Capítulo 11

3.9K 403 136
                                    

Rafael

Ainda sonolento, Rafael conferiu a hora no celular e se perguntou se não estava cedo demais. Como Carrasco não havia combinado um horário específico, olhou, mais uma vez, para o relógio, que marcava seis e trinta e dois da manhã. Enquanto se aproximava do portão da mansão, deu um bocejo, sentindo o próprio hálito de eucalipto.

Ia tocar a campainha quando um dos homens que ficava de guarda na área VIP de Carrasco assoviou, chamando a sua atenção.

   – Dá o papo, irmão! – disse o homem, com o fuzil pendurado no ombro.

   – O Carrasco mandou eu “brotar” aqui cedo. – disse Rafael.

O homem olhou para dentro e deu um aceno de cabeça. Rafael ouviu passos se aproximando do portão, e logo ele se abriu. Pinóquio, de cara fechada, o que o deixava ainda mais esquisito, pois o grande nariz ganhava maior destaque sobre o fino bigode, acompanhou Rafael até a porta de entrada da sala onde o jogador estava transando com suas acompanhantes. Diferente daquele dia, a sala estava meticulosamente limpa. 

Uma mulher tirava o pó de um dos quadros com um espanador enquanto um rapaz passava pano com um esfregão. A mulher caminhou até a porta para recebê-lo. Assim que entrou, Rafael sentiu o perfume refrescante de algum produto de limpeza que o homem usava na água em que molhava o pano.

   – Bom dia. – disse uma idosa que vinha do corredor à direita da escada. – Posso ajudar?

A voz da senhora era doce. Rafael sorriu para ela, que agora estava na sua frente.

   – O Carrasco pediu para eu vir, mas, se estiver cedo demais, posso voltar depois. – Rafael disse e notou que a senhora o observava com uma expressão engraçada. Tinha esquecido de falar como Jeffinho. Ele torceu para que ela não tivesse estranhado e logo continuou: – Algum bagulho sobre trampar pra ele, tá ligada?

Ela gesticulou para que ele se sentasse e pediu que aguardasse, pois Carrasco ainda estava dormindo.

“Filho da puta”, pensou Rafael enquanto caminhava até uma poltrona e se sentava.

   – Ele odeia ser acordado, então vou pedir que tragam alguma coisa para você beber enquanto aguarda. – disse ela, dando um sorriso gentil. – Café ou suco?

   – Café tá de boa. – disse Rafael, esforçando-se para não se perder no personagem. Mas aquela senhora era tão gentil e doce, que era quase impossível continuar falando daquele jeito.

   – Eu posso buscar, Dona Fátima. – disse a mulher com o espanador.

   – Não precisa, minha filha. Tô indo na cozinha e lá peço alguém pra trazer. Pode terminar o que tá fazendo.

Dona Fátima começou a se encaminhar para o outro corredor à esquerda da escada.Quando ela desapareceu, Rafael voltou a olhar para a decoração da sala. Sem todas aquelas pessoas se drogando e transando, conseguiu perceber com mais detalhes que a decoração possuía um certo requinte. Nem parecia a casa de um folgado como Carrasco.

Com o polegar na tela do celular e o dedo do meio na parte traseira, Rafael girava com a mão esquerda o aparelho de um lado para o outro enquanto aguardava. Estava começando a ficar impaciente quando o som de algo sacudindo em uma superfície metálica chamou sua atenção. Pelo mesmo corredor que Dona Fátima tinha desaparecido, saía o garçom da noite da festa. Rafael coçou o queixo, tentando lembrar qual era o nome dele.

Felipe caminhava com o olhar concentrado na bandeja para não deixar a pequena jarrinha, que parecia dançar com a xícara de um lado para o outro, cair. Ele conseguiu chegar até Rafael e começou a servir o café de uma pequena garrafa térmica. Quase derrubou a jarrinha ao encarar o ruivo, que se divertia observando seu jeito desengonçado com aquelas coisas.

O infiltrado no morro (Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora