Carrasco
As paredes do quarto se fechavam cada vez mais, deixando Carrasco sufocado. Ele andou até a garrafa de uísque, encheu um copo, começou a levá-lo até a boca, mas desistiu. Tinha compromisso com Pietra. Deu um grito e atirou o copo contra a tela da TV. O impacto espalhou cacos de vidro para todos os lados, rachou a tela e espalhou a bebida pelo quarto. Sem conseguir ficar dentro do cômodo, Carrasco trocou de roupa e passou perfume. Porém, precisava aliviar o que estava sentindo antes de encontrar com Pietra. Não tinha certeza do que era. Raiva? Decepção? Revolta? Ciúmes?
Era tudo aquilo junto. Saiu do quarto e ignorou os olhares assustados de alguns empregados. Ordenou que alguém limpasse tudo e trocasse toda a roupa de cama. Não queria sentir o cheiro do Ferrugem quando retornasse. Passou por Dona Fátima e fez sinal que estava saindo. Ela apenas franziu os lábios e assentiu.
– Alfinete! – gritou Carrasco, olhando ao redor, e logo ele surgiu, arrumado à sua frente.
Alfinete já tinha uma certa sincronia com os acessos de raiva de Carrasco e, portanto, já imaginava que seu chefe iria a algum lugar para tentar se acalmar.
– Bora dar um rolê!
Alfinete andou até a porta da sala e assobiou para chamar o motorista. Passaram por Pinóquio e Titã, que pareciam aguardar alguma instrução, e Carrasco mandou-os retornarem para suas posições. Sentou no banco traseiro, e Alfinete sentou ao seu lado. Carrasco mandou o motorista levá-lo à uma casa de Swing 24 horas, e Alfinete o olhou de lado.
– É, molecão. O Natal chegou mais cedo pra tu. – Carrasco tentou sorrir, mas não conseguiu.
Alfinete só respondeu com um aceno de cabeça, e Carrasco voltou a olhar para fora do carro. Ao passarem em frente ao beco que Ferrugem morava, as palavras ecoaram em sua cabeça. “Eu tava fodendo o rabo de um coroa.”. Carrasco estalou o pescoço e, antes de desviar o olhar, avistou o homem ensanguentado na frente do portão da casa de Ferrugem. Apertou as têmporas e respirou fundo. “Não é real. Não é real, caralho!”, ele repetia sem parar mentalmente.
Chegaram na casa de swing e, para quem não conhecesse o interior do local, aquele era só um prédio comum, misturado no meio de padarias caras, lojas de roupas entre outros estabelecimentos. Carrasco conhecia bem o esquema. A menos que tivesse dinheiro suficiente para molhar a mão dos seguranças e do proprietário, só era permitida a entrada de casais, formados por um homem e uma mulher.
Carrasco desceu do carro, e Alfinete se juntou a ele, olhando para os lados, como se tivesse preocupado que alguém o visse entrar ali. Cumprimentaram os seguranças e foram direto para a sala VIP do estabelecimento. Alfinete ficou para trás, pagando o suborno. Não demorou até que uma mulher loira entrasse na sala, vestindo uma fantasia sensual de empregada e carregando uma bandeja com uísque.
Carrasco se sentou no sofá de veludo vermelho e sacudiu a cabeça para ela, indicando que não iria beber. Da sala que estava, Carrasco tinha acesso às câmeras dos cômodos e ao “cardápio” de garotas e garotos de programa que trabalhavam no local. Em uma tela “touchscreen”, ele mudava as câmeras e observou Alfinete ir para uma das cabines como veio ao mundo. Não queria ter visto aquilo.
Na verdade, só conseguia imaginar Ferrugem por cima de um velho asqueroso. Abriu a aba dos garotos de programa e começou a passear pelas opções. Tinha para todos os gostos: magros, musculosos, parrudos, gordinhos, altos, baixos, dotados, loiros, morenos, negros, ruivos… Carrasco parou nos ruivos e então tocou em um deles. Selecionou o que gostaria de fazer e os acessórios e preservativos de sua preferência. Em poucos minutos, bateram na porta e o garoto selecionado entrou.
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O infiltrado no morro (Gay)
RomanceUm policial iniciante é encarregado de fazer parte da nova operação para investigar sobre o tráfico de drogas em uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro; Seu trabalho principal é se infiltrar no esquema e se aproximar do dono, conhecido por se...