Rafael
Toda aquela gritaria e confusão atraiu os empregados e seguranças de Carrasco. Alfinete subia os degraus da escada, dois de cada vez, já com a pistola na mão. Quando viu que Rafael apareceu no alto da escada, apontou a arma para ele e começava a falar algo, mas Dona Fátima, que acompanhava Rafael, gritou com ele:
– Abaixa essa coisa agora! Está tudo bem. Deixa o Carrasco sozinho. – ela tinha a voz severa, e Alfinete obedeceu.
Rafael percebeu o quão respeitada ela era dentro da mansão, por mais gentil que fosse. Em sua cabeça, as palavras de Carrasco dizendo que se importava com ele, o olhar decepcionado do moreno, o arrependimento de ter inventado aquela mentira. Como ia fazer para descobrir quem estava armando contra Carrasco? Foi levado para fora da mansão, sob a mira dos fuzis dos seguranças de Carrasco, que pareciam estar confusos, mas como instinto se preparavam para atirar a qualquer momento. E se Titã aproveitasse que ele não estava mais na casa para fazer algo contra Carrasco?
Quase correndo enquanto descia o morro, começou a se perguntar por que estava se importando tanto. Seu objetivo não era aquele. Lembrou do capitão dizendo que queria o relatório na Quinta e já era Terça. Valter tinha dito que talvez o capitão agisse de surpresa. Sua cabeça doía.
Entrou no beco onde morava, e Breno veio, vestindo uniforme da escola até ele.
– Aí, Ferrugem. Eu pesquisei as paradas daquele dia e…
– Agora não, menor! – Rafael o empurrou para abrir o portão de casa, e Breno perdeu o sorriso e a empolgação. Rafael, vendo o rosto dele, se arrependeu e disse: – Foi mal, cara. Eu tô com uns problemas aí.
Rafael entrou no quintal, e Breno o seguiu, ainda chateado. Rafael lembrou de como seu irmão fazia a mesma coisa que ele quando descobria alguma coisa e corria até ele para contar.
– Chega aí, menor. Me fala o que tu descobriu. – Rafael estava agitado, e Breno pareceu notar, pois ficou de braços cruzados observando-o andar dentro da casa minúscula.
– Qual foi, Ferrugem? O que tu arrumou, mano? – Breno saiu do caminho dele e encostou na parede, perto da cama.
Rafael olhou para ele, tentando organizar os pensamentos, e então tirou o celular do bolso. Começou a enviar uma mensagem para Valter para saber se já tinha conseguido um lugar para interrogar Felipe.
– Mano, eu acho que fiz uma merda muito grande. Grande pra caralho “mermo”. – Rafael dizia enquanto digitava.
– Na mansão? – disse Breno baixo. – Foi por isso que o Titã tava te procurando aqui no beco ontem?
Rafael ergueu a cabeça. “Puta merda”. Titã estava atrás dele? Por quê? Rafael pegou a garrafa de café e encheu um copo.
– Ele falou o que queria? – disse Rafael, tremendo e dando um gole no café, queimando a língua. – Ai, boceta!
– Falar “falar” ele não falou não, né! – disse Breno, dando uma risadinha e dando de ombros. – O maluco é mudo, mano.
Rafael não queria ser grosso com o garoto, mas não era hora para brincadeiras.
– Eu tô falando sério, cara. O que ele queria? – Rafael colocou o copo na mesa de metal e olhou para o celular. Valter estava digitando.
– Calma, mano. Tá foda hoje, hein. – Breno largou a mochila da escola na cama de Rafael. – Ele escreveu no celular que precisava levar um papo contigo. Mas não falou mais nada não.
Que papo que ele queria trocar? Rafael passou a mão no rosto, sentindo a barba rala que começava a crescer arranhar as palmas das suas mãos.
– Ele tava armado?
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O infiltrado no morro (Gay)
RomanceUm policial iniciante é encarregado de fazer parte da nova operação para investigar sobre o tráfico de drogas em uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro; Seu trabalho principal é se infiltrar no esquema e se aproximar do dono, conhecido por se...