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Anna

Assim que eu ouço a voz do Filipe eu sinto um arrepio dos pés até a cabeça.

Esse homem canta demais.

Ret: Representando o novo, onde será eu sou
Com o que tiver eu vou compor, meu valor é o suor
Ter a melhor chuteira não te faz o melhor jogador
Desiludido, às vezes pirado

Mas, quem tá perdido é mais procurado
Dei o papo, tô ligado
Enfim, ninguém inveja o ruim
Ninguém odeia o fraco...

Eu não sabia a música e pelo visto todos que estavam aqui tbm não sabia.

Mas parecia que todos estavam gostando.. O sorriso estampado na cara de todos, os gritos em um verso foda, as palmas.. Só comprovava o que eu já imaginava.

Ele tem um dom do caralho.

Ret: Na subida da favela é diferente
Quem é essência não tem concorrente
Mente revel, revela, fui expulso do céu
Deus, perdoe esse poeta inconsequente

Vivo esse momento lindo, aqui e agora, cantando e sorrindo
Baixo astral, eu dispenso
Eles perdem falando o que pensam, eu ganho dizendo o que eu sinto

Rima, rima, eu me deleito em cada viagem
Amante da adrenalina, eu quero é velocidade
Na verdade, eu tô ligeiro
Dinheiro não compra sagacidade
Mas sagacidade faz dinheiro

Grito pra caralho junto com todo mundo. A letra dessa música é um tapa na cara da sociedade.

- porra o homem tem talento. - ouço a voz de alguém e me viro procurando.

- tem mesmo caralho olha isso. - dou um sorriso. - vou até gravar.

O mundo não sabe o talento que estão perdendo. Mas depois disso aqui eu faço questão de mostrar pra todo mundo.

Ret: Desassossego da alma, na crise que eu encontro a calma..

Volto a minha atenção pra ele.

Ret: No seu olhar me enxerguei em outra dimensão
Conexões, lições, de uma longa estrada...

Seu olhar estava em mim quando ele canta essa parte que eu não sei o pq eu senti meu coração acelerar.

Ignoro isso e sorrio pro mesmo que sorri de volta desviando seu olhar meu me fazendo respirar fundo.

Ret: Acima das nuvens, o céu tá sempre aberto
Sempre aberto, acima das nuvens
Porquê, cria é cria
Eu sou do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Isso que é vida.

A voz dele entra pelo meus ouvidos como se fosse a coisa mais gostosa de se ouvir. E eu tô começando a achar que é.

Só quem já ouviu a voz desse homem sabe o que eu estou falando.

O barulho das palmas ecoa o local me fazendo voltar a realidade e bater palmas junto.

- vou perguntar de onde é essa música. - um homem passa por mim indo em direção ao Filipe que estava descendo as escadas do palco.

Sorrio vendo de longe algumas pessoas indo falar com ele e o mesmo meio acuado mas respondendo geral com um sorriso lindo no rosto.

Ret: puta que pariu. - dou risada vendo ele chegar perto de mim. - a ficha não caiu ainda não tá maluco.

Anna: como tu tá?

Ret: porra, parece que eu voltei pra aquele mundo paralelo que eu vivi lá. - dou risada vendo ele tentar se explicar. - mesma energia cara! Só que agora eu sinto que é de verdade. - sorrio.

Anna: quer que eu te belisque? - ele rir negando.

Ret: já fiz isso quando desci do palco. - ele fala rindo me fazendo rir junto. - faço isso sempre.

Anna: se tu não acordou é pq é real.

Ret: tem que ser! Tá doido tenho psicológico pra ser tudo mentira de novo não.

Jogo meus cabelos pra trás rindo e olho pra ele que me olhava calado.

Ele desvia seu olhar do meu encarando o chão calado.

Anna: vc me disse que a gente se conheceu quando eu subi a Rocinha né?

Quebro o silêncio e ele me olha concordando.

Ret: de se ver pela primeira vez sim.

Anna: me leva lá um dia. - dou de ombros e ele me olha surpreso. -te trouxe pra cá e tu me leva pra lá e ae?

...

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