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 A ligação de meu avô foi uma bela desculpa para escapar daquele olhar intenso que me prendeu no quarto

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 A ligação de meu avô foi uma bela desculpa para escapar daquele olhar intenso que me prendeu no quarto. Nunca fui de correr ou recuar de nada, contudo, o olhar que Ethan deu foi como uma maldita armadilha, que caí. Estava presa, cativa daquela intensa sensação que se infiltrava mais afundo a cada instante. Estava acorrentada e, ao mesmo tempo, livre. Livre para me jogar de cabeça, seja lá o que for que estava acontecendo entre nós dois.  

 Ouvir a voz de meu avô acalmou um pouco aquela confusão louca e desenfreada que estava me consumindo. Dener Hoffmann é o chefe da organização alemã. Um homem no qual muitos temem até hoje, também é o ser mais próximo que tenho de minha mãe, mesmo depois de sua morte. Fico me perguntando como seria se eu tivesse aceitado a oferta de Dener logo após o enterro de mamãe, sobre eu ser criada e protegida em seu território. A verdade é que, desde o momento em que vi os olhos sem vida de minha mãe, o meu destino foi traçado a ser quem sou hoje. Uma mulher, filha, neta, da qual vive por apenas dois propósitos, e um deles é me banhar no sangue de todos que tiraram a única pessoa que era capaz de ter me tornado algo a mais do que hoje sou.  

Dener como sempre, é breve. Suas ligações e mensagens são para saber como estou ou se estou precisando de algo, como ajuda para a minha longa e interminável vingança. Dener se tornou ainda mais frio depois da morte de sua filha. Sua vida tinha se tornado tão cinza quanto os meus. A tristeza o consumiu e a raiva foi alimentando sua sede de vingança. A vasta e intensa ausência que Andrea causava fazia o ódio ser o combustível para mantê-lo vivo, até as coisas mudarem, pelo menos para ele.  

Antes que eu possa retornar para dentro da casa, meu celular toca novamente. O nome de Enrico brilha na tela.

__Tenho novidades. __ meu silêncio o faz continuar.__Pegamos um ao redor do cemitério.

__Quem? __ exijo de imediato

__É melhor vir para cá.

__ Não foi o que perguntei, Enrico.__ esbravejo sem paciência.

__É apenas um garoto qualquer, Kiara. __ sua voz fria é tensa, mesmo que eu saiba que ele não se importe com esse fato. Enrico apenas.. porra..

Apenas um garoto..

__ Menor de idade?__ minha pergunta sai tão baixa quanto um murmuro.

__Não. __ sua voz é tranquilizadora.

__ Quero tudo sobre ele.

__ Enzo te enviará.

__ Leve-o ao refúgio.

__Ele já está aqui...Kih..__ sua voz ainda é suave ao me chamar__, ele não é uma nenhuma criança.__ sua garantia não faz o aperto em meu peito doer menos.

__ Estou a caminho.__ é tudo que digo ao desligar. As portas da varanda se fecham atrás de mim, me dando visão de Ethan e Dimitri sentados casualmente. Meu marido me olha imediatamente, seu cenho franzido de preocupação evidente me deixa desconfortável.  

__ Venha!__ digo a ele antes de caminhar de volta pra o quarto com ele logo atrás.

O barulho do clique da porta se fechando é audível.

__ O que está acontecendo?__ seu tom preocupado me causa um incômodo estranho que me esforço a ignorar a todo custo.  

__ Voltarei para a Itália.__ aviso arrumando as poucas coisas que tirei das malas.

__ O que está acontecendo?__ repete.

__ Estou voltando pra saber. __ jogo meus casacos na mala aberta em cima da cama. Ethan bufa, ignoro-o.

Minha cabeça dói, meus olhos queimam com a raiva que borbulha em minhas veias. Quem é porque está levando todas aquelas malditas rosas? Por que agora?  

Apenas um garoto..
Ele não é uma criança..

Minha cabeça lateja, meu peito queima com as malditas lembranças.

O fogo o levou..
Tiraram ela de mim..
Seu sapato.. sua mochila..
Seus olhos abertos sem vida..

Esse maldito jogo que estão fazendo comigo, brincando com a dor dilacerante que vem me consumindo há anos, me deixando à beira do abismo.  

Por quê? Esse é o único modo que encontraram de me desestruturar? De mexer com as minhas emoções? De conseguir que eu me sinta à beira do precipício até me verem se lançar para baixo e aceitar o quão estou perdida nessa escuridão em queda livre? Maldito seja esse desgraçado. Malditas são essas lembranças. Maldita seja eu.  

Não posso me entregar. Não vou me render, não ainda. Se eu cair, se eu morrer, eu o levarei junto comigo nessa queda ao inferno, só assim poderei descansar, poderei em fim aceitar a pagar os meus pecados. Só depois que eu trouxer justiça a ela é que poderei ser punida pelo que fiz.  

Antes, não..

__ Kiara..__ pulo de susto ao ouvir e sentir agarre suave de Ethan em volta do meu pulso. __ Você está.. chorando.__ seu polegar delicadamente limpa a lágrima que não senti cair.

Toco trêmula em meu rosto molhado, me sentindo assustada por sentir a ponta de meus dedos úmidas.

__ E-e-eu..__ meu afasto de Ethan abruptamente.__Por que estou...chorando?__ mal ouço minha voz.

__ Kiara..

__ Não dê mais nenhum passo.__ brando, apressada me afastando ainda mais dele.

O que está acontecendo comigo?

__ É normal chorar, Kiara.__ sua voz suave faz o aperto em meu peito aumentar.

__ Não! __ Nego fervorosamente.__Eu não choro. Nunca choro. Nunca.__ Limpo meu rosto bruscamente. Ethan me olha com um olhar que aumenta ainda mais o aperto em meu peito doloroso. Forço-me a arrumar o restante das minhas coisas, fugindo do seu olhar e até mesmo do toque que, por algum motivo desconhecido, eu quero sentir.  

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𝑰𝒏𝒂𝒔𝒑𝒆𝒕𝒕𝒂𝒕𝒐 - Vingança, Obsessão e AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora