Um Livro para Melinda - Lésbico. (CONCLUÍDO)

Dois rios.

15 de Outubro de 2015.

Ana Clara acendeu as luzes do petshop partindo diretamente para a ONG que ficava nos fundos. Era onde Jasmine adorava ficar e ia sempre que queria acalmar seu coração, quando estava agitada demais. De longe conseguiu ouvir os soluços altos de um choro, que foram guiando a moça até a ala dos cachorros filhotes.

Todos os dias depois que recebeu a ligação de Melinda, Ana Clara passava no mesmo lugar, pois sabia que algum dia encontraria a amiga ali.

Assim que entrou no local, Dalia ergueu a cabeça, estava encolhida no canto sentada abraçando seus joelhos, revelou um rosto inteiramente molhado por suas lágrimas, a área dos olhos, nariz e bochechas avermelhadas. A cena conseguiu partir o coração de Ana, que imediatamente se sentou ao lado da moça preocupada com que havia acontecido.

Já teria visto a ruiva chorar por outras pessoas, mas não daquele jeito.

- O que aconteceu, Jasmine? Por onde andou? - Tocou no braço da moça.

A escritora logo abraçou a melhor amiga, escondendo o seu rosto no colo dela e abafando os seus soluços fortes. A loira dediciu que era melhor esperar que Dalia iniciasse o assunto ao invés de perguntar novamente, pela forma em que chorava era algo grave e doloroso.

Passaram um tempo ali abraçadas enquanto a veterinária acariciava as costas da amiga e incentivava ela a colocar todo o seu choro para fora, a se acalmar, para depois conversarem direito.

- Meu coração tá doendo. - Disse Jasmine acalmando os soluços do seu choro.

- Você vai me explicar o que aconteceu do início. - Pediu calmamente ainda dando colo para a ruiva.

- Eu estava na casa da Melinda, como você já sabia. Estava arrumando o apartamento, porque eu queria fazer uma surpresa pra ela, eu ia cozinhar e tudo, aproveitando que ela havia ido no supermercado. Nisso a melhor amiga dela bateu na porta, a Isabel, eu não a conhecia. - Tentava lembrar a ordem dos fatos. - Ai ela entrou e começou a me fazer perguntas, uma delas foi se Melinda estava bem, se estava se cuidando e eu toda boba respondi que ela tinha enjôos e dores de cabeça com frequência, a moça estava sendo gentil e eu fui também. Eu percebi a mulher diferente já, quando falei isso, só que eu achei que ela não tinha gostado de mim, porque minutos antes eu revelei que estava namorando com a Melinda e ela fez uma cara surpresa. - Se apertou mais ao corpo da loira. - Ai do nada ela começou a se agoniar e quis ir embora, de uma hora pra outra, eu fiquei com uma sensação tão ruim no coração, mas fui continuar a preparação da surpresa. Quando eu estava arrumando o quarto da Melinda, tinha um armário com uma gaveta que sempre ficava fechada com cadeado, só que dessa vez não estava e eu fui mexer nela porque minha intuição estava gritando pra eu ir. - Ana Clara apenas concordava para que ela prosseguisse.

Jsmine sentia seu coração inteiramente despedaçado.

- Você sabe que eu não ignoro porque minha intuição sempre me deu respostas para muitas coisas. - Dalia era uma pessoa extremamente intuitiva e confiava cegamente nela. - Achei meio mundo de envelope de exames que tinham o nome da Melinda, nessa hora eu já comecei a me desesperar, não queria saber mais de nada, só pensava em abrir aquilo e ler o que tinha dentro. - Fechou os olhos sem querer vizualizar o que insistia em se repetir na mente. - Eles diziam que ela tem um tumor cerebral grande. Na hora eu desmontei, não queria acreditar de jeito nenhum. - Sua voz voltou a ficar trêmula ameaçando choro. - Minutos depois ela chegou em casa me procurando, acredito que Isabel deveria ter falo algo com ela. Acabou me pegando em flagrante, ela viu que eu descobri tudo.

Fez uma pausa lembrando da expressão de desespero da namorada quando a encontrou.

- Então ela começou a me explicar o que ela tem. Ela está morrendo Ana, está em estado terminal e eu só descobri agora. - Voltou a chorar escondendo seu rosto, nunca sentiu uma dor tão forte no peito quanto aquela.- Agora, depois de incluí-la em minha vida, depois de fazer planos futuros...