Capítulo 40

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Lilith.

-- Pai! -- Grito, cobrindo minhas orelhas com a coberta. -- O telefone está tocando!

Espero alguns segundos, desejando que aquele barulho irritante cesse, mas não escuto os passos do meu pai.
Merda!
Ele já deve ter saído para o expediente.

O telefone continua tocando, o barulho estridente ecoando por toda a casa. Chuto as cobertas para longe do meu corpo e me arrasto até a cozinha. Respiro fundo, fulminando o telefone e o tiro do ganche, levando até minha orelha.

-- Alô? -- Digo, esperando que o idiota que me tirou da cama tenha um bom motivo.

-- Esta é uma chamada feita de dentro do Presídio de Saint Martin, permaneça na linha se deseja aceitar. -- Franzi o cenho, não entendendo.

Um bipe soou, então, tudo ficou tão claro quanto o azul daquelas íris.

-- Oi, princesa.

Engasgo, ao ouvir o som daquela voz. Fechei os olhos e afastei o telefone, pronta para colocá-lo de volta no gancho e nunca mais ouvir aquele maldito tom rouco e baixo novamente.
Eu queria tanto desligar.
Queria esquecê-lo.
Precisava esquecê-lo.
Eu tentava pensar e me controlar, mas no fim, acabei respirando fundo e mantive o telefone em minha orelha. Não ia dizer nada. Não daria essa vitória a ele.

Max tinha me machucado muito e eu não iria perdoá-lo. Ele não valia a pena.

-- Você não desligou. -- Havia surpresa em seu tom. Max esperou por algum tempo, mas eu me mantive calada. -- Bem, acho que eu deveria ficar feliz por você ser tão curiosa.

Meu coração batia rápido e uma fina camada de suor escorria por minhas costas. Eu queria fugir. Fechei meus olhos, mas era como se aquele silêncio estivesse tomando forma e envolvendo minha garganta como uma corda, estava difícil de respirar e pensar. Queria esquecer, como fiz nas últimas vez que me machucaram.
Porém, eu sabia desde o começo que o com Max seria diferente.

A ferida que ele causou em meu coração nunca seria curada, porque ele deveria ter sido minha cura para outras feridas.
Ele deveria ter sido diferente.

A corda estava ficando cada vez mais apertada e eu podia ouvir a risadinha, encharcada de êxtase do demônio do medo que me habitava. Eu estava sendo fraca mais uma vez...

-- Respire, Lilith...

-- Não me diga o que fazer! -- Gritei, abrindo meus olhos. -- Nunca mais me diga o que fazer!

Assim que aquelas palavras saíram dos meus lábios, senti a corda sumindo.

-- Você é um espírito prisioneiro, Lilith.

-- Cale a boca. -- Mandei.

-- Está presa em sua própria mente. -- Max estava com raiva, mas não parecia ser de mim. -- Não estou lhe dando ordens! Estou mandando que essas porras que te prendem, vão embora!

Lágrimas deslizavam pelo meu rosto.
Dor, medo, decepção, amor...
Max me fazia sentir tudo.
Porém, eu não queria sentir nada disso.

-- Estou feliz que esteja preso. -- Confessei, querendo fazê-lo sentir toda essa confusão que me engolia. -- É bom ver que, mesmo que esteja tudo uma merda, a lei ainda pode funcionar.

Max bufou e aquele som fez cada célula do meu corpo se arrepiar. Eu podia imaginar o sorriso sarcástico que devia estar surgindo em seus lábios, nesse momento.

-- Eu não vou ficar muito tempo aqui, princesa. Deveria ficar esperta.

-- Vou trancar minhas janelas antes de dormir, não se preocupe. -- Debochei.

Segredos Profanos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora