Ai, ai, ai...

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20 de Agosto de 2015.

— É bizarro como o céu consegue passar calmaria mesmo estando nublado, né? — Melinda pendeu a cabeça para o lado, os cabelos que estavam macios e devidamente hidratados foram junto, deixando seu pescoço exposto.

— É verdade, ele continua bonito como sempre. — Jasmine concordou.

A ruiva sentada tinha as pernas abertas, pois a morena estava entre elas, a empresária havia se recostado no busto da escritora que sentia o cheiro de flor de tangerina provavelmente do perfume ou do creme hidratante de pele de Mel. Resistia ao desejo de por o seu rosto no vão daquele pescoço e inalar mais profundamente o aroma que tanto lhe agradava.

Dalia se deu a liberdade de abraçar a outra moça por trás, pela cintura e a empresária acariciava com as unhas curtas o braço dela.

— O que é isso? — Questionou passando o dedo em outra cicatriz de Jasmine, estava quase em um círculo perfeito em alto relevo.

— Marca de bala de borracha. — Respondeu em naturalidade.

— Quê? — Virou a cabeça encarando-a com as sobrancelhas franzidas.

— Eu estava num protesto, ai a polícia invadiu e começou a empurrar a gente, acabou que no final atiraram com bala de borracha pra todo canto e uma delas me acertou de raspão. — Comentou olhando para a marca.

— E era um protesto de quê? — Ela continuava a acariciar a área, rodeando seu dedo ali.

— Era um protesto a favor das mulheres sobre igualdade salarial e essas coisas, muitos homens odiaram nos ver  ali na rua brigando por isso. — Explicou. — Mas eu iria de novo.

— Caramba Jasmine, a cada dia que passa eu te admiro mais. — Sorriu ao receber um beijo no topo da cabeça.

— Doeu pra cacete. — Riu lembrando do momento que não tinha sido nada engraçado. Lembrava da queimação no braço e do sangue escorrendo por ele, da gritaria e da fumaça, foi desesperador e uma grande vitória ter conseguido sair dali.

— Eu imagino, viu. — Respondeu. — Você tem muitas histórias... — A morena também queria histórias tão incríveis quanto as dela.

— Nem tantas, visse. — Rendeu-se ao desejo e colocou o rosto no vão do pescoço, inalou o cheiro dela deixando ali um beijo demorado. Mel fechou os olhos sentindo o frio na barriga tomar conta.

— Me conta mais delas? — A empresária pediu curiosa.

— O quê? — Questionou perdida.

— Me conta sobre você, sem medo... Conte-me tudo. Quero saber das suas loucuras por amor que provavelmente deve ter, sobre suas noites de bebedeiras em balada, sobre suas aventuras insanas. Conte-me como é viver, Jasmine, conte-me como é ser feliz. Eu sei que é e foi muito feliz. — Tentou se expressar querendo conter a emoção no peito.

— Pensando assim eu já vivi muita coisa. — Admitiu sorridente. — Deixe-me ver... Já dormi em banco da praça e em rodoviária porque não tinha dinheiro pra passagem ou hospedagem, foi bem louco porque eu estava bêbada e sozinha. É um risco imenso.

— Corajosa... — Melinda se sentou de frente para a ruiva, queria ver seus olhos brilhantes e sua pupila dilatada. Sempre ficavam assim quando falava sobre algo que gostava.

— Já peguei carona com desconhecidos e fui pro Rio de Janeiro, de lá parei em protesto e ai fui acertada por essa bala de borracha e foi assim que mãe descobriu onde eu tava. — Gesticulava gargalhando de tudo, mas a morena só conseguia pensar no quão insana ela era. — Já me meti no meio da mata sem saber nem por onde andava, fiquei perdida, achei uns hippies pra me ajudar a sair de lá. Já viajei numa kombi junto com Ana Clara e ai a gente dormia em acostamento e andava por cidades que não sabiamos nem o nome. — A cada coisa que ela citava a empresária ficava cada vez mais surpresa.

Um Livro para Melinda - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora