Capítulo 3

4.7K 323 38
                                    

"Saio para caminhar um pouco. Dou duas voltas no quarteirão, encontro duzentas pessoas e não vejo nenhuma criatura humana."

Charles Bukowski

Votem e comentem :)

Lilith River

-- Oi, papai! -- Chamo sua atenção, sorrindo ao chegar ao Motel e encontrar meu pai na recepção.

Meu pai se vira, seus olhos verdes tristes se acendendo ao me ver parada na frente do balcão da recepção. Suspiro, sentindo meu coração se apertar ao vê-lo desse jeito.

Odeio essa nuvem de dor que o ronda desde que minha mãe foi embora, nos abandonando, assim que eu nasci. Segundo os burburinhos da cidade, o homem risonho e sedutor nunca mais foi o mesmo.

Ele vivia por mim.
Eu me perguntava se valia tanto a pena assim.

Michael River se afundou no trabalho e fez de mim e o Motel, sua vida.
Dúvido que ele saiba viver sem qualquer um dos dois.

-- Oi, docinho. -- Sua voz soa baixa e ele vem até mim.
-- Como foi na escola? -- Me abraça apertado, plantando um beijo em minha testa.

-- Terminei minha casa de passarinho hoje.

Meu sorriso ficou ainda mais largo e verdadeiro ao lembrar da aula de carpintaria. Eu não ligava para os calos em minhas mãos, estava feliz por ter feito algo bonito.

-- É mesmo? Poxa, você é rápida! -- Sorri, se afastando e ajeitando seu suéter marrom.

-- Rápida? - Bufei. -- Demorei duas longas semanas.

E Max não levou nem dois dias...
Era um dos motivos pelo qual eu o odiava. Detestava o seu sorriso arrogante, enquanto seus olhos azuis me assistiam engolir o choro pelas farpas que entravam em minha pele.

-- Você é excelente, querida. Duas semanas devem ter sido necessárias. -- Faço uma careta com a sua condescência.

Ele não está prestando atenção, mas eu não o culpo. Papai tem que lidar com coisas importantes e escutar sobre o meu dia nunca foi muito uma prioridade.

Fico em alerta quando vejo papai segurar a bancada como apoio, e esfregar os olhos com as mãos. Seus ombros caem como se um peso gigantesco estivesse sobre eles.

-- Papai, está tudo bem? -- Pergunto, me aproximando.

-- Sim, só estou um pouco cansado. -- Sorri fraco, se recompondo. -- Cátia não pôde vir para o turno da madrugada e tive que cobrir.

-- Pai! -- Resmungo, chamando sua atenção.

-- Eu sei, eu sei. -- Abana o ar, como se não fosse nada.

-- De quem é o turno de hoje?

Suspiro, mesmo sabendo o que ele irá responder. Conheço os horários do motel como se fizesse parte de mim.

-- É meu.

-- O senhor não pode. -- Cruzo os braços na frente do corpo, adotando uma postura firme.

-- Não tem mais ninguém para me cobrir hoje, docinho. -- Passa as mãos em seus cabelos loiros. -- Hoje é sexta. Terá muita gente.

Assinto, entendendo o que quer dizer.
Sexta é um caos.
Todos os depravados decidem atacar.

-- Tudo bem. Feche essa entrada e eu fico no estacionamento. -- Sugiro.

-- Já conversamos sobre isso, Lilith. Você fica em casa às sextas. -- Seu tom é firme e eu podia ver pela irá em seus olhos que qualquer coisa que eu dissesse, não valeria de nada para abalar sua autoridade. Meu pai sabia como ser irredutível.
-- Estamos de acordo?

Segredos Profanos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora