Capítulo II: Sessão de terapia

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Lexa

- E como estamos hoje?

Perguntei sorridente com as pernas cruzadas, mostrando a minha nova meia calça estampada. Conseguindo um rápido mover de lábios do senhor Gao que mantinha seus olhos fixos aos meus, sempre concentrado, quase como se olhasse a nossa alma por dentro, mas no seu caso, era muito provavelmente a minha mente.

- Você é realmente bastante obstinada, vem me fazendo a mesma pergunta há dez semana consecutivas desde que comecei a atendê-los. Me pergunto quando vai mudar seu padrão.

Comentou e não era mentira, eu estava fazendo isso. Duas vezes na semana nos íamos até essa sala e nos sentávamos com ele, um a um em dias diferentes da semana, inclusive nos finais de semana. O que significava que o senhor Gao passava pelo menos algumas horas na academia todos os dias da semana desde que... Bem, tudo se despedaçou.

- É bom para quebrar o gelo, eu acho. O senhor que é o psiquiatra, ou psicólogo, eu ainda fico confusa. Não deveria estar me dizendo que tudo isso não passa de um mecanismo de defesa ou algo assim?

O questionei enrolando a mecha esverdeada do meu cabelo com os dedos, num movimento involuntário.

- Por quê? Você, Lexa, é esperta o suficiente para deduzir isso. Muito mais do que se dá crédito, aliás. Mas esclarecendo sua dúvida eu sou ambos. Tive tempo para me formar nas duas áreas, especialmente porque eu comecei bem cedo. Eu presumi que não teria muito tempo sobrando para estudar quando fosse exercer minhas reais funções.

- Um bruxo que preferiu fazer faculdade em vez de continuar a se especializar em bruxaria depois de sair da academia... A cada dia que passa eu penso que você, o Sebastien e o chefe dos enfermeiros deveriam ter sido irmãos. Mas quase três meses de terapia e o senhor não parece me conhecer tão bem, eu sempre me dou crédito por tudo que realizo, pode acreditar nisso.

- Se está dizendo, eu acredito, só me pergunto poque está divagando mais hoje do que nos outros dias.

- Não estou.

Respondi nervosa, sem controlar o tom da minha voz.

- Seu tempo entre as respostas está mais longo que de costume. Não tocamos em nenhum ponto pertinente que possa ter acontecido essa semana, e depois do Roman, você é a mais aberta de todos os seis.

- Bonito, inteligente e solteiro, me pergunto o porquê? Não, espera... - Completei seca, vendo sua expressão se quebrar em seguida, me arrependendo no mesmo instante. Eu era melhor do que isso. Usar meus conhecimentos pessoais contra ele era injusto - Me desculpe, não foi de propósito. E foi insensível da minha parte.

Respondi descruzando as pernas. Era inverno em Nova Salém, e mesmo que a sala fosse aquecida eu tinha feito questão de vir agasalhada, agora parecia que as várias camadas de tecido causavam atrito a minha pele, ou era só a minha cabeça falando mais alto?

- Está tudo bem, você está desviando de assunto. Tentando afastar a conversa de você para mim, usando algo que sabe que pode me atingir. Mas o porquê que me intriga, pois você estava animada na última sessão, o que mudou?

- O que não mudou honestamente? Nem nosso aniversário consegue distrair o meu irmão. Killian está se afastando cada dia mais e eu não posso culpá-lo, porque eu consigo sentir e entender exatamente o que ele está sentindo. Mas esse é o ponto, eu sinto tudo, de todo mundo, o tempo todo e não sei o que fazer. E a situação não está melhorando, e agora eu que...

Bruxos&Demônios, vol. IV - Perda&TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora