Capítulo 35

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Ponto de vista do Thomas, antes da treta lá.

Thomas.

Oito horas antes...

Eu me sentia um idiota.
Porra!
Idiota ainda era pouco, eu me sentia ridículo.

Emily e eu, tecnicamente, não estávamos mais juntos, mas isso não impedia que eu entrasse em seu quarto quando sentisse vontade. Era onde eu estava agora e ela...estava adormecida em sua cama, abraçada à almofada. Eu queria tocá-la, envolver meus braços ao redor de seu corpo e me aconchegar em seu abraço.
Gostava do modo como Emily parecia se encaixar em mim, me fazia acreditar no mantra que ela sempre entoava quando eu me sentia culpado sobre nossa relação.
Nós somos um do outro.

Ela era minha.
Minha responsabilidade.

Eu sabia que tinha falhado com Emily diversas vezes. Inclusive, quando a engravidei em sua primeira vez. Aquele era um erro que eu sempre me arrependeria.

Meu olhar é atraído para o seu banheiro, o mesmo lugar onde a encontrei depois de sua mãe a isolar por 5 dias, dizendo que a filha estava muito doente. São poucas as coisas que me lembro daquela noite, quando tinha dezesseis anos. Mas o sangue nunca sairá da minha memória. A camisola branca que há poucas semanas eu tinha arrancado de seu corpo para me enterrar entre suas pernas, estava tingida de vermelho. Me recordo que estaquei com os pés fincados no piso e a observei chorar e colocar as mãos sobre a barriga.
Emily tinha me contado que estava grávida e naquela mesma noite, eu planejava fugir com a filha de Edgar Osíris. Iríamos para algum lugar que ninguém nunca poderia nos encontrar. Emily teria sido minha, se aquele sangue não tivesse partido o meu coração.

Eu a peguei nos braços, sentindo seu corpo trêmulo desabar sobre o meu.
Não houve fugas naquela noite.
Apenas um garoto de dezesseis anos desesperado, correndo para o Motel River. Emily estava apagada no banco do passageiro.
Ela nunca soube que permiti que Luke Verlac a tocasse.

– Sabe quem era o pai?

Eu neguei, mantendo os olhos fixos nas mãos enluvadas do senhor Verlac. Seus dedos estavam tocando entre as pernas da minha garota e eu teria o matado, se o desgraçado não tivesse me assegurado que só estava parando o sangramento superficial.
Luke Verlac fazia serviços para nós, um deles era consertar alguns dos nossos homens feridos. Olhando-o agora, vendo as tatuagens que cobriam seus braços e a raiva que seu corpo exalava, ninguém acreditaria que o criminoso mais procurado do país, um dia já foi um estudante de medicina.

Ele tinha um futuro.
Nunca soube o porque de ter jogado tudo fora.
Eu teria dado tudo para ter um futuro.

– Bem...nenhum homem será morto por engravidar essa menina... – Ele retirou as luvas, se afastando do corpo de Emily. – ...não existe mais um bebê. Ninguém ficará sabendo.

Minhas mãos tremeram ao tocar as pernas nuas de Emily, que pareciam tão frias e sem vida. Eu não sei como consegui sufocar a dor que crescia em meu peito, enquanto cobria o corpo da minha garota com um dos lençóis do Motel.
Não existia mais um bebê.
Não existia mais o nosso bebê.
O nosso futuro.

– Thomas... – Ouvi sua voz fraquinha quando estacionei o carro na frente do parque de diversões da cidade.

Passei a mão pelo rosto, secando as lágrimas que deixei cair, enquanto pensava no futuro feliz que tinha acabado de ser arrancado das minhas mãos. Olhei para trás e vi os olhos que eu amava, brilhando com lágrimas similares às minhas. Lágrimas de dor e perda.

– Venha cá, Em.

Ela soluçou, passando a chorar sem parar. A peguei nos braços e a trouxe para o meu colo, abraçando seu corpo frágil enquanto a garota mais forte que eu conhecia tremia e se perdia em seu pranto.

Segredos Profanos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora