Capítulo 39

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Desculpa mesmo.
Tudo atrasou.
Desculpa :(

Emily Osíris.

-- Precisa que eu faça algo? -- Indago, observando enquanto Lilith limpa a máquina de gelo.

Ela endireita os óculos de grau no rosto e me encara. Seus dedos brancos pela força, estão firmemente envoltos ao redor do cabo de uma espátula de ferro, que Lilith estava usando para raspar o gelo que acumulou no interior. Lilith parecia irritada, mas eu não sei se estou bem o suficiente para afastar aquela espátula de sua mão antes que vire uma arma mortal.

-- Não. -- Comprime os lábios, com irritação. -- Posso fazer isso sozinha.

-- Tudo bem. -- Sussurrei.

Isso estava estranho...

Lilith e eu estamos tentando não falar do que está acontecendo no tribunal na cidade, nesse exato momento. Eu sabia que não havia esperanças para Max e Thomas. Eles já entraram naquele lugar condenados.

Sem perceber, meu olhar vaga até o estacionamento do Motel, um pouco mais a frente de onde estávamos. Meu coração se apertou ao olhar o ponto exato, onde Thomas e Max condenaram seus futuros. Eu não sabia exatamente o que tinha acontecido com Tom depois que o levaram em uma ambulância para a emergência do hospital mais próximo. Havia muito sangue, na última vez que o vi. Mas ele estava vivo. Era o suficiente.
Esfreguei meus braços, sentindo um frio paralisante, que não tinha nada a ver com a temperatura do ambiente, correr por minhas veias. Eu ainda conseguia ver as chamas que queimaram em seus olhos, quando Thomas me encarou, por trás daquela máscara. Seus braços fortes se flexionaram quando seu taco desceu, atingindo o rosto do garoto que eu tinha me envolvido sem o seu conhecimento.

Thomas parecia um deus da guerra.
E aquilo me assustou.
Ainda sentia o gelo escorrer pela minha espinha ao lembrar de sua raiva.

-- Emily.

Balancei minha cabeça, afastando esses pensamentos da minha mente e me voltei novamente para Lilith.
Seus olhos verdes me fuzilaram e eu respirei fundo.

-- Não se culpe tanto, Emily. Eles não estão mais aqui. -- Ela disse, e logo continuou raspando o gelo, como se precisasse focar sua atenção em outra coisa. -- Vai ficar tudo bem agora.

Eu encarei fixamente o gelo que Lilith raspava. Ela estava colocando toda sua raiva naquela espátula, por vezes, tirando a pintura interna da máquina. Lilith é teimosa, nós duas somos. Mas vê-la ignorar seus pensamentos e dores, ao despejar sua ira em um objeto inanimado, percebi que estava cansada de fugas.

-- Eu vou pegar algo para comer. Você quer?

Lilith apenas balançou a cabeça em negativa, sem tirar seu foco da arma mortal em suas mãos.
Eu me afastei pelo corredor, ainda abraçando o meu corpo pelo frio que não me abandonava. Virei em alguns corredores e encontrei a máquina de comida mais próxima.

Eu não tinha vindo muitas vezes no Motel River, meu pai nunca deixou que eu me aproximasse, mas era para isso que eu tinha Thomas. Ele já era o meu segredo, não havia mal em deixar que me trouxesse aqui nas noites que a chuva era forte demais para que me levasse para casa.

Fechei os olhos e inspirei fundo, sentindo o cheiro da terra molhada, antecedendo a chuva que viria.

-- Coloque isto. -- Thomas me entregou seu casaco.

Estava frio em Crowford nos últimos dias, e sempre que podia, Thomas vinha se deitar comigo em minha cama para se aquecer.
Eu só fui uma vez ao seu quarto na casa do meu tio, mas me lembrava do colchonete velho e pequeno no canto mais mofado e frio da parede. Nossa primeira vez tinha sido sobre aquele colchonete duro.
Eu havia jurado a mim mesma, que nunca mais deixaria que ele dormisse naquele lugar. Era por isso que víamos ao Motel nos dias mais frio, pois era quando as festas de invernos dos meus pais começavam em nossa casa e ninguém se importava com a ausência de nós dois.

Segredos Profanos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora