O erro das almas vazias,
está em acreditar que em seus buracos ocos,
elas possam se completar...Lilith.
Max não estava mais no meu quarto quando acordei.
Esperei alguns longos minutos, ainda deitada na minha cama, me envolvendo sob as cobertas, caso ele aparecesse em meu quarto...mas nada aconteceu.
Ele não veio.Com certa dificuldade para me mexer, mas com o corpo bem mais relaxado comparado a como estava ontem à noite, saio da cama e vou até o banheiro.
Faço minha higiene matinal, tomando cuidado para não me mover e nem me esforçar demais, já que minhas costelas doem muito e respirar ainda parece uma espécie de tortura envolvendo agulhas e navalhas.
Uma coisa horrível.-- Minha nossa! -- Exclamo ao ver meu reflexo no espelho.
Eu estou horrível!
Levo meus dedos trêmulos até a mancha roxa que toma toda a minha bochecha direita, causando um leve inchaço no meu olho. Noto também o pequeno corte no canto do meu lábio inferior, provavelmente causado pela força dos tapas.
Passo maquiagem para tentar encobrir meus machucados, e poder ir para escola, sem parecer que acabei de sair de uma luta de MMA.Volto para o quarto e sinto meu coração bater mais forte assim com que ponho os pés no piso de madeira, com a ansiedade de encontrá-lo ali parado, me esperando.
Mas assim que paro perto da minha cama, minha ansiedade e as coisas estranhas desaparecem, só restando a frustração.
Não há ninguém aqui, só aqueles malditos golfinhos coloridos.
Sou patética.Saio do meu closet meia hora depois, vestindo o uniforme da minha escola e meus tênis, após ter escondido o vidro falso que dá a visão para um dos quartos do motel. Não quero que Max entre ali e veja. Ele saberia que o espiei naquela noite, e não quero lhe dar essa carta sobre mim.
Meu pai está na cozinha, preparando um café e sorri para mim, assim que me vê.
Finjo não notar o cansaço e a tristeza estampada em cada parte de seu corpo. Discretamente, observo o modo que seu suéter está amarrotado, a gravata amarela fora do lugar em seu colarinhos, e os olhos verdes sem qualquer luz.-- Bom dia, querida! -- Papai tentou sorrir para mim, me estendendo uma xícara de café. -- Fiz para você.
-- Bom dia. -- Retribuo o cumprimento, bebendo um gole do café.
-- Como está se sentindo? -- Indaga, girando os dedos na porcelana de sua xícara.
Ele está nervoso.-- Parece que um caminhão passou por cima de mim. -- Dou de ombros. -- Mas estou bem.
Meu pai me analisa por alguns segundos com tristeza, mas então arregala os olhos verdes.
-- Ah, é claro. -- Exclama, como se lembrasse de algo.
Confusa, vejo meu pai mexendo em todos os armários da cozinha até encontrar uma caixinha transparente. Ele tira de lá dois comprimidos azuis e me oferece.
-- É para dor. Comprei para você ontem, mas acabei ficando preso em uma reunião e me esqueci. -- Se justifica, me lançando um olhar culpado.
-- Obrigada, papai.
Pego os comprimidos e os engulo a seco. Isso deve me ajudar a suportar o dia de hoje.
Tem que ajudar.
Ainda não sei como estou com tudo o que aconteceu naquele ginásio. Algo dentro de mim me diz que ainda há algo errado ao meu redor. Como se existisse uma nuvem negra, carregada de segredos e tragédias, prestes a explodir.
As palavras do senhor Stuart retornam a minha cabeça, pela primeira vez desde que tudo aconteceu.
Ele acreditava firmemente que eu havia contado seu segredo para alguém, porque pelo visto, todos estavam cochichando sobre isso. O senhor Stuart era o assunto das rodas naquele dia.
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Segredos Profanos [CONCLUÍDO]
Romance1° livro da trilogia Profanação. Lilith River é uma garota tímida e retraída. Sem amigos, ela sempre sentiu que era sozinha no mundo, não era merecedora da confiança de ninguém. Mesmo que não tivesse culpa em saber de todos os segredos da cidade, er...