Paciência.

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Esse capítulo contém assuntos extremamente delicados, aviso de conteúdo sensível.

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24 de Setembro de 2013.

Melinda abriu os olhos, piscava lentamente tentando enxergar com nitidez já que tudo a sua frente não passava de um borrão. A moça se mexeu e as sensações do seu corpo pareceram voltar todas de uma vez, o chão gelado tocando sua pele com algo molhado e peguento, o zumbido forte nos ouvidos que a deixava extremamente sensível, a claridade do ambiente fora do normal que parecia estar triplicada, a dor, a dor atordoante perto da sua orelha, o gosto forte de ferro na boca junto com o cheiro deixavam-a enjoada, faziam a mulher se perguntar por tudo o que havia acontecido.

— Isabel? — Chamou de forma embolada com sua língua inchada. — Isabel! — Tentou outra vez movendo aos poucos seu corpo.

Ergueu suas mãos para cima com muita dificuldade, se assustou com a cor em que elas estavam, vermelho vivo escorria entre seus dedos. Melinda se desesperou, se perguntava repetidamente o que havia acontecido, o que ela havia feito. Demorou por algum tempo deitada, fraca, tentando processar tudo, chamava Isabel com dificuldade, mas logo deduziu que a moça não estava em casa. Se ergueu aos poucos vendo tudo girar, sentindo a dor em todo seu corpo, precisava pedir ajuda. Buscava na mente os três números da emergência enquanto tateava seu celular pelo chão, sua vista volta e meia escurecia, sentia sua cabeça pesar, precisava ser rápida pois iria desmaiar de novo. Achou o aparelho todo sujo de sangue com a tela inteiramente trincada, havia caído por cima dele, tinha vidro entre seus fios de cabelo. Com suas mãos trêmulas digitou o número escutando chamar, se deitando novamente pois não tinha força nem para se manter sentada por muito tempo.

— Serviço de Emergência, SAMU, com quem eu falo? — A atendente perguntou.

A mulher se perguntava o próprio nome, repetiu a pergunta algumas vezes ouvindo a moça questionar novamente.

— Melinda. Melinda Andrade, é o meu nome. — Disse de forma embolada, confusa. — Minha cabeça dói, eu estou sangrando, eu não sei o que aconteceu. — Sua voz era trêmula, estava desesperada. — Eu acordei na sala de estar, sinto que vou desmaiar de novo.

A moça não havia entendido totalmente o que a empresária estava falando, a língua da morena estava inchada, não conseguia se comunicar com clareza.

Melinda havia tido uma convulsão e apagou caindo ao chão, a língua foi capturada pelos seus dentes pois seu maxilar e mandíbula enrijeceram pressionando um contra o outro, por isso o membro estava inchado em reação a força da mordida que havia recebido, tinha sido uma sorte grande ela não ter decepado uma parte do músculo.

— Certo Melinda, você pode me passar o seu endereço?

— Meu endereço? — Repetiu a pergunta como forma de fazer ela entrar em sua mente, queria que a resposta viesse de maneira automática, mas nada aparecia em sua cabeça.

— Melinda? Você pode me passar seu endereço? — Pediu a atendente outra vez, tentava rastrear o número de telefone no sistema.

A morena então lembrou, dizendo a rua que morava e o número do seu apartamento, também avisou que estava sozinha em casa.

— Estou enviando uma ambulância agora, por favor, se mantenha na linha. Você consegue?

— Sim. — Respondeu de forma falhada sentindo seus olhos querendo fechar novamente, brigava com eles, mas sua vista escurecia. Naquele momento já parou de processar tudo, não sabia nem a que pergunta tinha respondido.

— Qual é a sua idade Melinda?

— Não sei.

A atendente ouviu o baque do celular indo de encontro ao chão, chamou a moça uma, duas, três vezes, e acabou concluindo que Melinda havia desmaiado novamente.

Um Livro para Melinda - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora