Talvez uma despedida.

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20 de Dezembro de 2017.

Amor da minha vida.

Eu não achei que fosse voltar aqui, não achei que fosse voltar a lhe escrever uma carta, mas é que eu preciso passar a visão que eu tenho agora, em relação a tudo.

Ontem fizeram dois anos que eu perdi você, eu já chorei muito porque ainda dói demasiadamente, então estou meio mexida.

Nesse mesmo dia eu fiz uma nova tatuagem, você se orgulharia disso, adorava quando eu era mais rebelde.

Os traços são meus, eu coloquei seu rosto em um de uma ciganapor algum motivo eu senti que lhe representei muito bem porque você se encaixou perfeitamente com ela. Ela tem os olhos brilhantes e as mãos cheias de anéis, e está usando a pintura que um dia eu fiz em seu corpo. É tão bonita que fico namorando ela pela maior parte do tempo, como fazia com você.

Isabel e Ana Clara estão prestes a casar, o pedido foi feito debaixo do pé de tangerina, incrivelmente as flores começaram a cair na hora e a gente interpretou que você estava dando a benção. Não deixamos de incluí-la nos nossos planos em nenhum momento, às vezes nos juntamos para falar de você ainda, ou para chorar sua perda quando a saudade aperta demais.

A empresa da minha mãe, ou melhor, da sua mainha, está dando certo, as coisas estão funcionando perfeitamente e a pessoa que designou para esse serviço é muito bem capacitada.

Eu nunca achei que fosse gostar desse meio, mas estou cada dia mais encantada, me sinto mais perto de você e consigo sentir o poder que você me passou e agora é meu, que eu zelo com todo carinho.

Um dia eu estava lembrando da sua declaração quando me pediu em namoro naquele chalé, e eu acabei roubando pra mim aquela idéia de adotar um papagaio. Ele se chama Bartolomeu e eu sempre uso ele como desculpa quando me pegam falando sozinha, ou melhor, com você...

Sinto sua falta, sinto muito a sua falta e dói mais a cada dia que passa.

A gente acaba fingindo que se acostuma com a perda, mas é tudo mentira porque vira lágrima sempre quando vemos algo relacionado a você e a dor volta toda à tona e a gente volta com os questionamentos de "Por que você?" e " Por que você se foi?"

É sempre assim, sempre será assim...

Eu me encontro numa confusão para dizer-lhe a verdade.

Porque de um lado minha consciência briga dizendo que eu entendo totalmente a nossa história e o fim dela. Que agora eu sou uma mulher que chega a ter um terço da sua inteligência, Melinda, e que compreende um romance e as formas dele de acabar.

Porque você me fez entender as particulares de um romance e o porquê que você era tão apaixonada por eles.

Hoje eu compreendo que se eu mudasse um traço que fosse, uma palavra... Não seria mais nós duas, não seria Melinda e Jasmine porque estávamos predestinadas a ser assim, e a gente pode até questionar o destino do porquê que a gente teve esse final, mas nunca mudá-lo, e sinceramente, eu prefiro ter essa história do que nunca te ter em minha memória.

É claro que o destino vai dar o jeito dele de dar uma explicação, mas a gente amante não aceitanunca aceitamos perder alguém que morava no fundo do coração, porque nada é explicável e mesmo que eu tivesse uma vida inteira ao seu lado, quando você fosse embora, ou eu, nós ficariamos tristes e diríamos que não tivemos tempo o suficiente para viver tudo aquilo que queríamos.

Entende que a gente nunca se contenta com nada? Queremos sempre algo para discordar.

E é por isso que faço uma reclamação, fazendo jus a minha alma amante, nós realmente tivemos muito pouco tempo e eu queria ter te achado antes. Queria ter ido te buscar onde a vida te escondeu.

Mas é ai que novamente, minha parte extremamente racional volta para o mesmo ponto que eu disse no início, o ponto da confusão. Em que o lado consciente fica brigando com o lado sonhador.

E eu vou lhe apresentar essa briga, começando pelo meu lado mais racional.

Que é, se eu não tivesse te olhado naquele bar que tocava anunciação e fazia o mundo inteiro parar dando atenção e foco somente a você, enquanto a música ecoava em minha cabeça e você andava com tanta segurança, e tinha uma espécie de encanto que parecia até que estava em slow motion... Se aquele seu anel, que agora é meu e eu guardo com tanto carinho, se ele não tivesse caído, talvez eu não tivesse falado contigo porque provavelmente iria deixar minha insegurança falar por mim e ela diria que você era muita areia para o meu caminhãozinho.

Felizmente dei mais de quinhetas viagens de ida e volta embaixo do sol para poder me deleitar com toda a coisa boa que foi te amar e lidar com você, com toda a sua areia, e faria novamente, e daria mais quinhentas viagens novamente por você, para carregar toda a sua areia.

Mas estou querendo chegar num ponto em que tudo foi pensado e previsto para que nos encontrássemos, e conversassemos, e vivêssemos, para que a gente se amasse até o final da tua vida e para que eu te amasse até o final da minha.

Ai chegamos na segunda parte, o segundo ponto de vista, que é o meu lado de romântica incurável, e que agora escreveria milhões de livros de romance caso todos eles te tivessem como personagem principal e fossemos nós o casal das histórias.

O que eu quero dizer e estou enrolando demais para isso, é que o livro tem que chegar ao fim.

E que eu não queria ser uma daquelas autoras que fazem um dos personagens principais morrer e que usam de justificativa a questão de que é a vida real, e a vida real é cruel. Mas infelizmente eu sou, eu não posso te fazer reviver magicamente porque a dor da sua partida dói todos os dias em mim, e eu não consigo não ser sincera quanto a essa dor.

A Jasmine que cria histórias imaginárias certamente deu um segundo final, um final onde por meio de um milagre você se livrava daquele tumor e que nós nos casávamos, em que eu me emocionaria te vendo entrar na igreja com um terninho típico seu, mas que foi feito por você e Isabel especialmente para o nosso casamento, ou talvez um vestido branco, você também ficaria linda em um vestido branco. Nós nos beijaríamos na frente da minha família, seus pais te aceitariam de última hora porque eles não iriam nunca querer pular essa parte tão importante da sua vida, e então a gente choraria juntas, e eu te daria um beijo na ponta do nariz na frente de todo mundo que te faria gargalhar, e a sua gargalhada contagiaria a mim, a eles e a todos os presentes naquele momento.

Mas eu não consigo traír a nossa história.

Não vou mentir, eu sonho com isso todos os dias e peço aos céus para que a gente se encontre em outras vidas, e que eu saiba que é você, Melinda, que eu saiba que você é o meu amor para que eu possa te aproveitar ao máximo de novo.

Só que a nossa história não terminou com um felizes para sempre, como nós queríamos...

Então eu vou terminar descrevendo que, eu estou sentada na mesma mesa de madeira em frente a janela observando os pingos de chuva caírem e escorrerem pelo vidro embaçado, aquela do início do livro. Nesse momento a Isabel apertou minha mão me dando força e a Ana Clara está fazendo carinho em minhas costas, nós três estamos chorando, eu mais ainda porque não quero dar tchau.

Mesmo com tamanha relutância, deixo aqui o meu adeus, que também pode ser interpretado por um até logo, até porque minha maravilhosa mente tem me dado o privilégio de sonhar com você, ou, de onde quer que você esteja, você tem dado um jeito de aparecer em meus sonhos.

Agora eu termino esse livro para você, Melinda. Com todo meu orgulho por ter conseguido realizar o seu desejo e de coração aberto tenho o prazer em dizer que agora, você esteve em um romance de livro, comigo.

Um Livro para Melinda - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora