Finally

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- e daí? – perguntou Derek encarando a irmã mais velha sentada ao seu lado na mesa.

- e daí que, se você está mais perto, você deve pegar e passar para mim – respondeu Laura, com calma enquanto servia a si mesma do arroz.

Derek desviou o olhar da irmã mais velha para o purê de batata a sua frente. Ele ficou intercalando o olhar, desse mesmo jeito, por algum tempo. Antes de erguer uma das sobrancelhas para Laura, que lhe encarava com seriedade. A mais velha dos três irmãos ergueu uma sobrancelha em resposta a sobrancelha do mais novo. Paige, ao lado do marido, gargalhou com a atitude dos dois irmãos. Talia sorriu encarando os filhos, enquanto Peter sorria encarando o próprio prato. Eles estavam em mais um domingo de reunião familiar. Aquilo era comum entre os Hales desde que Derek, Laura, Cora e Malia eram pequenos.

- pode pegar que eu sei que você quer me dar – ditou a mais velha vendo o único irmão homem estreitar o olhar em sua direção.

- eu não! Está mais perto de você. Você só não quer esticar o braço – argumentou Derek vendo Laura lhe fitar indignada.

- queridinho, você não nasceu para ficar debatendo comigo, não. Irmão mais novo nasceu para servir o mais velho. Agora me passa o purê – ditou Laura apontando para a travessa a sua frente.

- ah, mas é cada uma! Ouviu uma coisa dessas? – perguntou Derek apontando para Laura enquanto encarava a mulher ao seu lado.

- Meu Deus! – exclamou Paige rindo do marido, que se voltou para a irmão, indignado.

- eu vou pegar o purê apenas para mim. E depois colocar de volta no lugar, e você, se quiser, que pegue – ditou Derek, mas, antes que a sua mão alcançasse a travessa com o prato pedido por Laura, a mesma se afastou de sua mão, se aproximando de Cora, que passou o recipiente para a mãe.

- Não sei a política de irmãos, mas sei que coloquei vocês no mundo para me servirem – ditou Talia, confiante, sorrindo enquanto se servia do purê.

- tem certeza de que não sabe a política dos irmãos? – perguntou Peter sem encarar a irmã.

- cala a boca e me passa o suco – respondeu Talia vendo o irmão lhe fitar questionador.

- eu não! Você está mais perto do que eu – argumentou o louro vendo a mulher lhe fitar indignada.

- caralho! – exclamou Cora observando, surpresa, os dois mais velhos.

- até vocês dois? – perguntou Malia, ao lado da prima, vendo o pai e a tia se entreolharem antes de darem de ombros.

- está no sangue – argumentou Peter voltando a se concentrar em sua comida.

- eu já acabei – disse a criança ao lado de Paige vendo Talia e Peter sorrirem derretidos em sua direção.

- então vá brincar, querida – falou Talia vendo a pequena menear positivamente antes de descer de sua cadeira e sair em disparada na direção da sala.

- eu queria tanto que o David tivesse vindo com você – comentou Talia encarando a filha mais velha fazer uma careta de contentamento.

- esse é o final de semana que ele passa com o pai, mãe. Não posso monopolizar ele – argumentou a filha mais velha vendo a mãe suspirar compreensiva.

- tsc. Eu sei, querida. É só que... eu gosto tanto de estar com os meus netos – argumentou Talia encarando Valerie, na sala, brincando com uma casinha de bonecas.

Peter observou a irmã encarar a neta com um incômodo no peito. Ele sabia o que a mulher estava pensando. O homem queria a consolar, mas sabia que não poderia falar o que a irmã estava sentindo. Isso deixaria o almoço estranho. E foi por isso que ele apenas dirigiu sua mão para a da irmã, a apertando. Talia sorriu, derretida, ainda encarando a neta, mas apertando a mão do irmão, enquanto se recostava no mesmo. Malia achava bonito o jeito que o pai se relacionava com a irmã. Eles eram tão unidos que as vezes nem falavam nada, apenas se tocavam e pareciam entender muito bem o que o outro queria dizer.

- nós estamos tão velhos – argumentou a mulher vendo a neta brincar, sozinha. Peter riu, assim como os filhos da irmã, sua filha e a esposa do sobrinho e parceiro de trabalho.

- fale por você, Mun Rá – falou o louro vendo a moreno estreitar o olhar em sua direção, se afastando de si, para logo em seguida lhe desferir um tapa.

- se enxerga, coroa! – exclamou a mulher vendo o irmão sorrir contido.

- eu não esqueci de dizer?! Uma amiga minha estava dando em cima do papai um dia desses – ditou Malia vendo a família inteira direcionar o olhar para o homem mais velho.

- como é que é? – perguntou Talia observando o irmão dar de ombros.

- fazer o quê se você tem um irmão lindo desses? – questionou o louro sujando o nariz da mulher com purê.

- gente, espera. Eu não vi essa reportagem ainda – disse Laura apontando para a TV e agarrando o controle do aparelho no canto da mesa, aumentando o volume.

- temos mesmo que ver isso? – perguntou Derek, com seriedade.

- qual é o problema? – inquiriu Cora encarando o irmão, desconfiada.

- esse é a reportagem do meme, não é? – perguntou Malia olhando para Cora, que riu minimamente meneando positivamente.

- que meme? – questionou Paige olhando para a televisão e vendo Peter dando uma entrevista sobre o caso do estupro, enquanto o seu marido aparecia ao fundo, ao lado dos outros agentes.

- pegaram uma foto do cara que fala com o capuz escondendo o rosto e colocaram a legenda “Eu apresentando trabalho na faculdade” – respondeu Malia vendo a mulher do primo rir um pouco.

- me deixa ouvir – disse Laura encarando o tio, na reportagem, se virar para trás e a imagem fora cortada para o momento em que um encapuzado falava.

Derek encarou Stiles, na reportagem, falar sobre o caso, respondendo às perguntas dos repórteres com um semblante irritado. Ele perfurava as ervilhas em seu prato com raiva enquanto o castanho ainda falava. Laura concordava a cada frase do castanho sobre o caso, o que mais irritava a Derek. Elas não sabiam quem, na verdade, era aquele encapuzado. Ela não sabia que estava apoiando a análise psicológica do assassino do próprio pai sobre outro monstro. Paige encarou o marido, confusa, assim como Cora. Derek, do nada, havia ficado irritado. Ele adorava as reuniões dos domingos e quase nada abalava ele nesses domingos. Aquilo a havia deixado extremamente curiosa.

O que poderia ter ocorrido naquele caso, naquela reportagem para deixar o seu marido tão alterado?

- “E foi só com uma foto e um desmaio que percebeu que o pai da criança era um louco que abusava da própria filha?” – perguntou um dos repórteres, vendo um sorriso vitorioso surgir nos lábios do homem ali em cima. Tudo o que eles conseguiam ver era a boca de Stiles, já que o castanho cobria a maior parte do rosto com o capuz.

- “Ele não é louco. Eu conheço gente louca. As melhores pessoas são loucas. Eu sou louco. Esse homem é um monstro” – foi a resposta de Stiles antes de dar as costas e se afastar dos microfones, ignorando completamente as perguntas dos repórteres.

- lacrou – falou Laura antes de voltar a abaixar o volume.

- não foi? Adorei esse final – comentou Cora vendo a irmã menear uma única vez, exageradamente, indicando que concordava com a mais nova.

- quem era esse homem, Peter? Derek quase nunca fala do trabalho – perguntou Paige vendo o marido olhar pelo canto de olho para o Tio, que sorriu gentilmente para a mulher do sobrinho.

- infelizmente, temos ordens de não revelar nada sobre o nosso pessoal e como as coisas funcionam lá – respondeu o louro ainda sorrindo na direção da mulher.

- isso é chato! Nossa família é do FBI mas a gente não sabe de quase nada – exclamou Cora, irritada.

- não. Isso foi depois que eles entraram nessa nova divisão. Antes eles falavam sobre as coisas do trabalho – argumentou Laura, vemdo o tio e o irmão lhe fitarem questionadores.

- o quê? Eu gosto de ficar informada – argumentou a mais velha dos três irmãos levando o copo de suco aos lábios.

- as vizinhas fofoqueiras também só gostam de se manter informadas – argumentou Peter vendo a sobrinha mais velha lhe fitar indignada.

- gente! Mas eu nem falo nada e sou comparada a essas velhas mal comidas? – perguntou Laura vendo a família inteira rir.

- isso é um absurdo! – exclamou Derek fingindo ultraje enquanto encarava a irmã, que apenas lhe ergueu o dedo do meio.

- você usou vinho nessa carne? – perguntou Peter desviando do assunto, assim como o sobrinho tinha feito ao implicar com a mais velha dos três irmãos.

- sim. Branco. O tinto havia acabado – respondeu Talia antes de ouvir Cora se manifestar dizendo que amanhã passaria no mercado e compraria mais.




Stiles adentrou o pátio, entediado. Ele estava com o seu caderno de desenho com a capa vermelha de baixo do braço. Só Deus sabia o quanto odiava o pátio. Era só um bando de homens, brutamontes para ser mais específico, em uma área cimentada ou parcialmente natural, fumando, malhando, assediando alguém sexualmente de forma um tanto discreta para mais tarde o estuprar. Ninguém ali fazia nada de produtivo. Ninguém ali lhe fornecia entretenimento. Era uma prisão, no final das contas. O máximo que ele poderia fazer era ler um livro ou matar alguém. Isso lhe deixava extremamente irritado. Fora por isso que Peter havia lhe dado aquele caderno de presente. Quando Stiles alegou estar perdendo o juízo por estar cercado de neandertais, o louro se preocupou de o rapaz fazer algo que poderia o prejudicar. E fora por isso que ele o presenteou com um caderno de desenho. Para manter a mente ocupada em alguma coida que não fosse assassinato.

Isaac encarou o castanho se aproximar das mesas de xadrez, as quais eram ocupadas por drogados que estavam a se entorpecer. Os homens o encararam entediados. Alguns deles estavam tentando disfarçar o medo, enquanto outros estavam a lhe desafiar com os olhos. Os que tinham medo de Stiles o adquiriram quando o castanho simplesmente humilhara o homem que derrubou a sua comida no refeitório. Todos os prisioneiros julgavam o castanho devido ao seu porte nada atlético, mas quando viram aquele pequeno ser de brincos, que não lhe ajudavam em nada a construir uma péssima imagem para impressionar os outros prisioneiros, derrubar aquele brutamontes no refeitório usando apenas a boca e os pés em dois golpes rápidos, os criminosos que temiam o homem derrotado passaram a temer o castanho de brincos.

- o que você quer aqui? – perguntou um dos que desafiavam Stiles com os olhos.

- a manicure fica para outro lado, frutinha – zombou outro homem que se encontrava com os olhos tão vermelhos quanto o de seu amigo.

- eu quero uma mesa – respondeu o castanho encarando, entediado, os homens a sua frente lhe fitarem questionadores, antes de gargalharem.

- a bichinha quer uma mesa? Então vai ter que trabalhar por ela – ditou um dos homens, em um tom divertido, enquanto acariciava o próprio pau.

Uma onda de risadas fora gerada pela fala do homem, que se virou para gargalhar enquanto olhava os amigos lhe acompanharem nas risadas. Stiles lambeu os lábios, irritado, antes de suspirar cansado. O castanho passou a respirar fundo, tentando conter a sua irritação. Ninguém a percebia, já que a sua expressão de tédio não havia mudado nem um mísero detalhe se quer. Nenhum músculo havia se movido em seu rosto. Ele contou até dez antes de olhar ao redor para ter certeza de que ele estava perto de suas “cartas”. E lá estavam os três. O Rei, a Rainha e o Valete estavam afastados, sentados nas arquibancadas, cheios de curativos devido aos cortes que Stiles havia lhes causado. Os três encaravam o castanho com fúria, mas, assim que o mesmo direcionou o olhar para eles, eles tentaram disfarçar.

Isaac, que estava perto de uma roda de apostas, encarou a cena, confuso, vendo o castanho parado em frente dos homens mais barra pesada daquele lugar, assim como o Rei e os seus capangas. O loiro bateu de leve no ombro de Boyd, assim que o negro ganhou uma disputa de queda de braço. O homem olhou para o louro de cachos e o mesmo apontou para a área onde ficavam os drogados e traficantes.

- isso vai dar merda, não vai? – perguntou Isaac vendo o castanho negar com a cabeça.

- é. Isso vai dar merda, sim – respondeu o Boyd ainda observando o castanho negar com a cabeça.

- eu só vou falar mais uma vez. Eu quero essa mesa – disse o homem de brincos encarando os outros gargalharem olhando em sua direção. Os mais acovardados apenas não se retiravam pois não queria ter sua fama de durões manchada.

- e o que eu tenho a ver? Vai ficar querendo, otário – respondeu o homem lhe encarando com certa irritação.

Stiles apenas ergueu o braço para o lado, o exibindo para as pessoas certas e então estalando o dedo. Ele esperou vendo os homens lhe fitarem confusos. No entanto, nada ocorreu. Stiles voltou a estalar os dedos antes de olhar por sobre os ombros, vendo os três homens que ele chamava em segredo apenas abaixarem a cabeça, não ousando lhe encarar nos olhos. Alice os encarou questionador antes de voltar a estalar os dedos mais uma vez. Os homens começaram a fazer piadas sobre o que ele estava fazendo, mas Stiles se concentrou unicamente em tentar conter a fúria dentro de si.

- apenas mais uma vez – murmurou o castanho para si mesmo antes de estalar os dedos mais uma vez, mas, novamente, o Rei e seus amigos lhe ignoraram.

- não façam nada. Ele não pode fazer nada em público – ditou o Rei olhando para a cena do homem que os humilhara na noite anterior.

- e se ele fizer depois? – perguntou o que Stiles gostava de chamar de Valete.

- então ele vai para a solitária e vai se encrencar sozinho – respondeu Marcos vendo o castanho, ao longe, negar com a cabeça.

- ah, já entendi. Ele está tentando chamar alguns dos amigos imaginários dele – zombou o homem se erguendo e tomando o caderno vermelho do castanho, que nada fez para o impedir. O homem folheou o caderno observando alguns desenhos muito bem feitos. Começou com borboletas, árvores, baralhos, até ele chegar em páginas em que haviam desenhos humanos. Pessoas nas mais variadas poses.

- olha aqui um deles! – exclamou o homem em zombaria se preparando para arrancar a folha com o desenho.

Assim que o homem segurou a folha de um lado com uma mão e com a outra ele segurava o caderno de mal jeito, Stiles arregalou os olhos. Aquele desenho era um dos seus preferidos. O homem foi impedido de concretizar o ato, quando algo lhe acertou o queixo, passando por baixo da folha que ele rasgaria. O homem cambaleou para trás ao mesmo tempo em que o caderno fora retirado de sua mão com velocidade. Stiles chutou a virilha do homem de olhos avermelhados de tanto usar entorpecentes naquele dia, o fazendo se ajoelhar. Os presos soltaram exclamações enquanto viam o homem cair de joelhos com as mãos cobrindo o próprio pênis.

- vamos deixar uma coisa bem clara, aqui. Encoste no que é meu e eu mato você – ditou o castanho segurando a gola da camisa suja do homem, o trazendo para perto de si.

O Stilinski desviou de um soco mal desferido do homem e o puxou para si com força, enquanto dava um passo para o lado, fazendo o homem se colocar de quatro. Stiles o utilizou como degrau e pisou em suas costas para em seguida subir no banco, com o intuito de alcançar a mesa, no final. Um dos homens tentou lhe derrubar ao tentar lhe acertar as pernas com o braço, mas Stiles saltou, fazendo questão de cair em pé, sobre o braço do homem, o prendendo na mesa, enquanto o osso se quebrava.

- saia da minha mesa – ordenou o castanho saindo de cima do braço do homem para o chutar no rosto e o jogar deitado no chão.

- eu vou matar... – o homem que Stiles agrediu primeiro ousou o ameaçar enquanto se levantava, mas o castanho saltou da mesa golpeando as costas do homem com os dois pés, fazendo o homem cair de cara no chão, enquanto ele caía sobre os próprios pés, com o corpo do homem entre eles.

- cale a sua boca. Aqui, quem mata sou eu. E para lhe deixar avisado disso, vamos lhe retirar alguns dentes de lembrança – ditou o castanho agarrando os cabelos do homem e passando a golpear a cabeça do mesmo contra o chão, várias e várias vezes.

- Stiles, para! – pediu Isaac se aproximando.

O castanho parou o que fazia, sorrindo de forma assustadora para o sangue do homem no chão a sua frente. Ele sentia falta da emoção que sentia quando via o sangue de suas vítimas. Alice sentia um prazer tão grande quando via aquela cor pintar qualquer coisa. Era tão intenso e difícil de explicar que ele apenas se permitia sentir e não procurar entender. O homem de brincos ergueu a cabeça na direção de Isaac, sorrindo inocentemente, perdendo a expressão assassina, mas a sua aura perigosa permanecia ali, assustando a todos. Isaac engoliu em seco vendo o castanho largar a cabeça do homem, que já se encontrava tonto demais para fazer qualquer outra coisa além de gemer de dor e implorar por ajuda. Stiles pisou no corpo do homem, ignorando o gemido de dor do mesmo, quando o castanho passou para o outro lado, seguindo sorridente para o Lahey, que engoliu em seco com a atenção do assassino do grupo para si depois do show de todo o seu show de violência.

- oi, Isaac. Precisa de alguma coisa? Eu estava um pouco ocupado ensinando esse lixo a me deixar em paz – falou Stiles observando o loiro engolir em seco.

- estão chamando a gente – disse Isaac apontando para o interior do presídio com o polegar. Stiles sorriu divertido antes de puxar o caderno vermelho que estava largado sobre a mesa e se aproximar do mais alto.

- finalmente! Eu já não estava me aguentando de tédio – exclamou abraçando o braço de Isaac, que ficou receoso em rejeitar o toque do castanho, por isso apenas permaneceu a caminhar, rezando para que Stiles permanecesse dócil consigo.




Aquele ambiente era muito úmido d frio. Aquele era um lugar bem escuro, mas havia um corpo se movia pelas sombras do ambiente com naturalidade. Parecia acostumado a aquela ambientação trevosa. Desviando de todos os ursos de pelúcia e móveis que eram iluminados pelo brilho da tela de uma televisão que estava ligada em um canal qualquer, o corpo se movia preguiçosamente, arrastando os pés com suas pantufas surradas de coelho rosa. Uma mão fora a nuca, coçando a mesma, antes de a abaixar novamente.

Um bocejo escapou de seus lábios, ao mesmo tempo em que um grunhido fora ouvido. Um sorriso escapou de seus lábios quando uma série de grunhidos começou a alcançar os seus ouvidos. A mão que antes coçou a sua nuca se ergueu para alcançar um ombro desnudo, molhado de suor e sujo com uma substância seca e áspera que sabia ser sangue coagulado. O corpo que sua mão tocava tremia demasiadamente em receio e aversão.

- ah, eu também queria muito lhe ver! Bom dia! – exclamou docilmente encarando os olhos azuis fixados nos seus, refletindo o horror que tomava aquele homem de cabelos cobreados.

O homem tentava, a todo custo, se afastar daquele ser que lhe causava arrepios só de ouvir os passos arrastados do mesmo. O corpo atravessou o local, deslizando a mão pelos ombros ensanguentados do homem amarrado a uma cadeira e amordaçado. Seguindo para a mesa onde se localizava a pequena televisão, encheu de leite uma tigela e jogou flocos de milho despojadamente sobre o líquido branco perolado, enquanto isso, o homem amarrado já choramingava, ao imaginar todas as torturas que iria sofrer dessa vez. Os seus dedos ainda doíam por suas unhas arrancadas a força com um alicate, o seu pé ainda estava um pouco infeccionado as várias agulhas que foram enfiadas nele, em um tipo louco de acupuntura cujo o único objetivo era despertar a dor no paciente e saciar o desejo louco de quem a cometia, isso sem contar nos vários pregos que atravessavam os seus dedos dos pés, os ficando a um pedaço de madeira.

O seu corpo tremeu ao ouvir um metal sendo arrastado pela mesa de madeira. Ele olhou para a pessoa que lhe causava tanto mal e dor, respirando aliviado, minimamente, por ver que ela possuía apenas uma colher na mão e não alguma outra arma para lhe ferir. O corpo chutou uma cadeira, lhe assustando, fazendo a mesma se arrastar até parar ao lado da cadeira em que ele estava amarrado. Mastigando alguns flocos de milho, sentou-se ao lado de sua vítima, se sentindo prazerosamente bem com o medo que o ruivo sentia com a sua aproximação.

- o que está passando? – perguntou normalmente, encarando a televisão. Como se eles não fossem um criminoso e a sua vítima. O ruivo grunhiu qualquer coisa em resposta. Sabia que não importava o que grunhisse, aquela escória da sociedade iria imaginar algo para pôr em sua boca.

- “Como descobriu que o pai era o verdadeiro estuprador?” – perguntou um dos repórteres para o encapuzado ali na frente.

- “Com um desenho. Em um desenho que fez no psicólogo, Kara Mackson representou a imagem de pai horrível que tinha. Era o pássaro que o pai tinha na fivela do cinto que usava. Segundo a mãe, a filha dera aquele cinto ao pai em um dos aniversários do mesmo e desde então nunca deixou de usá-lo. Então aquele cinto se tornou o símbolo daquele ato para ambos. Para o pai, aquele pássaro representava o amor carnal que possuía pela filha, tendo uma ilusão de que era correspondido da mesma forma. No entanto, para Kara, aquele cinto era a marca do horror que passava. Tanto que fora o desenho mais bem feito que já vi uma criança dessa idade fazer” – respondeu o encapuzado e, no mesmo instante, o corpo ao lado do ruivo parou de comer para encarar a tela, surpreso.

- “Mas não é comum crianças desenharem elementos que veem no dia a dia?” – perguntou outra repórter.

- “Como soube que aquele pássaro tinha a ver com o crime?” – perguntou um outro repórter.

- “é normal, sim. Mas não com aquele nível de detalhamento. Kara desenhou o pássaro perfeitamente, com poucos erros considerando o real por completo. Analisando os seus outros desenhos, era notável que aquele era o efeito de um trauma. Foi o mesmo pássaro que vi quando quase desmaiei na frente do pai de Kara durante o caso. A minha visão ficou turva e eu caí de joelhos diante de Bryan. Quando olhei para a frente, a primeira coisa que vi foi um pássaro enorme, igual ao desenhado por Kara. Daquela forma, eu possuía a mesma altura que a vítima. Sendo assim, aquele pássaro era a coisa que separava Kara do seu momento de tortura. Ele representava o predador que o pai era, indo ali, lhe roubar a sua paz, a sua inocência e a sua felicidade” – respondeu o encapuzado ainda encarando os repórteres a sua frente por debaixo do capuz.

- “E foi só com uma foto e um desmaio que percebeu que o pai da criança era um louco que abusava da própria filha?” – perguntou um dos repórteres, vendo um sorriso vitorioso surgir nos lábios do homem ali em cima. Tudo o que eles conseguiam ver era a boca daquele homem, já que o mesmo cobria a maior parte do rosto com o capuz.

- “Ele não é louco. Eu conheço gente louca. As melhores pessoas são loucas. Eu sou louco. Esse homem é um monstro” – foi a resposta dada pelo homem antes de dar as costas e se afastar dos microfones, ignorando completamente as perguntas dos repórteres.

No mesmo instante a colher e a tigela que se encontravam na mão do corpo ao lado do ruivo caíram no chão e o mesmo se ergueu para se aproximar da televisão. Ele sentia o coração acelerado e o seu corpo possuía uma sensação estranha, quase como se estivesse atingindo o orgasmo. Ele estava feliz e o seu sorriso largo não lhe deixava negar o contrário. O seu corpo inteiro tremia de excitação, enquanto sentia os seus músculos aquecerem com a ideia que lhe surgia em mente.

- finalmente! Finalmente alguém que pode me divertir de verdade! – exclamou com suavidade, porém com a voz carregada em entusiasmo.

- eu finalmente vou poder ter você! – disse acariciando a imagem do encapuzado através da televisão.

Ele parou a carícia que fazia no cristal do aparelho televisor quando a imagem do castanho, que adentrava a delegacia sendo seguido por um grupo, sumiu, dando lugar a imagem dos ancoras do noticiário. O ruivo encarava a animação da pessoa a sua frente com temor. Aquilo era ruim, muito ruim. Quando estava animado, sempre sobrava para si. A animação do outro significava dor em seu corpo. E foi o que ocorreu. O corpo iluminado pela tv cerrou o punho, animado e se virou com velocidade, desferindo um único golpe contra o ruivo, que, já debilitado há muito tempo, não teve forças para resistir ao golpe das costas do punho em seu queixo. O seu rosto virou e sangue jorrou de seus lábios, um estalo audível fora liberado por seu pescoço, antes de o seu corpo amolecer e a sua cabeça cair sobre para a frente, ficando pendurada pelo pescoço, enquanto sangue passava a gotejar de sua mordaça. Ele estava ali há muito tempo. Dias aguentando aquela tortura. Dias sem comer, apenas bebendo água e sofrendo nas mãos de seu assassino.

- enfim eu vou poder me divertir com você... – dizia entre suspiros, com as bochechas coradas e os lábios úmidos.

- Alice – gemeu o nome do outro assassino, sentindo o seu corpo tremer em excitação, enquanto deslizava a mão para a própria virilha, a deslizando ali, estimulando o próprio corpo a atingir o orgasmo que sentia se aproximando

Death Wonderland - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora