Capítulo 38

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(esse é o segundo capítulo postado hj. cuidado para não pular o 37)

Lilith River.

A melodia calma e pulsante da música saía da pequena caixinha de som do rádio do meu pai e embalava o meu quarto. Eu sabia que papai amava essa música, por isso nós dois sorrimos quando ela começou a tocar.

Levantei um pouco o meu rosto do travesseiro e encontrei o seu olhar tranquilo, enquanto ele afagava meus cabelos e me observava. Haviam rugas ao redor de seus olhos quando ele sorria e os sinais da idade começavam a surgir em seu rosto.
Papai tinha apenas 42 anos, mas parecia ter vivido pelo menos um milênio. A sabedoria e o cansaço escorriam por seus poros. Ele era o homem que eu mais amava no mundo.

-- Me conte sobre ela. -- Pedi, com a voz baixinha.

Mesmo na penumbra do quarto, percebi quando seus olhos verdes adotaram um tom tão escuro como se fossem negros como a noite.
Papai sorriu de canto e afastou a mão de meus fios loiros. Eu segurei sua mão, impedindo que se afastasse de mim e entrelacei nossos dedos, do mesmo jeito que fazia quando era criança e tinha pesadelos.

Eu me arrastava até seu quarto com um lençol envolvendo o meu corpo. Papai sempre estava sentado em sua cama, suas costas apoiadas contra sua cabeceira. Assim que seus olhos me encontravam, ele sorria para mim e afastava suas conbertas, indicando que eu poderia me deitar lá.

"Outro pesadelo, princesinha?"

"Eu não gosto do escuro, papai."

Ele acariciava o meu rosto e me abraçava, deixando que eu deitasse sobre seu peito. Eu me sentia segura.

"Por que você sempre está acordado, papai?"

Meu pai suspirou e por estar perto, percebi que as batidas de seu coração se aceleraram.

"Sua mãe também não gostava do escuro, Lilith." -- Ele beijou meus cabelos e sua voz se tornou um sussurro. -- "Eu ainda acho que preciso protegê-la do escuro, enquanto ela dorme."

"Mas a mamãe foi embora."

"Sim, eu sei. Mas há pessoas que são inesquecíveis."

Minha mãe não tinha ido embora. Para ir, é preciso ser livre. E Lunna nunca foi livre. Ela era uma garota Apodyopsis.
Meu pai se recostou em minha cabeceira e passou a acariciar a minha mão.

-- Você se parece com ela. -- Sussurrou, abaixando o olhar para nossas mãos unidas. -- Vocês duas tem a mesma necessidade em amar quem não merece seu amor.

Eu franzi o cenho.

-- Às vezes, é inevitável negá-los amor. -- Me defendi. -- Eles apenas surgem em nossa vida, reivindicando algo que guardávamos a sete chaves.

-- O amor de vocês é tentador, Lilith. É impossível escapar. -- Disse baixinho.

Meu pai suspirou, mas era como se o som baixo de sua expiração estivesse carregado de nostalgia e mágoa.

-- Foi isso o que fez com ela, não é? -- Indaguei, depois que meu pai permaneceu em silêncio. -- Você a fez se apaixonar para depois ir embora.

-- Eu não podia ficar. -- Balançou a cabeça em negativa. -- Ela não era minha.

-- É claro que podia ter ficado, papai. Assim como Max poderia ter sido bom comigo. -- Eu desviei meu olhar depois que toquei naquele nome. Eu não me permitia pensar em Max desde que o vi sendo preso há dois dias atrás. Era o melhor.
Tinha que ser o melhor.
-- Vocês, homens, sempre tem escolhas. Apenas preferem o mais fácil.

Segredos Profanos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora