Capítulo I: Maldição de Família

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Sébastien

O ar tinha um cheiro atípico que causava irritação em seu nariz. A luz do cômodo era quase nenhuma, o que dificultava ainda mais para que o rapaz conseguisse descobrir onde estava ou como tinha chegado ali. Demorou mais alguns segundos para que ele tentasse realmente se mexer, até perceber que os pulsos e os tornozelos estavam presos a alguma coisa metálica e quente.

Sébastien sentiu rapidamente a falta da conexão com seu círculo, primeiro por causa de Amora e depois pelos outros, que mesmo separados por milhares de quilômetros, ainda deveriam pairar sobre sua mente. O elo telepático era inquebrável e deveria existir não importasse a distância dentro daquele mundo, mas infelizmente algumas coisas poderiam nublá-lo e ocultá-lo de certa forma.

Os minutos continuaram até sua garganta começar a arranhar por dentro e sua voz retornar devagar. Seu estomago tinha uma estranha mistura entre fome e enjoou, e seu corpo se sentia fraco. O que o fazia se perguntar a quanto tempo ele poderia estar desacordado.

A luz que saia da fresta da porta era fraca, mas ele conseguia ver pessoas passarem pelo lado de fora do que poderia ser um corredor. Só depois do que ele presumiu serem dez minutos, talvez menos, que a maçaneta da porta se abriu. Poderia ser Paimon, pensou ele, mesmo sabendo que o demônio estava completamente destruído. Talvez Sitri ou qualquer outra ameaça que ele e seus amigos tivessem que enfrentar agora.

- Você deveria estar desacordado por mais algumas horas, mas é bom que finalmente tenha acordado.

Disse a voz feminina assim que entrou no quarto. O rosto foi fácil de reconhecer. Ela usava até as mesmas roupas que ele estava acostumado a vê-la. Mas sua mãe era de todos a única pessoa que ele não esperava encontrar, mesmo que tivesse saído de Nova Salém exatamente para visitá-la, ou melhor, descobrir o que tinha acontecido com seu pai. E agora se encontrava prisioneiro de algum plano que não compreendia.

- Onde ela está?

Perguntou sentindo sua cabeça tonta, se lembrando de como Lexa costumava reclamar que não importasse onde a briga os levasse, algo sempre acertava a cabeça dos gêmeos de alguma forma, talvez agora fosse sua vez.

Ele também queria saber por que sua mãe o havia prendido aquela cama e como, mas existia alguma espécie de plano acontecendo e ele teria que resolver rapidamente a situação. Era o curso de ação mais logico a seguir.

- Ela está segura. Vocês dois estão. Garanto isso.

Lucinda Strider respondeu com um rosto calmo e condescendente. Tanto ela quanto seu marido tinham feições similares. Peles estupidamente pálidas, cabelos escuros, olhos claros, portes esguios, e comportamento tenso. Como se uma sombra constantemente estivesse pairando sobre suas cabeças tirando a paz e qualquer sossego.

Uma sombra que Sébastien se via cada vez mais preso até os portões da academia Beladona se abrirem para ele e toda uma nova jornada junto disso.

- Onde está o meu pai?

Sébastien perguntou sentindo o pulso doer pelas algemas enfeitiçadas a qual estava preso. Ele não reconhecia os entalhes no metal que agora conseguia visualizar pela luz que entrava pela porta aberta e nem conseguia reconhecer a energia que elas emanavam. Mas de alguma forma estava diminuindo seu poder ao ponto que ele mal conseguia acessar a magia das sombras ou muito menos se comunicar com seus integrantes de círculo.

- Nós temos um grande plano em movimento meu filho e você é o centro disso - disse Lucinda caminhando pelo antigo quarto de Sébastien, que estava exatamente do mesmo jeito que ele tinha deixado um ano e meio atrás, sem nenhuma mudança sequer, um quarto frio e sem nenhum traço de personalidade ou individualidade - Sua namorada não deveria estar aqui, nós pedimos para que viesse sozinho. Era um assunto de família. E sangue é mais denso que qualquer outra coisa.

Bruxos&Demônios, vol. IV - Perda&TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora