Lilith.
As lágrimas corriam pelo meu rosto.
Não sabia há quanto tempo estava sozinha no escuro daquela floresta, esperando dentro do carro de Thomas. Já se parecia ter passado uma eternidade desde que vi meu irmão entrando pelos túneis do Motel. Muitas vezes, pensei em voltar. Voltar para casa e me esconder sob as cobertas. Eu queria que tudo ficasse bem. Queria que meu pai estivesse ao meu lado, me confortando e dizendo que deixaríamos o Motel para sempre.
Aquilo estava me matando.
Me deitei no banco de couro, meu coração doía a cada vez que eu respirava. Flashs desses últimos meses irrompiam em minha memória, apenas aumentando o meu pranto. Eu podia ver o sorriso de Max em minhas memórias e vez ou outra, olhava na direção das janelas, esperando vê-lo me observando.
Tive certeza que já tinham se passado horas, quando senti todo o meu corpo doer com a posição desconfortável que eu tinha adormecido. Encarei a janela, ouvindo o barulho que havia me acordado soar novamente. Levei algum tempo para vencer a letargia que dominava minha mente e limpar as lágrimas secas que mantinham meus olhos ainda um pouco fechados. Me sentei no banco de couro e olhei para o lado de fora da janela.
-- Minha nossa! -- Exclamei, recuando até estar com a costas apoiadas na porta atrás de mim.
A sombra se moveu e eu me encolhi quando a porta foi aberta de repente. Meu coração batia como asas de borboletas levantando voo e o tão familiar pânico começava a se apossar de mim. Por um segundo, ao ver o casaco preto, eu pensei que poderia ser Max tentando me assustar. Mas quando a sombra adentrou a cabine escura e o cheiro forte de álcool preencheu o espaço pequeno, eu soube que não era Max Osíris.
Max fedia a cigarros e maconha.
Nunca a álcool.-- Eu não estou tão feio assim. -- Murmurou e eu congelei ao ouvir aquela voz. Soava límpida e clara... -- Não precisa se assustar, Lili.
Lili...
Lili...Suas mãos afastaram o capuz de seu rosto e mesmo pela pouca iluminação da lua que banhava a noite, eu pude ver o garoto gago por trás dos horríveis hematomas que cobriam sua face. Tom tentou sorrir, mas seus lábios estavam ainda inchados demais para que se parecesse algo além de uma careta assustadora.
-- O que faz aqui? -- Indaguei, abraçando meu corpo e me mantendo afasta do garoto.
Eu estava na defensiva.
Não sabia exatamente porque, mas sentia que precisava erguer uma barreira entre mim e o garoto ferido. Tom não estava fazendo nada de errado, mas havia algo... era como um se um silêncio tivesse tomado tudo ao meu redor quando ele apareceu.-- Eu voltei para trabalhar. -- Apoiou a nuca no encosto do banco e senti a pele exposta da minha coxa queimar com o seu olhar. Seus cabelos cacheados caíam por sobre sua testa morena, criando uma penumbra em suas íris. Mas era como se algo esfriasse a minha pele, ao ponto de congelar. Sentia que ele estava me observando, da mesma maneira que homens maus já tinham feito. Ajeitei o tecido da minha saia e continuei encolhida, o analisando. -- Hoje é sexta-feira e sei como esse lugar fica movimentado com as merdas desses Osíris.
Ele tentou sorrir novamente e eu não conseguia afastar minha atenção de seus lábios. Tom estava falando normalmente, sem a gagueira que sempre o acompanhou. O corpo magro e esguio do garoto se aproximou do meu quando ele se moveu no banco, fazendo o couro ranger. O cheiro forte e pungente de álcool fez minhas narinas queimarem e eu fiz uma careta, repelindo o péssimo odor.
-- Você não precisava ter voltado tão cedo. -- As palavras saíram da minha boca. -- Precisa se recuperar de tudo o que aconteceu. Conseguímos nos manter sem você.
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Segredos Profanos [CONCLUÍDO]
Romance1° livro da trilogia Profanação. Lilith River é uma garota tímida e retraída. Sem amigos, ela sempre sentiu que era sozinha no mundo, não era merecedora da confiança de ninguém. Mesmo que não tivesse culpa em saber de todos os segredos da cidade, er...