Law

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- foi só falar do Mieczyslay que ele ficou assim –

- não é para menos. Ele e Mieczyslay são irmãos gêmeos –

- mas mesmo se tratando de gêmeos, pessoas sem a capacidade de se conectar emocionalmente a alguém não sentem esse tipo de emoção –

Erica apertou a mão de Allison, chamando a atenção da agente de cabelos escuros presos em um rabo de cavalo. A Argent direcionou um olhar confuso para a Reyes, que engoliu em seco, chamando mais ainda a atenção da agente treinada. Allison apertou, sutilmente, a mão da loura, indicando que havia entendido o chamado e estava esperando por qualquer manifestação vocal por parte dela. Ninguém parecia ter percebido que Stiles havia parado de chorar. Ninguém, senão Erica Reyes.

- não fale do Lay! – repreendeu o assassino cerrando os punhos.

A sua voz séria e calma soou estranha. Vernon, Lydia e Scott não sabiam dizer ao certo o motivo, já Derek, Isaac e os agentes mais velhos que já tinham certa experiência com Alice juravam de pé junto que o tom levemente agudo de sua voz era consequência do choro recente devido a dor do luto eterno pelo irmão gêmeo. Erica engoliu em seco antes de lamber os lábios ressecados de tanto argumentar e questionar durante a investigação.

- ele trocou – disse a loura em um sussurro perplexa com a energia tensa e alarmante que sentia sendo emanada do corpo alheio.

Allison encarou o castanho com seriedade, completamente atenta. Tirando a voz serena e levemente aguda,  ela não havia percebido nenhum indicativo que ali na sua frente, naquele corpo conhecido, agora estava outra pessoa. Ela havia começado a ler sobre o assunto quando leu a ficha que o FBI liberou sobre o detento 44.626. Transtorno Dissociativo de Identidade era algo complicado. Era um transtorno psicológico que agravava as inseguranças dos portadores e precisava ser tratado com terapia. Obviamente, não havia cura. A terapia servia unicamente para ajudar o portador a lidar consigo e com os outros em sua cabeça, que eram tão pessoas quanto ele. Cada personalidade possuía as suas vozes, seus sexos, sexualidade, idades, opiniões, pensamentos, sentimentos, trejeitos,... Eram como gêmeos em um corpo só. Com uma única diferença: as personalidades surgiam, em sua grande maioria, por traumas. Elas surgem de forma espontânea, como uma célula que sofre por bipartição, com o único propósito de proteger o portador do transtorno de um trauma psicológico intenso demais para que ele pudesse lidar sozinho.

Quantos traumas Alice sofreu com os quais não podia lidar?

Aquela pessoa ali na frente do agentes foi a que nasceu com a morte de Lay?

- Stiles, eu sei que...

- você - uma risada contida fora ouvida – você não sabe de nada, garoto – ditou o castanho enquanto se erguia e batia nos próprios joelhos, os limpando da sujeira quase inexistente - E aquele que vocês chamam de Stiles não está mais aqui – as palavras chocaram os agentes e o assassino se virou, colocando a mão na cintura, a quebrando levemente para o lado.

- não... – murmurou o Tate, perplexo, se afastando em um passo

Alice jogou os cabelos, os balançando, retirando alguns fios de seu campo de visão, antes de lançar um sorriso vitorioso na direção do agente de cabelos louros penteados para trás.

- Olá, Peter! – a voz feminina chocou a todos.

- ele trocou de personalidade – anunciou Allison ao observar a confusão presente nos olhos dos agentes que estavam auxiliando as investigações, tentando indicar que eles não deveriam fazer ou falar nada.

A risada escandalosa e aguda surpreendeu aos agentes, que se colocaram atentos quanto ao assassino.

- eu lhe daria parabéns se a mudança não fosse tão óbvia, agente Argent. Não é como se aquele garoto e eu fôssemos tão parecidos, no fim das contas – a mulher pronunciava com orgulho, enquanto sustentava um ar superior.

- quem é você? – inquiriu Isaac observando a mulher no corpo masculino rir baixinho.

- ah, querido, eu sou Alice –

- traga ele de volta! – ralhou Peter cerrando os punhos com força o suficiente para os seus dedos protestarem.

A mulher o encarou com tédio, antes de retorcer a cabeça, como se algo lhe incomodasse o pescoço. Quando retornou a encarar Peter, o seu olhar era predatório. O gargalhar grave e psicopata que escapou por seus lábios voltou a chocar os agentes. Os quatro agentes mais velhos sentiram um arrepiou percorrer as suas costas e fazer suas bases tremerem. Rafael e Christopher puxaram suas armas, as apontando para o castanho jovial, que, agora, havia abandonado a pose feminina.

- você sempre me deu nos nervos, Peter – o assassino falou enquanto girava os pulsos, gerando estalos na região – a vontade que eu tenho de derreter a sua cara é indescritível! – Alice voltou a proferir ainda direcionando um olhar predatório para Peter

Os outros agentes ergueram as suas armas para o assassino.

- outra pessoa? – indagou um dos agentes, surpreso.

- Rei – resmungou Peter, com fúria contida em sua voz.

- oh! Sentiu a minha falta? – o homem questionou com veneno na voz.  Alice inclinou a cabeça para trás brevemente, como se algo a puxasse,

- será que podemos todos nos acalmar?! E vocês aí abaixar essas armas, por favor? Pelo amor! Um momento raro desses! Tem briga aqui fora! Tem briga aqui dentro. Puta que pariu! – o assassino exclamou com um ar feminino e gracioso, confundindo os agentes.

- mudou de novo – murmurou Erica, enquanto contava com os dedos das mão as personalidades que presenciava. Alice voltou a inclinar a cabeça, desta vez para a frente, deixando os agentes confusos com o seu comportamento estranho.

-.... Pa dessa peste! Eu estava aqui, com toda a minha classe, fazendo contato com esses estúpidos armados quando ele tomou o controle pra ele – a voz feminina da primeira personalidade voltou, ajustando os cabelos castanhos com as mãos, antes de erguer o indicador – vocês podem nos dar um minuto, por favor? – pediu virando a cabeça para o lado.

- mas que porra é essa? – murmurou Scott, irritado observando o assassino mover a cabeça como se ponderasse sobre algo, antes de menear em concordância.

O castanho fez uma careta de desgosto, antes de rolar os olhos e voltar a concordar com a cabeça. Peter marchou na direção do assassino da divisão, chamando a atenção dos agentes armados. Allan o chamou em repreensão, antes do Tate surpreender a todos ao desferir um soco potente no rosto alheio, jogando o castanho contra o mural atrás de si. O louro agarrou o outro pelo colarinho da farda da prisão, o puxando para si, o afastando do quadro organizado.

- traga ele de volta! AGORA! – o mais velho berrou, furioso, já preparando outro golpe.

O castanho golpeou o rosto alheio com a sua testa, atordoando o agente. O pinho que antes agarrava o tecido laranja com força, agora girava livremente a medida em que Alice girava o próprio punho, forçando o mais velho a girar o corpo para amenizar a dor do movimento ao qual era forçado. Mais armas foram erguidas contra o assassino, incluindo as de Scott, Vernon, Lydia, Matt e Derek. O Hale sentia o desespero tomar conta de seu corpo. O castanho passou o outro braço pelo pescoço de seu tio, apertando a região, deixando o mais velho com dificuldades para respirar, o mantendo como um escudo humano. Peter estava certo sobre manter Stiles na cadeia e longe daquele caso?

- ah, Peter! – a voz grossa de Rei aumentou o desespero de Derek.

Aquela personalidade era perigosa. Ele ainda se lembrava do que aconteceu nos interrogatórios de Alice quando Rei apareceu. Aquele acontecimento apenas aumentou a sua certeza sobre o quão aquele assassino poderia ser perigoso, mesmo estando algemado. A única aparição daquela personalidade nos interrogatórios gravados de seu pai gerou um agente gravemente ferido, o levando a aposentadoria por invalidez.

- não é tão fácil. Mesmo que nós quiséssemos trazer o garoto de volta, o que, para deixar bem claro, não queremos, nós não conseguiríamos. Vocês quebraram ele de novo. Branco o quebrou! E agora, ele foi para bem longe da região consciente de nossa mente. Ele voltou para o buraco de coelho – as palavras do assassino em seu ouvido fizeram as pernas de Peter tremer.

- não! – murmurou o louro aterrorizado com as possibilidades da veracidade daquelas palavras.

- você foi um completo estúpido, Peter. Fez exatamente o que Branco queria -  a voz feminina jovial voltou a soar pelos lábios finos do castanho.

Alice deu alguns passos a frente, e um tiro acertou a lateral do tênis de seu pé direito. O assassino se quer desviou o olhar para o buraco no chão ou a arma de qual saíra o projétil. Ele estava focado no desespero a sua frente. O sentimento que lhe despertava extremo prazer, principalmente por estar vindo daquele rosto conhecido, daqueles olhos muitas vezes pacíficos e atenciosos.

- como Rainha, devo ser a primeira a declarar: você é patético! Você foi tão inocente quanto os seus ideais. Branco usou você de coelho. Fez com que você mesmo empurrasse o pobre garoto para o abismo mais uma vez. –

- eu não... –

- você o afastou, ignorou. Você o empurrou para longe. Do mesmo jeito que todos os adultos fazem –

“Olha a língua, garota!”.

Valete repreendeu em pensamento, enquanto via Rainha erguer as mãos e acolher o rosto do agente nas palmas gentis.

- você o desprotegeu para que, assim, o corpo de Mieczyslay fizesse o resto do trabalho de destruir o seu psicológico –

- Não! – o louro voltou a murmurar, assustado com o sentimento de culpa que crescia em seu peito.

- sim. Você fez. Tudo foi lindamente arquitetado para isso. Só você não percebeu –

- eu não fiz...

- Branco mandou o senhor Crane atrás de vocês, pois sabia que Alice perguntaria sobre como ele o encontrou, e que Crane abriria o bico. Isso o deixaria furioso e instável. Então, quando atraiu vocês para essa falsa casa, garantiu que vocês encontrassem o maior trauma da vida de Alice: Mieczyslay. Criou o ataque terrorista para forçar vocês a colocarem o garoto na investigação. E quando ele chegou aqui e se deparou com Lay mais uma vez, depois de ser rejeitado por você, Peter, a verdadeira bomba explodiu – a garota explicou se afastando do Tate e sorrindo divertido na direção dos agentes.

- eu não o rejeitei! – ralhou, entredentes.

- ah, não? – ela ergueu a sobrancelha – e na prisão? Quando ele ficou chamando por seu nome, implorando por respostas, por contato. E tudo o que você fez foi...? – finalizou com um sorriso travesso, esperando que o outro terminasse a sentença.

- eu estava protegendo ele! –

- estava o chutando para longe como um cachorro morto como todos sempre fizeram! – rebateu Valete, inconformada com a hipocrisia.

- estava afastando ele do Branco! Não de mim! –

- mentiras, mentiras e mentiras. Não mente apenas para ele, mas para si mesmo! –

- FOI PARA O BEM DELE! –

- E FUNCIONOU?! – gritou uma voz madura, surpreendendo o louro – me responda. Funcionou? – o silencio fora tudo o queveio do Tate.

- olhe para mim, Peter. Olhe para nós! Adultos sempre fazem tudo do jeito mais fácil para eles. É mais fácil proibir uma criança de brincar do que a supervisionar. É mais fácil bater do que dialogar. É mais fácil mentir do que explicar a verdade. Foi mais fácil para você manter ele dentro de uma cela mofada do que o ajudar a lidar com isso – a mulher marchava para a frente, com um baralho em mãos, movendo as cartas umas nas outras, as embaralhando.

- é sempre assim. O mais importante é não dar dor de cabeça. Sabe... Me enoja dizer isso. Mas seria diferente. –

O louro sentiu as palavras na consciência como um tiro.

- você era o último porto seguro que ele tinha. A última pessoa que ele sabia que se importava com ele que não estava presa nesse corpo junto com ele. Você era o Rei do tabuleiro dele. Mas você mesmo se deu um xeque-mate. Ele não teria sofrido esse colapso mental se tivesse você com ele. –  uma viz idêntica a de Stiles proferiu, mas nenhum deles pareceu se dar conta do fato.

- AH!Copas! Eu que queria ter dito isso! Era eu quem deveria estar destruindo o psicológico desse velho! – ralhou Rei, indignado,  guardando as cartas nos bolsos.

- Cale a boca, Rei! Você é tão velho quanto ele! – rosnou Copas, rolando os olhos.

- entenderam, agora? O senhor Crane foi o disfarce, o agente Tate foi a munição, Lay fora o detonador, e vocês do FBI foram o dedo que acionou tudo. A sua incompetência rendeu todos esses estragos. Se fossem, realmente bons, teriam impedido isso – ditou Rainha sorrindo e ouvindo Rei resmungar ao fundo, ainda chateado com a chance que lhe foi roubada.

- o que aconteceu com o Lay? – indagou Allison e o sorriso sumiu do rosto do assassino de cabelos castanhos Instantaneamente.

- Não fale do Lay! – repreendeu Valete, mas, internamente, todas as quatro personalidades ralharam simultaneamente.

A voracidade no tom de voz surpreendeu a todos. Desde que Alice surtou, todas as suas vozes falavam com calma, em tom de superioridade, como se fossem incapazes de serem atingidas por qualquer coisas que aquele grupo de agentes armados tentassem dizer ou fazer. Eles se portavam como se fossem deuses diante de meras amebas. Mas a pergunta da agente Argent gerou uma ação contraditória. Valete a havia repreendido como como uma igual. Como o cão que rosna para o gato que se aproxima de seu território. Aquilo foi, no mínimo, inesperado.

Scott sorriu, vitorioso.

- há! Pelo visto esse tal de Lay não é um assunto delicado apenas para o Stiles – comentou o McCall, audacioso, vendo o castanho sorrir de canto.

Agora fora a vez de Rei rir. O homem começou a rir baixinho, antes de seu típico gargalhar escandaloso voltar a assolar os ouvidos alheios.

- você vai morrer muito antes do que espera, garoto. Você é igualzinho ao seu pai. Acha que o distintivo e arma fazem de você um ser superior. E, assim como eu fiz com ele há muito tempo atrás, vou tirar isso de você. Te colocar no devido lugar – as palavras do homem de voz grave surpreendeu ambos os McCall, que lhe encararam com seriedade.

Scott estava furioso com a audácia do detento. Já Rafael estava perplexo. Ele reconhecia o fato, mas não quem o proferia.

- como é que é?! –

Rei voltou a gargalhar.

- é tão fácil mexer com você que chega a ser entediante. Sinceramente, desde que Peter montou essa divisão, eu e os outros temos analisado vocês. E eu devo dizer, que escalação terrível de agentes. Não teve um bom. – o homem dizia com desdém enquanto começava a caminhar de um lado para o outro diante do quadro, analisando o mesmo.

- nós não temos tempo para isso! – ralhou Allan vendo o assassino lhe fotar com tédio.

- e você deixou essa escalação acontecer. Ou foi você quem a fez? Devo dizer... Patético. O agente Hale não passa de um mauricinho brincando de policial, almejando a glória do pai, mas tudo o que consegue é sujar a sua memória. O McCall júnior não passa disso: uma criança com um distintivo na mão e uma arma com a qual ganha discussões contra os desarmados. A agente Argent não passa de uma Barbie policial. Ela acredita veemente que pode ser melhor do que os superiores se submetendo cegamente a eles. A única coisa realmente de agente que aquela mulher tem é a vestimenta. Peter é o típico vovô cinquentão que acredita de pé junto que dá conta das novinhas. Vive reclamando da geração atual porque o seu momento de glória se foi há muito tempo. E Lydia?! Ela realmente é uma agente?! Pensei que fosse só a secretária. Fica sentada o dia todo na frente de um computador e o máximo de esforço físico que faz é servir um café. E nem isso ela faz direito –

- agora vocês entendem? São patéticos! – exclamou Valete abrindo os braços, antes de levar um deles a cintura, encarando os agentes com um sorriso mínimo nos lábios.

Os agentes encravam o Stilinski com ódio. Derek, Scott, Peter, Allison e Lydia intercalavam entre fixar os olhos no assassino, se entreolhar e encarar o chão. Eles se sentiam indignados com as palavras do assassino. No entanto, eles também se sentiam atacados justamente. Eles se reconheciam, minimamente, nas acusações proferidas contra eles.

Derek seguiu a carreira do pai, pois se sentia instigado a seguir os passos do seu herói. Passou anos odiando Alice, o suposto assassino de seu pai. Anos depois, quando passou a trabalhar com o dito cujo e pensado várias vezes em prender o mesmo mais uma vez na segurança  máxima, inclusive lhe dizendo coisas horríveis, lhe foi revelado que o seu pai não morreu pelas mãos do alvo e origem de seu ódio. Na verdade, o seu pai gostava do garoto, do mesmo modo que seu tio Peter, outro injustiçado que era alvo de sua raiva e indignação, e sua mãe gostavam. Depois das palavras daquela personalidade de Stiles para si, Derek passou a perceber, levemente, que ele, realmente, havia sujado a memória de seu pai ao tentar ir conta o ultimo trabalho dele.

Scott estava com ódio. Ele recordou de todos os erros de julgamento que já havia cometido desde que havia se tornado agente federal. Cada pessoa que foi investigada e por algum fato ocorrido na investigação que a transformou em suspeita e se tornou seu alvo incondicional, mas que posteriormente fora provada como inocente. Cada erro de julgamento, cada inimizade desnecessária que criou. Cada novo Isaac que ele criou em sua vida. Como havia sido repreendido algumas vezes por seus superiores justamente por suas fixações com alguns suspeitos em específicos. Lembrou-se do caso em que trabalhou antes de começar a trabalhar com Derek e Allan Deaton, onde um culpado de abuso sexual e tráfico de drogas quase saiu impune graças aos seus métodos de abordagem e interrogatório.

Allison sentiu a mesma sensação nauseante de quando Stiles falou consigo naquele beco, em Miami. A mesma sensação de submissão em que as palavras do castanho lhe deixaram naquele dia lhe entorpecia mais uma vez.  A mulher se sentia frustrada por mais uma vez ser colocada daquela forma. Por mais uma vez ser forçada a encarar aquele fato. Ela jurava que já havia superado aquilo. Pensou ter absorvido as palavras do assassino e as convertido em uma força interna para mudar a si mesma e o seu jeito de agir. Mas, após ser exposta pela outra personalidade do assassino, ela voltou a se sentir diminuída, julgada, oprimida. Agora, Allison chegava a se questionar se, algum dia da sua vida, aquele peso na consciência iria, realmente, lhe abandonar, sumir de vez.

Peter sentiu uma pontada forte no peito. Em sua mente, a voz de sua ex-mulher ecoou. “Você não acha que já está um pouco velho para ficar se metendo com essas coisas, Peet? É muito perigoso. Principalmente com aquele garoto envolvido”. Ele sabia que sua ex-mulher estava certa em lhe questionar. Mas a vida de policial sempre foi perigosa. A de um agente do FBI então, que lidava com casos que ultrapassavam o limite de jurisdição da polícia. E foi com esse pensamento que ele seguiu em frente. Com a sensação de que tinha um dever a fazer, ele aceitou retornar e liderar aquela divisão. Agora, ele se questionava: havia feito o cero? Havia sido um bom líder? Se a liderança pertencesse a outra pessoa, eles teriam chegado até aquele ponto? Stiles teria surtado? Ele teria o tratado de forma diferente, uma vez que a decisão de inserir Alice na investigação não seria sua.

Lydia queria muito rebater o assassino, mas tinha consciência de que bater de frente com um assassino perturbado poderia não ser a melhor ideia. Muito menos naquela situação.

- se me permite perguntar... er... – Isaac chamou a atenção, antes de coçar a garganta, um tanto receoso de acabar irritando ainda mais o grupo de personalidades.

O assassino sorriu de canto, curioso.

- Valete –

- certo, hã... Estranho, mas ok. Então... Valete, se me permitem perguntar, o que aconteceu com... vocês sabem quem? – indagou o Lahey e todos já estavam esperando que o assassino ralhasse consigo por tentar voltar ao assunto do irmão gêmeo falecido.

Mas, estranhamente, a repreensão não veio. Valete encarava  o louro de cabelos cacheados com um olhar pensativo, antes de desviar o olhar para o lado direito e em seguida para o esquerdo. Peter sabia que ela estava olhando para os outros que mais ninguém podia ver. A mulher lambeu os lábios e cruzou as mãos atrás do corpo.

- eu pensei que já havíamos dito isso antes, mas nós não falamos sobreo Lay. – a resposta frustrou os agentes. Valete seguiu sorrindo, marchando na direção do louro de cachos – mas aquele que chamam de Stiles não está aqui agora, então... Acho que podemos fazer uma... pequena exceção –

Rei gargalhou.

“Tentando compensar com as pessoas erradas, Valete?”

-cale a boca, Rei! Eu vou dar essa colher de chá apenas porque ele foi educado. Nos tratou com respeito desde sempre –

“Ele nos teme como os outros!”

- não. Esse daqui não. – a mulher murmurou, sorrindo na direção do louro e lhe acariciando os cachos dourados.

Isaac estava tenso. E tentava a todo custo não demonstrar isso ao assassino, mas falhava miseravelmente.

- er... tudo bom? – o Lahey indagou, receoso.

- nós não temos tempo para isso! – ralhou um dos agentes, furioso.

- isso! Nós não temos tempo para isso! O maldito do terrorista ainda está solto e temos apenas algumas horas para impedir o novo ataque dele! – ralhou Scott apontando para o quadro de informações.

- isso aí! Se está em condições de fazer esse teu showzinho, tem condições para fazer o que você foi solto para fazer! – ralhou outro agente, irritado.

- oh! Achar Branco? Oh, por favor! E por que diabos eu faria isso? Nós não damos a mínima para o que eles está fazendo! Quer explodir o país? Que se foda! –

- você não quer... ou sabe que não pode pegar ele? – provocou uma agente, tentando psicologia reversa.

Valete sorriu de canto, cruzando os braços.

- criança... pelo amor! Só olhamos para esse quadro por alguns minutos e já sabemos o que ele quer fazer. Encontrar ele? – a assassina estalou os dedos – assim! -

-então vá pegar ele! – ralhou Scott apontando para o quadro.

- acontece, meu querido acéfalo, que não foi a nenhum de nós que o FBI chamou para a divisão do Peter – comentou Valete, sorrindo com cinismo.

- nós convocamos Alice, não o Stiles. E vocês são Alice. Vocês todos juntos, formam Alice. Vocês e o Stiles! – rebateu o Deaton e Valete pôde ouvir Rei exclamar em tom zombeteiro.

-ah! Então agora você nos considera, Allan? Agora, que lhe é conveniente, você nos aceita? O que aconteceu com o homem que anos atrás alegou que deveríamos sumir? Que não deveríamos existir? Hã? Cadê ele? – o tom de indignação era descaradamente exposto pela mulher.

- as pessoas mudam, Valete – comentou o homem, simplesmente, dando de ombros.

-você me enoja!- exclamou Rainha, indignada.

- e olha que para alguma coisa deixar essa daqui com nojo... você é a escória dos nojentos – comentou Rei apontando para o lado como se todos pudessem ver a adolescente ali.

- conte o que aconteceu com o Lay – Derek ditou, com certo desespero, antes de o corpo de cabelos castanhos lhe direcionar um olhar frio – por favor – pediu calmamente, tentando corrigir o seu tom de voz autoritário.

- hunf! Já Alice não está aqui... e Vocês são um bando de neandertais sem intelecto. Acho que podemos dar uma ajudinha para... você sabe. Dar uma apimentada na brincadeira de policia e ladrão. – comentou com divertimento na voz, marchando na direção de Derek, antes de parar e olhar para o lado, receosa.

- você tem certeza? Ele vai ficar muito puto – comentou Rainha, com um leve receio na voz e deu meia volta, olhando para o outro lado.

- é. Eu também acho que isso já é um pouco demais. Digo, uma coisa é nós sabermos. Outra coisa é... esse lixo saber – Rei proferiu, sério, levando os dedos ao queixo, pensativo, antes de se virar para o quadro.

- se nós não contarmos, eles nunca vão saber. E aí nunca vão conseguir chegar perto dele outra vez. Isso iria estragar tudo. É melhor contar – resmungou Copas.

- é. Sem eles o jogo não seria engraçado. –

- o que aconteceu com o Lay? – inquiriu Peter, curioso.

Talvez, se eles soubessem o que havia acontecido com o irmão gêmeo, eles pudessem achar um jeito de ajudar Stiles a superar esse trauma e o trouxessem de volta em tempo de impedir o plano de Branco. Além disso, ele poderia ajudar o garoto a se controlar, o ajudar a superar o trauma poderia o ajudar a mudar completamente.

- não se pode falar do Lay –

- nós já sabemos! – reclamou Scott, irritado.

- isso é algo que eu tenho que deixar bem claro para vocês... Ou podem acabar morrendo antes do esperado – comentou Valete vendo o moreno de queixo torto franzir o cenho em sua direção.

- como assim? –

- nós não falamos do Lay – ditou Rei, deixando o McCall mais novo ainda mais nervoso.

- não se pode falar do Lay – comentou Rainha olhando fixamente para Vernon.

- é proibido falar do Lay – ditou Valete cruzando os braços.

- proibido? –

- mas... Vamos falar um pouquinho dele, sim – ela ergueu o indicador e passou a caminhar pelo local.

- era o nosso último ano, juntos – ditou a mulher com um ar educador.

- era o nosso ano de formatura – Rei a cortou com certa nostalgia na voz.

- último ano juntos? – inquiriu Derek, confuso.

Como personalidades poderiam ter um último ano juntas, se todas permaneciam presas ao mesmo corpo. Aquilo estava confuso. Mas Valete apenas confirmou repetindo as suas palavras, enquanto permanecia a marchar diante dos agentes. E o que diabos Rei quis dizer com ano deformatura?

- nós estávamos quase prontos e ganharíamos um desafio por isso - disse a mulher com orgulho carregado na voz, como a mãe que se vangloriava para as amigas sobre o filho que havia conseguido uma bolsa de estudos em uma faculdade renomada.

- um desafio que mudaria nossas vidas – comentou Rei com suspense na voz e Valete franziu o cenho para si, irritada. A mulher o analisou de cima abaixo, deixando os agentes curiosos.

- Branco se aproximou com seu jeito único de ser que nos assustava – Valete se aproximou de Derek o encarando com um olhar predatório.

-  o original! – exclamou Rei com um sorriso de canto.

- você quer parar com essa porra?! – exclamou a mulher, irritada, olhando para o nada ao seu lado, enquanto se afastava.

“Eu só estou fazendo suspense. Deixando mais interessante!”. Ele se defendeu, dando de ombros.

A mulher suspirou, negando com a cabeça, e continuou.

- Branco deu a cada um de nós uma coordenada, que sozinha não era nada – ela comentou antes de sorrir e abrir espaço para Rei.

- para quê ele foi fazer isso?! – exclamou o homem, com sofrimento, se direcionando para Erica.

- uma coordenada? –

- ele claramente nos desafiava a buscar vingança, como se algum de nós fosse se interessar por isso – ela comentou, com tédio, se sentando a mesa em que Erica e Allison se encontravam sentadas

- então foi realmente Branco quem treinou Alice? – inquiriu Vernon vendo a mulher desviar o olhar para si.

- e quem mais seria capaz disso? – respondeu dando de ombros. – éramos um grupo... Singular. Cinco pessoas completamente diferentes que passavam dias trancafiados em um mesmo lugar, mas em ambientes diferentes. Treinados para virar armas de guerra perfeitas –

- espera. Branco sabia sobre vocês? – indagou Allison, se erguendo da mesa e se aproximando um pouco mais.

Valete sorriu de canto.

- você não faz ideia! – exclamou a mulher dando as costas para a Argent.

- mas nós éramos Alices. Cada palavra de Branco ficou guardada em nossas mentes como um ensinamento materno – Valete voltou a proferir, se virando para Erica, antes de se erguer e se voltar contra Derek mais uma vez.

- ela não sabia o que estava fazendo – ditou Rei com seriedade na voz.

- graças a Branco, todos nós estávamos presos e conectados como insetos em uma teia de aranha –

- só não sabíamos que a viúva negra esteva lá o tempo todo –

- do que porra eles estão falando? – inquiriu Rafael, confuso e indignado.

- não pediram para falar do Lay? Agora estamos falando sobre ele – respondeu Rainha passando pelo agente, o encarando com cinismo.

A adolescente sorriu ao olhar para Vernon e se aproximou do mesmo com diversão no olhar. O Boyd franziu o cenho com o olhar fixo do assassino em si. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a garota pulou em sua direção, assustando os agentes, que ergueram as armas de maneira de instintiva na direção do ser de cabelos castanhos. No entanto, quando perceberam que a garota apenas segurava a mão do traficante, eles se sentiram aliviados, e Vernon, confuso.

- depois que nos formamos, nunca mais nos falamos. Cada um de nós sumiu para o seu canto. Parando para pensar, uns com os outros realmente nunca nos importamos. A única coisa que consigo me lembrar bem deles era de como eles usavam bem as cartas, sabe? As jogando de um lado para o outro. Eu demorei meses para aprender aquilo, e eles dois conseguiram em dois dias –

- é, mesmo? – inquiriu o Boyd, ainda confuso.

- eles quem? – inquiriu Isaac, curioso.

A garota se virou sorridente em sua direção. A simpatia que transbordava em seu olhar era perturbadora. Não porque era excessiva ou coisa do tipo. Mas, sim, pelo fato de que eles sabiam que aquela garota era capaz de matar qualquer um deles ali sem motivo aparente. Rainha levou uma das mãos aos brincos de argolas pequenas e grossas em seus lóbulos.

- os gêmeos, é claro! – ela exclamou com animação.

Uma animação que morreu logo em seguida, quando a raiva brilhou em seus olhos.

- o jeito que as coisas vinham com facilidade para eles estava sempre me irritando. Com seus jeitos e trejeitos foram ao Branco enfeitiçando. Não foi de surpreender ninguém que conseguiram o título mais desejado. – a garota proferiu com ódio na voz.

- nós éramos mais velhos do que eles. Éramos melhores do que eles fisicamente. Mas, ainda assim, em tudo o que faziam, aqueles dois conseguiam ser bons com uma média que veirava a excelência. Chegava a ser revoltante. Eles eram bons com línguas, matemática, química, física, armas, tudo! Não chegavam a ser os melhores, mas ainda assim, compensavam em outros aspectos, que fez com que Branco os escolhesse – a jovem proferiu entredentes, torcendo o macacão da prisão em suas mãos, enquanto o seu olhar se perdia no nada.

- mas quando a notícia de que Mieczyslay morreu nos alcançou ficamos chocados. Quem no mundo seria capaz de matar ele? Nos perguntávamos. A resposta era Branco. – Alice comentou, distraidamente, voltando o seu olhar para as mãos, que agora ajustavam a roupa maltrapilha que vestia, antes de lançar um olhar ferino para o Boyd.

- Branco?! Branco matou o irmão do Stiles?! – Erica estava perplexa observando o assassino de cabelos castanhos menear positivamente.

- e ele decidiu ir atrás do Branco. Mas, para isso, ele precisava das coordenadas dele – comentou Valete com certo tédio na voz.

- ele queria vingança – comentou Derek, surpreso.

- é claro que ele queria. Branco nos criou para sermos assassinos cruéis e impiedosos. Mas ele não contava que alguém, realmente, fosse atrás dele – comentou Rei passando as mãos pelos cabelos, os colocando para trás.

- então, de um em um, aquele que vocês chamam de Stiles foi nos caçando. Para a sua vingança nenhum de nós estava ligando. Ele era uma criança, não nos importamos se ele estava nos rondando. O que foi um erro pois o cerco estava se fechando, enquanto não estávamos observando – a garota explicou com receio na voz enquanto se aproximava de Vernon com um olhar chateado.

- lhes caçando? – indagou Allison, confusa.

- exatamente. Era tudo muito simples. Nós só teríamos que lhe dizer as coordenadas que recebemos e cada um seguiria o seu caminho. Mas por algum motivo, todos nós nos opomos a sua vingança. E foi aí que tudo começou a ir para o inferno –

- o que aconteceu? – indagou Peter, nervoso.

- sabe, Peter?  Nós cometemos o mesmo erro que você. Era só falar. Era só dizer a Stiles e tudo ficaria bem... Mas nós não dissemos. Quando ele implorou pelas coordenadas, nós rimos, erguemos o dedo do meio e lhe demos as costas. E como foi dito: o cerco fechou e ninguém notou – a adolescente soou mórbida, apertando o braço se Vernon, como se pedisse por ajuda.

- como assim? – a agente Argent voltou a questionar, curiosa, se erguendo e se colocando diante da mesa.

- como eu disse antes, um a um, o garoto foi nos caçando. Com suas artimanhas ele foi nos testando. Sempre fazendo joguinhos quase impossíveis de ganhar – comentou o assassino se afastando de Vernon e se aproximando da agente, a encarando com um olhar predatório – você quer tentar? -

- hey! Fique longe da minha filha! – repreendeu Christopher já com a arma apontada para a cabeça do assassino.

Alice riu baixinho. Um gargalhar suave, contido. Chris rosnou o nome do castanho enquanto destravava a arma, em uma ameaça clara. Alice se afastou com um sorriso largo no rosto, enquanto erguia a mão em rendição.

- que tipo de jogos? – perguntou Allison, erguendo a mão para o pai, em um pedido mudo para que ele parasse.

- do tipo que você só joga uma vez... Isso se você perder, é claro! -

- o Stiles realmente foi tão ruim assim? Quero dizer, ele é um assassino e tanto. Mas... Vocês meio que não são parte dele? – questionou Isaac vendo a garota sorrir e lhe dar as costas.

- um mal tão grande! Como pode ser encarnado em um corpo tão apertado? – a voz de Rei escapou pelos lábios finos, indicando que já se haviam trocado de lugar mais uma vez.

- como? – indagou Scott, confuso.

- essa foi a primeira coisa que se passou em minha cabeça quando eu vi o verdadeiro potencial que aquele garoto tinha. O potencial que Branco viu desde o começo. Mas, sabe, ele nem sempre foi assim. Antes do Lay morrer, aquele que vocês chamam de Stiles era inofensivo. Por vezes, medroso. Ele se escondia de tudo e de todos. Mas quando algo ameaçava o Lay – ele estalou os dedos e Valete tomou conta do corpo.

- ele se transformava. Alguma coisa mudava nele. E o que sentia medo, passava a transmitir ele. Stiles era o tipo de pessoa que não pensaria duas vezes antes de se colocar entre o irmão gêmeo e uma bala. Se ele pudesse parar o projétil com a cabeça, ele pararia. – explicou Valete com um ar sério, quase pensativo.

A risada grave e escandalosa de Rei voltou a escapar pelo lábios finos.

- uma pena que não foi uma bala que matou o Lay! – ele exclamou sem piedade alguma na voz.

- como assim? Do que o irmão do Stiles morreu? – indagou Derek, desconfiado.

- esmagado por uma parede enquanto dormia. Simplório. Trágico. Hipócrita. Não é? Quem diria que alguém tão habilidoso em treinamento militar morreria para uma simples parede?! Mas essa é a graça da vida. Não importa quem ou o quê você é. Todos podemos morrer. Todos somos frágeis como papel. E com Lay não foi diferente – o homem proferiu com naturalidade, antes de dar se ombros e seguir marchando pelo ambiente.

- esmagado por uma parede... Isso explica porque os ferimentos do garoto de distinguiam do que uma criança poderia fazer – comentou Allan, pensativo.

- então a morte do irmão, realmente, foi o estopim – murmurou uma das agentes, curiosa, anotando em um bloquinho.

- muito mais do que isso. A morte de Lay incrementou aquele garoto de um jeito inesperado –

- como assim? –

- um estopim apenas criaria um assassino naquela criança que se desenvolveria lentamente.  Não. Não. Não. A morte do seu irmão gêmeo iniciou uma... reação muito mais intensa dentro dessa mentezinha caramiolenta cheia de... Inseguranças e coisas esquisitas  - Rei explicava enquanto movia os dedos das mãos, como se estivesse descrevendo algo grotesco, como um monstro de Dungeons and Dragons.

- reação?! Como uma reação química? – inquiriu Isaav, curioso.

- pode apostar nisso, pequeno Barão – o castanho proferiu com um sorriso largo, marchando na direção do Lahey, que franziu o cenho para si.

-  Barão? –

- os reagentes estavam todos ali e o sistema era propício. Só precisava do primeiro contato. E Branco cuidou disso – Rei fingiu apertar um botão invisível em sua mão com o polegar, como uma caneta, imitando o som com a boca.

- boom! – murmurou abrindo as mãos, enquanto alcançava Isaac

- ele apertou o botão do Start quando matou Lay com aquela explosão. – Rafael franziu o cenho.

- não foi uma parede? –

- e você acha que a parede caiu por conta própria?! – o assassino inquiriu, entediado – foi assim que Stiles começou a sua caçada, procurando pelos jogadores que uqeria em seus jogos doentios –

- jogos? – perguntou Isaac, nervoso com a aproximação daquele que não era Stiles, mas estava no corpo dele.

Rei gargalhou, dando a volta em si.

- sim, sim. Stiles fazia jogos maravilhosos. E foi assim que eu vi o verdadeiro monstro que ele era. Ele lê a sua mente – o homem agarrou firmemente os ombros do Lahey pelas costas, sussurrando contra o seu ouvido.

- e a corrói lentamente -  ele sussurrou em seu outro ouvido antes de lhe soltar.

- como assim? –

- os mais velhos sabem do que estou falando – o homem sorria com orgulho – Stiles sempre estava um passo a frente. Ele calculava todos os passos possíveis antes de começar o jogo, lhe deixando completamente sem opções, fazendo seguir um roteiro escrito por ele, onde a morte te espera no final –

- uma aberração – proferiu Chris, indignado.

- ah, não! Mas ele era um bom garoto. Ele te dava um opção: ou você dava o que ele queria, ou tinha que jogar o jogo dele – proferiu Valete sorrindo gentil.

- mas é claro que ninguém aceitava a humilhação de dar o que ele queria. Todo mundo prefere lutar. “Não tem como eu perder para uma criança”. É o que todos pensam. Mas, sim, tem. Sempre tem – disse Rainha se afastando do louro de cachos em um giro com as mãos erguidas com elegância.

- não é possível que ninguém soubesse argumentar com uma criança! – argumentou uma agente, indignada.

Rainha gargalhou alto, com a sua voz jovial, cobrindo os dentes com a mão, elegantemente.

- não havia como argumentar com ele. Nada poderia ficar entre ele a sua vingança. Nada -

- vocês... Falam como se já tivessem sido caçados por ele – comentou Allison, curiosa, observando atentamente a reação da garota.

- e fomos –

Rainha sorriu de canto antes de o seu semblante mudar completamente.

- quando ele me achou, eu disse para ele não perder a cabeça. Horas depois eu que havia perdido a minha – ditou Valete agarrando os próprios cabelos e os puxando para o lado, deitando a cabeça sobre o ombro.

- já eu, disse para ele tentar ter um olhar diferente sobre a situação, então ele arrancou o meu olho fora – Rei colocou a mão sobre o olho esquerdo, olhando com um sorriso predatório na direção de Isaac.

- eu até disse que o ajudaria. Disse que daria uma mão para ele não caça ao Branco. E a minha mão foi tudo o que restou de mim – Rainha ergueu o braço direito com delicadeza, antes de o abaixar bruscamente quando Valete tomou o seu lugar.

- acha mesmo que dá para argumentar com alguém do País das Maravilhas?! – os três gritaram, mas apenas Valete fora ouvida.

- estão consumindo o nosso tempo com baboseiras! – ralhou outro agente, furioso.

Valete gargalhou, passando a caminhar na direção do agente. As armas voltaram a ser destravadas, em um sinal claro de ameaça. O assassino não se importou, marchando mais um pouco. Um tiro de aviso fora disparado diante dos seus pés por Rafael, mas Alice também não se incomodou. Ela parou diante da arma do agente, que se encontrava sério com a arma apontada para o peito do assassino a sua frente. Valete lambeu os lábios com deleite ao identificar o medo escondido nos olhos alheios.

- quando Alice voltar a agir... E ela vai voltar, é melhor você ir para bem longe – ditou a mulher enquanto via as outras três personalidades cercarem o homem, com olhares doentios voltados para o agente – porque nós vamos atrás se você por sua insolência –

- Alice vai voltar? – inquiriu Allan, curioso.

Valete gargalhou, venenosa.

- e você espera algo diferente, agente? Olhe a que ponto vocês chegaram! Stiles era imparável até que Alexander e Peter surgiram. Eles o acertaram com esse... amor fraterno. Mas Peter vacilou. E vacilou feio. – a mulher puxou um baralho da manga do macacão que vestia e passou a embaralhar as cartas.

Peter mordeu o lábio inferior.

- e vocês, claramente, não sabem lidar com Branco. E não vai haver um jeito de Stiles investigar Branco para vocês sem ser atingido por ele. Então é tudo uma questão de força e tempo. Qual força vai ser maior? O ódio e o trauma? Ou o amor e a paz? – Rei inquiriu com a sua voz grave, enquanto mudava o estilo de embaralhar as cartas.

- como é? – inquiriu Scott.

- e se Stiles for acertado com força por esse novo Branco... O que Peyer vai fazer? Você joga tão sujo para alguém tão doce, Peter. Envolve o garoto com suas palavras tão bonitas, mas a verdade é que suas presas estão sedentas para se fincarem na carne dele. Um demônio disfarçado tentando roubar a espada mais forte do céu. – Rainha gargalhou ao final, observando o Tate cerrar os punho com fúria.

Mas Peter não argumentou. Era perda de tempo tentar conversar com aqueles três. A adolescente estranhou o olhar de Derek para si. O cenho franzido em desconfiança. Mas ela ignorou o homem para se focar em Vernon.

- e como era o irmão gêmeo do Stiles? Pode me dizer mais sobre ele? –

A garota sorriu gentilmente antes de desviar um olhar pensativo para cima.

- existe alguém mais qualificado para falar sobre isso – ditou erguendo a mão e estalando os dedos.

O ar gentil se foi completamente. O castanho de olhos claros se tornou sério. O assassino apoiou o peso do corpo sobre apenas uma das pernas, quebrando um pouco a cintura no processo. A mão antes erguida com a delicadeza de uma dama, desceu brusca, bruta, como a vida nas ruas. O olhar gentil com brilho jovial deu lugar a um olhar frio, calculista.

- se espera que eu diga que ele foi um daqueles clichês típicos de crianças cuja morte gera uma raiva incontrolável em alguém, vai tirando o cavalinho da chuva – a voz de Stiles surpreendeu aos agentes e aos detentos.

- Stiles? – inquiriu Isaac, desconfiado.

- parece – murmurou Erica, confusa. Havia uma pequena diferença no modo de fala,mas a voz era a mesma, sem alteração de tom ou sotaque.

- e você seria? – indagou Vernon vendo o assassino revirar os olhos.

- não somos amigos, não precisa saber nomes – o assassino rebateu, irritado.

- se não me engano, Rei a chamou de Copas – comentou Isaac, curioso.

- Lay era uma criança muito acima da média. A sua inteligência era surpreendente. Um gênio. Mas, estranhamente, ele não se portava como os outros gênios. Sabe, pessoas com uma inteligência tão avançada costumam se dividir em dois grupos: os comuns, que amam os pais e amigos como pessoas normais; e os egocêntricos, que se acham extremamente superiores e que ninguém no mundo está a sua altura – o assassino se dirigiu até a mesa, se colocando sentado sobre a mesma, erguendo uma perna e a abraçando, despojadamente, lançando um olhar entediado para o chão.

- Mas Lay, não. Ele era louco pelo irmão. Beirava a obsessão. Para Lay, Stiles era como um Deus na terra. Um anjo que o guiaria para o paraíso. Os dois, na verdade, possuíam essa obsessão maluca um com o outro, sempre colocando o outro num pedestal. Eles se matariam um pelo outro. Mas havia uma diferença: Lay sabia do que era capaz. Mas Stiles, por outro lado, era inseguro. Não tinha noção alguma de suas capacidades. E isso apenas fazia Lay querer o proteger mais ainda –

- quando Lay morreu, Stiles ficou sem rumo. Ficou suas horas inteiras parado, plantado, completamente paralisado, na frente do corpo de Lay. O trauma foi tão forte que ele criou mais uma de nós. Uma que ele nunca deixa sair. Uma que ele guarda a sete chaves no local mais seguro de todos. Uma personalidade que o faz se lembrar de Lay e o faz se esquecer da culpa. –

- culpa? Ele teve culpa na morte do irmão? – indagou Derek, curioso e preocupado.

Copas suspirou.

- não. Ele não teve. Mas insiste em dizer que sim. Era aniversário dos gêmeos. E nós queríamos fazer uma surpresa para Lay. Então o deixamos sozinho na casa e fomos comprar coisas. Quando voltamos, já não havia mais Lay. Stiles conseguiu achar o corpo, mas eu impedi que ele o desenterrasse dos escombros por completo. O trauma seria maior se ele fizesse assim. Então eu apaguei o Stiles e fiz tudo o que tinha que fazer: peguei o corpo e o enterrei no quintal da antiga casa da família Stilinski. Quando acordei Stiles, ele estava diferente, havia jurado vingança e as suas inseguranças haviam sumido –

Derek franziu o cenho, curioso, mais uma vez.

- ele havia virado outra pessoa –  Copas suspirou e então sorriu largo – ele havia crescido. Evoluído. Havia virado o Deus que Lay via nele -

O sorriso orgulhoso de Copas atormentava os agentes. E então o semblante sério retornou, antes de dar lugar a um olhar de fúria pura ser direcionado para Peter.

- e então veio a dupla de patetas. Alexander e Peter o estragaram. O fizeram voltar a ter inseguranças, a ser imperfeito. O fizeram fraco. –

- não seja ridícula! Nós demos o que ele nunca teve. Nós o tratávamos como um filho!- o Tate argumentou vendo o castanho lhe direcionar descrença.

- ah, é mesmo?! Vocês não o estragaram?! –

- claro que não! –

Copas revirou os olhos e exclamou em desgosto.

- merecem todos morrer – resmungou antes de virar a cabeça para o lado e dar lugar para Valete.

A mulher iria falar, mas se silenciou quando todos os quatro que se encontravam conscientes naquele corpo sentiram uma vertigem tomar conta deles. Naquele momento eles souberam que Stiles estava tentando sair do caos em que sua mente lhe afundava. Eles sabiam a luta internava que estava acontecendo enquanto eles instigavam os agentes a pensar mais sobre os gêmeos de cabelos castanhos. No entanto, o que os perturbava não era o homem de fios castanhos tentando se libertar. Era aquele que o acompanhava no percurso, tentando tomar o controle do corpo para si. Só de lembrar do rosto eles sentiam os pulsos cerrados tremerem e o sangue ferver.

- o tempo está acabando – resmungou Rei passando as mãos nos cabelos castanhos, se afastando dos agentes.

- é o que eu estamos falando há tempos! – reclamou Rafael observando o assassino lhe ignorar prontamente.

“Ele nunca se recuperou tão rápido”. Argumentou Valete levando o polegar ao queixo, pensativa.

- alguma coisa o tirou dos trilhos – o homem voltou a resmungar, perplexo.

- parece que nem todas os reagentes foram considerados em nossa equação, velhote – resmungou a adolescente cruzando os braços diante do peito másculo.

- quieto vocês dois! – ralhou Valete se apoiando no quadro e levando a mão a cabeça, pressionando a região.

- ah... Está tudo bem? – inquiriu Derek, curioso.

“O que faremos? Não podemos deixar que Law-Law perca o controle!”. Questionou Rainha receosa.

“Ele não vai perder o controle!”. Ralhou Valete, irritada.

- acham que deveríamos fazer alguma coisa? – inquiriu Rei, num sussurro, deixando os agentes confusos.

“Não façam nada! Não podemos tomar partido nisso”. Repreendeu Copas.

- não fazer nada?! – exclamou o homem, indignado.

“Sim”.

“Ela tem razão”.

“Mas e se Law-Law perder?”

“Se ele perder, nós voltamos”. Repondeu Copas, indiferente. “Mas se ele ganhar, nós voltamos”.

- ah... Rei? – inquiriu Derek se aproximando um pouco receoso ao ver o assassino passar a bater a cabeça contra o quadro repetidas vezes.

- Derek – Peter repreendeu.

O assassino não respondeu e o agente se aproximou. Assim que o Hale se colocou ao lado do castanho, o homem de macacão agiu com velocidade. A mão do Stilinski voou até o pescoço do moreno de olhos verdes, o agarrando em um aperto severo. Rei voltou a golpear a cabeça no quadro de anotações, se surpreendendo quando a testa alcançou uma superfície macia. Ao desviar o olhar do chão para o quadro, o homem se surpreendeu ao encontrar a palma da mão de Derek no quadro, impedindo que sua cabeça atingisse a superfície dura do objeto. O assassino entreabriu os lábios, surpreso.

- hey... você só está se machucando – o agente proferiu com seriedade e calma na voz.

Rei inclinou a cabeça para o lado, lançando olhar descrente para o agente. A sua risada veio logo em seguida. Aquele mesmo gargalhar escandaloso de instantes atrás ecoou pelo ambiente, deixando os agentes confusos e receosos.

- você... – ele proferiu com um sorriso de canto.

Um sorriso que forçou Derek a engolir em seco. Mas foi um sorriso que logo sumiu daqueles lábios finos quando eles se abriram para tentar facilitar a entrada do ar. Derek estranhou e levou as mãos aos ombros do castanho, que tentou lhe afastar, sem sucesso.

- Chegou! – pronunciou Rei, junto de Valete, Rainha e Copas quando o ar se fez mais ausente.

- chegou? Quem chegou? – indagou Peter, confuso, se aproximando para tentar ajudar o assassino.

- não encos... – Rei tentou se soltar de Derek mais uma vez, mas se calou quando sentiu um pontada feroz no peito.

O assassino sorriu de canto.

- Lei – o assassino murmurou, deixando tio e sobrinho perplexos.

Death Wonderland - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora