Capítulo XX: Equinócio de primavera, parte II: Renascimento

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Elyon

Diferente do restante do Círculo de Sangue, Elyon não fazia a menor ideia de como o Altar dos Reinos realmente era além das descrições detalhadas de Amora e Lexa, mas estar naquele lugar era muito mais surreal e impressionante do que qualquer detalhe que qualquer um pudesse descrever.

A energia no ar era tão pesada que era quase palpável, ao mesmo tempo que era delicada e calorosa. Não havia nenhuma sombra ou escuridão. Era como o primeiro raio de sol no fim do inverno, te reaquecendo e trazendo vida a tudo. E ela sabia que aquilo era mais do que literal.

Todos rodeavam a grande lago de águas espiraladas, com as fadas ali presente vestindo todos os tipos de roupas, com a maioria usando as túnicas que Samira havia descrito, cada uma com uma estampa diferente, exalando uma energia distinta e única. A realeza caminhava ereta e em linha reta enquanto as fadas abriam espaço para que eles chegassem até as margens do lago, era uma procissão silenciosa e respeitosa. Não era necessário dizer muito para entender. Era um enterro. Quinze membros distintos da realeza seguravam urnas cinerarias de porcelanas em suas mãos, cada uma ornamentada de uma forma. Incluindo Lisboa. Suas feições eram sérias e silenciosas, não houve discursos ou palavras de conforto, era uma celebração do fim de um ciclo que havia durado milênios pelo que a garota sabia da longevidade das fadas e suas várias vidas.

As urnas então foram abertas, uma das sílfides levantou suas mãos para o ar e as cinzas voaram sem esforço algum paras águas. Cintilando no ar como pó prateado, Elyon era capaz de enxergar ainda mais. Cada pequeno pedaço de história guardado naquelas partículas que um dia já tinham sido a última vida de uma fada.

– Da vida, a morte. Da morte, a vida. Da vida, a eternal morte.

Entoaram todas as fadas ao mesmo tempo e uma a uma as fadas se aproximaram e fizeram o mesmo, espalhando cinzas de seus parentes falecidos sobre as águas. Se despedindo da última etapa dessa transição. Deixando que se reunissem e juntassem ao pós-vida feérico como suas tradições mostravam.

A garota de cabelos negros e longos não soube dizer o que a movimentou naquele momento, havia tanta energia, tanto poder, que era difícil distinguir as coisas. Seus braços e pernas se movimentaram sozinhos movidos pela comoção e pela sinergia de tudo que estava no ar.

As fadas abriram caminho como haviam feito com a realeza, mas mesmo que não fizessem, Elyon as expulsaria com sua mente. Era algo forte demais se movimentando dentro dela.

– Elyon?

Lexa chamou, mas ela foi incapaz de ouvir. Sam tentou alcançá-la, mas Amora o pegou pelo braço, sentindo a mesma coisa que ela sentia olhando para Moira que parecia tão perplexa quanto, ambas eram fadas da morte, percussoras do fim. Elas podiam ver algo que outros não poderiam.

– Deveríamos impedi-la.

Roman acrescentou preocupado, mas ninguém o fez, nem mesmo a realeza. Algo estava em movimentação e os resultados deveriam ser analisados enquanto aconteciam.

– Rainha Margrethe?

Disse Killian também preocupado, mas a rainha não o respondeu, somente olhava fixamente para jovem necromante.

– Ela está sendo chamada. As águas do lago espiralado a escolheu para algo.

Giselle respondeu por sua vez se aproximando da margem, pronta para o que pudesse acontecer e intervir caso fosse necessário.

– Chamando-a para que?

Sébastien completou olhando para os membros de seu círculo e para Lisboa que não sabia o que responder.

Bruxos&Demônios, vol. IV - Perda&TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora