Capítulo 10

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Lilith.

O dia estava diferente.

Eu não posso dizer precisamente o que tinha mudado em relação aos outros dias.
Podia muito bem ser o clima confuso, já que há duas semanas entramos no inverno e desde então, a pequena cidade de Crowford não viu mais o brilho do sol ou ouviu o som pacífico dos pássaros cantando, ao amanhecer.

Apenas a chuva pesada cobria o horizonte de Crowford, trazendo uma aura quase melancólica para a cidade dos pecados.
Nuvens carregadas e a fina neblina envolviam o céu, compondo o péssimo clima.

Tudo prometia chuva, e era por isso que eu usava três casacos e carregava meu guarda-chuvas de patinhos na mochila. Deveria ser apenas mais um dia de inverso, mas eu sabia que não era.

Ainda não sabia o motivo do que tanto me afligia.
Um nó se fechava em minha garganta ao andar pelos corredores lotados da escola, passando por todos aqueles alunos uniformizados, que diferentes de mim, possuíam uma vida quase normal. Eu tinha passado para pegar as coisas no meu armário mais cedo, depois de conversar com Emily sobre o dever de casa. Eu a ouvia falar sobre sua redação, mas não conseguia realmente ouvir, pois ainda havia aquela sensação estranha, me mandando ir para casa.
Eu sentia que todos cochichavam algo entre si, quando passavam por mim. Alguma espécie de segredo que eu não havia recebido o convite para participar.
Apenas deveria assistir às suas conversas, tentando ler em seus lábios o que diziam.

Rezaria de noite para que alguém tivesse pena o suficiente de mim e me convidasse para a roda de mistérios.

Não sei o que estou dizendo.
Eu não costumo rezar.
Seria irônico fazer tal ato em um motel, não acham?

Então, eu apenas passei o meu dia tentando ignorar a sensação angustiante que pesava em meu peito.

-- Senhorita River, tem um momento? -- A voz do meu professor de educação física chega até mim, antes que eu consiga sair do ginásio.

Encaro o homem musculoso e tatuado, que tem a estranha mania de dar em cima das alunas menores de idade.
Eu realmente não sei porque o senhor Stuart se presta a esse papel, sendo que suas companhias para as noites no Motel sempre foram os rapazes.
Mesmo que ninguém saiba dessa sua segunda vida, ainda é estranho.

-- Claro. -- Respondo.

Ele faz um gesto com o dedo, para que eu me aproxime de onde está sentado nas arquibancadas.
O ginásio está vazio, todos os alunos já foram para os vestiários trocar de roupa, mas eu continuo aqui.
Estou usando nada além de uma regata colada ao meu corpo, e um shorts que mal cobre minhas coxas.
Não estar devidamente vestida em sua presença me deixa desconfortável.
O que ele quer comigo?

Dou alguns passos até estar a sua frente, estranhando o sorriso estranho que gruda em sua cara.

-- Sim, professor? -- Instigo, querendo sair logo dali.

Algo em meu corpo diz que há algo errado.

-- Estão circulando boatos sobre mim, querida. -- Ele diz isso sorrindo, mas não parece de forma alguma feliz.

Na verdade, pelos seus punhos cerrados ao redor de seu corpo e a veia latejante em seu pescoço, diria que ele está muito irritado.

-- Me desculpe?

Minha cara deve estar passando muito bem o tamanho da minha confusão, já que o senhor Stuart começou a rir de um jeito cruel e bizarro.
Meu estômago gela com aquele som e a expressão assustadora em seu rosto, e de repente, não quero mais ficar sozinha nesse lugar com o professor Stuart.

Segredos Profanos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora