em alguns pontos, resultado, muito provavelmente, da dilatação do material na mudança de temperatura das estações. O teto era revestido com tinta azul envelhecida pelo tempo, já descascando em alguns pontos.

- esse lugar... – murmurou ao analisar bem o ambiente.

Ele o conhecia até demais. Havia passado três anos inteiros em corredores parecidos. Stiles já havia tomado conhecimento de que estava em sua mente. E que, nada daquilo era completamente verdade. Eram apenas projeções de sua cabeça. Fatores de seu passado e do seu distúrbio modificados por sua saúde mental frágil. Mais uma prova de seu delírio era o modo como o corredor se torcia em espiral ao decorrer de seu caminho. Se andasse por mais doze metros estaria de ponta a cabeça. Mas, com uma certeza convicta de que não cairia dali, ele seguiu o corredor a passos rápidos, antes de começar a correr.

Os corredores eram uma verdadeiro labirinto. E os corredores eram tão malucos quanto se podia imaginar. Havia corredores que giravam; que encolhiam; que cresciam; que refletiam; possuíam piscinas; fornalhas; que eram barulhentos; e os tão silêncios que se quer dava para ouvir passos neles. Mas ele sabia o caminho. Diferente de sua personalidade que queria Miguel morto. Mas o que lhe preocupava era a astúcia e as habilidades de sua outra personalidade. Ela era persistente, e ele sabia muito bem disso. Ao virar a esquerda em um corredor gigante após passar por um repleto de flores, Stiles parou de correr bruscamente, surpreso com o que viu.

Ela estava a sua frente todo aquele tempo. Deveria ter demorado muito sendo torturado pelos fantasmas do seu passado. Pois, do outro lado do corredor, ele via de pé um ser com calça social e terno, ambos tão brancos quanto papel. Em seus pés, sapatos sociais com um leve salto, que mal daria para perceber se não tivesse olhos treinados, completavam o seu traje. O rosto fora virado na direção do castanho, exibindo um coelho sério, natural, como se a cabeça do animal, em uma proporção enorme, tivesse sido arranca e colocada em um corpo humano. A pelagem branca balançou com a leve brisa que veio do corredor ao lado.

- Branco! – rosnou o castanho observando a mulher mascarada virar o corpo em sua direção e unir as mãos atrás do mesmo.

- o meu preferido! –

Stiles cerrou os punhos.

- se você está aqui... Então Miguel já sabe que estou atrás dele –

- sim. Ele sabe –

- e você veio me impedir –

- como sempre, astuta –

- como sempre, sério demais para o símbolo que carrega –

- não vai passar por mim –

A mulher mascarada riu. O seu riso se tornou um gargalhar alto que ecoou pelo corredor. Ela jogou a cabeça para trás, ainda gargalhando por trás da máscara, antes de a abaixar, separando as mãos e as colocando ao lado do corpo. Branco ergueu a mão esquerda, exibindo uma faca Katambit com lâmina prateada e cabo preto.

- vamos ter um jogo limpo, certo? Pelos velhos tempos – inquiriu girando a faca no dedo indicador, antes de agarrar o cabo com firmeza mais uma vez.

Stiles apenas manteve a mesma posição e estalou o pescoço.

- somos maravilhanos, Branco. Nós não jogamos limpo –

Os dois arrancaram em disparada um contra o outro. Branco, com a mão livre, puxou duas facas do bolso interno de seu terno e as lançou no castanho em um arremessos único. Ele não parou a sua investida, apenas reduziu a velocidade para efetuar um giro no próprio eixo, dando dois passos para o lado, e voltou a apertar o passo. Quando eles se alcançaram, Stiles se jogou no chão e esticou a perna esquerda, mirando no tornozelo alheio. A mulher saltou, colocando a mão livre ao lado da cabeça do castanho.

Ela golpeou com a faca na garganta do homem, o vendo rolar para o lado, desviando do ataque. Stiles se ergueu com velocidade e correu até a parede. Branco o seguiu com igual velocidade. Ele saltou e chutou a parede, girando o corpo e movendo a perna em um chute. A mulher inclinou o corpo para a frente, enquanto girava no próprio eixo, fazendo a perna do outro passar por cima de seu corpo. Ela se voltou contra o outro assassino e ergueu o corpo devidamente, colocando a mão com a faca atrás do corpo, e erguendo a outra mão, a mantendo aberta e preparada. Stiles aterrissou em pé e girou o corpo, se afastando dois passos, antes de flexionar uma perna, se abaixando, e esticar a outra, mantendo as duas mãos atrás do corpo, com os braços esticados para trás e os olhos fixos na adversária.

- você sabe como isso termina – acusou o Stilinski com fúria nos olhos.

- he! Você não está tão bem informado desta vez – a mulher soou animada antes de estalar os dedos.

Um som maquinal antes de um estrondo. Stiles se colocou atento antes de arregalar os olhos, surpreso. Ele viu a estaca de ferro descer, presa a uma haste, como uma foice, pronta para lhe atravessar o abdômen. Ele reagiu por reflexo e se jogou para o lado, vendo a armadilha passar por si, e retornar ao teto.

- Mas que porra! – exclamou ouvindo a outra gargalhar.

- estamos no campo perfeito para uma maravilhana como eu, Miescyslaw. Aqui, eu posso fazer de tudo! – ela exclamou, animada, antes de voltar a avançar.

Stiles não recuou. A mascarada lhe alcançou e girou, desferindo um golpe da faca. Ele se abaixou e a socou na barriga, a acertando em cheio. A mulher recuou um passo, antes de ele se erguer avançando um passo e desferindo mais um soco potente no abdômen alheio. Com um gancho de esquerda, forçou a adversária a jogar a cabeça para trás e cambalear na mesma direção. Ele correu na direção da mulher e desferiu mais um soco. Ela agarrou o seu punho com a mão esquerda e girou na mesma direção, passando por seu braço e acertando uma cotovelada em sua mandíbula.

Stiles recuou com o golpe. Quando voltou a focar o olhar em Branco, ela já havia saltado e girado no ar. O pé dela lhe acertou o peito com força, o forçando a recuar mais alguns passos. Quando, enfim, parou, sentiu o pé afundar no azulejo do corredor e arregalou os olhos. Atrás de si, uma estaca de ferro lhe atravessou o abdômen, fazendo sangue jorrar de seu corpo. Branco gargalhou correndo até o castanho e o apunhalando no pescoço.

Stiles arregalou os olhos, perplexo, observando a mulher inclinar a cabeça.

- eu não tenho como negar que você já me derrotou antes, Law. Você e o seu irmão foram os melhores que eu treinei. Mas você me mostrou algo que eu não havia percebido: todo mundo tem um ponto fraco. Até mesmo um maravilhano como nós. Eu não sabia que tinha um ponto fraco até você o esfregar na minha cara -a mulher sorria por trás da máscara, o que ficava evidente em seu tom de voz

Ela se aproximou mais, girando a faca no pescoço alheio, fazendo sangue começar a escorrer pelos lábios finos do homem.

- E o seu, Stiles, é o fato de que você é o verdadeiro assassino do seu irmão – as palavras secas e o tom sério da mulher perfuraram o peito alheio com mais força do que a estaca de ferro havia atravessado o abdômen dele.

- agora me deixe em paz, para eu fazer o que você deveria ter feito há muito tempo, criança – a mulher puxou a faca para si, abrindo metade do pescoço de Stiles, fazendo o sangue descer como uma cachoeira até a o seu peito.

Stiles sentiu os dedos gélidos, enquanto erguia a mão, já sem forças, para tentar agarrar o braço alheio e impedir que se afastasse. Ele não sentia medo da morte. Havia se acostumado com a ideia que morreria há muito tempo atrás. O que ele temia, era o que ocorreria com a morte de sua mente, ali dentro. Quem tomaria o seu lugar? Branco? Miguel? Alguma das Alices? A maioria das opções eram devastadoras. Como Peter iria lidar com aquilo? Ele certamente morreria se Branco ou qualquer uma das Alices assumir o controle de seu corpo. A sua visão ficou completamente escura quando Branco lhe deu as costas e o seu último suspiro foi dado.

Branco apenas jogou a mão para o lado, e girou a lâmina em seu indicador, limpando o grosso do sangue, marcando a parede com o sangue, e a jogou para o lado. A mulher virou a direita no fim do corredor, continuando o caminho que seguiria se Mieczyslaw não tivesse lhe interrompido. Ela não se surpreendeu ao encontrar o castanho de pé, olhando para si com seriedade, no fim do novo corredor. O homem ergueu as mãos abertas em palmas e separou os joelhos, em uma posição de defesa. Branco apenas levou uma mão a máscara, coçando o seu nariz de coelho com o polegar e suspirou.

- eu já tinha me esquecido que, de todos nós, você é o que renasce mais rápido –

- não podemos morrer em minha mente, Branco. Nem mesmo Miguel –

- eu discordo. Miguel é diferente. Ele pode ser morto – afirmou encarando o castanho erguer a sobrancelha em questionamento.

- e o que te faz pensar isso? Nunca se quer o encontrou –

A mascarada gargalhou e inclinou a cabeça para o lado.

- porque ele é uma farsa –

- uma farsa? –

- se me deixar matá-lo, verá a verdade –

- para matar o Miguel, terá que passar por cima de mim – proferiu, irritado, cerrando os punhos, ainda na mesma pose marcial.

Branco apenas estalou a língua no céu da boca e suspirou.

- então tá. Eu posso te matar de novo – ditou desfilando na direção do homem.

Stiles arrancou em sua direção, furioso. Branco sorriu por trás da máscara e ergueu o indicador na direção do adversário. Uma lâmina surgiu do chão e girou, completando um ângulo de 180 graus, antes de desaparecer no chão novamente. Instantaneamente, o corpo de Stiles caiu no chão, após o próximo passo, se abrindo em dois.

- se isso é o melhor das Alices que criei... Eu devia estar louca quando os escolhi – ela encarou o corpo caído no chão, observando o coração exposto parar de bater, lentamente.

Ao erguer o olhar do cadáver, observou o castanho cuspir no chão, há alguns metros a sua frente e cerrar os punhos. Ela suspirou, negando com a cabeça, e seguiu avançando, ignorando tanto o cadáver, quanto o assassino a sua frente. Stiles avançou mais uma vez, e a mulher levou a mão as costas, e retirou um revolver calibre 38. O castanho arregalou os olhos quando se viu na mira as arma. Branco disparou e ele se jogou para o lado, efetuando um giro e seguiu em sua investida. A mulher o seguia com a arma, disparando em meio ao seu zigue e zague. A cada disparo, ele contava as balas, esperando o momento certo para sehuiryde forma mais direta.

“Só mais um tiro”

Ele pensou e decidiu que era a hora de avançar. Quando Branco ergueu a arma para a sua cabeça, Stiles agarrou o pulso da mulher e o abaixou com firmeza. Ela usou a mão livre para desferir um soco no Stilinski, que girou soltando o seu pulso e se colocando atrás de si. Assim que terminou o giro, o assassino se viu ao ver que a adversária também havia girado. Os dois trocaram golpes rápidos com as mãos, tentando desarmar um ao outro. Branco recebeu um golpe do pulso alheio no queixo, antes de efetuar um golpe da lateral do punho no rosto alheio. Stiles jogou a cabeça para trás, sentindo Branco rodopiar a sua frente. Quando ele olhou para o lado de canto de olho, se viu surpreso com o 38 apontado para a sua cabeça, enquanto Branco estava de lado, ignorando a sua imagem.

O tiro fora certeiro e ele caiu morto no chão mais uma vez. Jogando o revolver para trás, sem se importar, seguiu o corredor, não se vendo surpresa quando, ao piacar os olhos, encontrou Mieczyslaw de pé, diante de si mais uma vez.

- por que não pode fazer como o resto de nós e ficar morto por uns dez ou vinte minutos? – perguntou visivelmente incomodada.

- e por que você não pode fazer como os outros e ficar quieta em sua cela? –

Ela suspirou e Stiles sabia que, por trás da máscara, ela estava revirando os olhos.

- porque eu sou forte. Porque eu sou melhor. Porque eu mereço. E porque você não está fazendo um bom trabalho como Alice –

- eu não vou fazer parte do seu jogo estúpido. Não me importa o que você quer ou deixa de querer –

- hm. O sentimento é reciproco. Não me importo com o que quer. Eu vou consehuir o que eu quero. Como sempre fiz –

Stiles voltou a avançar com velocidade. Branco voltou a sacar uma faca e correu até o outro. O homem saltou em um giro e deitou o corpo no ar, tentando acertar os pés no rosto alheio. A mascara desviou com eficiência. Quando o outro aterrissou, ela desferiu um golpe das lâminas em um X, com cada trajetória intercalada. Alice desviou de casa golpe, antes de voltar a girar, erguendo a perna. Branco saltou para trás e arremessou as lâminas. Stiles aproveitou o embalo do seu giro e saltou, desviando das lâminas. As portas dos armários ao lado do assassino se abriram, revelando fuzis preparados. Ele correu, desviando das balas, que acertaram os armários de onde foram disparadas. A medida em que corria, os armários iam se abrindo, revelando mais fuzis. Alice sorriu vitorioso ao correr na direção de Branco, forçando os armários a se abrirem e dispararem, como um efeito dominó.

Branco riu, antes de os armários diante dela se abrirem, surpreendendo Stiles, que observou o efeito dominó ocorrer a sua frente ao mesmo tempo em que ocorria atrás de si. Em breve, ele não teria para onde correr. O homem encarou os armários, notando a distância entre eles e o teto. Sorrindo, ele correr até os armários e saltou, exatamente quando seria alcançado pelos disparos que vinham da frente. Ele conseguiu pular o muro de disparos, evitando a sua morte. Branco inclinou a cabeça para o lado, e ele voltou a correr em sua direção. Os armários já abertos dispararam, perfurando o seu corpo por todos os lados. O corpo alvejado caiu no chão e Branco seguiu a desfilar pelo corredor.

Em mais um piscar de olhos, Stiles voltou a aparecer a sua frente.

- você não desiste, não é? Quando você vai entender que eu sou mais forte aqui? –

Stiles não encontrou palavras para rebater. Por mais que soubesse o que havia acontecido há anos, as palavras permaneceram perdidas e sua boca silenciada. Havia morrido mais de duas vezes para aquela mulher, ali. Por algum motivo, Branco estava mais forte ali do que em seu passado. Ele não sabia quando, nem como, havia todas aquelas armadilhas ali. A mulher puxou uma espada das costas, intrigando o homem mais uma vez.

- o que diabos você... – ele se calou ao sentir uma mão pequena envolver a sua mão direita.

Ele olhou para a mão, notando, só agora, que segurava uma espada idêntica a de sua adversária. Franzindo o cenho, tentou lembrar quando havia pego aquilo. Então a voz de Miguel ecoou em sua mente, e só então Stiles notou que a criança segurava a sua mão e a empunhadura. Miguel havia lhe entregado a arma.

- não se confunda. Esta é a sua mente. Não se deixe confundir com truques. Ela pode até ter poder, aqui. Mas você é o rei, aqui. Mostre a ela porque ela está aqui -

- e se eu não conseguir? – inquiriu preocupado, cerrando o punho envolta da empunhadura da espada.

- não seja idiota, Law. Ela perdeu quando era para valer. E se você levar a sério, ela perderá de novo -

- então está por aqui, Miguel? – inquiriu Branco olhando fixamente para Stiles, tentando descobrir onde o pequeno se escondia.

- afinal de contas, aqui é a sua mente. Não a dela! –

- tanto faz. Se não quer se entregar, eu posso continuar brincando de caça e caçador -

- não. Você não vai poder – o castanho moveu a mão, jogando a espada por sobre o ombro.

- e lá vamos nós – a mulher ergueu a espada devidamente e avançou contra o castanho, que repetiu o seu ato.

As espadas se encontraram de forma nada gentil, com a de Branco empurrando a lâmina de Stiles para trás. O castanho estalou a língua, em protesto. Ele estava irritado. Nada do que fazia funcionava contra Branco. Toda abertura que criava era Instantaneamente destruída pela mulher mascarada. Aquilo estava errado e ele sabia disso. Branco não deveria ser tão habilidosa. Ela era, sim, forte e capaz de muitas coisas. Mas ele havia a derrotado quando era apenas uma criança. Como, agora que era um adulto, estava sendo superado tão facilmente.

- você não pode me derrotar, Alice –

- tsc – o castanho atacou, sendo surpreendido quando a mulher golpeou a sua espada, a afastando, criando uma abertura.

A espada atravessou o seu corpo, o forçando a se ajoelhar com a dor. Ela puxou a espada de volta e agarrou os seus fios castanhos, o fazendo a encarar nos olhos.

- eu sou melhor do que você, garoto. Fui eu quem te criou. Se, hoje, você é algo, é graças a mim – ditou antes de enfiar a espada no pescoço do homem, o vendo arregalar os olhos e começar a engasgar com o próprio sangue.

- deixe-me alertar sobre algo antes que você volte. Nada do que você fizer vai adiantar. Nada do que tente pode me ferir. E sabe o porquê? – inquiriu abandonando a própria espada, que se manteve no pescoço alheio, e levando a mão para a sua máscara, a puxando lentamente – é porque eu sou você –

Stiles arregalou os olhos, perplexo, ao se ver retirando a máscara de coelho de seu rosto e sorrindo vitorioso.

- você entende agora, Stiles? Você é só um pedaço meu que pensa ter vontade própria. – Branco voltou a cobrir o seu rosto com a máscara, antes de puxar a espada com força, terminando de matar o castanho a sua frente.

Stiles retornou várias vezes, e em todas ele caiu antes que pudesse realmente machucar Branco. Atrás da mulher de terno branco e máscara de coelho, havia uma pilha de cadáveres espalhados por todo o corredor. Cadáveres baleados, cortados, esquartejados, esmagados, queimados e espetados. Branco cantarolava animadamente, de forma distraída. A cada vez que Stiles voltava, ela sentia que ele estava mais debilitado. O psicológico dele estava cada vez mais abalado. Se sentia imbatível! Finalmente o dia havia chegado. O dia em que trocaria de lugar com Mieczyslaw de forma definitiva.

- desista, Mieczyslaw. Não há como ganhar. –

Stiles tremia. Em parte de ódio, outra de temor. A sua insegurança voltava a martelar em sua mente, como um cutelo despedaçando o seu corpo. Se Branco era realmente assim tão forte, então... Qual deles dois era o original? A mulher de longos cabelos castanhos e máscara de coelho, ou o homem com cabelos castanhos batendo nos ombros e sérios problemas psicológicos? Stiles já começava a achar que, talvez, ele fosse apenas mais uma personalidade em meio àquele conjunto embaralhado de tantas. E se ele fosse só isso? Mais uma carta em meio a outras? O medo e a dor se tornaram fúria e negação. O castanho avançou com as mãos para trás.

- criança tola! Você me envergonha! – Branco esperou que Stiles a alcançasse para que pudesse atacar.

A mulher brandiu a espada em um golpe na horizontal, tentando partir o corpo alheio em dois. Mas Stiles fora mais rápido. Se jogando de joelhos no chão, eoe evitou o golpe. Ele puxou as mãos para a frente, surpreendendo a adversária ao revelar uma espingarda em sua posse. Deslizou até que os pés da assassina se encontrasse abaixo de sua virilha, e apontou com a arma para a mascarada. Branco não teve tempo de reação. O tiro abriu um buraco em seu queixo e explodiu o topo de sua cabeça.

Stiles sorriu vitorioso, orgulhoso de seu feito. Agora, após a morte, Branco demoraria uns quinze a vinte minutos para lhe importunar mais uma vez. O que lhe daria tempo para a trancar de volta em seu quarto. O homem suspirou, antes de notar a chuva vermelha ao seu redor. Diferente do esperado, não eram respingos de sangue. Eram confetes vermelhos. O castanho encarou, confuso, o corpo a sua frente, o vendo explodir em borboletas que se espalharam por todo o lugar.

- o quê?! –

O gargalhar da mascarada o assustou, fazendo se virar e olhar nos olhos vermelhos do rosto de coelho que a assassina vestia.

- que amor! Quem sabe um dia isso se torne algo que chegue a me chamar a atenção, criança – a mulher proferiu com um sorriso por trás de sua máscara e desferiu um golpe forte na horizontal, decapitando o assassino e agarrando a sua cabeça pelos fios longos.

Branco ergueu a cabeça do outro até a altura da sua, o encarando nos olhos, vendo os últimos reflexos de seus sistema nervoso tremer os seus lábios por um segundos.

- você sempre gostou de mágica. Lembra? De todos, você era o mais criativo em assassinatos devido ao seu gosto por truques e ilusionismo – comentou antes de beijar a testa alheia e deixar a cabeça cair sobre o corpo jogado do homem.

- agora, se me der licença, tenho muito o que fazer – assim que ela deu as costas ao cadáver, Miguel se ajoelhou diante do corpo decapitado de Stiles.

O garoto ergueu as mãos, agarrando a cabeça do castanho com carinho e a trazendo para o seu colo, a abraçando com ternura. Uma lágrima rolou pela bochecha da cabeça decapitada. A criança afrouxou o abraço e encarou o cadáver nos olhos, revelando temer em seus próprios olhos.

- não desista, Law. Você não pode desistir -  murmurou observando os lábios mortos se manterem inertes.

- eu... eu não posso com ela – a voz do homem veio de suas costas, mas o garoto ignorou, mantendo o olhar fixo na cabeça em suas mãos.

Stiles se jogou sentado no chão, com as costas coladas as costas da criança, sustentando um olhar derrotado para o chão. Ele não tinha como impedir Branco. Não ali. Não sabia como, mas ela havia ficado forte demais. Ou será que ele havia enfraquecido após tantos anos? Não sabia dizer qual era a resposta. E ele também não queria saber qual delas era a verdade.

- eu sinto muito, Miguel –

- é claro que você pode com ela, Law! – exclamou o garoto, apoiando a cabeça em suas coxas e acariciando os fios castanhos.

- não. Eu não posso. Olhe para isso! Olhe quantas vezes eu perdi! E na única vez em que pensei ter ganhado, era só ilusão – argumentou, indignado consigo mesmo, com a sua fraqueza, erguendo a mão e apontando para todos os eus cadáveres que se encontrava espalhados por aquele corredor – eu sou ridículo –

- não, não é. Você é melhor do que pensa, Law. Você é –

- SER UMA ALICE NÃO MUDA NADA! –

- você é um sobrevivente, Law. Era isso o que eu ia dizer –

- um sobrevivente... Puff. Eu sou uma piada, Miguel. –

- sobreviventes não são fracos, Law –

- é claro que são! Sobreviventes são apenas pessoas que não morreram, não pessoas que venceram. É diferente –

- sobreviventes são pessoas que conseguiram seguir em frente, Law. Seja perdendo ou ganhando. E você ganhou –

- ganhei?! O que porra eu ganhei?! Nunca tive família, o meu irmão morreu, eu matei os únicos amigos que tive. E dois dos únicos seres vivos que me enxergaram como uma pessoa, um está morto por minha causa e o outro... Eu já não sei mais quem ele é –

O silêncio se instalou entre os dois.

- se isso é ganhar... Eu.. eu só quero morrer, Miguel. –

- morrer?! Por quê? –

- eu não tenho mais o Lay... Ele era o meu único motivo de viver. Eu só queria ele bem. E até nisso fui um fracasso. –

- você nunca foi um fracasso! –

- você não sabe do que está falando –

- você me prometeu, lembra? –

- hm? –

- você disse que iria viver por ele –

- não vale a pena, Miguel –

- e também disse que iria vingar ele –

- e eu já vinguei –

- não. Não completamente. Você sabe que eles ainda estão lá, vivendo a vida como se não tivessem feito nada – comentou apertando os polegares sobre os olhos da cabeça em seu colo, espremendo os globos oculares.

- eles não mataram o Lay – comentou olhando por sobre o ombro.

- não. Eles fizeram pior. Foi com eles que tudo começou. E é com eles que tudo vai terminar –

- não, não vai. Porque pra terminar com eles, eu teria que ganhar de Branco aqui –

- não seja estúpido, Law. Você não é Rei, Valete, Rainha ou até mesmo Copas. Você já matou Branco outras vezes. Pode fazer de novo –

- ela está mais forte, Miguel. Viu as coisas que fez? Ela nunca fez essas coisas antes. Eu sei lá. Está tudo tão maluco –

- Esse é o ponto, seu idiota! Está tudo maluco porque é a sua cabeça. Você É maluco. NÓS somos malucos. Todo mundo aqui é maluco. Se Branco pode fazer essas coisas. Você pode fazer melhor. Porque ela é só um pedaço seu. Branco não passa do coelho na cartola. Mas você... Você é quem veste a cartola – a criança abandonou a cabeça sem corpo e se ergueu.

- como pode saber? –

- do quê? –

- que eu sou o original? –

- porque eu sou uma das personalidade que surgiram, Law. E como o psiquiatra te disse uma vez, sou do tipo que tem conhecimento de tudo. Eu sei quando nasci, porque nasci e qual é o meu intuito. Eu estou aqui porque você precisou de mim. Não por causa dos outros. Eu sou o segundo mais velho, mesmo sendo a criança. E assim como você precisou de mim, agora eu preciso de você. Então se levante e mate aquela vadia como você fez antes – o garoto correu para um dos armários, que se abriu sozinho, e se jogou lá como um mergulhador em uma piscina, desaparecendo.

- não falhe em me proteger. Você sabe o que a minha morte vai significar -  a voz do garoto ecoou no corredor, fazendo Stiles arregalar os olhos, aterrorizado.

O temor se tornou ódio. O Stilinski cerrou os punhos e fechou os olhos, ze concentrando. O silêncio do corredor fora quebrado pelo som de sapatos sociais caros atingindo o azulejo. Ao abrir os olhos e erguer o olhar, ele se deparou com a mascarada mais uma vez.

- você é masoquista?! Estranho. Pensei que fosse capaz de ignorar a dor. O que não faz sentido se você sente prazer com ela – comentou a mulher erguendo as mãos ao lado do corpo e dando de ombros.

- mas ainda bem que está sentado. Pelo menos já aceitou a derrota e vai deixar as coisas mais rápidas –

O castanho se ergueu, antes de lançar um olhar frio na direção da assassina, que parou de caminhar, surpresa. Branco franziu o cenho por trás de sua máscara e puxou a espada de suas costas. Stiles retirou um bastão de beisebol das costas e o jogou por sobre o ombro.

Branco gargalhou.

- é sério isso? –

Stiles gargalhou.

- por que ter medo? É só um bastão –

- você não já foi humilhado o suficiente? – inquiriu já caminhando na direção do castanho

- vamos começar a brincadeira – ditou marchando na direção da mascarada.

Branco e Stiles apertaram o passo, antes de começarem a correr um contra o outro. Ela saltou e girou, ele se abaixou, pegando impulso para o movimento do bastão.. Mulher e homem se encontraram, desferindo um golpe cada um. Branco descia a katana em sua mão em um corte em diagonal que partiria o seu adversário em dois. Já Stiles desferia um golpe vindo de baixo, também em diagonal, completamente contrário ao golpe da mascarada.

- faça pelo Lay. Por mim. Por nós – a voz de Miguel ecoou pelo corredor, fazendo Stiles e Branco apertarem ainda mais o agarre de suas mãos em suas armas.

Death Wonderland - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora