Capítulo VI: Dezessete anos sem passado

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*P.S. O gif é do modelo a qual o personagem é baseado fisicamente falando.*


Amora

Dois dias haviam se passado desde o aniversário dos gêmeos e os humores pareciam melhorar, contudo na mesma velocidade que o círculo tentava regressar ao seu normal eles retornavam mais uma vez ao seu estanho novo estado de permanência e isso não era diferente para garota rodeada por morte e dúvidas.

– Você me parece apreensiva hoje, Amora. Por quê?

Daemon Gao perguntou a observando.

As mudanças de humor de Amora eram sempre representadas de forma visíveis tanto em seu vestuário comum quanto em seu uniforme. Dessa forma era fácil identificar seu estado emocional somente por suas roupas. Hoje havia algo a mais acontecendo. Uma espécie de confusão.

– Estou cansada.

Respondeu sem olhar para Daemon, encarando os livros na estante ao seu lado pensando em coisas que não poderia contar.

Ela estava aliviada por saber que Sébastien estava finalmente dormindo melhor, mas preocupada, sem saber por mais quanto tempo essa pequena paz iria durar e o que aconteceria quando seu quadro voltasse a se agravar.

– Física ou emocionalmente?

Perguntou intrigado, como Amora era a alma do Círculo de Sangue era impossível não perceber algumas similaridades entre ela e Henricksen Garrett a qual o próprio Daemon mantinha um longo e complicado relacionamento amoroso. E não só por suas heranças mestiças e as dualidades de suas características, mas em tantas outras coisas. Mais principalmente nas inseguranças.

– Faz diferença? – a garota respondeu irritada, talvez até pelo próprio cansaço. Talvez não – É só que excluindo os gêmeos, eu tenho mais poder do que o próprio Killian. Minhas reservas de energia foram capazes de abrir um buraco nas proteções da academia. Meu grito é capaz de matar demônios e cães infernais. Mas eu ainda sinto que preciso ser salva todas as vezes. E como eu vou salvar os meus amigos e as pessoas que eles amam, se eles sempre precisam me salvar o tempo todo?

Perguntou falando aquelas palavras em voz alta pela primeira vez. Ela queria ser forte, mas não sabia como.

– Acredito que isso te faça se sentir impotente, correto?

– Não – respondeu sincera – Isso me faz sentir estúpida. O que é pior. Pois isso me faz sentir fraca, mesmo sabendo que eu não sou. E eu estou cansada de me sentir assim. Perdida e refém dos meus medos e fraquezas enquanto vejo todos eles ficarem cada vez mais poderosos e eu simplesmente não consigo acompanhar.

– Medos são tanto coisas boas quanto coisa ruins, Amora – Daemon a respondeu percebendo novas facetas sobre a garota – A forma que encaramos eles e os enfrentamos é o que dita nossas vidas. Seu poder é somente seu, mas não te define por completo. E isso é mais complicado para você do que para os outros. Não há dúvida.

– Não sinto que estou os encarando. Sinto que estou sendo engolida por eles. Pelas minhas falhas. Pelas minhas fraquezas. Pelas minhas origens. E todo resto. E eu sou a Alma, e sinto que não estou fazendo nada direito. Meus amigos estão morrendo, minha família está sendo ferida. E todo esse poder nas minhas mãos está fazendo nada a não ser ficar parado e se tornando inútil. Não quero mais me sentir assim. Estou farta disso e dessa sensação

Exclamou com lágrimas nos olhos. Mas não de tristeza. Era raiva. Pura e ressentida.

– E você conversou com eles sobre isso? Sobre tudo isso que está dentro de você e como você realmente se sente?

Bruxos&Demônios, vol. IV - Perda&TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora