Coisas que eu sei.

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Esse capítulo contém temas delicados, aviso de conteúdo sensível.

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22 de Março de 2015.

O médico cirurgião que acompanhava o caso de Melinda, logo após a operação, disse para Isabel que o tumor da moça era grande demais e por esse motivo ele não havia retirado por inteiro, se retirasse, ela perderia massa encefálica, podendo perder também os movimentos corporais, a fala e a memória.

Bel recebeu a segunda notícia ruim na pequena salinha do hospital, chorou baixinho pensando na forma em que iria contar para a sua melhor amiga. A morena, naquela época, havia recebido alta e estava feliz que iria para casa, quase um mês após a sua cirurgia.

O mesmo médico chamou a responsável para conversar em uma sala separada novamente, convenceram Melinda de que era para assinar alguns papéis sobre a alta dela, mas na verdade o laudo da biópsia de parte da massa retirada do cérebro da morena havia saído constatando que a moça tinha um tumor maligno, que quer dizer que ele voltaria novamente ao mesmo tamanho em pouco tempo, podendo se espalhar em outros órgãos. Era sim, constatado agora, um câncer... Muito agressivo por sinal.

Existiam radioterapias e quimioterapias, mas para o caso da empresária só servia para retardar o aumento da massa novamente, dando a ela somente mais alguns meses de vida antes que ele crescesse outra vez.

De fato foi uma das piores notícias dadas a Melinda, foi difícil ver a mulher em um estado de negação profundo, negava tudo o que lhe era oferecido, se recusava a fazer tudo que precisava, apenas chorava até dormir e tinha crises de ansiedade quase todos os dias.

A recuperação da cirurgia foi boa, se tinha uma coisa que ninguém podia negar é que a mulher era forte. Aos poucos a vontade de viver estava voltando, tinha a esperança de fazer a quimioterapia e ficar bem, estava voltando a ficar feliz. Mas então todos os sintomas voltaram com mais força, a morena foi internada às pressas no hospital por causa das convulsões seguidas. Foi um momento turbulento para Isabel, que não saiu do lado dela por nenhum minuto. Acompanhou todo o processo de exames novamente, todo o pré operatório, já que era necessário uma nova cirurgia urgentemente. Outra vez o médico retirou tudo o que podia e elas voltaram a estaca zero, passando de novo pelas orações para que a empresária não tivesse nenhuma sequela. E não teve, assim como da primeira vez.

Melinda outra vez se agarrou as esperanças falsas de que iria melhorar algum dia, continuou fazendo tudo o que o médico pedia, mesmo que a rotina fosse cansativa e sugasse dela todas as suas energias e força. Mas meses depois, antes da moça finalmente começar as sessões do tratamento, tudo voltou, e entraram na mesma rotina, faz exame, clama aos céus, pede ajuda, passa por pré operatório, passa pela preocupação da empresária voltar com sequelas, a cirurgia vai bem e a recuperação também.

Já foi complicado convencer Melinda de lutar pela sua vida outra vez, de passar pela terceira cirurgia extremamente invasiva e de recuperação difícil, tudo que remetia ao hospital fazia a moça se desesperar e ter crises fortes de ansiedade, tudo era um gatilho, tudo era doído demais.

  E como não seria?

Como não seria doído demais passar pelas mesmas dores agonizantes? Passar a ter todos os sintomas novamente, passar por três mesmas cirurgias, depois pelo mesmo pós operatório cansativo e extremamente delicado. Ela não aguentava mais, ela não conseguia mais, estava esgotada em todos os níveis.

Eu quero ficar perto

De tudo que acho certo

Até o dia em que eu mudar de opinião...

— Eu não aguento mais Isabel, já chega. — Melinda falou vendo a moça chorar soluçando.

Um Livro para Melinda - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora