Capítulo XVII: Preocupações

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Elyon

Havia um pesadelo recorrente que a doce garota tentava ignorar. Memórias fragmentadas de momentos antes de seu corpo desaparecer e sua mente adormecer num mar de sombras e inercia. Onde ela não sentia nada além de profunda solidão e uma estranha conexão a dois indivíduos que ela nunca tinha visto.

Pessoas que cresceriam em seu coração de uma forma nova e devotariam lealdade e amor que ela ainda não conhecia. Fraternal. Mas essa noite era diferente. Seu pesadelo não era frio e escuro, era o contrário de tudo isso. Era quente, barulhento e cheio de pessoas. Com rostos que ela tinha aprendido a conhecer e outros que ela tinha visto em retratos gravados num enorme mural que retinha a imagem de todos os alunos que ali tinham passado.

Elyon tentava conhecer todos, mas se sentia afastada da maioria. E de certa forma isso era bom, pois não havia a dor da perda se não havia a alegria de conhecê-los. Naquele momento sua mente só sentia caos.

O fogo acima de sua cabeça era rubro e tenebroso. O chão tremia como se alguém estivesse tentando explodir o prédio em que estivessem. Os vitrais das paredes explodiam pelo ar. As pessoas não pareciam vê-la, mas ela conseguia sentir tudo que acontecer.

Era uma memória, tinha certeza. Só não era dela.

A fumaça começava a grudar na sua pele como fuligem e graxa, o medo se instalava como parte do seu sangue, correndo por todas as partes do seu corpo, até que ela gritou forte o suficiente para cair do ar até bater suas costas em sua cama, sentindo os braços e pernas tremerem como se um terremoto ocorresse dentro de si.

– ELYON!

Lexa gritou a segurando pelos ombros, enquanto a garota a agarrava pela cintura chorando descontrolada sentindo tudo de uma única vez, incapaz de processar corretamente horas de acontecimentos que ele mal sabia terem existido quase um ano atrás.

Sua irmã podia sentir o seu pavor transbordar da pele e se instalar no ar ao redor das duas, Amora estava parada olhando para cima, com as marcas de queimadura preenchendo o revestimento acima da cama de Elyon como se labaredas houvessem subido ao teto.

– Flutuar sobre a cama... Isso nunca é um bom sinal quando se trata da linhagem Herveaux.

Amora completou por fim se sentando na cama ao lado das duas.

– O que você viu?

Lexa a perguntou balançando a cabeça negativamente para Amora, Elyon sabia que aquilo significava que ambas estava conversando algo que ela não podia ouvir. Provavelmente pensando que ela estava enlouquecendo, o que poderia ser verdade.

– Eu não sei.

Respondeu repassando as imagens em sua cabeça como explosões de uma batalha que ela não tinha participado, mas de alguma forma vivenciado.

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Algo que Elyon tinha percebido em seu curto período na academia Beladona, era que o Círculo de Sangue vivia numa constante linha entre o esquisito e a normalidade.

Sua reação extremamente violenta ao seu pesadelo e a origem do mesmo trazia medo e preocupação, e ela conseguia perceber isso transparecer nos olhos de seus irmãos e companheiros de círculo, ao mesmo tempo que eles coexistiam em suas realidades estudantis como se nada ocorresse de estranho. Mantendo a fachada de normalidade para o restante dos alunos, numa constante tentativa de mantê-los afastados do seu caos interior.

– Essa conexão que você tem conosco é algo que não entendemos. Não ainda. Mas Sam vai tentar impedir que nossas memórias vazem para os seus sonhos. Especificamente memorias de batalhas com demônios, como a que ocorreu na Igreja Preta e Branca.

Bruxos&Demônios, vol. IV - Perda&TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora