Ficar encarando aquela imagem por horas naquele notebook não parecia lhe incomodar. Nem mesmo o cheiro do sangue no cadáver atrás de si parecia o incomodar. Ele estava tão fascinado por aquela imagem que nada que não interferisse no seu campo de visão iria lhe incomodar. Ajeitando o capuz com uma mão, moveu os dedos da outra pela tela, a acariciando, enquanto ouvia aquela voz tão doce e melodiosa pela milésima vez naquela manhã. O vídeo parou de ser reproduzido e finalmente os seus olhos se moveram para outra coisa que não fosse aquela tela que reproduzia uma imagem quase divina. Os seus dedos que antes estavam em seu capuz, agora acolhiam o mouse com um certo desespero, enquanto reiniciava o vídeo. Assim que o vídeo retornou ao início, o encapuzado trouxe as mãos para si, as acolhendo entre as pernas, enquanto encolhia os ombros, focando-se na imagem a sua frente.
Não parecia nada preocupado em o que fazer com o corpo sem vida que se encontrava no ambiente. Faria com ele o mesmo que fizera com tantos outros desde que passou a viver daquele modo: derreter em ácido e jogar os dejetos no ralo, de forma adequada após diluir todo o ácido. Os ossos seriam cremados e as cinzas seriam colocadas nos jarros das várias rosas que se encontravam no chão ao redor da mesa. Parecia ter mais preocupação quanto ao vídeo que estava assistindo desde que o mesmo fora baixado em seu computador do que se livrar das provas do assassinato que cometera.
- “Como descobriu que o pai era o verdadeiro estuprador?” – perguntou um dos repórteres para o encapuzado ali na frente.
- “Com um desenho. Em um desenho que fez no psicólogo, Kara Mackson representou a imagem de pai horrível que tinha. Era o pássaro que o pai tinha na fivela do cinto que usava. Segundo a mãe, a filha dera aquele cinto ao pai num dos aniversários do mesmo e desde então nunca deixou de usá-lo. Então aquele cinto se tornou o símbolo daquele ato para ambos. Para o pai, aquele pássaro representava o amor carnal que possuía pela filha, tendo uma ilusão de que era correspondido da mesma forma, já para Kara, aquele cinto era a marca do horror que passava. Tanto que fora o desenho mais bem feito que já vi uma criança dessa idade fazer” – os lábios finos se moveram fora da proteção do capuz.
- “Mas não é comum crianças desenharem elementos que veem no dia a dia?” – perguntou outra repórter.
- “Como soube que aquele pássaro tinha a ver com o crime?” – perguntou um outro repórter.
- “é normal, sim. Mas não com aquele nível de detalhamento. Kara desenhou o pássaro perfeitamente, com poucos erros considerando o real por completo. Foi o mesmo pássaro que vi quando quase desmaiei na frente do pai de Kara durante o caso. A minha visão ficou turva e eu caí de joelhos diante de Bryan. Quando olhei para a frente, a primeira coisa que vi foi um pássaro enorme, igual ao desenhado por Kara. Daquela forma, eu possuía a mesma altura que a vítima. Sendo assim, aquele pássaro era a coisa que separava Kara do seu momento de tortura. Ele representava o predador que o pai era, indo ali, lhe roubar sua paz, sua inocência e sua felicidade” – responderam ambos os encapuzados.
- “E foi só com uma foto e um desmaio que percebeu que o pai da criança era um louco que abusava da própria filha?” – perguntou um dos repórteres, vendo um sorriso vitorioso surgir nos lábios do homem ali em cima.
- “Ele não é louco. Eu conheço gente louca. As melhores pessoas são loucas. Eu sou louco. Esse homem é um monstro” – o encapuzado murmurou as palavras no mesmo momento em que eram ditas pelo encapuzado do vídeo, sorrindo ao conseguir reproduzir todas as palavras no mesmo tempo em que o outro encapuzado.
- eu ainda não acredito que finalmente te encontrei – falou pausando o vídeo e erguendo a mão para a tela novamente, acariciando o homem de capuz no centro da imagem.
- você fez o seu movimento, Alice. Está na hora de eu fazer o meu – disse lambendo os lábios enquanto esticava as mãos para o alto, ao mesmo tempo em que entrelaçava os próprios dedos.
Forçando as mãos para fora, acabou fazendo com o que todos os seus dedos estalassem. Um sorriso sádico cresceu em seus lábios ao mesmo tempo em que os seus dedos se moviam com velocidade sobre as teclas do aparelho eletrônico. Mais e mais abas se abriam na tela do computador enquanto a voz do encapuzado do vídeo voltava a ecoar pelo ambiente. Dados e mais dados eram baixados naquele computador, arquivos e mais arquivos eram abertos enquanto os seus dedos ágeis ainda se movimentavam coordenadamente. Eles pareciam dançar uma coreografia ensaiada sobre os teclas do computador, ao mesmo tempo em que faziam o que haviam sido treinados para fazer. Mais algumas teclas aqui, alguns arquivos lá e uns megabytes ali e o som das teclas sendo pressionadas cessou, deixando apenas o silêncio absoluto naquele ambiente escuro.
- vamos ver se você consegue seguir esse coelho branco – ditou sorrindo divertido para a imagem do encapuzado, de costas para os repórteres, enquanto tratava de adentrar a delegacia.
- e então? O que temos para hoje? – perguntou Stiles, animado, saindo do elevador praticamente saltitando.
- eu me pergunto como não amar você? Mas aí eu lembro que você é o maior assassino que o nosso país já teve. Então eu lembro o motivo de não poder amar você como eu deveria – disse a ruiva encarando o castanho lhe fitar sorridente.
- talvez seja melhor assim – falou Stiles piscando para a ruiva que tentou não sorrir com a leve insinuação do castanho.
- enfim, vamos direto ao caso – ditou Peter se aproximando e se sentando ao lado do castanho, que levou uma das mãos ao brinco de copas.
- dois assassinatos, em menos de uma semana aqui mesmo, em Quântico – disse a ruiva apertando o botão do controle e duas imagens foram exibidas na tela.
- e... estamos no meu departamento, de novo – brincou Stiles sorrindo para a tela, já compreendendo a metodologia apenas ao observar os corpos.
- as vítimas são William Talbot e Dylan Jovovich. Ambos com doze facadas em seus corpos, eles foram encontrados estranhamente... – a ruiva fora interrompida por Stiles.
- organizados. O assassino moveu os corpos, os limpou, trocou as roupas e os colocou em posições que normalmente indicam paz e serenidade – apontou Stiles vendo todos lhe fitarem desconfiados.
- você está bem? – perguntou Erica vendo o castanho sorrir em sua direção.
- é claro que estou! Por que diabos eu não estaria? – respondeu o castanho de brincos vendo a mulher estreitar o olhar em sua direção.
- porque você está sorrindo há mais de meia hora. E pelo que eu me lembre, você se chama Alice e não Coringa – respondeu a loira encarando o castanho rir um pouco, antes de fechar o semblante.
- me desculpe, eu vou me controlar – disse o castanho vendo o grupo inteiro lhe fitar desconfiado, antes de todos voltarem a sua atenção para a ruiva.
- os assassinatos não tiveram ligação nenhuma, para mim. Eu simplesmente não consegui ver nada que os relacionasse que não fosse o modo em que morreram e como foram encontrados – explicou a ruiva passando a imagem para um mapa de Quântico.
- as vítimas foram mortas em um raio de cinco quilômetros, podemos considerar como sua zona de conforto? – pontuou Scott vendo os agentes ficarem pensativos por alguns segundos, enquanto que os prisioneiros olhavam para Stiles, fixamente em busca de respostas.
- eu acho que não. Creio que ainda é muito cedo para isso – falaram Derek e Stiles ao mesmo tempo.
- e por que? – perguntou Scott ignorando o castanho e se focando no amigo.
- eu acho que com apenas dois corpos não se pode definir uma zona para um assassino. Isso nos impede de focar na possibilidade de a zona de conforto dele ser bem maior, sem falar que nossas duas vítimas morreram bem perto, isso aumenta e muito a sua verdadeira zona de conforto – respondeu Derek, calmamente
- não existe – ditou Stiles encarando os agentes lhe fitarem questionadores.
- ele está certo. Olhem o modo como os corpos estão. Stiles disse que isso simboliza paz e serenidade. Esse cara esfaqueia doze vezes e depois trata do corpo? – indagou Peter vendo os mais novos lhe fitarem questionadores.
- o que isso quer dizer? – perguntou Vernon, confuso.
- é como uma situação normal do dia a dia. Por exemplo, Isaac e Scott brigam. O Isaac ganha a discussão, mas ele se sente culpado. Então, o que ele faz? Ele tenta se redimir. É isso o que esse assassino faz. Ele mata, com raiva, mas depois que a raiva se vai, vem a culpa. Então ele limpa os corpos, troca as roupas dele e os coloca como se estivessem dormindo calmamente – explicou Stiles imitando a posição dos corpos na cadeira.
- então deixa eu ver se eu entendi. Ele comete o crime, mas no instante seguinte ele se sente culpado e tenta pedir desculpas aos mortos? – indagou Erica visivelmente chocada.
- é exatamente isso – respondeu o castanho de olhos claros vendo os agentes direcionarem o olhar para o mapa, antes de encararem a si e a Peter, confusos.
- e no que isso implica em a zona de conforto não existir? – questionou Scott vendo o louro mais velho da equipe encarar o mapa com seriedade.
- o que estamos tentando dizer é que ele se sente confortável para matar em qualquer. Não existe uma área em que ele se sinta mais confortável. Se ele estiver com raiva, ele vai matar independente de qual seja o lugar. – afirmou Peter vendo todos tomarem expressões sérias, até mesmo Stiles, o que lhe chamou a atenção. Sempre que assassinatos eram envolvidos no caso, Stiles ficava animado, mas dessa vez ele parecia tão... focado.
- então nós temos que ser rápidos. Temos que encontrar esse cara antes que ele mate mais alguém – ditou a agente Argent se levantando, sendo seguida pelos outros membros da divisão, com exceção de Lydia.
- Erica, Vernon e eu vamos para cena de crime número um. Isaac, Allison e Scott vão para a cena de crime número dois. Quero a maior quantidade de detalhes possível. Derek e Stiles vão para a delegacia da cidade tomar o controle da investigação de lá, tomando conhecimento de todas as informações que eles têm – ditou Peter já pegando o casaco e rumando na direção do elevador.
- Lydia, tente conectar as nossas duas vítimas de alguma forma – ordenou Derek pegando o terno que usava e se preparando para descer, sendo acompanhado pelo castanho.
A ruiva apenas meneou positivamente antes de se dirigir para a pilha de monitores que se encontrava perto de seu computador. Os membros que faziam parte da ação em campo se encaminharam para a garagem, onde se dividiram nos grupos previamente estabelecidos. Cada grupo adentrou um veículo negro com sirenes embutidas antes de, um a um, cada veículo começar a se retirar do local. As pessoas se assustaram um pouco com os veículos negros, altos, se retirarem daquele prédio aparentemente comum com velocidade. Alguns até pularam de susto quando ao fazerem a curva para se alinharem no asfalto, os veículos cantaram pneu e passaram bem perto dos civis.
Derek dirigia com tranquilidade pelas ruas de Quântico, enquanto tentava, ao máximo, ignorar a única presença que lhe fazia companhia ali. O moreno de olhos verdes tamborilava com os dedos no couro do volante, ao mesmo tempo em que observava, pelo canto dos olhos, o castanho no banco ao seu lado, sentado confortavelmente no acento de couro, de costas para o agente Hale, encarando as ruas de Quântico pela janela. Stiles estava, estranhamente, quieto demais. Isso preocupava um pouco ao moreno de olhos verdes. Já que, quando o silêncio reinava em um gênio do crime, como o castanho ao seu lado, significava que a cabeça criminosa estava maquinando algo. Eles chegaram a delegacia, ainda em silêncio. Como esperado, assim que se aproximaram da entrada da delegacia, os oficiais já estavam de olhos cravados nos dois.
- é um prazer conhecer a todos, eu sou o agente Derek Hale, este é o agente...
- Doutor – o castanho cortou o moreno de terno ao seu lado.
Derek se martirizou por sempre esquecer de não chamar os prisioneiros de agentes. Eles haviam estabelecido essa regra quando quase foram pegos por um suspeito, que exigiu ver todos os distintivos, mas Peter rapidamente alegou dizer ter necessidade de apenas um. Desde então, eles decidiram não os chamar mais de agentes, pois era uma mentira que poderia ser facilmente desmascarada. Stiles passou pelos oficiais com naturalidade, ignorando todos, seguindo para a sala do delegado.
- Doutor Stiles Stilinski. Somos do FBI. Viemos liderar o caso – ditou o moreno de olhos verdes não se importando com os murmúrios dos oficiais que observavam os dois alcançarem a porta da sala do delegado. No entanto, antes que pudessem bater na mesma, q porta se abriu, revelando o delegado. O homem pareceu surpreso com os dois homens a sua frente.
- posso ajudar em alguma coisa? – perguntou o homem de cabelos negros encarando os dois homens parados na porta de sua sala.
- FBI. Nós viemos liderar o caso. A nossa equipe já está nas duas cenas de crime – falou Derek, mostrando o seu distintivo para o homem, que lhe fitou surpreso, rapidamente, antes de menear positivamente.
- me desculpem a surpresa. É que eu não esperava que vocês fossem tão jovens – falou o homem apertando a mão de Derek.
- não somos tão jovens quanto aparentamos – argumentou Stiles, vendo o homem estreitar o olhar para si, por um momento, antes de erguer a mão para si.
- você usa brincos? – perguntou o delegado vendo o castanho sorrir ladino em sua direção.
- a não ser que isso em minhas orelhas sejam miniaturas de elefantes voadores. Sim, eu uso brincos. – respondeu o castanho vendo o homem se desculpar, rapidamente, pela pergunta idiota.
- acalme-se. Eu estou apenas brincando – ditou o castanho vendo o homem menear positivamente.
- entrem. Os arquivos estão aqui – disse o delegado dando espaço para os “agentes” entrarem.
- eu sou o delegado Marshall Miriam – se apresentou o homem se sentando em sua cadeira.
- muito prazer. Esperamos acabar com tudo isso o mais rápido possível – falou o agente Hale vendo o castanho menear na direção do delegado, antes de puxar um arquivo que se encontrava ao lado de uma caixa e passar a folhear o mesmo.
- como vocês sabem, nós estamos tendo alguns problemas para ir atrás desse cara. Nós fizemos algumas poucas análises, mas pelo menos sabemos que é um homem adulto – disse o homem vendo Derek e Stiles se sentarem nas outras duas cadeiras.
O moreno estava lhe dando total atenção, enquanto o castanho folheava os arquivos com velocidade, o que fez com que o delegado estreitasse os olhos para ele. O moreno de olhos verdes seguiu o olhar do homem, vendo o castanho a analisar os arquivos reunidos pela polícia local com uma velocidade surpreendente para qualquer um. Derek estreitou o olhar para o homem ao fim da fala do mesmo. Nem mesmo eles haviam descoberto se era uma mulher ou um homem, mas os oficiais da cidade já o haviam feito? Algo estava estranho. Para completar a sua desconfiança, Stiles sorriu nasalado, enquanto jogava a pasta sobre a mesa.
- O senhor vai nos desculpar, mas, nem mesmo nós temos essa informação ainda. Como descobriu isso? – indagou Derek vendo o castanho puxar mais algumas folhas e passar os olhos sobre elas.
- bom, é violência demais para uma mulher. Sem contar que ele move os corpos. Uma mulher não teria forças para isso – explicou o delegado vendo o moreno de olhos verdes erguer uma sobrancelha em questionamento.
- Genene Jones, Joanna Dennehy, Berlinda Rossy, Kali Dartagnan, Jayden Walker... – Stiles desatou a falar nomes ainda encarando as folhas em seu colo.
- quem são? – perguntou o delegado encarando o castanho sorrir encarando as folhas em seu colo.
- apenas algumas das assassinas mais brutais do mundo. Algumas delas poderiam matar lutadores profissionais na porrada. Você iria ficar surpreso com algumas delas, principalmente Jayden Walker. Ela era uma garota de treze anos quando começou a matar. Era apenas uma criança, mas podia deixar qualquer um mole como gelatina usando apenas um músculo – explicou Stiles, antes de colocar a língua sensualmente para o lado de fora e apontar para a mesma.
- a língua? – indagou o homem confuso – como uma língua pode ser um músculo melhor do que braços fortes?! – questionou em espanto para palavras que ele julgava como absurdas.
- os braços podem machucar fisicamente e empurrar objetos. A língua, quando bem usada, pode controlar a mais incontrolável das bestas e cegar o mais analista dos homens – respondeu o castanho encarando o homem mais velho da sala lhe fitar pensativo, assim como o Hale.
- noventa por cento de chance de ser uma mulher – ditou o castanho, chamando a atenção do delegado, o despertando de seus pensamentos ao jogar as folhas sobre a mesa.
- o quê? – questionou o delegado, indignado.
- na segunda cena de crime encontraram as roupas esfaqueadas, lavadas, na secadora. A maioria dos homens se livraria delas, uma mulher, ou um homem com problemas de organização e higiene, as lavaria – explicou o castanho cruzando as pernas e apoiando as mãos, unidas, sobre os joelhos, o que fez o delegado arregalar um pouco os olhos antes de tomar uma expressão séria.
- então estamos procurando por uma mulher, ou, muito pouco provável, um homem – ditou Derek encarando o delegado com seriedade.
- você ao menos leu os arquivos que possuímos? – perguntou o homem, indignado por sua teoria ser jogada por água abaixo em questão de segundos.
- você não o viu lendo? – indagou Derek, estreitando o olhar para o homem. Ele já estava se irritando com as perguntas sem sentido do mesmo, mas ele relevou nesse momento por Stiles realmente causar aquela dúvida.
- está brincando?! Ele simplesmente passou os olhos por cada folha em segundos! Vai me dizer que ele realmente consegue ler naquela velocidade? – perguntou o homem encarando a dupla com indignação.
- o consciente de nossas mentes pode processar 16 bits de informação por segundo, já o nosso inconsciente pode processar 11 milhões – respondeu Stiles, calmamente, vendo ambos os homens estreitarem o olhar em sua direção. O castanho suspirou, tomando um olhar entediado.
- em outras palavras, sim, eu posso – ditou o rapaz estreitando o olhar para o moreno ao seu lado, que piscou algumas vezes, entendendo aquilo como um “muda essa cara, agora”.
- precisamos de uma sala para liderarmos o caso. Um local onde possamos nos reunir para nos focarmos nele e onde possamos tratar de assuntos sigilosos – anunciou Derek, com seriedade, vendo o homem abrir os braços.
- podem usar a minha sala se quiserem – sugeriu vendo os dois agentes se entreolharem.
- nunca tivemos problemas com oficiais antes, então por mim tudo bem – respondeu Stiles se levantando e seguindo para a janela, onde pôde ver alguns oficiais disfarçando que não estavam se focando no escritório do delegado.
- ótimo! Nós vamos ficar aqui, então – disse Derek encarando o homem menear positivamente, desviando o olhar para Stiles, antes de se erguer para sair da sala.
- qualquer coisa é só me chamarem – ditou antes de fechar a porta.
- mais um para a lista– comemorou um castanho
- que não vai com a sua cara? – perguntou Derek, irônico.
- exatamente – respondeu Stiles surpreendendo o Hale, que lhe encarou.
- o quê?
- apenas se concentre no caso, agente Hale – ditou Stiles retornando para a mesa e se sentando na mesma, de fronte a Derek, cruzando as pernas e levando uma das mãos ao brinco em sua orelha.
- ah, qual é, Tommy? Eu disse que foi uma ideia ridícula! Todo mundo falou, só você que não quis acreditar – ditou um adolescente, se jogando no sofá, com o celular ao lado do ouvido.
- cara, você mostrou o seu pau para a garota mais problemática da escola. Esperava o quê? Que ela se animasse e se ajoelhasse para lhe pagar um boquete? – indagou sorrindo divertido enquanto ouvia o amigo praguejar do outro lado da linha.
Ele estava tão focado no jogo e em conversar com o amigo que se quer ouviu a porta dos fundos se abrindo. Devido ao encosto do sofá, que alcançava até um pouco acima de sua cabeça devido ao modo como estava deitado, ele se quer pôde ver a movimentação atrás de si. Para completar, o som das bombas explodindo em seu videogame ajudava a abafar os passos atrás de si. O garoto se quer sentiu alguém o encarando ou uma mão se erguendo. Quando ele viu, já fora tarde demais. A lata de refrigerante caiu sobre sua virilha a atingindo com força o suficiente para lhe fazer gemer de dor enquanto se encolhia.
- aí está a porra do seu pedido, cuzão – ditou um rapaz louro maior do que ele, em pé, atrás do sofá, encarando o rapaz menor se contorcer de dor. Ele jogou uma sacola com a marca de alguma lanchonete no sofá onde antes o outro estava esparramado.
- MAS QUE PORRA, CHADD! PRECISAVA DISSO?! – gritou o menor encarando o maior sorrir divertido em sua direção.
- foi mal, cara. Não era para ter acertado. Eu achei que você iria segurar. Mas que bom que acertou. Assim você aprende a não contar mais para o papai quando eu sair de noite – ditou o mais alto começando a se retirar da sala.
- FILHO DA MÃE! VOCÊ VAI VER SÓ! – gritou o mais novo encarando o irmão mais velho subir as escadas.
- ah, qual é? Não é como se você usasse ele, de todo jeito – reclamou o mais velho sorrindo. Irritar o irmão era sempre algo que animava Chadd.
- filho da puta – rosnou o rapaz, alcançando o celular com uma mão, enquanto permanecia agarrando o próprio membro, tentando não choramingar de dor.
- não foi nada, foi apenas o meu irmão idiota – disse assim que ouviu o amigo perguntar o que houve.
- tudo bem, eu tenho que ir jantar, também. Nos falamos mais tarde – disse desligando e passando a ficar deitado no chão, ainda com as mãos nos países baixos.
Enquanto isso, no andar de cima, Chadd estava jogado na cama, com os fones de ouvido no máximo, ao mesmo tempo em que lia uma revista sobre carros. Ele não era o melhor da turma, mas pelo menos estava em uma faculdade. Ele e o irmão caçula tinham a vontade de exercerem a mesma profissão do pai. Pareciam sempre discutir, mas no fundo eram bons irmãos um com o outro. Ele não conseguia ouvir nada além de sua música. O irmão esquentava o jantar no micro-ondas, faminto, ao mesmo tempo em que Chadd não tinha fome já que comeu fora com os amigos.
Durante aquela madrugada, um carro parou na frente da casa, surpreendendo quem estava em seu interior por encontrar a mesma com as luzes apagadas. O casal se encarou por um momento antes de darem de ombros e descerem do veículo, conversando sobre como o baile fora uma maravilha e como todos pareciam animados para dançar e conversar naquela noite. A mulher fora a primeira a entrar em casa, ao mesmo tempo em que o marido se certificava de que o carro estava realmente fechado. O primeiro grito veio e com ele o desespero do marido. O homem correu para o interior da casa, já se preparando para acertar qualquer um, até mesmo os seus próprios filhos se os mesmos estivessem aprontando. Ele só não esperava que o acertado seria ele. Ver a imagem do filho, nos braços da mãe, enquanto a mesma chorava sem parar, repetindo negações várias vezes.
- o que aconteceu? – perguntou se aproximando e vendo a mulher cobrindo o torso do garoto com as mãos, fazendo uma certa pressão contco a barriga do filho exposta.
A imagem fora forte demais para si. Ver aquelas marcas... todas as doze aberturas sangrentas no torso do adolescente lhe apertou o peito de uma forma inimaginável. Ele não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Ao olhar ao redor ele viu que havia uma enorme trilha vermelha no carpete que ligava a cozinha ao segundo andar. A mulher começou a gritar pelo mais velho, afim de saber onde o mesmo estava e quem sabe obter alguma explicação, mas nada ocorreu. O homem sentiu o peito apertar mais e subiu as escadas com velocidade, ao mesmo tempo em que discava o número da polícia. Assim que chegou no corredor do andar de cima ele pôde ver a mesma trilha que ligava a cozinha ao banheiro do corredor, ligar o banheiro e o quarto do mais velho.
- não – murmurou sentindo o peito apertar mais.
Ele abriu a porta lentamente, encontrando o quarto escuro. Ao acender a luz, a imagem lhe acalmou um pouco. O mais velho estava deitado, com os fones de ouvido. Ele suspirou, ao mesmo tempo em deixava as lágrimas rolarem por seu rosto. Pelo menos o mais velho estava bem. Mas ele se enfureceu. Onde diabos Chadd estava quando o irmão havia precisado dele? Não é possível que ele não tenha ouvido o irmão gritar por ajuda.
- Chadd! – chamou, choroso, enquanto a polícia atendia.
- Eu preciso de ajuda! Esfaquearam o meu filho – disse o homem ouvindo a mulher pedir o endereço. Ele respondeu, antes de ouvir que a ajuda estava a caminho.
- Chadd, levanta! – disse mais alto, se aproximando e batendo na perna do filho, mas não obteve reação alguma.
- Chadd! – o homem chamou mais alto, batendo algumas vezes na barriga do filho.
Foi quando ele sentiu. Havia uma deformidade ali. Ele apertou o local, suavemente, sentindo o dedo afundar na camisa do filho e logo uma mancha vermelha se formar no local. O homem passou a negar, repetidamente, ao mesmo tempo em que rezava à Deus para ser uma mentira. Quando ele levantou a camisa do filho, lentamente, as lágrimas rolaram mais forte por seu rosto. Doze. Doze buracos no torso do seu filho mais velho, buracos retos, como os de uma faca na carne. O homem se ergueu, chorando mais, com uma das mãos na boca. Acima da cabeça do filho, o relógio na parede marcava exatamente meia noite.

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Death Wonderland - Livro 1
FanfictionA segurança nacional está em crise. O FBI já não está mais dando conta de tantos casos. O sistema carcerário está em crise, a criminalidade apenas cresce no país, e apenas mais casos aparecem, enquanto que o número de casos resolvidos diminui. Deses...